Sexta-feira, 5 de Junho de 2015
Fernando Correia era jornalista do
Diário Popular. Este texto, publicado em 22 de setembro de 1969 (pouco antes das eleições para deputados), terá sido uma marca do então jovem profissional e que se viria a notabilizar nos media. Aqui, sob o título Televisão e Sociedade, ele escreveu: "O valor social da Televisão é, hoje em dia, um facto incontroverso e que se mede, até, através dos resultados concretos obtidos em alguns países, onde a sua utilização como meio de formação e informação tem contribuído decisivamente para o progresso cultural e a consciencialização do povo".
O texto dividia-se em alguns subtítulos: a chave da questão, o rótulo e o conteúdo, a publicidade, a resistência dos intelectuais, contradições. Com notas de rodapé e bibliografia então muito recente, o texto aproximava-se de um ensaio. O autor especializar-se-ia depois nesse tipo de trabalho.
Quinta-feira, 4 de Junho de 2015
Instalado numa antiga fábrica conserveira, desde 1987, relevo a reconstituição da mercearia da Liberdade (que existiu na avenida da Liberdade, em Lisboa) e da fábrica da indústria conserveira, bem como os equipamentos e utensílios do trabalho da terra recolhidos pelo etnomusicólogo Michel Giacometti. A visita guiada foi muito bem conduzida e pude aperceber-me de todo o processo de trabalho da conserva de peixe. Na década de 1920, Setúbal tinha perto de 130 fábricas, empregando muita mão de obra da região mas também de zonas portuárias como Murtosa e Aveiro (mais a sul, há cerca de cem anos, pescadores daquelas zonas implantaram a pesca de xávega em Santo André, mais a sul de Setúbal).
Quarta-feira, 3 de Junho de 2015
No passado sábado, falámos sobre o livro de Nelson Ribeiro, Salazar e a BBC, na Casa da Cultura dos Olivais. Foi um momento agradável onde se aproveitou para apreciar a importância dos arquivos, acesso e preservação.
Foi no passado dia 15 de maio que José Carlos Fernandes Gonçalves defendeu a tese de doutoramento
A relação entre os media e a GNR em Portugal, a nível local, à luz da teoria dos campos, na Universidade da Beira Interior (Covilhã).
Retiro a informação do sítio
http://www.labcom.ubi.pt/sub/evento/895: "A investigação desenvolvida partiu de duas questões fundamentais. Através de que forma(s), os jornais e/ou rádios, a nível local, concretizam uma lógica de relação permanente com a polícia? De que maneira é que o poder detido por cada campo em estudo se manifesta na relação que os mesmos possam manter entre si?Os dados empíricos recolhidos através de estudo caso, observação (não participante) e entrevistas permitiram, segundo o autor, extrair diferentes conclusões. José Carlos Gonçalves destaca o facto de «ter ficado vincado que a intenção final dos agentes que se disputam socialmente passa pela legitimação pública (considerados os interesses tidos por cada um dos campos na disputa de produção de sentido e mediante o uso de diferentes estratégias próprias)». Segundo o autor da pesquisa desenvolvida, «para além do acesso privilegiado da GNR aos media locais no distrito, aquela força de segurança consegue a cobertura noticiosa que mais lhe convém». As conclusões obtidas referem a existência de uma valorização por parte dos media (mediante os enquadramentos) daquilo que é próximo; ambos os campos valorizam a credibilidade na interação; e o poder dos media reside essencialmente em selecionar e ter a última palavra no que é notícia, face ao poder da polícia (GNR) se constituir como fonte de informação. O estudo desenvolvido permitiu «identificar os interesses de cada campo em estudo, bem como as estratégias utilizadas na relação mantida», explica José Carlos Gonçalves".

Na fotografia (publicada no sítio
http://www.labcom.ubi.pt/sub/evento/895), da esquerda para a direita: Rogério Santos, Hermenegildo Ferreira Borges (Universidade Nova de Lisboa), Teresa Cierco Gomes (co-orientadora) (Universidade do Porto), João Carlos Correia (Universidade da Beira Interior), Anabela Gradim (Universidade da Beira Interior), o novo doutor José Carlos Gonçalves (GNR), Joaquim Serra (Presidente Faculdade de Artes e Letras da Universidade da Beira Interior e presidente do júri), José Ricardo Carvalheiro (orientador) (Universidade da Beira Interior) e Joaquim Fidalgo (Universidade do Minho).
Terça-feira, 2 de Junho de 2015

Há dias, os media anunciaram que Omar Shariff estava doente com Alzheimer, incapaz já de conhecer o próprio filho. Ele representou uma geração de cinema e de público de cinema.
Aqui, recordo a sua vinda a Portugal em 1969, a primeira vez que tirava férias em vários anos e em que aproveitou para jogar bridge, a sua paixão pelas cartas (
Diário Popular, 18 de abril de 1969). No mesmo jornal, no dia seguinte, outro texto faz-se acompanhar de uma fotografia em que se vê ele a jogar, absorto do que se passava à sua volta. Ele perdeu mas sentiu-se feliz. E avisava que não queria ser importunado antes das treze horas de cada dia.
Nessa época, a vinda de estrelas a Portugal (a rodagem de uma parte de um filme em que
O Santo se casa foi também muito badalada em notícias) era uma janela para o mundo além da rotina do regime político. Marcelo Caetano fez uma viagem pelas principais colónias mantidas por Portugal em África. Na chegada a Bissau, a legenda da fotografia indicava que ele "acena para a multidão". As únicas pessoas que se veem é a sua própria comitiva (
Diário Popular, 14 de abril de 1969). Logo depois, em Moçambique, ele disse: "Deve ser cada vez mais larga e importante a participação dos povos no governo local" (
Diário Popular, 18 de abril de 1969). Por essa altura, anunciava-se que um importante chefe do norte de Moçambique tinha abandonado a Frelimo.

O II Congresso Republicano arrancava em Aveiro, com algumas páginas do
Diário Popular sobre o assunto (caso da edição de 16 de maio de 1969), logo depois da quase enigmática nota do gabinete do ministério da Educação sobre o encerramento das aulas na Universidade de Coimbra (
Diário Popular, 6 de maio): "Não haverá, assim, qualquer atividade escolar até ao início dos exames". Quem não tivesse outros canais de informação, ignoraria o que se passou. Um pouco mais clara era a notícia de desacatos na Faculdade de Medicina, com a Polícia Judiciária a instaurar inquérito a 50 estudantes (
Diário Popular, 27 de maio de 1969). E mais claro ainda o regresso do bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes. Diria este: "Não é o exílio que custa. O que custa é ser bispo" (
Diário Popular, 21 de junho de 1969). O regresso do bispo seria apreciado pelo New York Times, pois isso se integraria "na política de liberalização" de Caetano.
As eleições de 1969 aproximavam-se e Caetano ia revelando as suas ideias: "Não tenciono fazer uma revolução - as alterações virão a seu tempo" (declarações ao
New York Times,
Diário Popular, 19 de maio de 1969), "O Chefe do Giverno quer andar depressa mas não iludir ou mentir aos seus concidadãos" (dito no Porto,
Diário Popular, 21 de maio de 1969), "As revoluções mais fáceis e baratas são as revoluções verbais: deixam-se ficar as coisas e mudam-se-lhe os nomes" (dito ainda no Porto,
Diário Popular, 22 de maio de 1969).
Segunda-feira, 1 de Junho de 2015
Hoje, no dia mundial da criança, o Pedro, o Afonso, a Laura, o Francisquinho e muitas outras crianças deram a voz na rádio (Antena 1) para os separadores. Não ouvi as outras rádios, pois a maior parte do dia foi passado fora de casa.
Curiosamente, na edição deste mês da revista
Ecos do Minho, da Associação Pediátrica do Minho, o cónego João Aguiar Campos, presidente da administração do grupo Renascença (r/com), publica um curioso artigo,
Apontamentos sobre uma Ausência, onde o tema é a programação para público infantil. Ele parte da ideia de inexistência (ou quase total ausência) de programas de rádio orientados para as crianças, com base na sua experiência e em investigação como a de Ângela Silva (
A Programação Infantil nas Rádios Portuguesas: dos Primeiros Ensaios ao Desafio do Online) [
http://ubithesis.ubi.pt/handle/10400.6/1282] e na minha própria (
A Rádio em Portugal, 1941-1968), onde tenho um capítulo sobre programas infantis na Emissora Nacional (1934-1975) [estes duas marcas também podem ser lidas como 1935-1974], onde escrevi sobre Madalena Patacho e Odette de Saint-Maurice, embora não com a profundidade que o assunto ainda merece.
O texto do responsável da Renascença ainda dedica atenção aos trabalhos de outros investigadores como Nelson Ribeiro, Paula Cordeiro, Madalena Ribeiro, João Paulo Meneses e autores brasileiros.
[o meu obrigado ao Paulo Cezar Lepetri por me ter dado a conhecer a revista e o artigo]