Quarta-feira, 22 de Junho de 2016

Introdução ao teatro Bunraku

O bunraku é uma das artes performativas tradicionais japonesas das mais significativas, tornada património intangível da Unesco em 2003, combinando de modo colaborativo recitação narrativa, música shamisen e marionetas. As origens do Bunraku remontam ao seculo XVII, quando se integraram as apresentações antigas de marionetas (ayatsuri ningyo) com as narrativas medievais (joruri), chamadas narrativas de marionetas (ningyo joruri).

A sua popularidade atingiu um grande sucesso com os trabalhos de Chikamatsu Monzaemon e o narrador Takemoto Gidayu e a criação do teatro Takemoto em Osaca em 1684. Os teatros que foram surgindo tiveram êxitos distintos até que, em meados do século XIX, Uemara Bunrakuken, natural de Awaji, abriu um novo teatro com tal sucesso que, a partir daí, o seu nome se tornou sinónimo desta forma de arte. Ainda hoje tem o nome de bunraku.




As melhores peças foram escritas no século XVIII e mantêm uma grande aceitação popular. Narrador (tayu) e músico de Shamisen são elementos essenciais, em que exige sincronização na sua arte, envolvendo técnicas de controlo de respiração. O narrador atua em estilo de balada épica (gidayu-bushi). Além de narrar a história dos acontecimentos, também descreve as características da personagem, fazendo vozes diferentes para marionetas que representam homens ou mulheres, velhos ou jovens e a natureza e sentimentos pessoais, de modo ao som parecer verosímil. Para a récita, o narrador segue um libreto (yukahon), com cinco linhas por página. A tradição é a de o narrador copiar o libreto que usa na atuação, mas pode herdar um libreto do seu professor. Há ainda copistas tradicionais. Há ainda libretos de sete ou oito linhas verticais de escrita.

O shamisen, instrumento musical usado nas peças do bunraku, tem três dimensões, da mais pequena à maior. O uso de cordas mais ou menos finas dá uma mais ampla sonoridade, que acompanha a expressão da emoção em presença. O primeiro shamisen terá chegado ao porto de Osaca na década de 1560, ido das ilhas Ryukyu, mas no século XVII havia já alterações artísticas na sua forma, incluindo o aperfeiçoamento de um estilo vibrato. Para operar cada marioneta são precisos três bonecreiros ou operadores, o que torna o teatro bunraku único neste tipo. Apenas um operador, o mais qualificado, é que tem o rosto descoberto. Cada operador produz movimentos subtis, o que no conjunto significa maior aproximação às atitudes humanas. Os bonecos são guardados em peças, com as cabeças separadas da indumentária. As personagens femininas não têm pernas, pois o vestido comprido do quimono as taparia. As cabeças são tipificadas: o herói épico (Bunshichi), o jovem inteligente (Genda), a rapariga ingénua (Musume), a mulher madura (Fukeoyama). Às marionetas pode aplicar-se cabelo humano.

Em termos de guarda-roupa, este é mais pequeno do que na realidade e tem uma abertura atrás para a mão do marionetista. Apesar de o guarda-roupa no teatro bunraku ser mais estilizado que no teatro kabuki, os bonecos apresentam maior opulência (jidaimono). Nas peças contemporâneas (sewamono), o guarda-roupa é mais realístico, embora sempre com grande simbolismo na sua forma. Além do guarda-roupa, outros elementos vitais na representação são espadas, leques e chapéus de chuva, que introduzem efeitos narrativos e dramáticos. Aspeto a considerar é a construção do palco. Por vezes, a ação decorre em vários sítios, criando-se a ilusão de um chão onde andam as marionetas. Além da cena onde estão as marionetas e os seus operadores, pode existir uma dupla narração, uma de cada lado do palco. Quando se precisa de vozes e sons diferentes dos presentes no palco, narradores e músicos são substituídos num palco rotativo.

[informação retirada de folhetos e imagens do Teatro Nacional de Bunraku, Osaca]
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33ª edição do Festival de Teatro de Almada

O 33º Festival de Teatro de Almada vai decorrer entre 4 e 18 de julho, em múltiplos espaços e palcos. Ver em www.ctalmada.pt.

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Sexta-feira, 17 de Junho de 2016

Teatro Kabuki

Yoshitsune Senbon Zakura (義経千本桜) ou Yoshitsune e as Mil Cerejeiras é uma das três peças mais populares e famosas do repertório Kabuki japonês. Ela foi escrita em 1747 para teatro de marionetaspor Takeda Izumo II, Miyoshi Shōraku e Namiki Senryū I e adaptada ao repertório Kabuki no ano seguinte.

No teatro Kabuki, um espetáculo é constituído por diversos atos, que se podem ver juntos (11:00, 14:45, 18:15) ou isolados, podendo comprar-se para ver uma só parte (ou metade dessa parte). A primeira cena da terceira parte representa uma viagem de primavera, com Yoshitsune em retiro no monte Yoshino, com Tadanobu e Shikuza trocando e tocando tambor, com danças, quer suaves quer quase acrobáticas, na época das cerejeiras e amendoeiras em flor. Mas Yoshitsune reaparece com os seus subordinados. Cantores narram a história, acompanhados por músicos. O género kabuki é representado apenas por homens. O teatro Kabukiza (Tóquio), na sessão das 18:15, estava cheio.


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Quarta-feira, 8 de Junho de 2016

Futatsu Chocho Kuruwa Nikki-Hikimado

O título indica a nona peça escrita para o teatro de marionetas Bunraku, originalmente representada em 1749 em Osaka e adaptada ao teatro pouco depois em Kyoto. Conta a história de um lutador de sumo, Nuregami Chogoro, acusado de ter morto dois irmãos, e de um samurai, Nan Yohei, depois chamado Nanbo Jujibei, investido para o matar e devolver a paz à região.

Yohei adaptava o nome do seu pai e era elevado a samurai, deixando de ser um pobre comerciante e tornando-se uma respeitável autoridade. Ironicamente, o seu primeiro papel foi prender o irmão Chogoro, que não conhecia, o primeiro filho da sua mãe Okoh. Chogoro chegara antes a casa de Okoh, Jujibei e Ohaya, a mulher deste. Jujibei, que transportava a fotografia do assassino, quer usar as duas espadas para matar o assassino. Mas a mãe dos dois compra a fotografia e disfarça Chogoro, cortando parte do seu cabelo. As duas mulheres preparavam a cerimónia budista hojo-e, a mãe prendeu o filho assassino e o resultado foi o perdão do irmão samurai que deixou o irmão sair em liberdade.O papel do samurai foi desempenhado por Kataoka Nizaemon (片岡仁左衛門, nascido em 1944), na imagem num outro desempenho.

Retiro da Wikipedia que o Kabuki (歌舞伎?) é uma forma de teatro japonês, com estilização do drama e elaborada maquilhagem utilizada pelos atores. Kabuki é uma arte de cantar e dançar. Teria sido teatro de vanguarda ou bizarro, com origem no início do século XVII e proibido em 1629. Os atores tem gestos lentos, estão quase sentados de joelhos e recitam com vozes diferentes os seus textos. Um cantor e um músico acompanham. Por vezes, os espectadores aplaudem partes da representação de 75 minutos. Antes e depois da representação, uma ruidosa e divertida feira de venda de produtos alimentares e adereços.

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Domingo, 29 de Maio de 2016

Ibsen no Porto

Já não me lembrava de ver Júlio Cardoso (pastor Manders) representar. Sem ser deslumbrante, o papel saiu-lhe muito bem. Gostei igualmente ou mais até de Custódia Gallego (Helene Alving). Dos outros atores (e personagens) da peça de Henrik Ibsen, Espetros (1881), reconheço a boa presença em palco de António Reis (carpinteiro Engstrand), Catarina Campos Costa (Regine Engstrand) e Ricardo Ribeiro (Osvald Alving).

A peça gira em torno do senhor Alving, já falecido, e cuja memória se ia perpetuar enquanto benfeitor com a inauguração de um infantário. Da conversa entre o padre Manders e a senhora Alving sabemos duas coisas: o defunto não fora tão puro que merecesse uma homenagem, porque bêbado e pai fora do casamento (Regine era filha dele e de uma criada, depois casada com Engstrand); entre Manders e Helene houve uma muito antiga paixão, sublimada por aquele.

Pela má relação do casal Alving, a mãe decidira enviar para fora e desde muito novo o filho Osvald. Ele estivera em Paris onde começou uma atividade artística ligada à pintura mas de que não se fica a saber muito. Mas sabe-se que ele herdara a sífilis do pai e vinha para morrer nos braços da mãe.

Ibsen, que estava à frente no seu tempo, recupera a tradição de grande teatro que parecia perdida desde Shakespeare. A sua peça é um drama que retoma o modelo grego, onde se evoca o passado e se pressagia o futuro, embora a ação não se prolongue muito no tempo e o número de personagens se reduza à família e núcleo íntimo. E ressalta uma quase incongruência: de um doente de sífilis, o filho legítimo recebe-a ao passo que a filha fora do casamento é uma rapariga cheia de saúde, como James Joyce escreveu após ver a peça em Paris.

Julgo que a peça fez uma boa temporada no Teatro São João (Porto), augurando um bom regresso do grupo Seiva Troupe, não muito bem tratado pelo anterior executivo camarário, cujas prioridades não passavam pelo teatro da cidade. No pequeno texto incluído no programa, o grupo manifesta a sua alegria por representar uma peça com tantos anos num tempo muito afeito à grande contemporaneidade, que não permite refletir sobre as humanidades.
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Sábado, 28 de Maio de 2016

Último dos românticos

Ele tem 55 anos, está casado há 31 anos e é dono de um restaurante de peixe. Apesar da estabilidade económica e psicológica, tenta uma aventura, tipo romântica e pura. Faz três tentativas. O local de encontro é o andar da mãe dele.

A primeira mulher conheceu-a no restaurante, mas revela-se rapidamente muito carnal e pouco espiritual. Faz uma constante alusão ao tique dele: aproximar os dedos das mãos ao nariz a ver se o cheiro a ostras desapareceu. Ele tem apenas uma garrafa de uísque mas ela precisa de fumar, para evitar ataques alucinantes de tosse. Ela sai mas volta para recomeçar, acabando aos insultos.

A segunda mulher é uma psicopata, temendo os olhares de todos mas achando-se ter um perfil de artista de sucesso. Enquanto conta histórias cada vez mais violentas e angustiantes, leva-o a fumar um charro. A terceira mulher é amiga de família, à beira de uma separação. Mas admite logo que não quer ter uma relação com ele por o não achar atraente. É igualmente uma conversa repleta de estranheza, com tiques de novo à vista, com ela a não se libertar da sua mala, obrigando-o a ele a arrancar. Parecia que a conversa não podia prosseguir enquanto ela não a abandonasse.

As tentativas são um fracasso, porque não acontece(u) nada. Ele telefona à mulher para uma conversa a dois. A liberdade a que ele se propusera não o levara a nada romântico e puro, mas a uma reflexão sobre os motivos que levam cada indivíduo a tomar as decisões que toma sem que o(s) outro(s) compreenda(m) bem. Logo, as relações humanas são muito complexas e as situações não se repetem.

A peça O Último dos Românticos, de Marvin Neil Simon (1927), dramaturgo muito conceituado nascido no Bronx em Nova Iorque, esteve para ser representada há muito. A tradutora Teresa Lacerda entregara a peça a João Mota no final da década de 1970 para ser representada por Raul Solnado. Mas a peça tinha direitos de representação de alguém, pelo que só agora entrou no repertório da Comuna Teatro de Pesquisa e faz parte dos 44 anos de existência do teatro. A interpretação pertence a Carlos Paulo, Margarida Cardeal, Maria Ana Filipe e Maria Vieira.
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Segunda-feira, 9 de Maio de 2016

Ao Vivo e em Direto no Teatro Aberto

Gosto de teatro mas não sou crítico de teatro. Logo, não sei escrever um texto sobre o que vi enquanto espectador com o aparato conceptual próprio do crítico. O que debilita a leitura ou interpretação. Mas sei que gosto de compreender a história que vejo e as opções tomadas na representação. Concluo pela existência de camadas de interpretação: o autor, o encenador, os atores, o espectador.

Por isso, convidei o autor da peça Ao Vivo e em Direto em representação no Teatro Aberto, Raul Malaquias Marques, a explicar a história e os fios narrativos, em aula de estudos de jornalismo. Ele esclareceu algumas questões que eu formulara a mim mesmo quando vi a peça.

A peça, vencedora do Grande Prémio de Teatro SPA/Teatro Aberto 2014, tem seis personagens (Homem, Diretor, Mulher, Filha, Jornalista, Inspetor) e vozes (jornalistas dos diretos) e dois homens de óculos escuros. Primeira inquietação: não há nomes nas personagens, perguntou uma aluna. O autor disse querer universalizar a situação, que se podia passar em qualquer parte do mundo. Aliás, no frontispício da peça (chamemos-lhe assim), Raul Malaquias Marques escreveu: "A ação decorre na atualidade, num pais igual a outros". Sem sinais de identificação identitária, torna-se mais fácil desterritoralizar a ação.

Ao Vivo e em Direto significa quatro pilares da realidade diária: a comunicação social (o diretor de informação e o jornalista que prepara um programa de entrevistas), o poder político (o homem, que foi ministro, presidente de empresas estratégicas, agora arrependido da evolução de um processo político, pois as suas práticas não seriam as mais sérias), a justiça (o poder do tribunal, a força das fontes e dos grupos de pressão) e a família. O julgamento que se seguira ao processo não fornecera um apuramento de provas, pelo que não houve culpados. Mas um jornalista morrera (fora assassinado, esclarece o Homem quando é entrevistado, agora que se arrependeu e ganhou coragem para o dizer publicamente).

O encontro do diretor de informação e do Homem, num local ermo da cidade, tem o lado de intriga policial e que também remete para o mundo da relação entre jornalistas e fontes noticiosas, quando estas têm interesse de promover a divulgação de uma ação. No caso, é a recuperação de uma situação que fora escândalo, embora o caso tivesse prescrito pelos anos de intervalo entre o acontecimento e a atualidade. Enquanto o Homem preparava a entrevista, a peça regista três momentos específicos. Um é a discussão entre diretor de informação e jornalista, onde se revela a concorrência interna de um meio de comunicação: o primeiro pedira discrição na procura de informação para apoio à entrevista; um velho político telefona ao diretor a tentar impedir a entrevista. Isso revela que rapidamente houve circulação de informação e revelação do que se pretendia ser discreto. O diretor acusa o jornalista de fuga de informação. Outro é a curiosidade da mulher do antigo político, quando o vê a manusear alguns velhos dossiês. Ela, em momento oportuno, lê os dossiês e fica assombrada com a informação, fazendo fotocópias. O terceiro é quando o Homem diz que, a acompanhar as revelações, vai depositar a informação em boas mãos.

Raul Malaquias Marques realça a ambiguidade da trama narrativa. Não se sabe em que boas mãos foi depositado o dossiê nem se sabe o que a mulher fez com as fotocópias. O que a peça revela é que o Homem, feita a declaração, se suicida, dando um tiro de pistola em si mesmo - ao vivo e em direto. Isto tem duas consequências: a audiência do canal subiu muito, levando a administração a elogiar o diretor de informação; este vê-se obrigado a falar na televisão a pedir desculpa pelo acidente grave. Embora o texto seja omisso, o diretor de informação saberia do desfecho, tal o desespero do Homem. Por isso, o autor acha que a sua personagem é oportunista, o contrário do perfil ideal de jornalista que se ensina nas minhas aulas. Além disso, a ideia de denúncia, como aparece na peça, não é própria do jornalista. Este observa o poder e as máscaras com que ele se apresenta e questiona e escrutina. A comunicação social, para o autor, é a-poder. O poder vem da prática. A peça é, assim, sobre a relação entre os media e o poder. Mas não é sobre o espetáculo mediático, espaço em que se encontram hoje os media.

Peça ambígua, história sombria, conclui o autor. Alguns elementos ficam por explicar. Por exemplo, não se sabe o que a mulher fez quando o político se suicidou. Ela teve coragem de continuar a denúncia iniciada pelo marido? Se ela não conhecia muito bem as rotinas do marido porque se quis encontrar com o diretor de informação no mesmo local afastado da cidade? E qual o comportamento da filha? Dado ela ter vivido uma adolescência traumatizante por causa do julgamento do pai, porque aparece numa posição tão libidinosa? Não deveria ter uma postura mais fechada? E qual a profissão da mulher? Talvez doméstica mas com estudos, foi respondido. E quando escreveu o autor a peça? Foi influenciado por algum processo que se veiculou nos media dos últimos anos?

Raul Malaquias Marques foi jornalista em Rádio Clube de Moçambique, regressando a Portugal em 1977 para trabalhar na agência noticiosa ANOP, depois Lusa, onde escreveu maioritariamente sobre política internacional e cultura. A peça reflete o seu conhecimento dos media, mas não necessariamente da televisão, como fez questão de indicar. Rapidamente, durante a aula, o autor refletiu sobre ética e responsabilidade dos media na atualidade e sobre a relação entre a notícia de agência noticiosa e os media que dão as notícias ao público. E voltou a frisar a importância da análise do poder pelos media.

Intérpretes: Ana Lopes, Dina Félix da Costa, Emanuel Rodrigues, Francisco Pestana, Maria Emília Correia, Paulo Pires, Rui Mendes, Tiago Costa e Vítor d’Andrade. Encenação e dramaturgia de Fernando Heitor, cenário de Eurico Lopes, figurinos de Dino Alves e desenho de luz e vídeo de José Álvaro Correia (fotografia fornecida pelo Teatro Aberto).




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Sexta-feira, 6 de Maio de 2016

Circo Média

Li na notícia: "Senhoras e senhores, meninas e meninos, o espectáculo está prestes a começar". Comecei a apurar a leitura: "Júlia Pinheiro e José Pedro Vasconcelos são os anfitriões do programa, coadjuvados por Vítor Hugo Cardinalli que terá também a seu cargo a direção do circo". Também li a notícia: "Trupe Circo média". Não, estas não eram as notícias que eu queria ler.

E procurei melhor, pois queria saber mais das histórias de Viriato, Irene, Lina, Lucy, Rúben, Eva Celina e Cassandra. Cheguei à página do Teatro Bocage e não vi senão o cartaz. Propus-me então reconstituir o percurso e a história, embora com o meu pouco engenho.

O Teatro Bocage comemorou ontem dez anos de existência. Ele fica na rua Manuel Soares Guedes, 13 A, à Rua Damasceno Monteiro, em Lisboa. Entre as suas atividades, desenvolve um curso destinado a quem se quer divertir com "improvisações, jogos e dinâmicas de grupo, relaxamento e construção de personagens" e construção de "um espetáculo de raiz, criando o próprio texto, a cenografia, os figurinos, os adereços, o desenho de luz e a música", trabalhando "a contracena, a relação espaço-actor, a voz e o corpo, sempre num ambiente descontraído, propício à libertação da criatividade", segundo a informação disponível nesse sítio. Durante o dia, os artistas trabalham em escritórios, em fábricas, em escolas, no próprio teatro, e encontram-se às terças-feiras à noite para a preparação de uma peça. O resultado dessa atividade começou a ser visto ontem.

Palhaços, focas amestradas, a mulher que entra numa caixa e desaparece por magia, as cantigas, o patrão do circo (cuja mulher, trapezista, fugiu com o domador de cavalos) a resolver sempre problemas como o corte de eletricidade, a madama (a que deita cartas para adivinhar o futuro), o jovem que faz cartazes e anúncios do circo e se engana sistematicamente mas acha ter força para dirigir o circo, a mulher barbuda com um forte sotaque açoriano e que intriga o resto da tribo circense. A peça não devia ter estreado ontem mas, por engano de Rúben, o público apareceu. E, logo à entrada da sala, alguns dos intérpretes gritam entre si, querem mandar o público embora, apenas fazer o ensaio geral. Por isso, as focas ainda não tinham sido disponibilizadas, elas que estavam no aquário Vasco da Gama.

Os papéis foram desempenhados por Carmo Franco, Fátima Bartolomeu, Filipa Roldão, Inês Santos A., José Pereira, Miguel Santos e Sara Maia. Encenadora: Maria João Miguel, mestre em Encenação pela Escola Superior de Teatro e Cinema. Diretor do teatro: Carlos Cardadeiro (na fotografia, o agradecimento do diretor, encenadora e atores, no final da representação).


O Teatro do Bocage é um teatro de bairro, orienta-se para públicos específicos, nomeadamente o infantil, com peças a apresentar conforme o desejo de espetadores coletivos como escolas. Tem, por isso, uma grande proximidade à freguesia de Arroios e aos seus habitantes. A peça em representação, durante apenas três dias, revela essa dinâmica de relação popular e de grande entusiasmo e adesão.

Obrigado pelo tempo e dedicação que deram aos espectadores.
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Segunda-feira, 2 de Maio de 2016

Associações e coletividades

Tenho colaborado com a Arroios TV, na rubrica Associações e Coletividades. O primeiro episódio foi sobre a Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto. O segundo, com vídeos aqui, foi sobre o Teatro Bocage. Entrámos pelas peças, nos ensaios, nos bastidores e nas conversas com responsáveis pela produção, encenação e representação.


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Sábado, 30 de Abril de 2016

Jardim Zoológico de Vidro

Fiquei a pensar na expressão de Jorge Silva Melo, o encenador de Jardim Zoológico de Vidro, de Tennessee Williams, no Teatro da Politécnica, pelos Artistas Unidos: "Derrotados, sim, abandonados, sem hipótese, deixados para trás, com a electricidade cortada e contas por pagar, vencidos: mas estes são os invencíveis, esses sonhadores que Tennessee Williams cantou".

Da trilogia encenada por Jorge Silva Melo das obras de Tennessee Williams (Thomas Lanier Williams III, 1911-1983) - Gata em Telhado de Zinco QuenteDoce Pássaro da JuventudeJardim Zoológico de Vidro -, esta parece mais intimista, talvez porque a sala que recebe a peça permite que o espectador esteja mais perto dos atores e entenda melhor o que dizem e o modo como o expressam. Mas há o mesmo universo das outras peças que decorrem no Missouri, com fazendeiros, homens de sucesso e de fracasso, embora a trama se urda no seio de uma só família, com a entrada de um forasteiro no final da peça.

Aqui, na cidade de S. Louis, o fracasso parece momentaneamente compensado pelo sonho: arranjar um pretendente para a filha que coxeia, incentivar o filho a ter um melhor emprego. Mas aquela, Laura (Vânia Rodrigues), tímida, refugia-se na coleção de peças de vidro representando animais e aquele, Tom (João Pedro Mamede), frequenta o cinema em busca de aventuras que a vida de empregado num armazém de calçado não tem. A única voz realista é a do jovem Jim O'Connor (José Mata), convidado para jantar e, possivelmente, apaixonar-se e casar com a rapariga daquele lar que parou no tempo em que o marido e pai se foi embora sem nunca mais dar sinal, a não ser um postal sem endereço. E tudo se esclarece quando a empresa de eletricidade desliga o fornecimento, por falta de pagamento.

Publicada em 1945, a peça seria o primeiro grande êxito do dramaturgo na Broadway. Tom reflete a personalidade do autor. O seu pai, vendedor de sapatos viajante, alcoólico e viciado em jogos de aposta, aparece na peça como empregado dos telefones de longa distância até um dia desaparecer. Para fugir ao mundo caseiro insuportável, Williams ter-se-ia refugiado no seu quarto pintado de branco e com miniaturas de animais de vidro. Talvez Laura se assemelhe à sua irmã, Rose, com sintomas de esquizofrenia desde jovem e submetida a uma lobotomia. A história da peça decorre na década de 1930, quando os Estados Unidos viviam os problemas da grande depressão financeira e os indivíduos por mais que lutassem quase sempre perdiam, desempregados, deserdados, escorraçados, arredados de tudo por uma estranha força do destino - o capitalismo.

Compreendo a frase de Jorge Silva Melo, quando fala de vencidos que são sonhadores invencíveis: a mãe Amanda (Isabel Muñoz Cardoso) tem uma grande persistência em enfrentar os problemas e inventa soluções para eles. Infelizmente, ela está desfasada da realidade e os resultados não são adequados.

Tradução de José Miguel Silva, cenografia e figurinos de Rita Lopes Alves, luz de Pedro Domingos, coordenação técnica de João Chicó, produção de João Meireles e assistência de encenação de António Simão. Fotografia de Jorge Gonçalves.


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