Sábado, 2 de Abril de 2016
Os media digitais de qualidade estão a repensar o conceito de notícia de última hora. "Abrandar o ritmo noticioso e permitir que os leitores digiram a informação com mais tempo", segundo escreveu ontem o jornal Público.
Os exemplos são os dos jornais britânicos The Times e The Sunday Times (grupo News Corp, de Rupert Murdoch), que vão adotar o modelo editorial de "abandono da cobertura noticiosa ao minuto e pela aposta no tratamento aprofundado das histórias do dia", ainda segundo a mesma notícia. Os títulos passam, assim, a ser atualizados online em três momentos diários: 9:00, 12:00 e 17:00.A decisão parece estar em oposição à tendência das edições online dos media mundiais difundirem informação ao minuto. Um objetivo maior será o de escrever textos mais profundos e compreensivos para os leitores que se interessam por saber mais sobre o mundo e parte da ideia que um leitor não absorve completamente mais do que cinco ou seis temas por dia.
Domingo, 20 de Março de 2016
Já tinha escrito
aqui, a 18 de janeiro de 2011, sobre a primeira edição do livro de Helder Bastos,
Origens e Evolução do Ciberjornalismo em Portugal. Agora, saiu a segunda edição, a que juntou ao título
Os primeiros Vinte Anos (1995-2015) e com alargamento de textos, de 106 para 143 páginas.
Então escrevi: "Com quatro capítulos (contexto global do ciberjornalismo, antecedentes do ciberjornalismo em Portugal, periodização em três fases, e evolução do modelo de negócios), constitui um útil instrumento de trabalho para quem quer estudar e conhecer o jornalismo electrónico em Portugal". A edição saída agora (final de 2015) mantém a estrutura de quatro capítulos mas adequa o segundo, designado por contexto nacional do ciberjornalismo.
O autor destaca três etapas na evolução do jornalismo digital: implementação, expansão e depressão/estagnação. Sobre os modelos de negócios, Helder Bastos distingue o iniciado em 2001, reparte a atenção por pagamento de conteúdos, assinatura, acesso gratuito como forma de publicitação dos meios pagos (jornal), lenta inclusão de anúncios em banners, organização de conferências pagas mas publicitadas gratuitamente na internet, design e construção de sites, a que se seguem modelos sem negócio. Neste caso, inclui criação de fundações, mecenato, crowdfunding de conteúdos, sinergias dentro de um grupo de media e micro-pagamento. O autor identifica modelos emergentes, onde se desenvolvem tipos de modelos já ensaiados, como conteúdos patrocinados, conferências e conteúdos patrocinados, e venda de conteúdos para plataformas móveis, a que junta a circulação digital residual. Já em 2009, Helder Bastos realça o regresso da cobrança de conteúdos.
Detenho-me brevemente nas páginas 42-43, em que se recorda o ano de 1995, quando as redações dos jornais começaram a adotar o online, caso do
Jornal de Notícias (Porto), quando dois jornalistas, um da secção de política (Helder Bastos) e outro da secção de nacional (Nuno Marques) foram destacados para trabalhar em exclusivo na edição digital do jornal. Então, havia quatro vertentes principais no trabalho dos jornalistas: interatividade com os leitores, edição de notícias, gestão de participação dos leitores em fóruns de discussão e passagem dos conteúdos do jornal em papel para o digital. Isso inibiu os jornalistas de saírem da redação, por exemplo para fazerem reportagens. Helder Bastos, deste modo um pioneiro e observador atento do fenómeno da digitalização e do online até hoje, escreveu que o ciberjornalismo inicial foi marcado pela predominância técnica e pelo esvaziamento da produção jornalística própria.
Por interesse de investigação, gosto particularmente do capítulo 2, onde o autor e docente universitário escreve sobre o contexto nacional do ciberjornalismo, com recurso a muitos números e etapas do desenvolvimento tecnológico, associando o telemóvel, a internet, a rádio e a imprensa em papel, o meio mais afetado pela economia e pela migração para o digital. Fixo as páginas 35 a 40, onde há uma análise diacrónica a partir da década de 1980, quando o país assistiu à revolução informática, responsável por alterações profundas nos mecanismos de produção gráfica e do funcionamento e competências das redações dos jornais.
Realce ainda para a útil cronologia colocada no final do livro, onde o leitor pode verificar a rápida evolução dos domínios em internet, edições eletrónicas digitais, portais, emprego e despedimentos, jornais e portais universitários, parcerias, sinergias dentro de grupos (televisão, rádio, imprensa), acesso gratuito e a pagamento, evolução de sistemas operativos e mais tópicos.
Leitura: Helder Bastos (2015).
Origens e evolução do ciberjornalismo em Portugal. Os primeiros Vinte Anos (1995-2015). Porto: Afrontamento, 143 páginas
Domingo, 13 de Março de 2016
O NewsMuseum, museu dedicado às notícias, aos media e à comunicação, situado em Sintra, tem inauguração prevista para 25 de abril de 2016. O museu ocupa as antigas instalações do Museu do Brinquedo e divide-se em temas como spin wall, géneros, contrários, propaganda, bad news, guerras e mind games. Pretende ser uma Media Age Experience, "janela aberta para o mundo dos media e da comunicação, e para o impacto destes na sociedade, recorrendo para isso a uma forte componente digital e tecnológica".
A Associação Acta Diurna, promotora do projeto e presidida por Luís Paixão Martins, vai investir cerca de 1,8 milhões de euros no museu. O projeto conta com o apoio da Câmara Municipal de Sintra, que cedeu o imóvel no centro histórico por 20 anos à associação Acta Diurna. O fundador da TSF, Emídio Rangel, foi escolhido pelos comissários do módulo "imortais" para figurar no grupo dos fundadores dos grandes meios de comunicação atuais.
O museu é interativo e tem vários jogos. Segundo a entidade promotora, "fizemos um grande esforço para que em todos os módulos as pessoas pudessem participar no museu". Por exemplo, no módulo da rádio, simulação da cabina de Rádio Clube Português na noite do 25 de Abril de 1974, com Joaquim Furtado, as pessoas podem gravar "Aqui posto de comando do Movimento das Forças Armadas" e publicar no YouTube (informação retirada da página do museu e de uma notícia da TSF)
Quinta-feira, 28 de Janeiro de 2016
Dora Santos Silva defendeu hoje a sua tese de doutoramento na Universidade Nova de Lisboa, com o título Cultural Journalism in a Digital Environment. New Models, Practices and Possibilities. Retiro o começo da sua síntese:
"Both culture coverage and digital journalism are contemporary phenomena that have undergone several transformations within a short period of time. Whenever the media enters a period of uncertainty such as the present one, there is an attempt to innovate in order to seek sustainability, skip the crisis or find a new public. This indicates that there are new trends to be understood and explored, i.e., how are media innovating in a digital environment? Not only does the professional debate about the future of journalism justify the need to explore the issue, but so do the academic approaches to cultural journalism. However, none of the studies so far have considered innovation as a motto or driver and tried to explain how the media are covering culture, achieving sustainability andengaging with the readers in a digital environment. This research examines how European media which specialize in culture or havean important cultural section are innovating in a digital environment. Specifically, we see how these innovation strategies are being taken in relation to the approach to culture and dominant cultural areas, editorial models, the use of digital tools for tellingstories, overall brand positioning and extensions, engagement with the public and business models".
Quinta-feira, 17 de Dezembro de 2015
Leio agora no
Diário de Notícias: "O número de profissionais com carteira desceu de 6839 para 5621 entre 2007 e 2014. Portugal perdeu 1218 jornalistas em sete anos, segundo dados da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ). O número profissionais ativos desceu de 6839 para 5621, entre 2007 e 2014, o equivalente a um declínio de 17,8%. Estes resultados devem-se ao "crescimento assustador do desemprego", de acordo com Rosária Rato, vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas e representante da CCPJ". O estudo pode ser consultado, na íntegra, na página do
Observatório Europeu do Jornalismo.
Que poderei dizer aos meus alunos em abril do próximo ano quando começar a lecionar Estudos de Jornalismo?
Quarta-feira, 28 de Outubro de 2015
Umberto Eco é um bom contador de histórias. Ele tem muita experiência de escrita de narrativas, possui uma enorme cultura europeia (e norte-americana, quando escreveu sobre banda desenhada em
Apocalíticos e Integrados) e é sábio pela idade. Logo, um novo livro aguça o apetite do leitor em busca de uma história palpitante.
Número Zero não foge à regra. Primeiro, tem uma dimensão própria para se ler num serão ou numa viagem de comboio, por exemplo. Depois, há uma intriga policial, aqui com um regresso a acontecimentos passados, como ele produziu no livro
A Misteriosa Chama da Rainha Loana, por exemplo. Sob a forma de diário, Colonna, jornalista e escritor fantasma (
ghost-writer), escreve sobre um jornal chamado
Amanhã, de que apenas se editarão números zero. Além do dr. Colonna, têm importância para a história o diretor Simei, a solteira Maia Fresia e o investigador de coisas ligadas à teoria da conspiração, Romano Braggadocio. Colonna amparar-se-ia no ombro de Maia, Braggadocio vasculharia na História a morte do ditador Mussolini, o que ditaria o assassinato do jornalista, o fecho mais rápido do jornal e a fuga do diretor e de Colonna, que ia escrever um livro sobre a experiência do jornal de números zeros. Há uma personagem distante, apenas entrevista, a do comendador, o dono do jornal e com interesses económicos e financeiros em muitas áreas de negócio.
Um terceiro elemento a retirar do romance é a erudição do autor, aqui excessivamente aplicada. E, talvez, algum exagero na descrição da história de Mussolini e do presumível duplo deste, que teria morrido na praça pública, enquanto o verdadeiro ditador se refugiava na Argentina, como Braggadocio estava a investigar. Porém, por outro lado, o centrar muito da narrativa na história do fascismo italiano de um modo leve mas relevando a estupidez, a perversidade e o tenebroso do regime habilita leitores mais jovens a compreenderem o núcleo político desse regime desaparecido no final da II Guerra Mundial. Além de nos levar a pistas engenhosas de grupos extremistas como Gladio e Aginter Presse, este último com atividade verdadeira em Portugal e já romanceado por João Paulo Guerra, pelo menos.
O quarto elemento - e a razão principal que me leva a escrever sobre o romance de Eco - é o que ele conta ou analisa sobre a atividade jornalística: os temas, as relações com o mundo político, empresarial e económico, o que convém dizer ou não, as insinuações, a ausência de objetividade e, mais do que isso, de verdade em muitas notícias. Não sendo um livro de sociologia ou de história dos media, sem a organização dos textos de ciências sociais, mas um romance, onde o mais importante é o enredo, do livro retiram-se muitos conhecimentos, interessantes para quem quiser estudar o jornalismo. Reconheço que a imagem que daqui sai sobre os media está longe de ser otimista ou positiva, mas a sua leitura permite pensar (ou efabular) sobre jornais e meios de comunicação que conhecemos. A morte de caráter (indivíduos ou entidades), o tendencioso e o falso em muito do que se noticia, surgem no livro em toda a sua nudez.
Recupero Eco de um seu texto que li com muita atenção
Construir o Inimigo e Outros Escritos Ocasionais: "Ter um inimigo é importante, não apenas para definir a nossa identidade, mas também para arranjarmos um obstáculo em relação ao qual seja medido o nosso sistema de valores, e para mostrar, ao afrontá-lo, o nosso valor" (p. 12). E lembro-me dos tão brilhantes quanto impenetráveis livros de semiótica do autor: a
Obra Aberta continua uma das minhas grandes referências literárias de sempre. E
O Nome da Rosa um romance de uma enorme imaginação e que passou para o cinema.
Sexta-feira, 2 de Outubro de 2015
Hoje, em Lisboa e ao final da tarde, foi lançado o livro de Vasco Ribeiro
Os Bastidores do Poder. Como os Spin Doctors, Políticos e Jornalistas Moldam a Opinião Pública Portuguesa, uma edição da Almedina, com prefácio de Joaquim Martins Lampreia. Além do autor e do prefaciador, na mesa estavam o editor Pedro Bernardo e o jornalista Gonçalo Bordalo Pinheiro, que apresentou a obra, a par com Martins Lampreia.
Da página 11, retiro a seguinte ideia: "Acontece que o processo noticioso, sobretudo envolvendo matérias políticas mais delicadas, assume uma grande complexidade. O jornalista é obrigado a adotar sofisticadas estratégias para a obtenção de informação exclusiva de natureza política, as quais implicam, muitas vezes, difíceis negociações com as fontes oficiais e oficiosas, onde se incluem os
spin doctors".
No vídeo, a intervenção do próprio autor (cerca de 10 minutos).
Vasco Ribeiro é doutor em Ciências da Comunicação (Universidade do Minho) e docente na Universidade do Porto (Faculdade de Letras), onde leciona nomeadamente Assessoria Política e Comunicação Política. Na sua atividade profissional, entre outras funções, foi assessor de imprensa no Parlamento. Publicou
Fontes Sofisticadas de Informação (2010) e
Assessoria de Imprensa - Fundamentos Teóricos e Práticos (2015).
Sexta-feira, 25 de Setembro de 2015
Vasco Ribeiro vai lançar o livro
Os Bastidores do Poder - Como spin doctors, políticos e jornalistas moldam a opinião pública portuguesa no próximo dia 2 de outubro, às 18:45, no Atrium Saldanha. Conta com apresentação do jornalista Gonçalo Bordalo Pinheiro e de J. Martins Lampreia. Do que eu conheço do seu trabalho, será um texto brilhante e um livro muito oportuno no atual momento eleitoral.
[o convite abaixo é para a apresentação em Vila Nova de Gaia, a 30 de outubro]
Segunda-feira, 31 de Agosto de 2015
A jornalista Manuela Saraiva de Azevedo nasceu em Lisboa, em 31 de Agosto de 1911. Faz hoje 104 anos, comemorados com o lançamento do livro de contos
O Pão que o Diabo Amassou, na Casa da Imprensa. Editado conjuntamente pela Casa da Imprensa e pelo Museu Nacional da Imprensa (MNI), o livro foi apresentado pelo jornalista e diretor do MNI, Luís Humberto Marcos. Primeira mulher jornalista com carteira profissional, ela é a mais antiga associada da Casa da Imprensa, a cujo Conselho Fiscal presidiu durante três mandatos consecutivos.
Amanhã, será condecorada pelo Presidente da República com o grau de Comendadora da Ordem da Liberdade.
Quarta-feira, 1 de Julho de 2015
Isabel Reis lança o seu livro O Áudio nas Cibernotícias das Rádios, uma edição Media XXI, no próximo dia 10 de julho. Apresentação de Manuel Pinto (Universidade do Minho), Pedro Leal (Rádio Renascença) e Paulo Faustino (editor). Local: Biblioteca do curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto. O livro resulta da tese de doutoramento da autora.