Em dois recortes do Diário Popular (25 e 27 de abril de 1974), no primeiro as ocupações das estações pelos militares e no segundo as canções senha transmitidas pela rádio para orientação das ações dos militares.
O texto publicado ontem por Marisa Antunes no Expresso (papel) compara Lisboa e Porto em termos de lojas que abrem e lojas que fecham. Os dados e as conclusões (tendências) merecem aqui reflexão. Dados oficiais indicam que, por semana, há um decréscimo de uma loja em Lisboa e um aumento de cinco no Porto. A questão essencial é o custo dos arrendamentos, na altura em que se cumprem três anos da atual lei do arrendamento. Na avenida Almirante Reis (Lisboa), praticam-se preços de rendas que atingem 3 a 4 mil euros, quando o preço de uma renda acima de 1500 euros se torna incomportável. O preço a juntar a ordenados e impostos acaba rapidamente com os negócios. Isso explica a razão pela qual aquela zona mas também as avenidas de Roma e de Guerra Junqueiro estão a perder lojas, visível, por exemplo, nas lojas de sapatos na avenida de Roma. Há uns dez anos, contei mais de vinte ou quase trinta lojas de sapatos (fiz aqui um álbum fotográfico delas); hoje, o número é diminuto.
Ao invés, escreve a jornalista, o Porto está a atrair mais lojas, com reconversão de atividades, do comércio a retalho para serviços de hotelaria. O turismo parece ser uma tábua de salvação. O texto elenca zonas como a praça dos Poveiros e praça D. Filipa de Lencastre (que Marisa Antunes designa como túnel de Ceuta), onde lojas desocupadas se transformaram em zonas de gastronomia.
Eu tenho uma perspetiva diferente, assente em dois pontos. Por um lado, a minha visão é pessimista sobre o crescimento atual. Ele é baseado numa única indústria: o turismo. Os habitantes estão a afastar-se desses locais, deixando as cidades de ter pessoas que alimentam diversas atividades comerciais. Os locais passam a ter uma dupla situação: muita gente durante o dia, desertas à noite.
Por outro lado, o artigo é esquemático. Dou exemplos: em Lisboa, junto ao campo Mártires da Pátria, nomeadamente na rua Gomes Freire, nascem pequenos restaurantes temáticos que atraem uma clientela diferente, visível no presente fim de semana com o programa Todos. Com o programa de Moda no Chiado, esta semana, as ruas daquela zona tornaram-se quase intransitáveis. No Porto, as ruas 31 de Janeiro e Sá da Bandeira perdem muitas lojas. A não ser a hipótese de revitalização do mercado do Bolhão, aquela zona terá uma ainda maior depressão. Isto é, acho interessante caracterizar as cidades, mas torna-se necessário estar atento a pequenos fenómenos locais que complexificam as situações urbanas.
[primeira imagem: Porto, traseiras do passeio das Cardosas; segunda imagem: Lisboa, campo Mártires da Pátria; terceira imagem (vídeo): Lisboa, descida da rua do Carmo]
Foi defendida a tese de doutoramento de José Gabriel Andrade Júnior, O Espaço Global da Língua Portuguesa, no passado dia 10 de setembro, na Universidade Católica Portuguesa. Brasileiro de Santos, São Paulo, Gabriel Andrade fez o centro da sua investigação o uso das tecnologias da informação nos portugueses a viver no Brasil e nos brasileiros a residir em Portugal, num total de 21 respondentes. Com um aparato teórico forte, apoiado nomeadamente em autores como Arjun Appadurai, Homi Bhabha, Néstor Canclini, Jesús Martín-Barbero, Sérgio Buarque da Holanda, Isabel Ferin, Boaventura Sousa Santos, Manuel Castells e Rosa Cabecinhas, o jovem investigador cruzou os conceitos de lusofonia, globalização e tecnologia dos novos media e definiu um pentagrama onde articulou media, turismo, migrações, governo e organização.
Na fotografia, da esquerda para a direita: Anthony Pereira, Verónica Policarpo, Fernando Ilharco (orientador), José Gabriel Andrade, Isabel Gil (vice-reitora da Universidade Católica), Rogério Santos e Isabel Ferin.
José Carlos Abrantes, no passado mês de julho, surpreendeu com a sua participação na peça A Ronda de Arthur Schnitzler, no Teatro de Turim. Eram dez diálogos onde as personagens vivem encontros e várias formas de se relacionar com o outro, tudo isto vivido a diferentes tempos, num espaço comum. Com encenação de Patrícia Lucas e produção Teatro Turim (Lurdes Silva) e interpretação de Bárbara Água, Elisabete Jarró, Luís Correia Rafael, José Carlos Abrantes e Sara Braz Ferreira e luz de Henrique Moreira. Por razões pessoais, não pude ver. Por isso, fui ao encontro de José Carlos Abrantes e entabulámos uma conversa agradável em esplanada do Jardim das Conchas numa manhã deste mês de setembro. Além da peça, falámos de outros tópicos, mas o vídeo versa apenas sobre essa experiência no teatro.
José Carlos Abrantes exerceu as funções de Provedor do Telespectador da RTP entre 2 maio de 2011 e 30 de abril de 2013. Nesse período fez cerca de 80 programas Voz do Cidadão, exibidos em todos os canais da RTP. Foi também Provedor dos Leitores do Diário de Notícias entre fim de abril de 2004 e junho de 2007. Foi professor de Teoria e História da Imagem na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra(1994-2001) e na Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa. Em Coimbra leccionou também Comunicação Audiovisual. Foi membro da direção do Instituto Jornalísticos. Foi também professor na Universidade Aberta, na Universidade do Algarve , no Instituto Politécnico de Castelo Branco e deu aulas na Universidade Católica de Louvain, no quadro do Programa Erasmus. Tem organizado eventos culturais e mediáticos em parceria com a Livraria Almedina, o Teatro S, Luís, o Instituto Franco Português e algumas Universidades (Universidade de Coimbra, Universidade Nova, Universidade Católica., entre outras). Foi sócio fundador da Associação Portuguesa de Comunicação (Sopcom) e do Centro de Investigação Media e Jornalismo (CIMJ), tendo feita parte da direção deste último. Trabalhou com a imprensa escrita, a rádio e a televisão. Alimentou vários blogues (um deles dedicado às imagens, As Imagens e Nós) e está presente no Facebook e no Twitter. Publicações mais recentesEm escrita: Os Poderes das Imagens, a aparecer em 2016Abrantes, J.C., Nós, os Leitores, Lisboa, Edições 70, 2008Abrantes, J.C. e Daniel Dayan (Orgs), Televisão: Das audiências aos públicos, Livros Horizonte/CIMJ, 2006Abrantes, J.C. (Org.), Ecrãs em mudança, Lisboa, Livros Horizonte/CIMJ, 2006Abrantes, J.C (Org), A construção do Olhar (Coord), Livros Horizonte/CIMJ, 2005Abrantes, J.C., 1001 Razões para Gostar de Portugal, Lisboa, Texto Editores, 2005.Foi director da colecção “A Construção do Olhar”, das Edições 70, que publicou livros de Monique Sicard, Serge Tisseron, Daniel Dayan, Ema Sofia Leitão e Rogério Santos.
Os três volumes Júlio Pomar, Textos Críticos, escritos e publicados entre 1942 e 2013, em edição da Documenta, serão apresentados por Maria Filomena Molder no dia 17 de setembro de 2015, pelas 17:00, no Atelier-Museu Júlio Pomar, Rua do Vale, 7, em Lisboa.
Dois dos mais conhecidos animadores de televisão e rádio, Júlio Isidro e Carlos Cruz, preparam as suas memórias. As do primeiro estarão prontas no final deste ano, segundo a TV Guia. As do segundo estarão já escritas mas não conheço o processo de edição.
Quer um quer outro são ou foram figuras destacadas dos media audiovisuais desde meados da década de 1960, nomeadamente concursos e festivais. Ambos foram também locutores de noticiários.
A inesquecível fotografia de Marilyn Monroe de pé sobre um respiradouro do metro e uma lufada de ar soprando o seu vestido branco é um dos trabalhos mais conhecidos do fotógrafo nova-iorquino Sam Shaw e, naturalmente, faz parte das cerca de 200 imagens que compõem a exposição Sam Shaw: 60 Anos de Fotografia. Uma retrospectiva que percorre as mais de seis décadas da prolífica carreira do reconhecido fotógrafo, passando pelo fotojornalismo, os retratos e a indústria cinematográfica. A exposição, que inclui algumas fotografias raras e nunca antes vistas e outras tão célebres quanto a imagem de Marlon Brando de t-shirt rasgada no filme Um Eléctrico Chamado Desejo (1951), inicia em Cascais a sua digressão mundial e estará patente no Centro Cultural de Cascais, pela mão da Fundação D. Luís I, de 11 de Setembro até 8 de Novembro de 2015 (texto da organização) [já fizera referência à exposição em 30 de junho, em http://industrias-culturais.blogspot.pt/2015/06/sam-shaw-60-anos-de-fotografia-no.html] [New York City, 1954].
A Zest apresenta o primeiro álbum nacional – de norte a sul do continente, passando pelos Açores – com as peças mais significativas que marcaram o ano de 2014 em termos de Street Art em Portugal. São mais de duas centenas de imagens, de quase uma centena de artistas, na sua quase totalidade nacionais, numa coleção que irá passar a registar a história gráfica da arte de rua em Portugal, apresentando novos e não tão novos artistas (texto do editor).
Álvaro de Andrade não escreveu propriamente uma história da rádio, mas deixou algumas memórias escritas nas páginas do Diário Popular. Procurarei recuperar os seis ou sete textos que editou, a começar pelo publicado a 4 de agosto de 1970. Do que se lê, trata-se da memória de dois dos locutores mais antigos da Emissora Nacional, a que Álvaro de Andrade esteve ligado na época inicial. Os pioneiros, como lhe chama, são Fernando Pessa e João da Câmara.
Álvaro de Andrade, do qual já escrevi aqui na sua faceta de homem ligado ao teatro, dirigiu dois semanários de rádio (Rádio Semanal e Rádio Nacional), organizou o Anuário Radiofónico Português (1937, 1938) e foi adjunto da direção de Serviços de Produção da própria Emissora Nacional.
De Pessa destacaria a "voz inteligente, agradável, otimista". A ida do locutor para Londres no período da II Guerra Mundial criou um vazio, preenchido com as crónicas e os programas emitidos pela BBC. De Câmara, destacaria as reportagens das missas dominicais da igreja de São Domingos e a apresentação dos programas de ópera no São Carlos, com "a facilidade elegante e culta da locução e a pureza da linguagem, aliadas ao timbre equilibrado e insinuante da sua voz clara".
Lê-se da missão do Museu Nacional Machado de Castro (Coimbra): "As atividades do Museu apostam na divulgação da cultura e na educação do gosto, enquanto capacidade crítica de saber aquilo de que gostamos".
É um prazer voltar a visitar o museu: escultura (pedra de calcário e granito, madeira, marfim, barro), pintura, ourivesaria, tapetes orientais (portugueses-hindus), cerâmica, têxteis, arqueologia. Um dia, numa visita guiada ali efetuada, ouvi pormenores sobre a história de um dos tapetes e as relações entre ocidente e oriente. Refleti: a história da cultura do mundo num pano longamente tecido e agora frágil pela sua idade, o que me encheu de muito contentamento.