Quarta-feira, 1 de Junho de 2016
Bárbara Reis deixa em novembro o cargo de diretora do jornal Público, por ela ocupado em 2009. No seu comunicado, a administração informa que "as especulações sobre conflitos ou simples desentendimentos tornar-se-iam fortemente desestabilizadoras do jornal e, em acréscimo, seriam particularmente injustas para com a sua diretora".
Lembro-me dela como jornalista, assessora em Timor-Leste e substituta de José Manuel Fernandes à frente do jornal. Quando escrevia a minha tese de doutoramento, foi uma das jornalistas que entrevistei sobre as notícias acerca da saúde, ela que se especializara em parte nessa área. O jornal ultrapassou as posições conservadoras do anterior diretor e trouxe uma agenda mais voltada para questões do género e de minorias, entre outros tópicos, numa retoma de alguns princípios do jornal nascido em 1990. Mas trocou as instalações das Picoas pela zona de Santos junto ao rio, lugares geográficos simbólicos da maior e da menor influência de um meio que marcou o jornalismo de final do século XX, nomeadamente nos campos político, económico e cultural. A quebra de vendas, de igual modo que em todos os jornais de papel, os largos despedimentos de jornalistas e o desaparecimento da revista dominical, cujos conteúdos (textos de sociedade e de interesse humano, como entrevistas e reportagens) migraram para o jornal diário, marcaram o seu período. O crescimento de acessos à internet não conseguiu ser alternativa para atenuar as perdas financeiras.
Este aparente falhanço esconde a realidade crua da posição atual dos media de qualidade. Ser responsável de um jornal em papel hoje não é uma tarefa empolgante porque nada reconhecida. A notícia da substituição de Bárbara Reis deu-se na mesma altura em que o presidente do sindicato dos magistrados afirma haver meios de comunicação social controlados por arguidos poderosos, o que eleva a pressão sobre um jornal que faz opinião. Numa recentíssima polémica, o Público de domingo deu grande visibilidade à fã número milhão no Facebook, tema aparentemente pouco importante e que provocou violentas e talvez exageradas posições no Facebook quanto a essa opção.
Não sei se a mudança prevista vai estancar o posicionamento do jornal como meio de fazer opinião pública e garante de uma democracia com meios de comunicação fortes.
Terça-feira, 24 de Maio de 2016
Lançamento do livro O Jornalismo Português e a Guerra Colonial (editora Guerra e Paz), hoje, na Universidade Nova de Lisboa [na imagem, da esquerda para a direita: Jacinto Godinho, docente da Universidade Nova de Lisboa, Carlos de Matos Gomes, coronel do exército, a autora e Manuel S. Fonseca, da editora Guerra e Paz].
Quinta-feira, 19 de Maio de 2016
Saiu o livro organizado por Sílvia Torres,
O Jornalismo Português e a Guerra Colonial, numa edição da Guerra e Paz. O livro começou por ser um projeto organizado na Universidade Nova de Lisboa, agora ampliado na edição. A organizadora define a obra como teórico-prática: além do conhecimento científico engloba narrativas individuais. Sílvia Torres escreve que o "jornalismo é um bem público essencial para a compreensão de fenómenos, acontecimentos e ações" (p. 34).
Do que já li, destaco dois capítulos finais que relacionam jornalismo e história: um mais conceptual (José Manuel Tengarrinha) e outro mais de carpintaria (do investigador que escreve sobre o passado a partir das notícias de jornais, Aniceto Afonso). Sem estar totalmente em acordo com o que ambos escrevem, noto que são textos fundamentais para a matéria objeto do livro.
A primeira parte parece-me estruturante do livro, pois dá título ao livro. Ainda não lidos por mim, vou dedicar atenção, num primeiro momento, aos capítulos assinados por Carla Baptista e Sílvia Torres. A segunda parte está intitulada Censura e a terceira tem dezoito entrevistas, a maioria de profissionais que trabalharam nas antigas colónias ou foram repórteres. Uma ideia fica já gravada na minha memória: quase nada se escreveu sobre a guerra colonial exceto as notas oficiais das forças armadas ou do governo. A censura a isso obrigava. Os efetivos militares chegaram aos cem mil e, por dia, houve dois mortos: "O silêncio imposto pelo regime faz a guerra parecer distante, faz a guerra parecer ausente, de certa forma, torna a guerra inexistente" (p. 413, texto de Aniceto Afonso).
Li já os textos de (sobre) Diamantino Pereira Monteiro e David Borges. Fico-me por este último: entrou a trabalhar em Rádio Clube de Huíla (Sá da Bandeira, hoje Lubango) com 16 anos, terminando o 5 ano liceal com muito esforço. Fez de tudo: radioteatro, publicidade, jogos de futebol e reportagens por mato dentro. No começo, também programas de discos pedidos, essenciais para a existência da estação: cada pedido de disco era pago, Ele lia os cartões com os pedidos e punha os discos no ar. Era uma rádio feita por brancos e para um auditório branco. Apenas havia um programa feito por dois negros em umbundo, uma das línguas angolanas, que passava diariamente música africana. O programa "era um mundo absolutamente exótico para nós, porque não percebíamos nem o que eles diziam, nem as letras das músicas que eles passavam" (p. 184).
Terça-feira, 17 de Maio de 2016
Foi ontem de manhã que a ERC, a Universidade Católica e a GfK apresentaram o estudo
As Novas Dinâmicas do Consumo Audiovisual em Portugal, mais assente na televisão que nos restantes media audiovisuais. Conforme alguém da assistência resumia na parte de debate, desapareceram alguns mitos da atual conceção dos media: a internet atinge 60% da população, a televisão é o meio audiovisual de maior consumo de informação e entretenimento, o consumo é fundamentalmente linear (o consumo posterior ou time-shift tem uma expressão de 12%).
O cenário do auditório em que decorreu a apresentação dos resultados estava bonito - parecia a sala de estar onde consumimos habitualmente a televisão, a preparar a apologia deste meio de comunicação. Os resultados foram apresentados por Nelson Ribeiro e Catarina Burnay, investigadores da Universidade Católica, e Joelma Garcia e Natacha Cabral, especialistas e responsáveis da GfK.
Retenho-me no sumário executivo do documento apresentado (total de 66 páginas, e que pode ser lido
aqui). O sumário executivo divide-se em duas partes (consumo de media; consumo de conteúdos audiovisuais). Enfatizo a segunda parte do sumário executivo: equipamentos/aparelhos, consumo por tipos de conteúdos, consumo em direto versus em diferido, multi-ecrãs, rotinas de consumo de televisão indoor, outdoor e em linha e subscrição de conteúdos em linha. Foco ainda mais em pormenor no consumo por tipos de conteúdos: informação (89,5%), telenovelas, filmes e séries (56,3%), entretenimento (50,3%), documentários (47,2%), desporto (44,6%) música e desenhos animados (perto de 30%). O trabalho de campo, realizado pela Intercampus, foi feito entre 3 de outubro e 30 de novembro de 2015, num processo de
random-route para seleção do lar e teve uma amostra inicial de 1018 entrevistas.
A conferência terminou com a participação de Nuno Artur Silva (RTP) e José Eduardo Moniz (especialista de televisão e antigo diretor-geral da TVI)
[vídeos com parcelas das intervenções de Catarina Burnay e Joelma Garcia]
Sábado, 14 de Maio de 2016
Retiro e sigo literalmente (transcrevo) a informação preparada por Rita Correia para a
Hemeroteca Digital:
"Faça da sua pena de jornalista uma agulheta para desencardir as maquilhagens da hipocrisia, da hipocrisia que artificializa a honra e oculta o crime, do crime que consegue a impunidade subornando ou ferindo. É esta a mais doirada gloria da imprensa, o mais digno orgulho do jornalista (...) alguem cuja vida é um continuo triturar de almas e de vidas, sem escrúpulos nem piedade; (...) vingar as vítimas e abrir os olhos aos iludidos, revelar a verdadeira personalidade do bandido com a certeza que nem o suborno nem o mêdo nos desviarão do caminho traçado – que apoteose dentro da nossa consciência! Que admirável profissão a que nos concede essa orgia de bem!"
Estes
Conselhos a um futuro jornalista poderiam ser o manifesto pessoal de Reinaldo Ferreira (1897-1935), uma das mais interessantes e complexas figuras do jornalismo português, o famoso Repórter X, cujo projeto editorial homónimo -
Repórter X : Semanário das Grandes Reportagens - está agora disponível na Hemeroteca Digital, com algumas falhas.
Nas suas páginas, crimes financeiros e de sangue, fraudes, negócios sórdidos, casos de espionagem, investigações policiais, escândalos com vultos famosos, paixões proibidas, personalidades e acontecimentos históricos marcantes e fraturantes, projeções futuristas, dramas sociais, questões civilizacionais, horrores da guerra, catástrofes naturais e grandes desastres, revoluções e conspirações, servem de base a textos onde a investigação jornalística se cruza com a ficção, resultando as reportagens num produto híbrido, perfeitamente assumido: "Quando não rigorosamente exactas em certos pormenores, são-no na essência. Por vezes, a linguagem de que as revestimos, os nomes supostos que lhes arranjamos, e a sucessão melhor combinada de certos quadros, são como os vestidos e os adornos para certos corpos de mulher – embelezam-nos sem lhes alterarem a linha impecável e escultural."
Sexta-feira, 13 de Maio de 2016
Há minutos, na minha caixa do Facebook, Ricardo Tomé ("a sentir-se determinado") escrevia: "Estamos há quase 2 anos na liderança ininterrupta do segmento, no digital". E completava: "Lamento, mas não vamos querer ficar por aqui". Dois anos é o tempo que medeia a sua saída da RTP por troca com a TVI. Ele era responsável pela área multimédia da RTP, tendo estado à frente de RTP Play e da plataforma second screen 5i. Trabalhou na estação pública durante dez anos.
Por sua vez, chegava-me uma notícia, também pelo Facebook, sobre quatro locutores que descobriam a nova “cidade da rádio” (Renascença): as vozes das rádios ou "inquilinos da novíssima casa da rádio": José Coimbra (RFM), Renato Duarte (Renascença), Filipa Galrão (Mega Hits) e Aurélio Carlos Moreira (Rádio Sim).
E leio ainda que Bruno Nogueira vai de férias para as Manhãs da Rádio Comercial e leva a Joana Azevedo consigo, juntando-se à equipa das Manhãs da Comercial: Pedro Ribeiro, Vasco Palmeirim, Nuno Markl, César Mourão e José Avillez. Ontem, já tinha lido que Vanda Miranda deixava o programa e trocava de estação (M80).
A comunicação passa cada vez mais pelas redes sociais e os media até agora clássicos estão rendidos. Além de textos, colocam fotografias e vídeos.
Sexta-feira, 15 de Abril de 2016
Hoje, integrado num grupo, visitei o NewsMuseum (Media Age Experience), em Sintra, cuja inauguração está apontada para 25 de abril próximo (gentileza de Luís Paixão Martins).
A ideia do museu nasceu um ano atrás e teve 80 colaboradores a trabalhar até chegar ao momento de apresentação pública, num espaço de 900 metros quadrados, mesmo no centro de Sintra. Destaques, para mim, da recriação de espaço de emissão de rádio, do
lounge e interatividade com imagens, páginas e vídeos (históricos e depoimentos de profissionais e investigadores, que narram a história do media e do jornalismo ao longo de várias salas (de guerra, fotojornalismo, desportivo, jornalismo e cinema, sala dos imortais, ética e liberdade de imprensa, realidade virtual - desmaterialização dos media), cada qual com o seu curador (profissional ou especialista que apresenta o conteúdo da sala, equipamentos de televisão.
A jóia do museu é a torre de Babel, uma enorme coluna que acompanha a altura dos diversos andares, com ecrãs ligados a 90 canais de televisão. Mas ainda a sala da propaganda, com cartazes políticos ao longo das últimas décadas, em que se pode colar um cartaz (isto é, simular a sua colagem), com um mural do criador de murais do MRPP junto a um busto de António Ferro, dentro da ideia de contradição máxima: o que é próximo e o que é distante.Ou a sala dos duelos, de que recordo o debate Soares-Cunhal (e a frase: "olhe que não, olhe que não"). Diretor: Rodrigo Manuel Botelho Moniz Moita de Deus (pelo nome, descobre-se logo ser bisneto do fundador de Rádio Clube Português, Jorge Botelho Moniz) [numa das fotografias a "colar" um cartaz]. Ver mais em
NewsMuseum.
Já estou a ver o Newsmuseum a ganhar o prémio de melhor museu do ano. Pelo conteúdo, pelas ideias inovadoras nas diversas salas e pelas tecnologias de interatividade!
[
António Ribeiro, António Mocho, João David Nunes, Luís Paixão Martins, Joaquim Furtado, Rogério Santos à porta do #NewsMuseum. Ligados à Rádio, desta ou daquela maneira. — com António Ribeiro, António Mocho, João David Nunes,Joaquim Furtado e Rogério Santos em Vila De Sintra]
Sábado, 2 de Abril de 2016
Os media digitais de qualidade estão a repensar o conceito de notícia de última hora. "Abrandar o ritmo noticioso e permitir que os leitores digiram a informação com mais tempo", segundo escreveu ontem o jornal Público.
Os exemplos são os dos jornais britânicos The Times e The Sunday Times (grupo News Corp, de Rupert Murdoch), que vão adotar o modelo editorial de "abandono da cobertura noticiosa ao minuto e pela aposta no tratamento aprofundado das histórias do dia", ainda segundo a mesma notícia. Os títulos passam, assim, a ser atualizados online em três momentos diários: 9:00, 12:00 e 17:00.A decisão parece estar em oposição à tendência das edições online dos media mundiais difundirem informação ao minuto. Um objetivo maior será o de escrever textos mais profundos e compreensivos para os leitores que se interessam por saber mais sobre o mundo e parte da ideia que um leitor não absorve completamente mais do que cinco ou seis temas por dia.
Domingo, 20 de Março de 2016
Já tinha escrito
aqui, a 18 de janeiro de 2011, sobre a primeira edição do livro de Helder Bastos,
Origens e Evolução do Ciberjornalismo em Portugal. Agora, saiu a segunda edição, a que juntou ao título
Os primeiros Vinte Anos (1995-2015) e com alargamento de textos, de 106 para 143 páginas.
Então escrevi: "Com quatro capítulos (contexto global do ciberjornalismo, antecedentes do ciberjornalismo em Portugal, periodização em três fases, e evolução do modelo de negócios), constitui um útil instrumento de trabalho para quem quer estudar e conhecer o jornalismo electrónico em Portugal". A edição saída agora (final de 2015) mantém a estrutura de quatro capítulos mas adequa o segundo, designado por contexto nacional do ciberjornalismo.
O autor destaca três etapas na evolução do jornalismo digital: implementação, expansão e depressão/estagnação. Sobre os modelos de negócios, Helder Bastos distingue o iniciado em 2001, reparte a atenção por pagamento de conteúdos, assinatura, acesso gratuito como forma de publicitação dos meios pagos (jornal), lenta inclusão de anúncios em banners, organização de conferências pagas mas publicitadas gratuitamente na internet, design e construção de sites, a que se seguem modelos sem negócio. Neste caso, inclui criação de fundações, mecenato, crowdfunding de conteúdos, sinergias dentro de um grupo de media e micro-pagamento. O autor identifica modelos emergentes, onde se desenvolvem tipos de modelos já ensaiados, como conteúdos patrocinados, conferências e conteúdos patrocinados, e venda de conteúdos para plataformas móveis, a que junta a circulação digital residual. Já em 2009, Helder Bastos realça o regresso da cobrança de conteúdos.
Detenho-me brevemente nas páginas 42-43, em que se recorda o ano de 1995, quando as redações dos jornais começaram a adotar o online, caso do
Jornal de Notícias (Porto), quando dois jornalistas, um da secção de política (Helder Bastos) e outro da secção de nacional (Nuno Marques) foram destacados para trabalhar em exclusivo na edição digital do jornal. Então, havia quatro vertentes principais no trabalho dos jornalistas: interatividade com os leitores, edição de notícias, gestão de participação dos leitores em fóruns de discussão e passagem dos conteúdos do jornal em papel para o digital. Isso inibiu os jornalistas de saírem da redação, por exemplo para fazerem reportagens. Helder Bastos, deste modo um pioneiro e observador atento do fenómeno da digitalização e do online até hoje, escreveu que o ciberjornalismo inicial foi marcado pela predominância técnica e pelo esvaziamento da produção jornalística própria.
Por interesse de investigação, gosto particularmente do capítulo 2, onde o autor e docente universitário escreve sobre o contexto nacional do ciberjornalismo, com recurso a muitos números e etapas do desenvolvimento tecnológico, associando o telemóvel, a internet, a rádio e a imprensa em papel, o meio mais afetado pela economia e pela migração para o digital. Fixo as páginas 35 a 40, onde há uma análise diacrónica a partir da década de 1980, quando o país assistiu à revolução informática, responsável por alterações profundas nos mecanismos de produção gráfica e do funcionamento e competências das redações dos jornais.
Realce ainda para a útil cronologia colocada no final do livro, onde o leitor pode verificar a rápida evolução dos domínios em internet, edições eletrónicas digitais, portais, emprego e despedimentos, jornais e portais universitários, parcerias, sinergias dentro de grupos (televisão, rádio, imprensa), acesso gratuito e a pagamento, evolução de sistemas operativos e mais tópicos.
Leitura: Helder Bastos (2015).
Origens e evolução do ciberjornalismo em Portugal. Os primeiros Vinte Anos (1995-2015). Porto: Afrontamento, 143 páginas
Sexta-feira, 18 de Março de 2016
Pilar del Río, presidente da Fundação Saramago, António Pires de Lima, antigo ministro da economia, e Agnés Noguera Borel entram na administração da Media Capital, detentora da TVI e da Rádio Comercial: Juntam-se a Manuel Polanco e José Luiz Sáinz Diaz como membros independentes e não executivos do conselho de administração. Se Pires de Lima tem uma grande experiência profissional na área da gestão, Pilar del Rio é reconhecida como ligada à cultura e defesa da língua portuguesa, fazendo uma ponte entre o seu país de origem e o seu país de acolhimento. Para o mandato 2016/2019, Miguel Pais do Amaral mantem-se como presidente não executivo do conselho de administração. A atual administradora-delegada da Media Capital, Rosa Cullell Muniesa, será reconduzida nas funções executivas.