Sábado, 13 de Fevereiro de 2016
No dia 8 de setembro de 1970, o
Diário Popular editava a sexta história da rádio segundo Álvaro de Andrade. No texto, combinaram-se as duas maiores paixões do jornalista - a rádio, ele que fora funcionário da Emissora Nacional nos seus primeiros anos, e o teatro, ele que foi um persistente organizador de eventos teatrais, dada a sua ligação orgânica aquela indústria criativa.
Álvaro de Andrade, ao recordar a sua intervenção juntando essas duas paixões, convidaria artistas e críticos a pronunciarem-se sobre a representação radiofónica da peça
A Ceia dos Cardeais, de Júlio Dantas, numa espécie de estudo qualitativo de audiências. A peça era interpretada por Alexandre de Azevedo, António Sacramento e Henrique de Albuquerque, belas vozes claras e das melhores de então - 1936. O crítico não encontrava muita diferenciação nas cenas, com pouca
allure (que poderei traduzir por elegância) e vibração. Por exemplo, Alexandre de Azevedo não dava "duplo colorido às frases". Isto é, como a peça só tinha vozes masculinas, graves, falhava a cor do espetáculo que outros tons podiam fornecer. Mesmo o bater de louças e vidros no começo da peça lembrava outra peça, envolvendo comensais velhinhos. A rádio, finalizo, e a propósito do Dia Mundial da Rádio, hoje comemorado, é o conjunto da voz, a palavra e os múltiplos cambiantes sonoros.
Sexta-feira, 12 de Fevereiro de 2016
Hoje ao fim da tarde foi lançado o livro de Cordeiro,
Impressão Digital, publicado pela Chiado Editora. Provedora do ouvinte da rádio pública e docente universitária (ISCSP), o livro é uma recolha de textos que a autora foi publicando na revista
Briefing e no portal Liga-te à Media. Retiro algumas ideias da contracapa do livro: sem ser um livro de aparato científico, aponta pistas para a teoria e destaca a importância do digital na vida quotidiana e a aparente inadaptação das marcas e da comunicação social ao novo paradigma comunicacional.
Da apresentação do livro por Luís Marinho, ele realçaria as palavras amor e paixão pelo objeto rádio, que a autora investiga por dentro. E elogiaria o facto de Paula Cordeiro defender o regresso da palavra à rádio. Este meio foi relevante quando nos falou ao ouvido. Só a rádio consegue contar histórias que encantam quem as escuta. A rádio é, deste modo, um contexto propício à comunicação e à cultura, acrescento.
Leio no Diário de Notícias que os jornais britânicos Independent e Independent on Sunday vão ter as últimas edições em papel no próximo mês de março. Lançados em 1986, foram comprados por Evgeny Lebedev em 2010. O jornal tem 58 milhões de leitores online e já é rentável.
Quinta-feira, 11 de Fevereiro de 2016
Por ocasião dos 80 anos do lançamento da revista juvenil de banda desenhada
O Mosquito, que se publicou durante dezassete anos e na qual diversos artistas portugueses iniciaram ou desenvolveram as suas carreiras, a Biblioteca Nacional de Portugal e o Clube Português de Banda Desenhada promovem um colóquio, a 17 de fevereiro, pelas 17:00, no auditório da BN, com entrada livre. Uma exposição associada, com exemplares da revista, publicações associadas e construções oferecidas como separatas, estará patente na Biblioteca Nacional até ao dia 29 fevereiro de 2016.
O programa conta a participação de José Ruy (leitor de primeira hora e posteriormente colaborador da revista onde publicou
O Reino Proibido) sobre a parceria de Tiotónio e Raul Correia na criação e desenvolvimento de
O Mosquito, António Martinó Coutinho sobre memórias portuenses de Hélder Pacheco relativas a
O Mosquito, Carlos Gonçalves sobre as construções de
O Mosquito, e João Manuel Mimoso, complementado com uma visita guiada à exposição.
Quarta-feira, 10 de Fevereiro de 2016
Em 2015, contabilizaram-se 1210 milhões de espectadores nas salas de cinema europeias contra 1151 milhões de 2014, o que significa um aumento de 5,2%, dados revelados pelo projeto MEDIA Salles, do Programa Media da União Europeia (a partir de notícia do Diário de Notícias).
Dos países com maior aumento de frequência de cinema em circuito comercial estão Portugal (mais 20,4%), Finlândia (20,3%) e Dinamarca (15,8%). Ainda de acordo com a notícia que sigo, o Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA) já anunciara que Portugal contabilizou 14,5 milhões de espectadores em 2015. Dos países com maiores taxas de exibição, a Alemanha e Reino Unido também tiveram aumentos de idas ao cinema, ao passo que a França teve uma leve queda.O projeto MEDIA Salles assinala ainda uma aceleração do processo de conversão tecnológica das salas de cinema (existência de 36200 salas com projeção em digital, um total de 95% do total).
Sábado, 6 de Fevereiro de 2016
É o título da peça em cena no Clube Estefânia (Espaço Escola de Mulheres Oficina de Teatro, Lisboa), em produção da Buzico, com texto e encenação de
João Ascenso, cenografia de Francisco Peres e figurinos de João Ascenso e Ruy Malheiro. Prefiro a encenação à história: Mónica (
Raquel Rocha Vieira) perdeu o marido, Henrique (
Pedro Barroso); este gostara anteriormente de Luísa (
Isabel Guerreiro); Jorge (
Ricardo Lérias) era amigo de ambas e confessara um dia que gostava de Henrique. Não era um triângulo, mas um quadrado. Amigas desde a infância, na adolescência e como jovens adultas Mónica e Luísa brincavam a trocar namorados e a classificá-los, como se fossem coisas ou joguetes nas suas mãos. Depois, Henrique apareceu, começou a gostar de Luísa mas apaixonou-se por Mónica, com quem casou. No dia do acidente que o vitimou, ele telefonara a Luísa e levava no casaco uma velha fotografia com ela. Rompera com Luísa e queria voltá-la a ver muito. Isto é revelado ao longo da história.
Na história, a viúva Mónica aparece doente e encerrada em casa há um ano, sem capacidade de fazer sequer um lanche, com o apoio desvelado de Jorge. Quando chega Luísa, desfaz-se o desequilíbrio - ela considera Mónica de boa saúde e Jorge obstinado e vítima. Chama-lhe
porteira com algum carinho mas desata logo a reprovar o seu comportamento. Henrique, morto e amado/odiado passeia-se pelo palco como um fantasma, narra partes da história para a compreendermos melhor. Cada personagem fala com os espectadores, a narrar a sua perspetiva e segredos, com a luz (de Paulo Santos) focada nas suas palavras, deixando as outras personagens no escuro e em suspenso. Luísa vem também até à janela, a realçar a sua posição. No fundo, os três amigos são viúvos e suspensos nas suas memórias, que procuram levá-las até à eternidade. Jorge, aparentemente o elemento mais frágil, seria o guardador dessa memória. Quando todos compreendem que a situação se torna insustentável, pelas contradições que encontram e pelos segredos contados finalmente, voltam à antiga amizade e à vida. A janela aberta por Luísa com a ajuda de Jorge é a imagem mais bem conseguida disso.
João Ascenso, que terá imaginado como se pode perder alguém que se ama, olhou agora, quando preparou a encenação, o texto com estranheza. Porém, encontrou sentido nessa travessia.
Retiro da página do Facebook de
Isabel Guerreiro as suas impressões sobre os colegas de representação: "Ricardo Lérias, meu mestre na vida, orientador de tanta coisa. Protector. Amigo. Companheiro. E agora voltamos juntos a palco. Da primeira vez que o fizemos sentimos a faísca. Agora fazemos faísca... «porteira»! Pedro Barroso, tu nem tens noção da enormidade que és como actor. E do quanto me tens dado. Pequenas trocas de olhar, muito rápidas porque não podemos mais, têm sido o bastante. Obrigada! João podes escrever uma coisa que eu possa olhar para o Pedro de frente e usar esta enormidade dele? Obrigada! Raquel, não é fácil de repente subir a um palco e uma desconhecida ser a tua melhor amiga que te traiu mas que tu amas perdidamente na mesma. Mas foi. E porquê? Porque tu estás ao meu lado e fazes a Mónica. Não receies. A tua entrega diária mostra bem o que és. Todos os teus mimos são um bálsamo. Vamos fazer isto de mãos dadas".
Quinta-feira, 4 de Fevereiro de 2016
Estão abertas as candidaturas para a edição de 2016 do Grande Prémio de Teatro Português promovido pelo Teatro Aberto em parceria com a Sociedade Portuguesa de Autores. Os candidatos devem enviar as obras que desejam submeter ao concurso até 26 de fevereiro de 2016. Trata-se da 20ª edição do prémio que já levou ao palco do Teatro Aberto dez textos inéditos estreados entre 1997 e 2013. Regulamento do concurso disponível em
Sociedade Portuguesa de Autores e
Teatro Aberto.
Quarta-feira, 3 de Fevereiro de 2016
Da Fotografia ao Azulejo é uma exposição temporária que se pode visitar no museu Soares dos Reis (Porto). O tema é o azulejo enquanto decoração de espaços públicos e privados desde o século XVII em Portugal. Fachadas de edifícios de casas das cidades, mercados, instalações fabris e estações ferroviárias contam-se entre as que têm azulejos como elementos decorativos. Em muitas situações, os azulejos contam histórias ou são representações da paisagem, da sociedade e de momentos de trabalho. Lisboa, Porto (Vila Nova de Gaia) e Aveiro foram os centros fabris de trabalho do azulejo.
A exposição, para além de um grande repositório de imagens de locais onde ainda se veem os azulejos, mostra a maneira como artesãos e artistas pintam os azulejos a partir de modelos, nomeadamente fotografias. As fontes gráficas incluem livros, revistas e postais. Fotografias de Joshua Benoliel e de fotógrafos locais são empregues. Estas imagens trazem associadas a si a ideia de verdade. No Porto, há edifícios notáveis pelos azulejos, como a estação ferroviária de S. Bento e igrejas dos Congregados e de Santo Ildefonso, todos de autoria do pintor Jorge Colaço, produzidos em fábricas de Lisboa (Sacavém e Lusitânia). Já os painéis da igreja do Carmo (Porto) foram realizados nas fábricas de Vila Nova de Gaia (Senhor d'Além e Torrinha) [texto a partir do folheto que acompanha a exposição].
Terça-feira, 2 de Fevereiro de 2016
Dentro das comemorações dos 25 anos, a APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) promoveu a realização do mural de arte urbana
Introspeção, dos artistas Frederico Draw e Rodrigo Alma (Colectivo RUA), localizado na rua Dona Estefânia, em Lisboa, e destinado a comunicar a missão da associação à comunidade onde se insere, através da arte. Realizado entre os dias 7 e 9 de novembro de 2015, o projecto contou com o apoio do Hotel Neya e da Galeria de Arte Urbana da Câmara Municipal de Lisboa (texto a partir de notícia do jornal
Público).
Segunda-feira, 1 de Fevereiro de 2016
"O objetivo do texto é traçar linhas de atuação da informação na Emissora Nacional no final do Estado Novo e início do regime democrático. Passou-se de uma época assente em valores noticiosos oficiais, imutáveis e apologéticos das realizações políticas de Salazar, Caetano e Tomás para um período experimental e pleno de contradições, com preocupações diferentes como condições de vidado povo e exaltação de uma sociedade mais justa", escrevo no começo de texto agora publicado na revista
Jornalismo e Jornalistas (número 61, respeitante a outubro-dezembro de 2015). Observação: no texto, menciono o tenente-coronel José Luís Ferreira da Cunha, secretário de Estado, como interveniente na legislação da nacionalização da rádio em dezembro de 1975, quando a mesma se deve a António Almeida Santos, então ministro da Comunicação Social. Ferreira da Cunha estava então a braços com uma acusação de ter pertencido a um organismo do Estado Novo.
O número da revista é dedicado aos 80 anos da entrada em funcionamento da Emissora Nacional e tem textos de Luís Bonixe, Elsa Costa e Silva, Madalena Oliveira, Ana Isabel Reis, Maria José Brites, Ana Jorge e Mário Rui Cardoso, além de uma entrevista à provedora do ouvinte Paula Cordeiro.
[textos e imagens retiradas de Rádio & Televisão, 8 de abril de 1972, Flama, 3 de novembro de 1972, e Diário Popular, 6 de maio de 1974]