De
Mário a 31 de Julho de 2006
Saber dominar a tecnologia é apenas o primeiro passo, depois é necessário ter ideias e produzir depois conteúdo com essas ideias que resista ao tempo. Por mais avançadas que sejam as máquinas fotográficas elas nunca deram a ninguém noções de composição, utilização de velocidades e de aberturas e outras coisas que distinguém um fotógrafo com talento do mero "apertador de botões". Para muitas utilizações uma foto sem interesse estético pode ser suficiente, mas noutros há óbviamente diferenças. É uma ilusão pensar que a tecnologia substitui o saber e a experiência, mas é o que os fabricantes de software e de hardware querem que pensemos.
De MJE a 1 de Agosto de 2006
Acrescentaria a esta ideia de P.Querido ‘Saber ler os media num contexto de supressão’: e, nesse mesmo contexto, saber ler o mundo, assim como toda a semiologia das suas manifestações ‘read only’.
Mas incluiria a seguinte dúvida à possibilidade desta leitura:
Em que lugar habita o ‘read and write’? Ou melhor, como se lerá ele, que está permanentemente em produção e em constante reconfiguração; ele, que parece ser, afinal, um veículo de criatividade, sempre inquieta e deslumbrada?
Como refere o comentador anterior, é necessário produzir conteúdo – mas o que é isso senão a nossa própria aparição como corpo criativo, a da nossa assumpção como uma manifestação mais ‘virtual’ do que ‘real’ –afinal, que sabemos, efectivamente, do ‘real’, se não nos ‘conhecemos, ainda, na miríade das nossas/suas potencialidades que permitem incluir, hoje, uma série de transfusões, não de sangue mas de tecnologia?
Não pertencemos já a uma era em que o teclado é a nossa nova forma de dedos e o ecrã o nosso novo par de óculos?
Perguntaria se serão eficazes docentes sem sensibilidade tecnológica, num presente/futuro onde os intermediários, caros a Rogério Santos, virão a assumir o nobre estatuto de testemunhas qualificadas, mais capazes de ‘mostrar’, ‘exemplificar’ e incentivar, do que de avaliar – aqui, todavia, incluo nova dúvida, porque a avaliação é inexorável no implacável e selvagem mercado do trabalho.
Caro Rogério, obrigado pela sua análise ao meu ensaio na Actual, que muito me honra. (Só hoje cá vim ler.)
Não tenho grandes (ou pequenas) ilusões sobre o fatalismo tecnológico: com as tecnologias de informação temos mais uma, e muito má, clivagem cultural, ou pelo menos de utensilagem. O meu optimismo, que admito possa ser visível enquanto tal, é sobretudo um gosto pessoal pela descoberta. Pessoal e cultural também, na medida em que representa uma atitude que se encontra numa agradável minoria de pessoas.
Mas não me limita. E, como o Rogério bem sublinhou, temos a questão das velocidades. Acho-a aterrorizante. A velocidade tem aumentado e hoje veja como os jovens se vão adaptando a um mundo onde tudo é instantâneo -- ou não existe.
Caro Mário, de acordo com a ilusão que faz vender máquinas. Mas concordamos também que há imensas aplicações onde antes se gastava dinheiro para obter um produto hoje de valor bastante diminuto. Vejo isso pela positiva, como o que aconteceu com os pintores: ficam os fotógrafos libertos de rotinas mais ou menos frustrantes.
Caro mje (e também Rogério), posso ter dado pouco relevo aos professores e educadores, mas na realidade considero-os deveras importantes. Simplesmente parece-me haver desadequação (e o sistema está contra eles). São importantes porque têm o insubstituível: a experiência. Assim a possam passar a quem dela precisa desesperadamente, num mundo tão mais difícil de compreender quanto fácil de integrar operacionalmente.
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