Domingo, 24 de Abril de 2016
Em abril de 1976, o
Diário da República publicava o estatuto da RDP (Radiodifusão Portuguesa), empresa que resultara da nacionalização e fusão da rádio decidida em novembro de 1975. Num dos artigos, era incluída a criação de um museu nacional da rádio (e outro a criação de uma fonoteca nacional). A Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas (BAD) contestou esse articulado.
Na altura, o presidente da comissão administrativa da RDP, major João Figueiredo, viu-se obrigado a responder ao ministro da Comunicação Social através do chefe de gabinete, com data de 2 de junho de 1976. O major Figueiredo recordava que, por iniciativa de trabalhadores das antigas estações Emissora Nacional e Rádio Clube Português, se reunira uma apreciável quantidade de material com interesse histórico. Apesar de o presidente da comissão administrativa da RDP manifestar muito interesse na criação do museu da rádio, ele não deixava de considerar que tal significava um encargo suplementar ao objeto fundamental da empresa: a prestação do serviço público de radiodifusão.
José Nascimento foi um desses obreiros do museu da rádio. Outro foi Manuel Bravo, aliás seu responsável durante a permanência do museu na rua do Quelhas.
Terça-feira, 19 de Abril de 2016
Se Rádio Clube Português ainda existisse, faria hoje 85 anos de emissões. Aqui, recordo a notícia publicada no jornal
Diário Popular de 19 de abril de 1971, a publicitar a programação especial da estação nos seus 40 anos de vida.
A estação era, então, um grupo multimedia, atendendo a que comprara outras estações (Rádio Alto Douro e Rádio Ribatejo), iria estabelecer-se em Luanda com uma rádio (1973), e a preparar a entrada em canal de televisão angolano prometido (que não chegou a abrir), comprava um avião para fazer a cobertura de eventos em direto, como a volta em bicicleta a Portugal, comprava o cinema GL (Nimas) e criava a editora Imavox. A marca original Rádio Clube Português desapareceu em 2 de dezembro de 1975, com a nacionalização da rádio e da televisão. Mais tarde, a marca reapareceu mas voltou a desaparecer.
Quarta-feira, 6 de Abril de 2016
António Cartaxo nasceu em 1934 na Amadora mas era para ter nascido em Bragança. Filho de militar, a sua errância levou-o a Angola, mas também a Évora e Portalegre (onde se recorda de ter aprendido
Carmela,
Se me Quieres Escribir e outras canções republicanas da Guerra Civil de Espanha, que o levaria a fazer um programa muitos anos depois). E ainda, devido à independência económica da mãe e sua separação do pai, Estoril (onde ela trabalhar) e Lisboa (liceus Passos Manuel e Camões). As suas memórias levam-no igualmente ao Colégio Moderno, onde aprendeu com Álvaro Salema, Mário Dionísio, Rui Folha e Morgado Rosa. Além de algumas piratarias, como tirar fruta (figos) dos campos vizinhos quando morava no Alentejo e entrada no campo do Benfica com o cartão de sócio do irmão, que o atirava para fora do terreno depois de ele próprio ter entrado. Adepto confesso do Benfica, ganharia uma medalha de atletismo no ano de 1951-1952. A licenciatura em Letras tirou-a enquanto trabalhava, primeiro como arquivista do Metro de Lisboa, depois a cumprir o serviço militar na Biblioteca do Estado-Maior do Exército.
Se a primeira parte do livro
Quase Verdade como são Memórias se intitula "Outrora", a segunda parte leva o nome "Londres e Depois", onde regista todo o trabalho na secção portuguesa da BBC, o seu despedimento (objeto central do livro que escreveu com Jorge Ribeiro,
BBC Versus Portugal. História de um Despedimento Político), realização e sucesso do programa
Você Gosta de Beethoven? e feliz carreira na Antena 2 (para ele e para os imensos ouvintes dos seus programas), onde desenvolveu um ofício de mais de quarenta anos - o de colar música e palavra. Entre 1963 e 1975, período em que foi funcionário da BBC, ia quase todos os dias a um concerto de música clássica (grande música, como escreve), e que serviu de base conceptual para os seus programas em Portugal (as notas que foi tirando ao longo dos concertos serviram como matéria-prima futura).
Na secção portuguesa, o que mais gostava de fazer era dar notícias sobre a situação do Portugal ditatorial, expondo o que aqui era censurado e proibido - presos políticos, tentativas goradas de manifestações, notícia do assassinato de Humberto Delgado e sua origem política. Mas a BBC não queria ofender muito o regime da ditadura. Quando o país assistiu à revolução de 1974, António Cartaxo e Jorge Peixoto foram acusados de apresentarem uma visão de esquerda e alvo de sanções, que culminariam em tribunal e com o despedimento. A história que o autor narra em ambos os livros faz pensar na situação analisada no livro de Nelson Ribeiro sobre a BBC na época da II Guerra Mundial: o dissidente Armando Cortesão seria afastado por influência indireta de Salazar e do embaixador Armindo Monteiro (2014,
Salazar e a BBC).

Quer a análise académica de Nelson Ribeiro quer a descrição mais emotiva de António Cartaxo, porque viveu pessoalmente uma situação muito delicada, revelam uma BBC que não corresponde à imagem que temos da estação pública britânica: independência e rigor. Cartaxo conta a história de divulgação quase clandestina de situações muito graves em Portugal, aproveitando, por exemplo, os programas de fins de semana, quando não havia tanto controlo do que era dito. O livro
BBC Versus Portugal. História de um Despedimento Político enumera a hierarquia da secção portuguesa e sua relação com as áreas superiores de decisão e revela a linha tendenciosa e não independente da BBC.
A censura interna a António Cartaxo e Jorge Ribeiro começaria com as denúncias do deputado conservador Winston Churchill neto de a secção portuguesa da BBC irradiar propaganda pró-comunista. Entre julho e agosto de 1975 os dois profissionais da BBC eram suspensos. O julgamento considerando-os culpados por erros de emissão ocorreria em janeiro de 1977. Foi nesse período que os dois fizeram o programa
Você Gosta de Beethoven?, apresentado e vencedor no concurso pró-música de Rádio Budapeste, uma espécie de compensação moral.
O período que António Cartaxo considera áureo na secção portuguesa seria o de 1970-1974, com colegas como Manuela de Oliveira, Paulo David, Jorge Ribeiro, António Borga, José Júdice, Carlos Alves e Joaquim Letria, em que incluiu as reportagens que fez da campanha eleitoral de 1973 em Portugal. Neste ano, António Cartaxo receberia um
Special Award (prémio especial) pelas realizações radiofónicas ao longo da sua permanência na BBC. Se tinha dificuldades em entrevistar políticos da oposição, por recomendação ou resposta negativa da linha hierárquica, era mais fácil entrevistar cantores da resistência na qualidade simples de artistas: José Afonso, José Mário Branco, Sérgio Godinho e padre José Fanhais.
Em 1978, através do Instituto de Cultura Portuguesa, António Cartaxo seria leitor de português em Varsóvia. A experiência letiva mantê-la-ia durante vinte anos na Universidade Clássica em Lisboa. O livro
Quase Verdade como são Memórias acaba quase aqui, sem antes referir brevemente as suas relações sentimentais com Beatriz, Manuela e Rosa, mãe do seu filho António Maria. O livro seria Prémio Alçada Baptista da Sociedade Portuguesa de Autores (2012). Agora, o autor recebeu o prémio da rádio Igrejas Caeiro 2016.
Leituras: António Cartaxo (2009).
Quase Verdade como são Memórias. Lisboa: Colibri, 157 páginas, 15 euros
António Cartaxo e Jorge Ribeiro (1977).
BBC Versus Portugal. História de um Despedimento Político. Lisboa: Editorial Estampa
Quarta-feira, 30 de Março de 2016

Foi hoje ao fim da tarde que António Cartaxo recebeu o prémio Igrejas Caeiro para a rádio da Sociedade Portuguesa de Autores. "Tendes diante de vós um homem feliz", disse no final António Cartaxo, citando Stravinsky.
António Cartaxo nasceu na Amadora, em 1934, e trabalhou na secção portuguesa da BBC entre 1962 e 1976. Nesse período, ouviu muita rádio e assistiu a muitos concertos de música clássica, aí aprendendo muito do que realizaria na rádio nacional, onde ingressou (Antena 2) em 1976 e trabalhou durante 40 anos.
Ainda em 1976, António Cartaxo e o realizador Jorge Ribeiro foram distinguidos internacionalmente com o programa
Você gosta de Beethoven?, em que eram entrevistados operários da Sorefame sobre a música de Beethoven, e que na sessão de hoje na SPA se ouviu um excerto. Em 1987, António Cartaxo venceu o Prémio Gazeta de Jornalismo na modalidade Rádio, com um programa sobre Fernando Lopes Graça. Em 2012, publicou
Quase Verdade como São Memórias, editado pela Colibri e que lhe valeu o Prémio António Alçada Baptista. Agora o prémio atribuído pela SPA.De António Cartaxo, recordo o programa
Em Sintonia, na Antena 2, um dos melhores programas de autor que se ouvia até algum tempo atrás.
Terça-feira, 22 de Março de 2016
Na apresentação do livro de Carlos Cruz.
PBX foi um dos programas de rádio que celebrizaram Carlos Cruz e José Fialho Gouveia. Na festa do primeiro aniversário do programa, houve um espetáculo gratuito no Rossio. Aí, entre outros, estiveram Carlos do Carmo, Thilo Krasmann e Raul Solnado (
Diário Popular, 1 de setembro de 1968).
Segunda-feira, 21 de Março de 2016
No livro que lança amanhã, Carlos Cruz refere o seu casamento com Lisete Cruz e o motivo que o levou a sair da Rádio Renascença, onde fazia o programa
23ª Hora com João Martins (pp. 151-153). No programa, ele estreara o álbum
Revolver dos Beatles. Depois, o realizador e apresentador iria participar em duas das maiores aventuras da rádio:
PBX e
Tempo Zip (este sucedeu ao popular programa televisivo
Zip-Zip, com dois companheiros de Carlos Cruz: José Fialho Gouveia e Raul Solnado).
De
PBX, Carlos Cruz conta uma história dita no dia das mentiras de 1968: a existência de uma nuvem de pirilampos. Uma voz castelhana informou da vinda migratória dos insetos luminosos para Portugal (p. 168). Logo, o programa recebeu telefonemas, com ouvintes dizendo que tinham visto a tal nuvem. Um presidente de câmara mandou desligar a iluminação pública para não afastar a rota dos pirilampos. Como os apresentadores do programa disseram que a nuvem se dirigia para Sintra, houve uma excursão de automóveis com os seus condutores a quererem testemunhar o fenómeno. Era, escreve o autor, o poder da sugestão da rádio.
Depois, a 25 de novembro de 1967, quando se abateu uma tromba de água sobre Lisboa,
PBX tornou-se uma espécie de proteção civil da época, prolongando o programa para além da hora com informações úteis para a população da cidade, incluindo os bombeiros, pois muita gente pedia informações e ajuda (p. 169). Carlos Cruz ganhava mensalmente 7500$00 nesse programa diário da meia-noite às duas da manhã, uma produção dos Parodiantes de Lisboa. Mas a colaboração não durou mais de um ano, pois os produtores entenderam estar a perder dinheiro e a querer menos reportagens e mais rubricas de humor (p. 171).
O casamento de Carlos e Lisete Cruz realizou-se em novembro de 1966. Pouco depois, o
Diário Popular, na coluna "As Mulheres dos Famosos", entrevistava Lisete Cruz (25 de agosto de 1968), já o marido era uma celebridade na televisão. Aí revelou, entre outras coisas, a discoteca do marido - cinco mil LP. Nesse momento, Lisete Cruz estudava na Faculdade de Letras (p. 171).
Quinta-feira, 17 de Março de 2016
O prémio Igrejas Caeiro, atribuído pela Sociedade Portuguesa de Autores a uma personalidade com grande carreira na rádio, vai ser entregue a António Cartaxo. Este homem da rádio, para além da carreira internacional na BBC, deliciou os seus ouvintes, desde há muito, com programas sobre música clássica na Antena 2. Entrega do prémio no dia 30 de Março de 2016, pelas 18:30, no Auditório Maestro Frederico de Freitas?, aqui em Lisboa.
Quinta-feira, 10 de Março de 2016
Carlos Cruz, 73 anos, antigo locutor e apresentador de rádio e televisão, lança a sua autobiografia (592 páginas e 250 fotografias),
Uma Vida, onde escreve sobre a sua carreira. O livro tem prefácios do ator Virgílio Castelo e do jornalista Adelino Gomes e posfácio do fadista Carlos do Carmo. A sessão de apresentação está indicada para as 18:30 do dia 22 no Altis Grand Hotel, com apresentação de D. Januário Torgal Ferreira, e participação de Ruy de Carvalho e dos músicos Jorge Quintela, Nanã Sousa Dias e Paulo Ramos.
Carlos Cruz foi locutor e produtor de programas (como
Zip-Zip, que partilhou com dois outros grandes homens dos media, José Fialho Gouveia e Raul Solnado, e
Pão com Manteiga), diretor de informação, diretor de programas e diretor-coordenador da RTP1.
Domingo, 28 de Fevereiro de 2016
Hoje de manhã, no programa da provedora do ouvinte, Paula Cordeiro ouviu João Almeida, diretor da Antena 2, falar da nova grelha do canal a partir de 2 de abril próximo e da promessa de atualização do sítio da internet do mesmo canal. Lembrei-me de uma entrevista de João Alferes Gonçalves que me deu em 27 de junho de 2012: "há arquivos da televisão e, de vez em quando, veem as imagens, há a RTP Memória. Não há a Rádio Memória. Ninguém vai buscar os arquivos da rádio do que foi feito. E depois os jornais, claro está, tudo disponível nas hemerotecas. No caso da rádio não há sequer arquivos sonoros da Rádio Renascença". Também ousamos sugerir que haja mais memória na rádio pública.
Quarta-feira, 24 de Fevereiro de 2016
A Rádio Renascença esteve quase 80 anos no Chiado, entre a rua Capelo e a rua Ivens. Desde 1937, a Emissora Católica funcionou ali, crescendo para cima (Pensão Nova Capelo, que chegou a pertencer aos pais de Francisco Igrejas Caeiro, um nome mítico da rádio portuguesa) e para o lado (Casa do Algarve, onde decorriam animados bailes e mais atividades lúdicas e associativas). No edifício, a desocupar até daqui a três meses, irá funcionar um hotel. Isto é, muitos anos (ou décadas) depois da saída dos jornais do Chiado e do Bairro Alto, as indústrias culturais da zona reformulam-se.