Quinta-feira, 28 de Fevereiro de 2008
Volto a escrever sobre A misteriosa chama da rainha Loana, de Umberto Eco - ver, por exemplo, em 22 de Abril de 2005 ou o meu livro Indústrias Culturais -, agora com outras perspectivas. Defendo que o livro - para além da inegável reconstituição histórica da época de vida de Eco, tornado Giambattista Bodoni, aliás Yambo - representa uma via importante para a compreensão do hipertexto e interpretação. O livro é, sobretudo, sobre a perda da memória biográfica da principal personagem, vítima de um AVC - mas onde se realçam essas duas categorias.
A aula de hoje serviu para reorganizar o que se sabe sobre o autor e a obra. A interpretação que fizemos (ou a sua reinterpretação) surge também como um reconhecimento ou uma reaprendizagem do mundo exterior e das relações que Bodoni aliás Yambo mantinha: com a mulher, com os familiares, com os amigos, no seu negócio de alfarrabista muito cotado. Nós aprendemos o mundo lá fora através de três possibilidades: aprendizagem pessoal, informação veiculada por outras pessoas, media.
Bodoni aliás Yambo recomeçou a viver graças à informação veiculada pelos outros (primeira parte) e pelos media (segunda parte). Há no livro um sentido muito hegeliano das coisas, com a parte inicial a ser a redescoberta ou nevoeiro (saída da escuridão), com a segunda parte a ser do domínio da clareza (ou reconstituição do passado através das releituras de infância e adolescência e a última o regresso ao pesadelo do AVC (mas uma escuridão luminosa, se é permitido assim interpretar).
Em Eco, aprendemos o que é a falsificação literária (a partir de materiais reais forma-se uma trama ficcional). Ou, de outro ângulo, ele usa os materiais como um romancista histórico, misturando habilmente situações verdadeiras (ou conjuntos de ordem social) e personagens fictícias, dando à sua literatura a curiosidade e suspense do romance policial. Diria mais apropriadamente que ele junta a semiótica (a sua verdadeira profissão) com a ficção (o seu ganha pão mais evidente). E, embora recorra a exemplos históricos, a sua semiótica é uma cultura a-histórica. Essa semiótica é visível logo na primeira parte quando usa oposições como nevoeiro e chama (há uma misteriosa chama, lê-se na página 69: "o que significa uma «misteriosa chama»?". "Não sei, mas saiu-me". E há a curiosidade em saber o que é a misteriosa chama e a rainha Loana (aí os alunos disseram: professor, não conte a história do livro pois ainda não acabamos a sua leitura).
Ora, onde Eco é forte - pelo menos na primeira parte do livro, que foi o que estudámos - é no domínio do hipertexto. Eu encontro pontos fortes nele, tais como maleabilidade e capacidade de procurar (mas ressalto um ponto fraco, o esquecimento, a procura aleatória nos sítios da Internet que nos leva longe do tema inicial). E o hipertexto salta de Eco para os seus fãs, como o ilustra o sítio, queenloana, projecto iniciado por Erik Ketzan em torno da obra de Umberto Eco, e que dá muitas pistas, nomeadamente para a compreensão das suas múltiplas referências literárias.
Mas igualmente descubro o texto Edgar Roberto Kirchof e Isabella Vieira de Bem, dedicado à hipertextualidade e efeito multimedia no livro impresso e, em particular, neste livro. Nele pode ler-se nomeadamente:
"Uma das principais características do hipertexto é a ruptura quanto à forma linear da leitura, devido ao seu caráter eminentemente não-seqüencial. Nesse sentido, como afirma o próprio Eco, mesmo antes da tecnologia digital, nós já temos lido livros de forma hipertextual: “Nós lemos uma página e pulamos, principalmente quando a estamos relendo. Pense na Bíblia. Quando as pessoas a lêem, elas sempre estão pulando aqui e ali, constantemente ligando várias citações.
"[...]Os romances de Umberto Eco, nesse sentido, são exemplares, pois constituem verdadeiras redes dotadas de uma gama impressionante de referências a obras provindas dos contextos mais variados. Embora essa estratégia também esteja presente em O nome da rosa, O pêndulo de Foucault, A ilha do dia anterior e Baudolino, a seguir, será abordada, ainda que em breves traços, a partir do romance A misteriosa chama da rainha Loana. Como notou Caesar (1999), a leitura bem sucedida de um romance de Umberto Eco pressuporia um leitor dotado de um conhecimento enciclopédico tão vasto como o do próprio autor. As referências intertextuais, na obra de Eco, são tantas que foi criada, por um de seus tradutores, Erik Ketzan, uma página na internet (MFoQL Project/ http://queenloana.wikispaces.com/), com tecnologia Wiki, na qual os internautas são convidados a explicar as inúmeras passagens que se reportam, implícita ou explicitamente, a obras das mais variadas procedências".Para outra ocasião, se houver, fica a promessa de explorar uma também importante característica deste livro - a análise dos meios de massa (media) - tarefa ingente que Umberto Eco começou desde que passou pela RAI (televisão pública italiana) e pelo livro Apocalípticos e Integrados, por exemplo.
Volto a escrever sobre A misteriosa chama da rainha Loana, de Umberto Eco - ver, por exemplo, em 22 de Abril de 2005 ou o meu livro Indústrias Culturais -, agora com outras perspectivas. Defendo que o livro - para além da inegável reconstituição histórica da época de vida de Eco, tornado Giambattista Bodoni, aliás Yambo - representa uma via importante para a compreensão do hipertexto e interpretação. O livro é, sobretudo, sobre a perda da memória biográfica da principal personagem, vítima de um AVC - mas onde se realçam essas duas categorias.
A aula de hoje serviu para reorganizar o que se sabe sobre o autor e a obra. A interpretação que fizemos (ou a sua reinterpretação) surge também como um reconhecimento ou uma reaprendizagem do mundo exterior e das relações que Bodoni aliás Yambo mantinha: com a mulher, com os familiares, com os amigos, no seu negócio de alfarrabista muito cotado. Nós aprendemos o mundo lá fora através de três possibilidades: aprendizagem pessoal, informação veiculada por outras pessoas, media.
Bodoni aliás Yambo recomeçou a viver graças à informação veiculada pelos outros (primeira parte) e pelos media (segunda parte). Há no livro um sentido muito hegeliano das coisas, com a parte inicial a ser a redescoberta ou nevoeiro (saída da escuridão), com a segunda parte a ser do domínio da clareza (ou reconstituição do passado através das releituras de infância e adolescência e a última o regresso ao pesadelo do AVC (mas uma escuridão luminosa, se é permitido assim interpretar).
Em Eco, aprendemos o que é a falsificação literária (a partir de materiais reais forma-se uma trama ficcional). Ou, de outro ângulo, ele usa os materiais como um romancista histórico, misturando habilmente situações verdadeiras (ou conjuntos de ordem social) e personagens fictícias, dando à sua literatura a curiosidade e suspense do romance policial. Diria mais apropriadamente que ele junta a semiótica (a sua verdadeira profissão) com a ficção (o seu ganha pão mais evidente). E, embora recorra a exemplos históricos, a sua semiótica é uma cultura a-histórica. Essa semiótica é visível logo na primeira parte quando usa oposições como nevoeiro e chama (há uma misteriosa chama, lê-se na página 69: "o que significa uma «misteriosa chama»?". "Não sei, mas saiu-me". E há a curiosidade em saber o que é a misteriosa chama e a rainha Loana (aí os alunos disseram: professor, não conte a história do livro pois ainda não acabamos a sua leitura).
Ora, onde Eco é forte - pelo menos na primeira parte do livro, que foi o que estudámos - é no domínio do hipertexto. Eu encontro pontos fortes nele, tais como maleabilidade e capacidade de procurar (mas ressalto um ponto fraco, o esquecimento, a procura aleatória nos sítios da Internet que nos leva longe do tema inicial). E o hipertexto salta de Eco para os seus fãs, como o ilustra o sítio, queenloana, projecto iniciado por Erik Ketzan em torno da obra de Umberto Eco, e que dá muitas pistas, nomeadamente para a compreensão das suas múltiplas referências literárias.
Mas igualmente descubro o texto Edgar Roberto Kirchof e Isabella Vieira de Bem, dedicado à hipertextualidade e efeito multimedia no livro impresso e, em particular, neste livro. Nele pode ler-se nomeadamente:
"Uma das principais características do hipertexto é a ruptura quanto à forma linear da leitura, devido ao seu caráter eminentemente não-seqüencial. Nesse sentido, como afirma o próprio Eco, mesmo antes da tecnologia digital, nós já temos lido livros de forma hipertextual: “Nós lemos uma página e pulamos, principalmente quando a estamos relendo. Pense na Bíblia. Quando as pessoas a lêem, elas sempre estão pulando aqui e ali, constantemente ligando várias citações.
"[...]Os romances de Umberto Eco, nesse sentido, são exemplares, pois constituem verdadeiras redes dotadas de uma gama impressionante de referências a obras provindas dos contextos mais variados. Embora essa estratégia também esteja presente em O nome da rosa, O pêndulo de Foucault, A ilha do dia anterior e Baudolino, a seguir, será abordada, ainda que em breves traços, a partir do romance A misteriosa chama da rainha Loana. Como notou Caesar (1999), a leitura bem sucedida de um romance de Umberto Eco pressuporia um leitor dotado de um conhecimento enciclopédico tão vasto como o do próprio autor. As referências intertextuais, na obra de Eco, são tantas que foi criada, por um de seus tradutores, Erik Ketzan, uma página na internet (MFoQL Project/ http://queenloana.wikispaces.com/), com tecnologia Wiki, na qual os internautas são convidados a explicar as inúmeras passagens que se reportam, implícita ou explicitamente, a obras das mais variadas procedências".Para outra ocasião, se houver, fica a promessa de explorar uma também importante característica deste livro - a análise dos meios de massa (media) - tarefa ingente que Umberto Eco começou desde que passou pela RAI (televisão pública italiana) e pelo livro Apocalípticos e Integrados, por exemplo.
Volto a escrever sobre A misteriosa chama da rainha Loana, de Umberto Eco - ver, por exemplo, em 22 de Abril de 2005 ou o meu livro Indústrias Culturais -, agora com outras perspectivas. Defendo que o livro - para além da inegável reconstituição histórica da época de vida de Eco, tornado Giambattista Bodoni, aliás Yambo - representa uma via importante para a compreensão do hipertexto e interpretação. O livro é, sobretudo, sobre a perda da memória biográfica da principal personagem, vítima de um AVC - mas onde se realçam essas duas categorias.
A aula de hoje serviu para reorganizar o que se sabe sobre o autor e a obra. A interpretação que fizemos (ou a sua reinterpretação) surge também como um reconhecimento ou uma reaprendizagem do mundo exterior e das relações que Bodoni aliás Yambo mantinha: com a mulher, com os familiares, com os amigos, no seu negócio de alfarrabista muito cotado. Nós aprendemos o mundo lá fora através de três possibilidades: aprendizagem pessoal, informação veiculada por outras pessoas, media.
Bodoni aliás Yambo recomeçou a viver graças à informação veiculada pelos outros (primeira parte) e pelos media (segunda parte). Há no livro um sentido muito hegeliano das coisas, com a parte inicial a ser a redescoberta ou nevoeiro (saída da escuridão), com a segunda parte a ser do domínio da clareza (ou reconstituição do passado através das releituras de infância e adolescência e a última o regresso ao pesadelo do AVC (mas uma escuridão luminosa, se é permitido assim interpretar).
Em Eco, aprendemos o que é a falsificação literária (a partir de materiais reais forma-se uma trama ficcional). Ou, de outro ângulo, ele usa os materiais como um romancista histórico, misturando habilmente situações verdadeiras (ou conjuntos de ordem social) e personagens fictícias, dando à sua literatura a curiosidade e suspense do romance policial. Diria mais apropriadamente que ele junta a semiótica (a sua verdadeira profissão) com a ficção (o seu ganha pão mais evidente). E, embora recorra a exemplos históricos, a sua semiótica é uma cultura a-histórica. Essa semiótica é visível logo na primeira parte quando usa oposições como nevoeiro e chama (há uma misteriosa chama, lê-se na página 69: "o que significa uma «misteriosa chama»?". "Não sei, mas saiu-me". E há a curiosidade em saber o que é a misteriosa chama e a rainha Loana (aí os alunos disseram: professor, não conte a história do livro pois ainda não acabamos a sua leitura).
Ora, onde Eco é forte - pelo menos na primeira parte do livro, que foi o que estudámos - é no domínio do hipertexto. Eu encontro pontos fortes nele, tais como maleabilidade e capacidade de procurar (mas ressalto um ponto fraco, o esquecimento, a procura aleatória nos sítios da Internet que nos leva longe do tema inicial). E o hipertexto salta de Eco para os seus fãs, como o ilustra o sítio, queenloana, projecto iniciado por Erik Ketzan em torno da obra de Umberto Eco, e que dá muitas pistas, nomeadamente para a compreensão das suas múltiplas referências literárias.
Mas igualmente descubro o texto Edgar Roberto Kirchof e Isabella Vieira de Bem, dedicado à hipertextualidade e efeito multimedia no livro impresso e, em particular, neste livro. Nele pode ler-se nomeadamente:
"Uma das principais características do hipertexto é a ruptura quanto à forma linear da leitura, devido ao seu caráter eminentemente não-seqüencial. Nesse sentido, como afirma o próprio Eco, mesmo antes da tecnologia digital, nós já temos lido livros de forma hipertextual: “Nós lemos uma página e pulamos, principalmente quando a estamos relendo. Pense na Bíblia. Quando as pessoas a lêem, elas sempre estão pulando aqui e ali, constantemente ligando várias citações.
"[...]Os romances de Umberto Eco, nesse sentido, são exemplares, pois constituem verdadeiras redes dotadas de uma gama impressionante de referências a obras provindas dos contextos mais variados. Embora essa estratégia também esteja presente em O nome da rosa, O pêndulo de Foucault, A ilha do dia anterior e Baudolino, a seguir, será abordada, ainda que em breves traços, a partir do romance A misteriosa chama da rainha Loana. Como notou Caesar (1999), a leitura bem sucedida de um romance de Umberto Eco pressuporia um leitor dotado de um conhecimento enciclopédico tão vasto como o do próprio autor. As referências intertextuais, na obra de Eco, são tantas que foi criada, por um de seus tradutores, Erik Ketzan, uma página na internet (MFoQL Project/ http://queenloana.wikispaces.com/), com tecnologia Wiki, na qual os internautas são convidados a explicar as inúmeras passagens que se reportam, implícita ou explicitamente, a obras das mais variadas procedências".Para outra ocasião, se houver, fica a promessa de explorar uma também importante característica deste livro - a análise dos meios de massa (media) - tarefa ingente que Umberto Eco começou desde que passou pela RAI (televisão pública italiana) e pelo livro Apocalípticos e Integrados, por exemplo.
Volto a escrever sobre A misteriosa chama da rainha Loana, de Umberto Eco - ver, por exemplo, em 22 de Abril de 2005 ou o meu livro Indústrias Culturais -, agora com outras perspectivas. Defendo que o livro - para além da inegável reconstituição histórica da época de vida de Eco, tornado Giambattista Bodoni, aliás Yambo - representa uma via importante para a compreensão do hipertexto e interpretação. O livro é, sobretudo, sobre a perda da memória biográfica da principal personagem, vítima de um AVC - mas onde se realçam essas duas categorias.
A aula de hoje serviu para reorganizar o que se sabe sobre o autor e a obra. A interpretação que fizemos (ou a sua reinterpretação) surge também como um reconhecimento ou uma reaprendizagem do mundo exterior e das relações que Bodoni aliás Yambo mantinha: com a mulher, com os familiares, com os amigos, no seu negócio de alfarrabista muito cotado. Nós aprendemos o mundo lá fora através de três possibilidades: aprendizagem pessoal, informação veiculada por outras pessoas, media.
Bodoni aliás Yambo recomeçou a viver graças à informação veiculada pelos outros (primeira parte) e pelos media (segunda parte). Há no livro um sentido muito hegeliano das coisas, com a parte inicial a ser a redescoberta ou nevoeiro (saída da escuridão), com a segunda parte a ser do domínio da clareza (ou reconstituição do passado através das releituras de infância e adolescência e a última o regresso ao pesadelo do AVC (mas uma escuridão luminosa, se é permitido assim interpretar).
Em Eco, aprendemos o que é a falsificação literária (a partir de materiais reais forma-se uma trama ficcional). Ou, de outro ângulo, ele usa os materiais como um romancista histórico, misturando habilmente situações verdadeiras (ou conjuntos de ordem social) e personagens fictícias, dando à sua literatura a curiosidade e suspense do romance policial. Diria mais apropriadamente que ele junta a semiótica (a sua verdadeira profissão) com a ficção (o seu ganha pão mais evidente). E, embora recorra a exemplos históricos, a sua semiótica é uma cultura a-histórica. Essa semiótica é visível logo na primeira parte quando usa oposições como nevoeiro e chama (há uma misteriosa chama, lê-se na página 69: "o que significa uma «misteriosa chama»?". "Não sei, mas saiu-me". E há a curiosidade em saber o que é a misteriosa chama e a rainha Loana (aí os alunos disseram: professor, não conte a história do livro pois ainda não acabamos a sua leitura).
Ora, onde Eco é forte - pelo menos na primeira parte do livro, que foi o que estudámos - é no domínio do hipertexto. Eu encontro pontos fortes nele, tais como maleabilidade e capacidade de procurar (mas ressalto um ponto fraco, o esquecimento, a procura aleatória nos sítios da Internet que nos leva longe do tema inicial). E o hipertexto salta de Eco para os seus fãs, como o ilustra o sítio, queenloana, projecto iniciado por Erik Ketzan em torno da obra de Umberto Eco, e que dá muitas pistas, nomeadamente para a compreensão das suas múltiplas referências literárias.
Mas igualmente descubro o texto Edgar Roberto Kirchof e Isabella Vieira de Bem, dedicado à hipertextualidade e efeito multimedia no livro impresso e, em particular, neste livro. Nele pode ler-se nomeadamente:
"Uma das principais características do hipertexto é a ruptura quanto à forma linear da leitura, devido ao seu caráter eminentemente não-seqüencial. Nesse sentido, como afirma o próprio Eco, mesmo antes da tecnologia digital, nós já temos lido livros de forma hipertextual: “Nós lemos uma página e pulamos, principalmente quando a estamos relendo. Pense na Bíblia. Quando as pessoas a lêem, elas sempre estão pulando aqui e ali, constantemente ligando várias citações.
"[...]Os romances de Umberto Eco, nesse sentido, são exemplares, pois constituem verdadeiras redes dotadas de uma gama impressionante de referências a obras provindas dos contextos mais variados. Embora essa estratégia também esteja presente em O nome da rosa, O pêndulo de Foucault, A ilha do dia anterior e Baudolino, a seguir, será abordada, ainda que em breves traços, a partir do romance A misteriosa chama da rainha Loana. Como notou Caesar (1999), a leitura bem sucedida de um romance de Umberto Eco pressuporia um leitor dotado de um conhecimento enciclopédico tão vasto como o do próprio autor. As referências intertextuais, na obra de Eco, são tantas que foi criada, por um de seus tradutores, Erik Ketzan, uma página na internet (MFoQL Project/ http://queenloana.wikispaces.com/), com tecnologia Wiki, na qual os internautas são convidados a explicar as inúmeras passagens que se reportam, implícita ou explicitamente, a obras das mais variadas procedências".Para outra ocasião, se houver, fica a promessa de explorar uma também importante característica deste livro - a análise dos meios de massa (media) - tarefa ingente que Umberto Eco começou desde que passou pela RAI (televisão pública italiana) e pelo livro Apocalípticos e Integrados, por exemplo.
Volto a escrever sobre A misteriosa chama da rainha Loana, de Umberto Eco - ver, por exemplo, em 22 de Abril de 2005 ou o meu livro Indústrias Culturais -, agora com outras perspectivas. Defendo que o livro - para além da inegável reconstituição histórica da época de vida de Eco, tornado Giambattista Bodoni, aliás Yambo - representa uma via importante para a compreensão do hipertexto e interpretação. O livro é, sobretudo, sobre a perda da memória biográfica da principal personagem, vítima de um AVC - mas onde se realçam essas duas categorias.
A aula de hoje serviu para reorganizar o que se sabe sobre o autor e a obra. A interpretação que fizemos (ou a sua reinterpretação) surge também como um reconhecimento ou uma reaprendizagem do mundo exterior e das relações que Bodoni aliás Yambo mantinha: com a mulher, com os familiares, com os amigos, no seu negócio de alfarrabista muito cotado. Nós aprendemos o mundo lá fora através de três possibilidades: aprendizagem pessoal, informação veiculada por outras pessoas, media.
Bodoni aliás Yambo recomeçou a viver graças à informação veiculada pelos outros (primeira parte) e pelos media (segunda parte). Há no livro um sentido muito hegeliano das coisas, com a parte inicial a ser a redescoberta ou nevoeiro (saída da escuridão), com a segunda parte a ser do domínio da clareza (ou reconstituição do passado através das releituras de infância e adolescência e a última o regresso ao pesadelo do AVC (mas uma escuridão luminosa, se é permitido assim interpretar).
Em Eco, aprendemos o que é a falsificação literária (a partir de materiais reais forma-se uma trama ficcional). Ou, de outro ângulo, ele usa os materiais como um romancista histórico, misturando habilmente situações verdadeiras (ou conjuntos de ordem social) e personagens fictícias, dando à sua literatura a curiosidade e suspense do romance policial. Diria mais apropriadamente que ele junta a semiótica (a sua verdadeira profissão) com a ficção (o seu ganha pão mais evidente). E, embora recorra a exemplos históricos, a sua semiótica é uma cultura a-histórica. Essa semiótica é visível logo na primeira parte quando usa oposições como nevoeiro e chama (há uma misteriosa chama, lê-se na página 69: "o que significa uma «misteriosa chama»?". "Não sei, mas saiu-me". E há a curiosidade em saber o que é a misteriosa chama e a rainha Loana (aí os alunos disseram: professor, não conte a história do livro pois ainda não acabamos a sua leitura).
Ora, onde Eco é forte - pelo menos na primeira parte do livro, que foi o que estudámos - é no domínio do hipertexto. Eu encontro pontos fortes nele, tais como maleabilidade e capacidade de procurar (mas ressalto um ponto fraco, o esquecimento, a procura aleatória nos sítios da Internet que nos leva longe do tema inicial). E o hipertexto salta de Eco para os seus fãs, como o ilustra o sítio, queenloana, projecto iniciado por Erik Ketzan em torno da obra de Umberto Eco, e que dá muitas pistas, nomeadamente para a compreensão das suas múltiplas referências literárias.
Mas igualmente descubro o texto Edgar Roberto Kirchof e Isabella Vieira de Bem, dedicado à hipertextualidade e efeito multimedia no livro impresso e, em particular, neste livro. Nele pode ler-se nomeadamente:
"Uma das principais características do hipertexto é a ruptura quanto à forma linear da leitura, devido ao seu caráter eminentemente não-seqüencial. Nesse sentido, como afirma o próprio Eco, mesmo antes da tecnologia digital, nós já temos lido livros de forma hipertextual: “Nós lemos uma página e pulamos, principalmente quando a estamos relendo. Pense na Bíblia. Quando as pessoas a lêem, elas sempre estão pulando aqui e ali, constantemente ligando várias citações.
"[...]Os romances de Umberto Eco, nesse sentido, são exemplares, pois constituem verdadeiras redes dotadas de uma gama impressionante de referências a obras provindas dos contextos mais variados. Embora essa estratégia também esteja presente em O nome da rosa, O pêndulo de Foucault, A ilha do dia anterior e Baudolino, a seguir, será abordada, ainda que em breves traços, a partir do romance A misteriosa chama da rainha Loana. Como notou Caesar (1999), a leitura bem sucedida de um romance de Umberto Eco pressuporia um leitor dotado de um conhecimento enciclopédico tão vasto como o do próprio autor. As referências intertextuais, na obra de Eco, são tantas que foi criada, por um de seus tradutores, Erik Ketzan, uma página na internet (MFoQL Project/ http://queenloana.wikispaces.com/), com tecnologia Wiki, na qual os internautas são convidados a explicar as inúmeras passagens que se reportam, implícita ou explicitamente, a obras das mais variadas procedências".Para outra ocasião, se houver, fica a promessa de explorar uma também importante característica deste livro - a análise dos meios de massa (media) - tarefa ingente que Umberto Eco começou desde que passou pela RAI (televisão pública italiana) e pelo livro Apocalípticos e Integrados, por exemplo.
Segunda-feira, 18 de Fevereiro de 2008
- Para Lévy, os signos evocam "coisas ausentes" mas também, e especialmente, cenas, intrigas, séries completas de acontecimentos interligados (p. 70). Sem uma linguagem não se poderia contar uma história (ou estória?) ou colocar uma questão.
A linguagem é um poder. Ela não é apenas o francês, o inglês ou o português, é também a linguagem visual ou plástica, a musical, a matemática. Quanto mais as linguagens se enriquecem mais aumentam as possibilidades de simular ou imaginar.
Leitura: Pierre Lévy (2001). O que é virtual? Coimbra: Quarteto
- Para Lévy, os signos evocam "coisas ausentes" mas também, e especialmente, cenas, intrigas, séries completas de acontecimentos interligados (p. 70). Sem uma linguagem não se poderia contar uma história (ou estória?) ou colocar uma questão.
A linguagem é um poder. Ela não é apenas o francês, o inglês ou o português, é também a linguagem visual ou plástica, a musical, a matemática. Quanto mais as linguagens se enriquecem mais aumentam as possibilidades de simular ou imaginar.
Leitura: Pierre Lévy (2001). O que é virtual? Coimbra: Quarteto
- Para Lévy, os signos evocam "coisas ausentes" mas também, e especialmente, cenas, intrigas, séries completas de acontecimentos interligados (p. 70). Sem uma linguagem não se poderia contar uma história (ou estória?) ou colocar uma questão.
A linguagem é um poder. Ela não é apenas o francês, o inglês ou o português, é também a linguagem visual ou plástica, a musical, a matemática. Quanto mais as linguagens se enriquecem mais aumentam as possibilidades de simular ou imaginar.
Leitura: Pierre Lévy (2001). O que é virtual? Coimbra: Quarteto
- Para Lévy, os signos evocam "coisas ausentes" mas também, e especialmente, cenas, intrigas, séries completas de acontecimentos interligados (p. 70). Sem uma linguagem não se poderia contar uma história (ou estória?) ou colocar uma questão.
A linguagem é um poder. Ela não é apenas o francês, o inglês ou o português, é também a linguagem visual ou plástica, a musical, a matemática. Quanto mais as linguagens se enriquecem mais aumentam as possibilidades de simular ou imaginar.
Leitura: Pierre Lévy (2001). O que é virtual? Coimbra: Quarteto
- Para Lévy, os signos evocam "coisas ausentes" mas também, e especialmente, cenas, intrigas, séries completas de acontecimentos interligados (p. 70). Sem uma linguagem não se poderia contar uma história (ou estória?) ou colocar uma questão.
A linguagem é um poder. Ela não é apenas o francês, o inglês ou o português, é também a linguagem visual ou plástica, a musical, a matemática. Quanto mais as linguagens se enriquecem mais aumentam as possibilidades de simular ou imaginar.
Leitura: Pierre Lévy (2001). O que é virtual? Coimbra: Quarteto