Quarta-feira, 13 de Abril de 2016

2º Encontro de Casas-Museus

22 de abril, na Casa-Museu Abel Salazar.


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publicado por industrias-culturais às 19:00
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Quarta-feira, 6 de Abril de 2016

Notas sobre António Cartaxo

António Cartaxo nasceu em 1934 na Amadora mas era para ter nascido em Bragança. Filho de militar, a sua errância levou-o a Angola, mas também a Évora e Portalegre (onde se recorda de ter aprendido Carmela, Se me Quieres Escribir e outras canções republicanas da Guerra Civil de Espanha, que o levaria a fazer um programa muitos anos depois). E ainda, devido à independência económica da mãe e sua separação do pai, Estoril (onde ela trabalhar) e Lisboa (liceus Passos Manuel e Camões). As suas memórias levam-no igualmente ao Colégio Moderno, onde aprendeu com Álvaro Salema, Mário Dionísio, Rui Folha e Morgado Rosa. Além de algumas piratarias, como tirar fruta (figos) dos campos vizinhos quando morava no Alentejo e entrada no campo do Benfica com o cartão de sócio do irmão, que o atirava para fora do terreno depois de ele próprio ter entrado. Adepto confesso do Benfica, ganharia uma medalha de atletismo no ano de 1951-1952. A licenciatura em Letras tirou-a enquanto trabalhava, primeiro como arquivista do Metro de Lisboa, depois a cumprir o serviço militar na Biblioteca do Estado-Maior do Exército.

Se a primeira parte do livro Quase Verdade como são Memórias se intitula "Outrora", a segunda parte leva o nome "Londres e Depois", onde regista todo o trabalho na secção portuguesa da BBC, o seu despedimento (objeto central do livro que escreveu com Jorge Ribeiro, BBC Versus Portugal. História de um Despedimento Político), realização e sucesso do programa Você Gosta de Beethoven? e feliz carreira na Antena 2 (para ele e para os imensos ouvintes dos seus programas), onde desenvolveu um ofício de mais de quarenta anos - o de colar música e palavra. Entre 1963 e 1975, período em que foi funcionário da BBC, ia quase todos os dias a um concerto de música clássica (grande música, como escreve), e que serviu de base conceptual para os seus programas em Portugal (as notas que foi tirando ao longo dos concertos serviram como matéria-prima futura).

Na secção portuguesa, o que mais gostava de fazer era dar notícias sobre a situação do Portugal ditatorial, expondo o que aqui era censurado e proibido - presos políticos, tentativas goradas de manifestações, notícia do assassinato de Humberto Delgado e sua origem política. Mas a BBC não queria ofender muito o regime da ditadura. Quando o país assistiu à revolução de 1974, António Cartaxo e Jorge Peixoto foram acusados de apresentarem uma visão de esquerda e alvo de sanções, que culminariam em tribunal e com o despedimento. A história que o autor narra em ambos os livros faz pensar na situação analisada no livro de Nelson Ribeiro sobre a BBC na época da II Guerra Mundial: o dissidente Armando Cortesão seria afastado por influência indireta de Salazar e do embaixador Armindo Monteiro (2014, Salazar e a BBC).

Quer a análise académica de Nelson Ribeiro quer a descrição mais emotiva de António Cartaxo, porque viveu pessoalmente uma situação muito delicada, revelam uma BBC que não corresponde à imagem que temos da estação pública britânica: independência e rigor. Cartaxo conta a história de divulgação quase clandestina de situações muito graves em Portugal, aproveitando, por exemplo, os programas de fins de semana, quando não havia tanto controlo do que era dito. O livro BBC Versus Portugal. História de um Despedimento Político enumera a hierarquia da secção portuguesa e sua relação com as áreas superiores de decisão e revela a linha tendenciosa e não independente da BBC.

A censura interna a António Cartaxo e Jorge Ribeiro começaria com as denúncias do deputado conservador Winston Churchill neto de a secção portuguesa da BBC irradiar propaganda pró-comunista. Entre julho e agosto de 1975 os dois profissionais da BBC eram suspensos. O julgamento considerando-os culpados por erros de emissão ocorreria em janeiro de 1977. Foi nesse período que os dois fizeram o programa Você Gosta de Beethoven?, apresentado e vencedor no concurso pró-música de Rádio Budapeste, uma espécie de compensação moral.

O período que António Cartaxo considera áureo na secção portuguesa seria o de 1970-1974, com colegas como Manuela de Oliveira, Paulo David, Jorge Ribeiro, António Borga, José Júdice, Carlos Alves e Joaquim Letria, em que incluiu as reportagens que fez da campanha eleitoral de 1973 em Portugal. Neste ano, António Cartaxo receberia um Special Award (prémio especial) pelas realizações radiofónicas ao longo da sua permanência na BBC. Se tinha dificuldades em entrevistar políticos da oposição, por recomendação ou resposta negativa da linha hierárquica, era mais fácil entrevistar cantores da resistência na qualidade simples de artistas: José Afonso, José Mário Branco, Sérgio Godinho e padre José Fanhais.

Em 1978, através do Instituto de Cultura Portuguesa, António Cartaxo seria leitor de português em Varsóvia. A experiência letiva mantê-la-ia durante vinte anos na Universidade Clássica em Lisboa. O livro Quase Verdade como são Memórias acaba quase aqui, sem antes referir brevemente as suas relações sentimentais com Beatriz, Manuela e Rosa, mãe do seu filho António Maria. O livro seria Prémio Alçada Baptista da Sociedade Portuguesa de Autores (2012). Agora, o autor recebeu o prémio da rádio Igrejas Caeiro 2016.

Leituras: António Cartaxo (2009). Quase Verdade como são Memórias. Lisboa: Colibri, 157 páginas, 15 euros
António Cartaxo e Jorge Ribeiro (1977). BBC Versus Portugal. História de um Despedimento Político. Lisboa: Editorial Estampa
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publicado por industrias-culturais às 19:31
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Segunda-feira, 4 de Abril de 2016

Um livro sobre a editora Romano Torres

As edições Romano Torres constituem o nome de uma empresa livreira de grande significado em Portugal. Ela foi conhecida por fornecer edições populares no preço e nos gostos.

A alma da editora foi a literatura infantil e popular, com abertura ao romance histórico, ainda no final do século XIX. A coleção "Biblioteca de Recreio", iniciada em 1888, combinaria obras de referência, divulgação, história e romances. A coleção foi uma estratégia editorial para desenhar o catálogo da Romano Torres, que se prolongou por décadas e que se traduziu numa novidade à época: a especialização.

Os romances de aventuras nas coleções Salgari, Manecas e Gigante marcaram o conhecimento da juventude masculina de gerações, já na primeira metade do século XX. A coleção Azul, orientada para um público feminino, composta de novelas sentimentais e referenciada como a biblioteca ideal da família. Dito de outro modo: a biblioteca como lugar simbólico que incorporava novas relações temporais, acumulação, leitura e difusão.

Por outro lado, pseudónimos escondiam autores portugueses, que se identificavam apenas como "tradutores", o que lhes trazia mais liberdade quanto a histórias, lugares e fantasias. O tradutor era o elemento central no modo de circulação principal do livro a partir do século XIX, permitindo que textos romanceados europeus mas de línguas estrangeiras chegassem às mãos de leitores ávidos de novidades. Walter Scott, Dumas pai e filho, Emilio Salgari, Charles Dickens, Emile Zola, Jane Austin, as irmãs Brontë (Emily e Charlotte) e Odette de Saint-Maurice seriam alguns dos autores privilegiados pela editora.

Um terceiro fator marcante é a viabilização do negócio dentro de uma estrutura familiar. A editora Romano Torres nasceria do trabalho e conhecimento de tipógrafos, litógrafos e profissionais ligados à impressão, que criaram competências e negócios entre tipografias e editoras em torno do livro e do didatismo. A Romano Torres insere-se na regra da maioria das empresas que começam com um nome de família, com as chancelas das editoras a revelarem dois universos: empresarial e profissional.

O livro agora publicado revela uma faceta que não deixo de destacar: o arquivo organizado da empresa e a generosidade do último proprietário, Francisco Noronha e Andrade, doar o arquivo para melhor tratamento e divulgação de um espólio cultural marcante. Isso ilustra uma estabilidade empresarial ao longo da sua existência, em especial pela conservação da sua propriedade e identidade numa família.

O projeto, corporizado em torno de Daniel Melo e da sua equipa, chamou-se "Romano Torres: um arquivo histórico representativo da edição contemporânea", foi apoiado financeiramente pela Fundação Calouste Gulbenkian e em termos logísticos pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, dentro do Centro de História da Cultura. Além do arquivo, o projeto promoveu encontros, edição de revistas e criou um sítio na internet. O livro tem capítulos escritos por Daniel Melo, João Luís Lisboa, Afonso Reis Cabral, Joanna Latka e Patrícia Cordeiro. A capa do livro tem ilustração de António José Ramos Ribeiro, trabalhada para aparecer na História Ilustrada da Guerra de 1914.

Leitura: Daniel Melo (2015). História e Património da Edição - a Romano Torres. Famalicão: Humus, 153 páginas, 8,5 euros
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publicado por industrias-culturais às 21:19
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Sábado, 2 de Abril de 2016

Abandono da informação de "última hora"?

Os media digitais de qualidade estão a repensar o conceito de notícia de última hora. "Abrandar o ritmo noticioso e permitir que os leitores digiram a informação com mais tempo", segundo escreveu ontem o jornal Público.

Os exemplos são os dos jornais britânicos The Times e The Sunday Times (grupo News Corp, de Rupert Murdoch), que vão adotar o modelo editorial de "abandono da cobertura noticiosa ao minuto e pela aposta no tratamento aprofundado das histórias do dia", ainda segundo a mesma notícia. Os títulos passam, assim, a ser atualizados online em três momentos diários: 9:00, 12:00 e 17:00.A decisão parece estar em oposição à tendência das edições online dos media mundiais difundirem informação ao minuto. Um objetivo maior será o de escrever textos mais profundos e compreensivos para os leitores que se interessam por saber mais sobre o mundo e parte da ideia que um leitor não absorve completamente mais do que cinco ou seis temas por dia.
publicado por industrias-culturais às 12:18
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