A Biblioteca Nacional acolhe, entre 6 de outubro e 31 de dezembro, uma exposição sobre jornais de empresa, cujo primeiro espécime foi publicado em Maio de 1869 pela Caixa de Crédito Industrial. Intitulada Imprensa Empresarial em Portugal: 145 Anos de Jornais de Empresa, a mostra é comissariada por João Moreira dos Santos.
"Tendo por base uma amostra alargada de publicações – representativas de um universo de cerca de 900 títulos publicados nos últimos 145 anos – e um extenso trabalho de investigação académica, a exposição permite seguir a história económica e política de Portugal dos séculos XIX e XX, revelando os seus reflexos na linha editorial e gráfica dos chamados jornais de empresa. Assim, ao tom paternalista e reverencial dos periódicos editados durante o Estado Novo opôs-se a postura reivindicativa e revolucionária que emergiu no pós 25 de Abril em publicações como a revista Lisnave e o boletim Águas Livres (CAL/EPAL). Uma questão central é a da censura prévia, ilustrando-se a forma como o regime de Salazar controlava também a informação empresarial, validando ou rejeitando tanto o conteúdo como os directores e editores dos periódicos. Outro tema em destaque na exposição é o envolvimento nos jornais de empresa de personalidades de vulto da cultura nacional, como Cottinelli Telmo e Augusto de Santa-Rita, e do desporto, particularmente o atleta olímpico Mário Simas, e também de ilustradores edesigners, nomeadamente Fernando Bento e Daciano da Costa, de jornalistas, incluindo José Augusto, Homero Serpa, Morais Cabral e Sérgio Acúrcio Pereira, e, ainda, de fotógrafos, muito particularmente o histórico Horácio Novaes. A nível institucional, destaca-se o importante papel desempenhado por empresas como a CP, Marconi, Caixa Geral de Depósitos, Shell, Philips e Renault, e o fenómeno do associativismo, através da Associação Portuguesa de Comunicação de Empresa (APCE). Para celebrar os 100 anos da edição do primeiro livro sobre os jornais de empresa, a exposição acolhe ainda uma inédita mostra de livros internacionais, exibindo obras raras editadas entre 1915 e 2011. Com tiragens por vezes superiores aos órgãos de comunicação social, os jornais de empresa – periódicos de carácter jornalístico destinados a trabalhadores, colaboradores, accionistas, clientes, fornecedores e revendedores – têm sido um género de imprensa negligenciado publicamente. O seu boom ocorreu nos anos oitenta, coincidindo com as mudanças políticas e económicas, sobretudo a liberalização e a abertura do mercado nacional" [imagem: capa digitalizada do número 1 do Boletim da CP, julho de 1929, com grafismo de Cottinelli Telmo].
João Moreira dos Santos é doutorando em Ciências da Comunicação (ISCTE) e tem realizado o seu percurso profissional entre osmédia e a comunicação empresarial. Actualmente, é autor do programa radiofónico diário Jazz a Dois (RTP/Antena 2), tendo colaborado nomeadamente nos jornais Expresso, Blitz, A Capital e Jornal de Letras, em sites norte-americanosde referência e no seu próprio blogue, que fundou em 2003 (500 000 visitantes).Foi docente universitário e assessor de imprensa da Ministra da Saúde do XIV Governo Constitucional. Anível empresarial, dirigiu a comunicação do Banco de Fomento e Exterior, das multinacionais ABB eEricsson, e da Comissão Nacional de Luta Contra a SIDA, tendo fundado no ano 2000 a sua própriaagência. O autor publicou o primeiro livro português sobre a temática da comunicação empresarial: Imprensa Empresarial: Da Informação à Comunicação (2005, Edições Asa). Criou e produziu ainda eventos culturais de referência,nomeadamente para o Ministério da Economia e para o Centro Cultural de Belém, um dos quaisdistinguido em 2012 pela UNESCO.
Segundo o Diário Popular de 26 de novembro de 1971, José Manuel Nunes e José Videira apresentariam discos de José Mário Branco e Sérgio Godinho. Adelino Gomes deslocara-se a Paris para entrevistar o primeiro daqueles músicos. A rádio e a música estavam a despertar o país.
G. W. B. Pope realizou e A. Mota Braga fez as legendas. O filme chama-se Construção da Central da Lapa - 1954. O original tinha uma voz off que relatava em inglês a sequência do filme.
O engenheiro inglês G. W. B. Pope trabalhou na APT (Anglo-Portuguese Telephone) no Porto, onde foi dirigente. Ele tinha uma grande paixão pelo cinema, pois em sua casa montou uma sala de projetar cinema. Podemos dizer que era um amador e que aplicou à história da central da Lapa (Porto) o que viu nos filmes. Por vezes, deteta-se o neo-realismo dos filmes da época, nomeadamente quando os guarda-fios puxam um cabo ao longo de um campo plano. Fernando Gonçalves, que trabalhou na APT antes de enveredar pela carreira na rádio e no mundo dos espetáculos musicais, aparece no filme, mostrando um antes e um depois da automatização da central telefónica. Guarda-cabos, guarda-fios, mecânicos de construção têm uma boa representação.
Há pormenores da cidade do Porto nessa época, como as ruas 31 de janeiro (então Santo António) e Catarina. Curiosas também a sequência da chegada de equipamento strowger vindo de Inglaterra ao porto do Douro, junto à Ribeira, e toda a construção do edifício. Para engenheiros civis e de telecomunicações, vale a pena estabelecer comparações entre aquelas e as atuais tecnologias.
O filme a preto e branco é longo (28 minutos), dentro da classificação de curta-metragem. A meu ver, constitui uma pequena obra-prima e um enorme elogio às telecomunicações. Talvez haja hipóteses de uma nova leitura do filme em celulóide, se o original existir, o que poderia levar a uma divulgação internacional [eu não sei se existe espólio documental da APT em Londres]. [o meu agradecimento ao senhor Manuel Carvalho (Associação dos Trabalhadores e Reformados da Portugal Telecom) pela cópia digital].
No passado dia 11, o Público editou um texto sobre arquivos de memória, com base numa experiência da Associação de Amigos do Parque e Museu do Côa. Disponível já em http://www.arquivodememoria.pt, há muitas entrevistas, incluindo idosos em lares, e um acervo de fotografias e outros documentos.
Duas ideias retirei da leitura do artigo. A primeira é de ordem antropológica, sobre costumes e práticas já desaparecidas, como comer carne apenas em ocasiões especiais. A segunda é de ordem histórica, com recolha de testemunhos das comunidades locais. Parece-me muito interessante desenvolver arquivos (de empresas, de tecnologias, de usos e de espaços sociais).
Já este ano, a Brigada Victor Jara conseguiu editar a sua obra completa através do sistema de crowdfunding, que funcionou bem e depressa. Agora vi-os ao vivo, na Figueira da Foz, com dez elementos (num total de 30 que passaram pela Brigada desde a sua formação). Duas características ressalto deste concerto: a unidade sonora, sem deixar espaço a registos individuais; os cuidados arranjos de músicas tradicionais. O concerto serviu ainda para dois músicos da região atuarem em alguns momentos, o que trouxe entusiasmo à plateia.
Ao longo dos meses mais recentes, tentei escrever sobre a música deles e sobre a música da Banda do Casaco, dois agrupamentos fascinantes e que marcaram a paisagem musical das quatro últimas décadas, mas ainda não consegui. Fica aqui apenas a lembrança da noite de ontem.
O Queijo e os Vermes, de Carlo Ginzburg (1976), não é propriamente um livro de férias. Nem eu pensava lê-lo, embora soubesse que a necessidade de ler sobre a teoria da micro-história me levaria um dia ao autor italiano. Uma cópia publicada na internet ajudou-me a resolver as dúvidas (2006, editado pela Companhia de Bolso, São Paulo).
O livro ajudou-me não pelo que eu procurava - apresentação e análise da teoria - mas interessou-me pela trama. O livro é como um romance, pois nos apresenta personagens quase efabulatórias e com ideias quase incríveis. Menocchio viveu no século XVI e tinha estranhas conceções de como o mundo fora criado. Ao início, o mundo era um caos e todo o volume se formou em massa, do mesmo modo que o queijo é feito de leite coagulado e do qual surgem vermes. Estes seriam os anjos, com Deus a tornar-se o melhor dos vermes e o mais potente dos homens (p. 97 da tradução feita no Brasil e que li). Claro que a insistente remissão para o queijo e os vermes, indica Carlo Ginzburg, teria em Menocchio uma função analógica-explicativa.
Menocchio de Montereale, o sítio onde morava no Friuli (Itália), que na realidade se chamava Domenego Scandela, era um moleiro que aprendera a ler e a escrever (mais aquela ação que esta), tornara-se uma espécie de intelectual que precisava de encontrar parceiros para a discussão das coisas do mundo e da religião. Os únicos parceiros que encontrou - e com quem se entusiasmou - foram elementos do Santo Ofício da Inquisição. Os interrogatórios para desmantelar as ideias estranhas do moleiro constituíram grosso volume que Ginzburg usou. Considerado apóstata, ficou três anos preso, após o que a sentença foi reconsiderada. Menocchio prometeu não voltar a rebelar-se contra as ordens do poder religioso. Obrigado, porém, a vestir uma roupa que o identificava com a decisão do tribunal inquisitorial. No final, Menocchio reincidiu e foi condenado à morte. As suas fantasias teológicas eram mais fortes do que ele.
Tenho pena de Marshall McLuhan não conhecer este Menocchio, pois certamente produziria uma brilhante exposição sobre ele. O moleiro viveu a transição histórica da linguagem gesticulada da cultura oral para a linguagem da cultura escrita (lida, mais precisamente). Leitor compulsivo das obras que encontrava, Menocchio construiu um mundo mental que não existia e, mais do que isso, contrário às leis e às regras da época. Além disso, por causa de uma cultura frágil, ele foi distorcendo o que lia, interpretando à sua maneira, de que resultou uma cosmogonia nova. Os mundos de cada indivíduo podem ser perturbadores ou ricos de complexidade de acordo com o modo como se olha o mundo. Exemplos disso as obras de cinema e os romances. No caso de Menocchio, à sua mente imaginativa, é preciso ver como se salta de um tipo de cultura para outro e qual o seu impacto.
Assisti a uma parte e ouvi uma outra parte da emissão que hoje a RDP faz para comemorar os 80 anos de vida. Gostei particularmente da horas dedicadas ao teatro radiofónico e ao desporto. Pelos convidados e pelas memórias levadas para as ondas de rádio, pode dizer-se que este meio é caloroso, universal e quase camaleão, pois se tem transfigurado sempre que surgem ameaças de outros media.
[na imagem, a mesa sobre música ligeira e clássica: André Cunha Leal, Armando Carvalhêda, António Macedo e José Pereira Bastos]
A inauguração oficial da Emissora Nacional esteve marcada para 1 de agosto de 1935. Mas o marechal Carmona não pôde e só visitou a Emissora Nacional no dia 4 de agosto. O importante é que a semana passou em festa na rádio pública, então designada como rádio oficial. Amanhã, passam 80 anos da presença pública do presidente da República na Emissora.
Então, a presidência da Emissora Nacional estava a cargo de Henrique Galvão (anos mais tarde, ele rebelar-se-ia contra Salazar, em que a ação mais espetacular foi o desvio do navio Santa Maria). Galvão sucedera a António Joyce, homem muito ligado à música clássica mas sem experiência de contabilidade empresarial, o que fez derrapar as contas da estação. Para complicar as coisas, o orçamento era gerido pelos CTT, dirigido por Luís Couto dos Santos. A nova programação refletia um gosto mais popular, encontrado, por exemplo, no programa Hora da Saudade (com mensagens de portugueses para familiares residentes ou a trabalhar nas colónias africanas ou noutros países) e os Jogos Florais. Nos anos seguintes, nasceram outros programas que marcaram a Emissora, como Domingo Sonoro, Serão para Trabalhadores, teatro radiofónico, programas infantis e relatos de futebol. Dos locutores do primeiro período destaco Áurea Rodrigues, Maria Rezende e Fernando Pessa. António Ferro sucederia a Galvão na direção da Emissora em 1941.
Amanhã, na rádio pública, uma emissão especial (ver aqui): "Em oito horas de emissão não cabem oitenta anos de história da Rádio pública. Ainda assim, protagonistas de ontem e de hoje, sempre com os olhos no futuro, vão passar pela Antena 1 contando um tempo que foi e desvendando um outro que está a chegar. E, claro, a música vai estar sempre por perto. Aquela que integra a memória da Rádio, a que a canta a Rádio e a que faz hoje o quotidiano da Rádio. Ao vivo, das 10h00 às 18h00, Rogério Charraz, Oquestrada, Marco Rodrigues, Viviane, Paulo de Carvalho, António Manuel Ribeiro, Miguel Ângelo e Luís Represas vão cantar nesta emissão com realização de Armando Carvalhêda e produção de Ana Sofia Carvalheda". Ver ainda aqui várias histórias da rádio (sons e imagens).
Os meus parabéns à RDP, que mantém o património da rádio de 1935.
Quando Luís Pinheiro de Almeida lançou o seu último livro, Biografia do Ié-Ié, em abril de 2014, várias bandas da época ié-ié atuaram nessa sessão. Uma delas foi a dos Claves. Uma das melhores músicas da época pertencia a Luís Pinto de Freitas, Crer (1966), dessa banda, tocada no lançamento do livro, e de que eu fiz uma reprodução em vídeo de má qualidade mas que funciona como uma grande recordação, agora que o seu autor faleceu.
FILMES DO HOMEM - Festival Internacional de Documentário de Melgaço, organizado pela Câmara Municipal de Melgaço e pela Associação AO NORTE, de 4 a 9 de agosto, pretende promover e divulgar o cinema etnográfico e social, refletir com os filmes sobre identidade, memória e fronteira, e contribuir para um arquivo audiovisual sobre a região (http://www.filmesdohomem.pt/filmesdohomem.php#).