Manuel Dias entrou como jornalista em 1953 no
Diário do Norte (Porto). Depois, em 1967, entrou para o
Comércio do Porto, e em 1974 para o
Jornal de Notícias.
Embora o texto que aqui refiro não tenha um cunho cronológico e sociológico, retenho elementos importantes para caracterizar o jornalismo daquele período, a partir das memórias que Manuel Dias vai deixando nos sucessivos capítulos. Alguns outros elementos marcam o livro, como a formação dos jornalistas, a deontologia da profissão, a importância da reportagem e a necessidade de se escrever bem em português.
Do estágio inicial no
Diário do Norte, o jornalista evoca as práticas: as peças jornalísticas baseavam-se em factos e não em comentários atribuídos a fontes fidedignas ou anónimas, apesar do peso da censura (e das tertúlias à mesa do café, em que se comentavam episódios da censura). À falta de formação prévia, os novos jornalistas iam adquirindo conhecimentos e cultura. Acrescento: através de uma linguagem popular e de proximidade, como todo o livro de Manuel Dias expressa. O
Diário do Norte concorria com três outros jornais do Porto:
Comércio do Porto,
Primeiro de Janeiro e
Jornal de Notícias. De todos, o jornal em que o autor trabalhava era o que tinha menos recursos, propriedade da Empresa Nacional de Publicidade. Os repórteres do seu jornal, mas também dos outros, tinham de procurar acontecimentos para escrever as suas notícias, do mais insignificante acidente de viação às ocorrências solenes. Manuel Dias anota no texto a "convivência" entre jornalistas defensores da liberdade de informação e jornalistas afectos ao regime de ditadura e realça a unidade da classe em torno dos ideais da profissão (embora não especifique muito como decorria essa "convivência").
De
O Comércio do Porto, o autor dá uma imagem muito positiva do tempo em que se transferiu para lá. O jornal, ideia de Bento Carqueja, era então propriedade da família Seara Cardoso. Em 1973, devido a dificuldades financeiras, o jornal foi vendido ao grupo Banco Borges & Irmão, perdendo a identidade independente até aí marca de identidade, mau grado toda a pressão política do regime do Estado Novo. Manuel Dias diz que a morte do jornal começaria aí. Do
Jornal de Notícias, não revela tantas memórias, mas vê-se que deu muita alegria ter por lá passado como profissional.
Sobre o título do livro, o autor dedica um capítulo. Ele atribui o desaparecimento dos jornais em papel à situação de crise financeira instalada mundialmente em 2008, embora não adeque a decadência do jornalismo impresso à concorrência de outros meios como a internet. Mas observa os valores antagónicos de bem informar e o interesse comercial dos proprietários dos media.
Leitura: Manuel Dias (2010).
Jornal de Papel no Corredor da Morte: Porto: Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, 101 p., 10 €