Quinta-feira, 30 de Abril de 2015
"Tratar da indústria de
games [videojogos] é comprometer-se com a busca pelo entendimento do que hoje pode ser considerado o mercado de produção de conteúdo para entretenimento mais dinâmico, multifacetado e com expressivo potencial de crescimento e desenvolvimento. Mais que uma indústria especializada, dentro deste único mercado coexistem e se relacionam, de forma integrada, diversos “ecossistemas”, determinados não só pelo conteúdo, mas também pelo formato como estes games são produzidos e disponibilizados para o mercado consumidor", assim começa o artigo de Carolina Clemente Bassin para a
Cultura e Mercado, com data de 27 de Abril de 2015. A ler o texto na totalidade.
O livro de Pedro Foyos,
O "Grande Jornalzinho" da Rua dos Calafates, revela-nos o
Diário de Notícias nos primeiros anos de edição. Ou, escrevendo melhor, conta a história deste velho e importante jornal enquanto esteve instalado na rua dos Calafates agora chamada do Diário de Notícias antes de se mudar para a avenida da Liberdade perto da praça do Marquês de Pombal, aqui em Lisboa (de 1864 a 1940).
Lê-se o livro de uma só vez. Muito bem escrito e debruçando-se sobre as pessoas que fizeram o jornal, os temas, as histórias à volta do jornal. Eu gosto deste tipo de livros que, parecendo menores ou despretensiosos, dão uma imagem nítida e profunda da realidade que tratam. Começo pelo índice, uma originalidade cheia de riqueza, em que há títulos de capítulo com os nomes de "Tudo sobre o país e o mundo por metade do preço do sabão-de-macaco", "Que fazer quando o rei é assassinado «em cima» da primeira página já fechada" ou "Do «Notícias Ilustrado» para os graúdos ao «Cavaleiro Andante» para os miúdos".
Pego no exemplo do capítulo sobre o assassínio do rei D. Carlos I (1 de Fevereiro de 1908). Quando chegou a notícia ao jornal, a primeira página já estava composta. Refazer a página estava fora de questão, pois isso atrasaria a saída do jornal. As tecnologias da época não permitiam voltar rapidamente a fazer tudo de novo, o que nos causa espanto hoje. A inclusão de um suplemento também não se ofereceu viável. Restou a hipótese de deslocar para baixo o texto da página já composta e incluir uma nova entrada. Isso levou a que a parte final da página ficasse ceifada e a que a notícia do atentado ficasse mesmo por cima da secção de "Festas e diversões do dia" (p. 77).
Um grande mérito do livro, além da elegância do texto escrito, é a percepção perfeita do leitor que o autor leu a totalidade das edições do jornal
Diário de Notícias ao longo do período estudado. Não há falhas, como quando identifica as edições sucessivas de um dia. À escrita, o livro junta um elemento gráfico essencial, a ilustração de páginas do jornal, fotografias, gravuras e reproduções de pinturas, que dão uma noção mais rigorosa do tempo a que o texto se refere. Por vezes, há páginas tipo extra-texto, onde Pedro Foyos destaca pedagogicamente alguns elementos, fora o capítulo "Pequenas e Grandes Notícias Perdidas no Tempo", com uma proposta de cronologia de histórias, anos de ocorrência de determinados factos e fotografias a eles alusivas. Evidencio ainda a colaboração, para o livro, de texto de Maria Augusta Silva, com uma possível entrevista ao primeiro director do jornal, Eduardo Coelho (chamada "póstuma"), recriação muito curiosa e que remete para a cultura da época do jornalista.
Na badana do livro, lê-se que Pedro Foyos trabalhou no
Diário de Notícias, onde integrou a chefia de redacção. O seu amor ao jornal está reflectido no livro. A única pequena crítica que faço ao livro é ele não ter um mínimo de aparato académico, com indicações bibliográficas ou de páginas do jornal.
Leitura: Pedro Foyos (2014).
O "Grande Jornalzinho" da Rua dos Calafates. Lisboa: Prelo, 149 páginas, 16,5 euros
Quarta-feira, 29 de Abril de 2015
Aberto ao público no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional desde dia 10 de Abril, Génesis, o mais recente trabalho do fotógrafo Sebastião Salgado, já foi visitado por 10 000 pessoas. O sucesso da exposição, com mais de 2,5 milhões de visitantes em todo o mundo, repete-se em Lisboa. Os visitantes não deixaram escapar a oportunidade de conhecer os últimos “ambientes intocados” do planeta, que Salgado fotografou durante oito anos e mais de 30 viagens. Génesis está patente no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, de segunda a domingo (incluindo feriados), até dia 2 de Agosto (a partir de informação da organização).
Nos dias 11, 12 e 13 de Maio, todas as 499 salas de cinema, cinematecas e auditórios em Portugal, perfazendo quase 94 mil lugares, vão cobrar bilhetes a 2,5 euros. É a primeira Festa do Cinema a realizar-se em Portugal (a partir do Diário de Notícias).
Segunda-feira, 27 de Abril de 2015
Domingo, 26 de Abril de 2015
Quando Hitler subiu ao poder, os seus partidários baniram muita da música contemporânea alemã e austríaca, a que chamaram
degenerada. Foi a essa música proibida que a Casa da Música (Porto) abriu as suas portas a partir do dia 24 de Abril: Hanns Eisler, Arnold Schoenberg, Kurt Weill e Bertolt Brecht, Paul Hindemith, Ernest Krenek e Erich Korngold, pelo Remiz Ensemble (dirigido por Baldur Bronnimann) e pela Orquestra Sinfónica da instituição (dirigida por Stefan Blunier), com a soprano Ângela Alves, o tenor Miguel Leitão, o barítono Luís Rendas Pereira e o baixo Ricardo Torres. O diferente dispositivo musical das peças tocadas obrigou a uma permanente alteração do conjunto dos músicos, aspecto que me chamou a atenção.
Já no Centro Cultural de Belém (Lisboa), os dias da música estão a ser dedicados ao cinema (Luzes, Câmara... Música). A música de Sergei Prokofiev encheu ontem à noite o grande auditório, em especial a escrita para o filme
Alexandre Nevsky (de Sergei Eisenstein), com a Orquestra Sinfónica Portuguesa dirigida por João Paulo Santos, a contralto ucraniana Larissa Savchenko e Coro do Teatro Nacional de São Carlos. O filme de Eisenstein (1938) teve muito sucesso, em especial por causa do sentimento anti-alemão e da música de Prokofiev, mas foi silenciado após o tratado entre União Soviética e a Alemanha.
Sábado, 25 de Abril de 2015
No Museu da Imagem em Braga está exposta uma coleção de fotografias do chileno Adolfo Vera. O texto disponível na exposição não nos diz claramente de que se trata a exposição, mas, pelo perfil do artista, percebe-se que as fotografias resultam de um período em que esteve no Benim (2006), numa residência de artista.
O título do museu é errado. Apesar de um belo edifício, com parte da antiga muralha da cidade e uma boa arquiteturainterior, com recurso ao ferro, o artigo definido (contração com a preposição de) indica a entrada de qualquer imagem no museu e aguça o apetite para a inclusão de equipamentos dedicados à fotografia, ao cinema, à televisão e à internet. Afinal, parece que apenas permite exposições temporárias substituídas de mês e meio em mês e meio.
Sexta-feira, 24 de Abril de 2015
Leio a partir do jornal Público que António Pinto Ribeiro deixa a Fundação Calouste Gulbenkian e o lugar de diretor do Programa Próximo Futuro, que termina a 15 de Setembro próximo. Para ele, a Gulbenkian precisa de inovar a sua oferta cultural, contemporânea e cosmopolita. Uma reviravolta, classifica o jornal. Ribeiro fora indicado, no início de Fevereiro, para assumir o cargo de coordenador de todos os serviços da casa com oferta artística.
Pinto Ribeiro entregou recentemente a sua tese de doutoramento. Será que a academia vai solicitar os seus préstimos a tempo inteiro?
Numa das sessões da manhã de hoje na conferência internacional NetStation 2015. Radio, Sound, and Internet, na Universidade do Minho. Pedro Portela e Fábio Ribeiro com a comunicação
Serial: a importância da estética sonora na popularização de um podcast e Ana Sofia Andrade com o texto
A voz do dia-a-dia e a voz profissional. Eu falei sobre Fernando Curado Ribeiro e o seu livro
Rádio. Produção, Realização, Estética (1964).em especial os relacionados com a estética sonora e ligações com obras sobre rádio editadas na França pós-II Guerra Mundial e que influenciaram a sua escrita:Sudre, 1945; Thévenot, 1946; Cordier, 1950; Pradalié, 1951 [a última fotografia pertence à organização do evento].
Quinta-feira, 23 de Abril de 2015
O texto e a dramaturgia pertence a Zeferino Mota, a encenação é de João Paulo Costa. O piano tem Ernesto Coelho como seu executante e os atores são Ana Luísa Queirós, Beatriz Frutuoso, Miguel Lemos, Pedro Roquette, Rita Lagarto e Tiago Araújo.
A Revolução. Dos que não Sabem Dizer Nós representa-se num redescoberto (e magnífico, ainda a cheirar a tinta nova) Palácio do Bolhão, mesmo perto do mercado com o mesmo nome (agora que se volta a falar na sua requalificação).
A peça fala das revoluções, numa época em que a política parece menos interessante. Texto entre recordações (da revolução francesa ao movimento
anonymus, passando pelo maio de 1968 e pelo 25 de abril de 1974), música (como a de José Mário Branco e Victor Jara e a recolha de Fernando Lopes Graça) e
music-hall. A peça fala dos descamisados, dos pobres, dos desempregados e dos (e)imigrantes. Por um momento, lembrei-me do primeiro-ministro britânico hoje na televisão a falar dos barcos de patrulha que o seu governo ia dispensar para patrulhamento do mar Mediterrâneo, a propósito dos naufrágios de barcos vindos da Líbia com gente fugida à guerra e que morre nesses abarrotados barcos.
Gostei bastante do desenho de luz (Cárin Geada) e dos figurinos (Lola Sousa). Peça alegre e ritmada mas a procurar despertar consciências. Sala cheia.