Segunda-feira, 29 de Dezembro de 2014
"O Museu da Electricidade, localizado junto ao Tejo, em Lisboa, registou 244.700 visitantes em 2014, o maior número de entradas desde a abertura da entidade, em 2006, anunciou hoje a Fundação EDP. De acordo com os números da Fundação EDP, que celebra este ano uma década de actividade, é a primeira vez que o Museu da Electricidade ultrapassa os 200 mil visitantes, com um crescimento de 22,5% face ao ano de 2013" (com base em informação lida no Diário de Notícias).
"Na reabertura das salas da Cinemateca na próxima segunda-feira dia 5 de Janeiro às 18.00 horas, Laura Mulvey - nome fundamental da teoria cinematográfica europeia nas últimas quatro décadas – inicia um pequeno ciclo de conferencias integrado na rubrica Histórias do Cinema. Mulvey vem a Lisboa debater a obra de Max Ophuls, apresentando cinco filmes do grande realizador alemão, cuja obra e cuja insistente procura de um ponto de vista da mulher têm ocupado um lugar central nas suas mais recentes análises. Professora, ensaísta e realizadora, Laura Mulvey marcou os estudos de cinema desde o seu artigo seminal Visual pleasure and narrative cinema, publicado na revista Screen em 1975. Hoje em dia Professora no Birkbeck College da Universidade de Londres, após muitos anos de ligação ao Brtish Film Institute e com uma longa carreira de ensaísta e realizadora (neste caso maioritariamente em co-autoria com Peter Wollen), Mulvey abordou privilegiadamente a representação feminina e o melodrama, assim como as mutações tecnológicas no cinema e na televisão, e centrou-se em obras como as de Douglas Sirk ou, precisamente, Max Ophuls" (comunicado da Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema).
Sexta-feira, 26 de Dezembro de 2014
Todos os anos, recordo aqui como comecei a escrever em blogues. No início, José Carlos Abrantes (professor de Teoria e História da Imagem na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e na Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa, provedor dos leitores do Diário de Notícias e dos telespectadores na RTP) e eu demos animação a um blogue do CIMJ (Centro de Investigação Media e Jornalismo). Outros colegas participavam na escrita de textos mas nós mantivemos uma colaboração mais intensa, depois transferida para blogues pessoais.
O meu primeiro blogue chamou-se Teorias da Comunicação, iniciado em Março de 2003, seguindo-se este Indústrias Culturais. Quer um quer outro destinavam-se a apoios de aulas que eu então leccionava. Depois, descontinuei o blogue Teorias, não sabendo agora sequer o endereço na internet. Os textos desse blogue acabaram por ser transferidos para este. O blogue Indústrias Culturais serviu, ao longo deste tempo todo, várias funções. Uma delas, foi a edição de um livro, com um texto inicial feito de raiz para esse objectivo. Outra foi a participação em colóquios e congressos em Portugal, Espanha e Brasil. Ele também serviu para experimentar outros media como a produção de pequenos vídeos de informação (sem qualquer ambição estética mas dando conta de teses de doutoramento sobre comunicação, cultura e media, por exemplo).
No começo da actividade dos blogues, em 2002-2003, eles eram pensados como ferramentas tecnológicas revolucionárias. Por exemplo, pensava-se que o jornalismo seria substituído pelos blogues, dada a nova possibilidade de fácil produção de textos por toda a gente. Com redes sociais mais amplas como o Facebook, criou-se a ideia de o utilizador ser também produtor de conteúdos, que, sem ser errado, criou um dos melhores mitos em torno do sublime tecnológico - a ideia que a tecnologia em si muda a sociedade. Ora, muitos dos textos produzidos na internet não têm qualidade e muitos até são ofensivos. A eliminação de controlo de qualidade ou de uma espécie de editor que classifica as ideias e os modos como se publicam textos - a ausência de regras e códigos deontológicos - conduz a uma imensidão de textos e imagens que se repetem e sem preencherem o requisito do produtor-utilizador na acepção correcta da ideia.
Quando surgiram os blogues, criou-se uma espécie de comunidade de autores-escritores que se reuniam, marcavam almoços e jantares. Eu estive presente no Alentejo, em Coimbra, no Porto e aqui em Lisboa a testemunhar esse nascimento. Como se criou, o movimento esvaiu-se. Por esses anos, intentaram-se criar redes de blogues. Estive para participar numa rede de blogues portugueses, com a ideia de também angariar publicidade. Acabei por participar numa rede de blogues liderada pela universidade de Marselha (França), de que ainda mantenho a escrita, que é uma cópia do que aqui escrevo. No início, a adesão de algumas das personalidades públicas a este tipo de escrita serviu para a sua massificação, além da grande facilidade de escrita nestas plataformas. Uma das personalidades públicas que mais contribuiu foi José Pacheco Pereira com o seu blogue Abrupto.
Muitas das cerca de oito mil mensagens que já produzi não tem valor excepto darem conta de ocorrências, tipo lançamento de livros ou actividades programadas para um dia. Mas, muitas das vezes, funciona como uma espécie de diário. Aliás, a ideia original de blogue era essa, a de escrita (e publicitação para um público que não se conhece) de um diário, como a palavra espanhola aplicada a este trabalho - bitácora. Com a expansão de outras redes mais colaborativas, como o Twitter e o Facebook, o blogue ressentiu-se, perdeu adeptos e escritores, que se passaram para essas redes.
Quarta-feira, 24 de Dezembro de 2014
Anteontem, dia 22 de Dezembro, o jornal
Público editou uma entrevista com Charles Esche, director do Van Abbemuseum (Eindhoven, Holanda, com quadros de Picasso, Chagall, Kandinsky, El Lissitzky, Theo van Doesburg e Mondriaan, entre outros).
Depois de criticar o Estado actual ("Ao fracasso do Estado em se adaptar a contextos e necessidades em mutação, ao fracasso do modelo do Estado providência, dos serviços nacionais de saúde, da ideia de que a cidadania é partilhada pelas pessoas e que, portanto, todas têm certos direitos, a própria ideia dos direitos que derivam de uma cidadania e dos deveres que lhe estão associados"), entra na definição do papel de agente de reinvenção do Estado ("Um dos conceitos para que me parece que devemos olhar com atenção é o dos
commons, um conjunto de valores ou de bens que não têm um proprietário individual, mas colectivo. O Estado manteve para si durante muito tempo a ideia de
commons, agora parece-me que há oportunidade de generalizar a ideia de propriedade colectiva. E parece-me que as próprias instituições artísticas incorporam já em si o conceito de
common. As colecções dos museus, por exemplo: de certa forma, são já propriedade partilhada").
Mais à frente, responde à entrevista dada a Vanessa Rato que a arte, além de experimental, "deve também implicar-se em termos de organização social. De novo: é qualquer coisa que os puristas, os modernistas, vão rejeitar, mas se virmos a arte como tendo uma função, uma delas tem que ser imaginar qualquer coisa que ainda não existe. Isto é necessário e verdade em qualquer processo criativo, quer seja socialmente criativo, individualmente criativo ou mesmo criativo em termos capitalistas, de criação de um novo produto: o processo de imaginar o que ainda não existe é fundamental – se não conseguimos imaginar, será muito difícil criar". E conclui o seu pensamento com a seguinte posição: "A arte pela arte existiu dentro de uma estrutura socio-politico-económica específica, um contexto de excesso produzido pela burguesia, que achava que a arte não devia ter uma função porque a sociedade era rica ao ponto de poder conceber um fora do utilitarismo. Nessa sociedade, a arte recebeu um papel específico, um papel que, à sua maneira, também era político. E no período da Guerra Fria essa arte pela arte foi instrumental, servia para provar a liberdade do mundo ocidental por oposição à instrumentalização que o leste fazia da arte e dos artistas. [...] No museu usamos a expressão espanhola “arte útil”. A ideia da arte como ferramenta [porque, em castelhano, “útil” quer também dizer ferramenta] parece-me mais sedutora do que a ideia de uma arte utilitária. Creio que transmite bem a capacidade da arte em assumir um papel funcional dentro das estruturas de pensamento. E isto implicará determinadas características: uma arte útil terá uma relação real com o mundo, não será apenas simbólica, não usará apenas uma linguagem simbólica, mas fará propostas reais para mudanças reais do mundo real, satisfará talvez uma necessidade ou produzirá um resultado com efeitos fora das instituições da arte". Aqui, identificaria John Ruskin e William Morris como autores ou artistas que resistiram à industrialização, a partir do qual se pode trabalhar um "conceito como o de
arte útil [que] recorda que a arte pode ter uma função genuína na sociedade".A ler na íntegra
aqui.
Terça-feira, 23 de Dezembro de 2014
Publicado no sítio do
Sindicato dos Jornalistas, o relatório do Conselho Deontológico cessante indica que as "condições de exercício do jornalismo no período 2010-2014 agravaram-se com implicações no domínio ético-deontológico. Em 2010 (
Observatório de Deontologia do Jornalismo - Boletim mensal do Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas, nº 5, Setembro/Outubro), constatava-se o surgimento de indícios de “declínio e de ruptura simbólica com a expressão da liberdade” e a circunstância do jornalismo se encontrar «aos pés do mercado de notícias que dele se serve para acumular lucros e poder» [...] O carácter anómico do exercício profissional foi impulsionado por uma orientação estratégica dos media centrada em transformar a informação em mercadoria, com o intuito de produzir espectáculo mediático e assegurar audiências e vendas. Esta perspectiva conduziu gradualmente o jornalismo à situação de refém do interesse de fontes organizadas e à mercê da duvidosa qualidade de uma informação que se pretende vendável".
Quanto à participação dos públicos, o Conselho Deontológico cessante indica que "Críticas, reparos, pedidos para que o CD se pronunciasse sobre coberturas televisivas e sugestões para que sejam cumpridos os valores da profissão constituem algumas dasparticipações apresentadas por elementos dos públicos do jornalismo. Foi criticada a promoção de um livro num dos canais de televisão em que se simulava um telejornal ou o incumprimento por outro dos canais do pedido da fonte para que não fosse identificada. Também foram criticados os serviços noticiosos de rádio e televisão que reproduzem as mesmas peças em dias sucessivos sem qualquer actualização, assim como a hegemonia de directos sobre comemorações de vitórias por clubes de futebol transmitidas em simultâneo por todos os canais de televisão generalistas. [...] O caso mais recente refere-se à cobertura noticiosa da prisão do ex-primeiro-ministro José Sócrates e à subsequente informação produzida. É apontada, nalgumas peças de imprensa, cujo género é indefinido, a mistura entre informação e opinião, a vulgaridade e a irrelevância. Os directos televisivos são pautados pela ausência não só de factos mas também de mediação jornalística. As opções editoriais traduzem tão-só a ocupação de tempo informativo de baixo custo, substituindo o acto jornalístico pelo ritual do plantão que coloca o telespectador frente à porta do tribunal ou da prisão sem acrescentar qualquer valor noticioso".
Nas recentes eleições do Sindicato dos Jornalistas (18 de Dezembro), ganhou a lista presidida pela jornalista Sofia Branco (Lusa), tendo como presidente da Mesa da Assembleia Geral o jornalista Eugénio Alves (reformado) e no Conselho Fiscal o jornalista Manuel Esteves (
Jornal de Negócios). Já como presidente do Conselho Deontológico, o sindicato conta com a jornalista São José Almeida (
Público) e o Conselho Geral com a jornalista Ana Luísa Rodrigues (RTP).
Segundo o
Expresso, a RTP 2, agora dirigida a partir do Centro de Produção do Porto, quer reconquistar audiências e espera chegar aos 4% no final do primeiro trimestre de 2015. Da programação planeada, serão exibidas a série dinamarquesa
Borgen, centrada nos combates políticos, ciclos sobre Ingmar Bergman e Alfred Hitchcock e produção e propostas nacionais, como
Visita Guiada, de Paula Moura Pinheiro, e
Literatura Agora, com apresentação de Pedro Lamares.
Segunda-feira, 22 de Dezembro de 2014
Ele tinha uma voz rouca. Lembro-me muito da versão dos Beatles
With a Little Help from My Friends. Cocker recebeu um Grammy em 1983. Ler o obituário no jornal
Guardian e saber mais dele na
Wikipedia. Morreu com 70 anos no Colorado.
Na sala de entrada, havia fotografias com cenas da peça. Os figurinos de Manuela Bronze pareciam estranhos, num misto de vestuário dos gregos clássicos e dos filmes de ficção científica. Mas, dentro da sala, compreendi melhor os figurinos, em especial quando conjugados com o desenho de luz de Mariana Rego. A quarta parede do teatro era uma ampla tábua que recebia cores simples mas quentes - do amarelo inicial ao vermelho e ao verde. Em especial quando a luz recaiu sobre Hermíone no momento em que ela planeava vingar-se ora de Pirro ora de Orestes. Andrómaca, viúva de Heitor, derrotado e morto, vivia prisioneira de Pirro. Enquanto repelia a paixão sentida pelo seu carcereiro, procurava salvar o filho Astíanax. Ela pede a Hermíone que interceda junto de Pirro. Mas Hermíone estava mais preocupada em decidir entre Orestes e Pirro, velho e novo amor.
Vasco da Graça Moura traduzira a peça de Jean Racine
Berenice, estreada em 2005. Depois, traduziu
Andrómaca, incentivando o encenador Carlos Pimenta a montar a peça. Só agora, depois da morte do poeta e tradutor, na cidade onde ele nasceu, é que a peça foi dada a conhecer ao público, no Teatro Helena Sá e Costa, com os alunos finalistas do departamento de Teatro da Escola Superior da Música e das Artes do Espetáculo (ESMAE).
Além de verificar o entusiasmo dos alunos na representação, não tenho competência para aquilatar do valor de cada um dos jovens actores, nem sei prever o sucesso deles na actividade. Nove alunos representaram as oito personagens da peça, com Hermíone interpretada por Mariana Magalhães e Soraia Sousa, tendo visto esta última, cujo perfil no
LinkedIn indica que ela já trabalhou no filme de João Sousa Cardoso (
A Santa Joana dos Matadouros, 2014, a partir de Bertolt Brecht) e é modelo, portefólio necessário e complementar à actividade teatral. Também não me sinto competente para avaliar a colocação das vozes, embora me pareça que a acústica da sala nem sempre ajuda. No dispositivo da encenação criada por Carlos Pimenta, os actores ficam fora do tablado, nas laterais do palco, quando não entram no diálogo. Quando saem, ensaiam passos como se fossem soldados, atitude maquínica em oposição à organicidade da tragédia grega.
No texto de apresentação da peça, o encenador Carlos Pimenta escreve sobre a guerra. Ele compara a guerra de Tróia, onde homens corajosos se defrontavam com as suas virtudes e defeitos, com os actuais conflitos, mediados por drones, máquinas voadoras controladas de longe por homens. Como disse Baudrillard, a guerra hoje parece um simulacro - como, aliás, as imagens projectadas no começo e no fim da representação mostram. Mas, a guerra é sempre injusta e cruel, pelo que não há comparabilidade na sua substância.
Domingo, 21 de Dezembro de 2014
Entre pelo menos 1780 e 1797, António José de Oliveira copiou mais de 200 textos de teatro, guardados na Biblioteca Nacional. Agora, até ao próximo dia 31 de Dezembro, comissariada por Isabel Pinto, a exposição mostra traduções e adaptações sobretudo de autores portugueses (como Alexandre António de Lima, José Anastácio da Cunha, Manuel de Sousa, Vicente Carlos de Oliveira) mas também espanhóis, franceses, italianos, ingleses e suíços (como Pedro Calderón de la Barca, Carlo Goldoni, Diderot, Jean Racine, Rousseau, Molière, Voltaire). Como se lê na folha que acompanha a exposição, os géneros dos textos incluem ópera, comédia, drama, tragédia e farsa e foram representados em teatros como o do Bairro Alto, o da Rua dos Condes e o Teatro de São Carlos. Para a comissária da exposição, muitas dessas peças nunca mais foram representadas.
Sábado, 20 de Dezembro de 2014
Imagens do Rossio (Lisboa) e da Praça Almeida Garrett (Porto).