Sábado, 5 de Setembro de 2015
Jorge Barreto Xavier escolheu o semanário
Sol para o balanço da atividade como secretário de Estado da Cultura, onde faz o elogio da sua obra. Refere as reaberturas do Museu Nacional Machado de Castro (Coimbra) e da Casa das Artes (Porto), a extensão do Museu Alberto Sampaio (Guimarães) e a intenção de mudança do Museu da Música (Alto dos Moinhos, Lisboa) para o convento de Mafra. E também a legislação: questões fiscais sobre direitos conexos, mecenato cultural, lei da cópia privada e lei do preço fixo do livro.
Na entrevista, o secretário de Estado fala dos atores da cultura e da arte: "É uma área em que os egos são por natureza muito grandes, desde os artistas ou curadores aos responsáveis pelas instituições, às vezes egos do tamanho do mundo". O jornalista César Avó coloca a questão do ego de Jorge Barreto Xavier. Ele não esconde a dimensão do seu, contaminado pelo trabalho ao longo dos anos no setor. E admite ter temperamento forte, não necessariamente difícil.
Sobre a recente polémica do alargamento do Museu Nacional de Arte Contemporânea (Chiado), ele diz ter havido uma polémica, com a ausência da verdadeira notícia que foi a ampliação do museu. Ando há tempos para escrever sobre isto, mas como ainda não visitei a coleção, estou a reservar isso para uma próxima ida ao Chiado. E sobre a dicotomia secretaria de Estado versus ministério da Cultura, ele sente-se bem com a primeira fórmula e considera uma "glorificação quase patética" a segunda fórmula, proposta pela oposição. E reclama quando dizem que o peso do orçamento da cultura deve estar nos 1%, como propõe a oposição e não nos 0,25%, em que está. O orçamento de Estado para a área terá atingido neste momento os 0,7%.
Parece-me que o secretário de Estado traça de si um quadro muito bondoso, mas muita gente reconhece o fim do seu ciclo político. O próprio Jorge Barreto Xavier nesta entrevista diz permanecer num sítio até três a quatro anos, o que quer dizer que está na altura adequada de mudar de posição. Algumas questões não resolvidas ficarão mal no seu currículo: a estratégia da língua portuguesa, a articulação do Instituto Camões e da CPLP, a reflexão do valor de 3% nas exportações nacionais. E uma visão menos interessante do que entende por cultura e da relação desta com o entretenimento, e da fronteira entre iniciativa privada e papel do Estado. Também tenho dúvidas sobre a apropriação das inaugurações e reaberturas, pois os ciclos de conceção e concretização das iniciativas vão além de mandatos governamentais. Parece-me mais ajuizado dizer que é um esforço dos governos com vontade cultural. Finalmente, sobre o Museu dos Coches, nem uma palavra. Durante meses, as notícias indicavam a oposição do governante à abertura, porque o museu daria maior prejuízo se aberto do que fechado. Agora, as notícias falam de um grande aumento de visitantes. Será Jorge Barreto Xavier uma força de bloqueio?
Nascido em Goa, em 1965, veio ainda criança para Portugal. Os seus pais, um juiz e uma professora primária, pertenciam a uma família que aderira ao catolicismo no século XVII e não podia ficar mais tempo após a integração dos territórios então administrados por Portugal no conjunto da nação da Índia. Licenciado em Direito, pertence ao PSD e é adepto do Sporting. Sempre esteve ligado à cultura, tendo sido já vereador da cultura da câmara de Oeiras e diretor-geral das Artes e administrador do Fundo de Fomento Cultural do Ministério da Cultura entre 2008 e 2010 (governo PS).
Sexta-feira, 4 de Setembro de 2015
Há um mês, a rádio pública comemorou os seus oitenta anos de emissão. Em 4 de agosto de 1935, o então presidente da República Óscar Carmona visitava oficialmente a Emissora Nacional, pelo que essa é a data simbólica de inauguração. Esta fora prevista para 1 de agosto, mas um impedimento pessoal de Carmona fez deslizar a visita para três dias depois. Por isso, também se costuma associar a data de arranque ao dia inicial de agosto. O conceito de rádio pública é recente, pois até 1974 a Emissora Nacional era designada por rádio oficial, pertença do Estado.
Eu dei uma colaboração neste 4 de agosto, falando para a RTP online, com perguntas de Rui Santos.
Quinta-feira, 3 de Setembro de 2015
"A cada minuto que passa o perigo aumenta" parece ser o motivo inicial de
Fuenteovejuna de Lope da Vega na versão livre de Natália Correia para o Teatro Experimental de Cascais, com direção de Carlos Avilez em 1973. A ação decorre em Espanha durante uma sucessão dinástica, com dois partidos divididos após a morte de Henrique IV. Um centra-se na irmã do defunto, a futura Isabel de Castela, outro (que inclui o nosso rei D. Afonso) a filha do próprio Henrique IV, D. Joana. O povo de Fuenteovejuna está no centro da história.
O recorte do
Diário Popular, de 14 de maio de 1973, é a crítica de teatro sobre a peça. Dias depois, o mesmo jornal indicava que a companhia de Cascais ia em
tournée para Angola. Vi-a em Luanda entre julho e agosto desse ano, já não posso precisar. Fiquei entusiasmado. Pela interpretação, parecia-me que muita coisa podia mudar também em Portugal. Lembro-me do desempenho de Zita Duarte (1944-2000). Creio que vi ainda outra peça do Experimental.
Não soube, então, do discurso de Américo Tomás em Aveiro, no final de junho. Ele sentia que "em muitos postos de comando se inseriram pessoas que deliberadamente procuram minar os alicerces da ordem social". Naquela cidade, em 4 de abril, começara o III congresso da oposição democrática. Entre outros, eram oradores iniciais José Manuel Tengarrinha e Maria Barroso. Depois, como que a responder a este congresso, a ANP (partido único) reunia-se em maio. A rádio transmitia o folhetim
Simplesmente Maria. Vera Lagoa e outros organizavam o concurso de miss Portugal 1973, com transmissão direta na RTP em 30 de abril. Neste mesmo dia, informava-se de rebentamento de petardos em várias partes do país, a 21 de junho noticiava-se a perturbação de aulas na faculdade de Ciências do Porto, sem mais detalhes.
Fuenteovejuna pode ser vista em
http://www.rtp.pt/rtpmemoria/?article=1477&visual=2&tm=8&layout=5.
O Grupo de Trabalho “Cultura Visual Digital” convida todos os interessados, membros e não-membro da AIM, a submeterem propostas de comunicação para a organização de um ou mais painéis temáticos no âmbito do VI Encontro Anual da AIM, que se realizará no Porto, de 4 a 7 de maio de 2016.
Sem prejuízo de outros temas relevantes para esta área de investigação, propomos este ano o tema específico do ensaio audiovisual digital.
A utilização da imagem em movimento no contexto da crítica cinematográfica, da análise fílmica e até das expressões mais diversas da cinefilia contemporânea registou um crescimento assinalável nos últimos anos. Para além da popularidade cada vez maior destes ensaios, a multiplicação de conferências internacionais, cursos de formação, abertura de secções em revistas científicas e publicação de bibliografia de referência sobre o assunto tem contribuído para uma crescente reflexão crítica sobre estas práticas e até mesmo para a sua progressiva institucionalização.
No entanto, enquanto produto da Web 2.0 e da vulgarização de tecnologias de visionamento e montagem digital, as práticas do ensaio audiovisual caraterizam-se por uma grande diversidade metodológica, são especialmente resistentes à normalização e abrangem vários contextos e influências, dentro e fora do campo específico do cinema e muito para além da universidade: da sala de aula à conferência académica; do filme-ensaio ao filme de compilação; do found footage à video-arte; da crítica de cinema à análise textual; do extra de DVD ao remix, o mashup e o supercut.
Esta chamada de comunicações tem como objectivo mapear estas práticas e reflectir sobre as suas tensões definidoras. Encorajamos o envio de comunicações sobre, entre outros, os seguintes tópicos:
-estudos de caso;
-relações com práticas artísticas;
-relações com culturas de fás e cinefilia digital;
-relações com a cultura audiovisual contemporânea;
-implicações no ensino e na investigação dos estudos filmicos;
-implicações na questão de direitos de autor e relação com arquivos fílmicos
As propostas não devem exceder os 1500 caracteres (incluindo espaços) e deverão ser enviadas diretamente para os coordenadores do GT até 15 de outubro de 2015. No caso de aceitação, o autor deverá então submeter a sua proposta no site da AIM até 31 de outubro de 2015. A aceitação final dependerá do processo de arbitragem científica geral do Encontro.
Contato para envio de propostas:Tiago Baptista: trbaptista@mail.com
+info sobre o Encontro aqui +info sobre o GT Cultura Visual Digital aqui
[texto da organização]
Quarta-feira, 2 de Setembro de 2015
Sempre que encontro uma notícia sobre os Parodiantes de Lisboa, penso em escrever sobre eles mais do que já fiz. Nesta imagem (
Diário Popular, 17 de março de 1968), parece-me que os irmãos Andrade são fotografados na então nova sede, à avenida Estados Unidos da América, aqui em Lisboa. Em começo de 1973, eles estavam mais fortes do ponto de vista financeiro (
Diário Popular, 12 de fevereiro de 1973). Certamente que eles fizeram muitas brincadeiras; aqui, ficam registadas duas, uma em que distribuíram 500 frangos à porta do teatro ABC no dia 1 de abril, dia das mentiras (
Diário Popular, 2 de abril de 1968), outra, no dia de Santo António (
Diário Popular, 13 de junho de 1968).

