Sexta-feira, 31 de Outubro de 2014

Graffiti

Ricardo Campos escreveu no último número da Análise Social um texto A Luta Voltou ao Muro que começava assim: "As cidades portuguesas, principalmente os grandes centros urbanos, foram invadidas nas últimas décadas pelo graffiti de tradição norte-americana. Composto por tags, throw-ups e murais figurativos de grandes dimensões, esta é uma manifestação visual que faz hoje parte da nossa paisagem. A globalização deste formato de graffiti significa que, disperso pelo planeta, encontramos uma linguagem comum, com mecanismos de produção e avaliação estética idênticos. A hegemonia desta expressão mural não nos deve fazer esquecer aquela que é a manifestação mural mais marcante da nossa história recente: o mural pós-revolucionário. O período que se seguiu ao 25 de Abril de 1974 foi marcado por uma profusão de propaganda política que recorria ao muro como principal suporte. A iconografia de então, em que se destacavam Marx, Lenine ou Mao, acompanhados por representações coletivas do povo, do operariado ou campesinato, cedeu paulatinamente o lugar aos politicamente inconsequentes tags. Porém, nos últimos anos parece ter despontado nas paredes uma nova vontade de comunicação política".

Por causa não do texto mas das imagens que o acompanhavam, a revista em papel foi retirada e destruída. A notícia sobre esta polémica dizia que José Luís Cardoso, diretor do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, decidira suspender esta terça-feira a publicação, alegando conter um ensaio visual considerado "linguagem ofensiva", de "mau gosto e uma ofensa a instituições e pessoas que eu não podia tolerar". O texto incluía graffitis de contestação ao Governo, à austeridade e a empresários e banqueiros. João de Pina Cabral, diretor da revista agora demitido, falaria de "gesto de censura".

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Graffiti

Ricardo Campos escreveu no último número da Análise Social um texto A Luta Voltou ao Muro que começava assim: "As cidades portuguesas, principalmente os grandes centros urbanos, foram invadidas nas últimas décadas pelo graffiti de tradição norte-americana. Composto por tags, throw-ups e murais figurativos de grandes dimensões, esta é uma manifestação visual que faz hoje parte da nossa paisagem. A globalização deste formato de graffiti significa que, disperso pelo planeta, encontramos uma linguagem comum, com mecanismos de produção e avaliação estética idênticos. A hegemonia desta expressão mural não nos deve fazer esquecer aquela que é a manifestação mural mais marcante da nossa história recente: o mural pós-revolucionário. O período que se seguiu ao 25 de Abril de 1974 foi marcado por uma profusão de propaganda política que recorria ao muro como principal suporte. A iconografia de então, em que se destacavam Marx, Lenine ou Mao, acompanhados por representações coletivas do povo, do operariado ou campesinato, cedeu paulatinamente o lugar aos politicamente inconsequentes tags. Porém, nos últimos anos parece ter despontado nas paredes uma nova vontade de comunicação política".

Por causa não do texto mas das imagens que o acompanhavam, a revista em papel foi retirada e destruída. A notícia sobre esta polémica dizia que José Luís Cardoso, diretor do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, decidira suspender esta terça-feira a publicação, alegando conter um ensaio visual considerado "linguagem ofensiva", de "mau gosto e uma ofensa a instituições e pessoas que eu não podia tolerar". O texto incluía graffitis de contestação ao Governo, à austeridade e a empresários e banqueiros. João de Pina Cabral, diretor da revista agora demitido, falaria de "gesto de censura".

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Quinta-feira, 30 de Outubro de 2014

Um de Nós

Três temas centrais: política, amor e faits-divers, apresentados por frases curtas, num encadeamento lógico. Dois homens e quatro mulheres, sentados numa cama, dissertam deste modo sobre o mundo e as coisas que os preocupam. O grupo de artistas é sénior, com mais comedimento, sabedoria e ternura do que se fossem artistas mais jovens. Por vezes, são intimistas, combinando o bom senso e as coisas mais pessoais. Em especial na última parte, por um lado, mais próxima da vida de cada um (os sucessos, os muitos insucessos, os medos, os pequenos pecados), mas, por outro lado, a parte mais frágil da peça. Embora haja universalidade, os assuntos na última parte são pessoais e, muito embora tenham sido escritos pelos artistas, sem conhecimento (verídicas mas sob anonimato) uns dos outros, cada um dos artistas sabe a quem pertencem as palavras.

Assim, a fragilidade da peça é a nossa fragilidade enquanto seres humanos. Dou um exemplo: ao ouvir as vozes das três "meninas da rádio" (Júlia Guerra, Helena Falé, Maria João Baião), lembro de quão poderosas eram com as suas vozes percorrendo o "éter" das ondas. O que diziam, as músicas que anunciavam, o contexto cultural em que se envolviam, chegavam aos meus ouvidos e funcionavam como lei, como regra. A rádio é o meio mais misterioso, pois o reconhecimento da pessoa a quem pertencia cada voz era difícil num tempo atrás, sem revistas semanais ou programas de televisão. Agora, estavam ali, a falar da velhice, da doença, dos medos, da saudade do pai e da mãe e da escola e dos amigos, da falta de dinheiro ou da situação política atual.

Peter Vandenbempt, em entrevista reproduzida no programa que acompanha a peça, fala da energia destes velhos artistas, do seu maior arrependimento quando olham para a vida em comparação com artistas mais jovens, da abordagem mais cómica de situações bem mais trágicas (e os risos que se ouviam nos espectadores foi prova disso), se quisermos uma perspetiva mais melancólica e nostálgica. Diria ainda na entrevista que a peça não fala de reis e de rainhas mas de pessoas vulgares como nós - Um de Nós. A política assume aqui uma posição de grande importância, com cerca de 200 declarações sobre o tema. Estratégia, traição, compromisso e senso comum entram nesse conjunto. O autor principal do texto assume, na mesma entrevista, que ela começou a ser escrita num ambiente de antipolítica na sua Bélgica, traduzido num número elevado de votos na extrema-direita. A sua peça é uma espécie de libelo e de apoio à discussão livre dos temas que interessam ao bem público.

A Companhia Maior, responsável pela peça, é composta por artistas com mais de 60 anos, oriundos de áreas como a dança, teatro e música, criada em 2010 por iniciativa de Luísa Taveira, "com a missão de promover a criatividade na idade maior, em contacto com as várias gerações de criadores e no contexto interdisciplinar da criação contemporânea".

Elenco: Carlos Fernandes, Elisa Worm, Isabel Simões, João Silvestre, Júlia Guerra, Maria Helena Falé e Maria João Baião. Encenação: Peter Vandenbempt. Texto de Peter Vandenbempt com o elenco e Henrique Neves. Cenografia: Emma Denis. Teatro Maria Matos.


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Um de Nós

Três temas centrais: política, amor e faits-divers, apresentados por frases curtas, num encadeamento lógico. Dois homens e quatro mulheres, sentados numa cama, dissertam deste modo sobre o mundo e as coisas que os preocupam. O grupo de artistas é sénior, com mais comedimento, sabedoria e ternura do que se fossem artistas mais jovens. Por vezes, são intimistas, combinando o bom senso e as coisas mais pessoais. Em especial na última parte, por um lado, mais próxima da vida de cada um (os sucessos, os muitos insucessos, os medos, os pequenos pecados), mas, por outro lado, a parte mais frágil da peça. Embora haja universalidade, os assuntos na última parte são pessoais e, muito embora tenham sido escritos pelos artistas, sem conhecimento (verídicas mas sob anonimato) uns dos outros, cada um dos artistas sabe a quem pertencem as palavras.

Assim, a fragilidade da peça é a nossa fragilidade enquanto seres humanos. Dou um exemplo: ao ouvir as vozes das três "meninas da rádio" (Júlia Guerra, Helena Falé, Maria João Baião), lembro de quão poderosas eram com as suas vozes percorrendo o "éter" das ondas. O que diziam, as músicas que anunciavam, o contexto cultural em que se envolviam, chegavam aos meus ouvidos e funcionavam como lei, como regra. A rádio é o meio mais misterioso, pois o reconhecimento da pessoa a quem pertencia cada voz era difícil num tempo atrás, sem revistas semanais ou programas de televisão. Agora, estavam ali, a falar da velhice, da doença, dos medos, da saudade do pai e da mãe e da escola e dos amigos, da falta de dinheiro ou da situação política atual.

Peter Vandenbempt, em entrevista reproduzida no programa que acompanha a peça, fala da energia destes velhos artistas, do seu maior arrependimento quando olham para a vida em comparação com artistas mais jovens, da abordagem mais cómica de situações bem mais trágicas (e os risos que se ouviam nos espectadores foi prova disso), se quisermos uma perspetiva mais melancólica e nostálgica. Diria ainda na entrevista que a peça não fala de reis e de rainhas mas de pessoas vulgares como nós - Um de Nós. A política assume aqui uma posição de grande importância, com cerca de 200 declarações sobre o tema. Estratégia, traição, compromisso e senso comum entram nesse conjunto. O autor principal do texto assume, na mesma entrevista, que ela começou a ser escrita num ambiente de antipolítica na sua Bélgica, traduzido num número elevado de votos na extrema-direita. A sua peça é uma espécie de libelo e de apoio à discussão livre dos temas que interessam ao bem público.

A Companhia Maior, responsável pela peça, é composta por artistas com mais de 60 anos, oriundos de áreas como a dança, teatro e música, criada em 2010 por iniciativa de Luísa Taveira, "com a missão de promover a criatividade na idade maior, em contacto com as várias gerações de criadores e no contexto interdisciplinar da criação contemporânea".

Elenco: Carlos Fernandes, Elisa Worm, Isabel Simões, João Silvestre, Júlia Guerra, Maria Helena Falé e Maria João Baião. Encenação: Peter Vandenbempt. Texto de Peter Vandenbempt com o elenco e Henrique Neves. Cenografia: Emma Denis. Teatro Maria Matos.


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Terça-feira, 28 de Outubro de 2014

A morte de Carlos Silva

Carlos Silva foi um locutor e realizador de rádio no Porto. Ele criou um dos primeiros programas noturnos da rádio portuense, no ano de 1953, Última Hora. Foi ele o iniciador do programa que mais entrou pela madrugada, no tempo em que as estações fechavam à meia-noite.


Fiz-lhe uma entrevista notável (para mim) em Agosto de 2012. De tão entusiasmado, fomos do café onde decorrera a entrevista para casa dele, onde me mostrou documentos relacionados com a sua actividade. Foi um momento inolvidável.

Uma das profissões iniciais de Carlos Silva, nascido a 27 de maio de 1926, foi a de vendedor das máquinas de costura Oliva, que lhe granjeou muita popularidade e muitos contactos. Antes, começara já como locutor da estação mítica Portuense Rádio Clube. Depois, profissionalizou-se na estação Rádio Porto, que pertencia ao conjunto dos Emissores do Norte Reunidos, depois integrado na Emissora Nacional (actual RDP). Foi muito amigo dos Mafras (conjunto de música popular e folclórica António Mafra), acompanhando-os em digressão pelos Estados Unidos. Na entrevista que me deu, recordaria assim o seu começo profissional:

"Porque a clientela da Rádio Porto também era muito seleccionada. A Rádio Porto tinha nos Clérigos, tinha uma casa de electrodomésticos, tinha os Hornyphon [marca austríaca de rádios, com publicidade na imprensa em 1952], rádio Hornyphon. Ainda hoje há um senhor que sempre que passa por mim: “oh, Hornyphon é um rádio que é bom”. Ainda hoje… A Rádio Porto, a Orsec e o Rádio Clube do Norte tinham mais categoria, percebe, principalmente a Rádio Porto e a Orsec. Na Orsec estava um casal que era marido e mulher, eram os locutores e eram muito bons locutores. Eu não me lembro o nome deles. Depois, a certa altura aparece um senhor que é o senhor Militão Porto, que é jornalista. E foi lá à rádio falar com o senhor Rodrigues, era o sócio maioritário, para fazer um programa a partir da meia-noite . E o senhor Rodrigues olhou” “oh, senhor Militão, o senhor quer fazer um programa à meia-noite? Mas à meia-noite ninguém ouve o rádio”. “Oh, senhor Rodrigues, mas eu queria tentar”. “Mas o senhor veja lá”. O Militão era jornalista mas não tinha nada a ver com a rádio. Começa a fazer o programa à noite. Da meia-noite à uma. Já não sei quanto é que ele pagava. Agora sei que ao fim de seis meses ele deu com os olhos na água. Porquê? Porque tinha de contratar pessoal, tinha de comprar discos. Quando ele acaba o programa, eu já não sei esses pormenores, vou ter com o senhor Rodrigues: “oh, senhor Rodrigues, eu queria fazer o programa do senhor Militão”. “Oh, pá, tu és doido? Então não viste que ele… A fazer o quê, pá”? “Oh, senhor Rodrigues, deixe-me tentar”. “Oh, pá, tu vais-te meter numa, tu vê lá”. “Senhor Rodrigues, faça-me um preço jeitosinho e tal. Eu já tenho anúncio para o programa”. “O quê, tu já tens anúncios, mas eu disse-te alguma coisa que ias fazer o programa”? “Oh, senhor Rodrigues, eu arranjei clientes. Já tenho anúncios para pagar uma certa importância”. E, então, alugaram-me aquela hora, baratíssima. [...] Eu tinha muito gosto naquilo e comecei a interessar muita gente: o Arnaldo Trindade, a Rádio Triunfo, que eram produtores de discos. O Arnaldo Trindade tinha a representação em Portugal dos discos da Vogue. Eu fui, veja lá que a coisa tomou tal extensão que eu fui convidado pela Vogue a passar lá uns dias a Paris. Portanto, o Arnaldo Trindade, a Rádio Triunfo, o Figueiredo aqui da rua Santo António, que era malas, carteiras de senhora, também tinha uma secção de discos".

O velório dele decorre hoje no Tanatório de Matosinhos, na rua de Sendim, com funeral marcado para amanhã à tarde.
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A morte de Carlos Silva

Carlos Silva foi um locutor e realizador de rádio no Porto. Ele criou um dos primeiros programas noturnos da rádio portuense, no ano de 1953, Última Hora. Foi ele o iniciador do programa que mais entrou pela madrugada, no tempo em que as estações fechavam à meia-noite.


Fiz-lhe uma entrevista notável (para mim) em Agosto de 2012. De tão entusiasmado, fomos do café onde decorrera a entrevista para casa dele, onde me mostrou documentos relacionados com a sua actividade. Foi um momento inolvidável.

Uma das profissões iniciais de Carlos Silva, nascido a 27 de maio de 1926, foi a de vendedor das máquinas de costura Oliva, que lhe granjeou muita popularidade e muitos contactos. Antes, começara já como locutor da estação mítica Portuense Rádio Clube. Depois, profissionalizou-se na estação Rádio Porto, que pertencia ao conjunto dos Emissores do Norte Reunidos, depois integrado na Emissora Nacional (actual RDP). Foi muito amigo dos Mafras (conjunto de música popular e folclórica António Mafra), acompanhando-os em digressão pelos Estados Unidos. Na entrevista que me deu, recordaria assim o seu começo profissional:

"Porque a clientela da Rádio Porto também era muito seleccionada. A Rádio Porto tinha nos Clérigos, tinha uma casa de electrodomésticos, tinha os Hornyphon [marca austríaca de rádios, com publicidade na imprensa em 1952], rádio Hornyphon. Ainda hoje há um senhor que sempre que passa por mim: “oh, Hornyphon é um rádio que é bom”. Ainda hoje… A Rádio Porto, a Orsec e o Rádio Clube do Norte tinham mais categoria, percebe, principalmente a Rádio Porto e a Orsec. Na Orsec estava um casal que era marido e mulher, eram os locutores e eram muito bons locutores. Eu não me lembro o nome deles. Depois, a certa altura aparece um senhor que é o senhor Militão Porto, que é jornalista. E foi lá à rádio falar com o senhor Rodrigues, era o sócio maioritário, para fazer um programa a partir da meia-noite . E o senhor Rodrigues olhou” “oh, senhor Militão, o senhor quer fazer um programa à meia-noite? Mas à meia-noite ninguém ouve o rádio”. “Oh, senhor Rodrigues, mas eu queria tentar”. “Mas o senhor veja lá”. O Militão era jornalista mas não tinha nada a ver com a rádio. Começa a fazer o programa à noite. Da meia-noite à uma. Já não sei quanto é que ele pagava. Agora sei que ao fim de seis meses ele deu com os olhos na água. Porquê? Porque tinha de contratar pessoal, tinha de comprar discos. Quando ele acaba o programa, eu já não sei esses pormenores, vou ter com o senhor Rodrigues: “oh, senhor Rodrigues, eu queria fazer o programa do senhor Militão”. “Oh, pá, tu és doido? Então não viste que ele… A fazer o quê, pá”? “Oh, senhor Rodrigues, deixe-me tentar”. “Oh, pá, tu vais-te meter numa, tu vê lá”. “Senhor Rodrigues, faça-me um preço jeitosinho e tal. Eu já tenho anúncio para o programa”. “O quê, tu já tens anúncios, mas eu disse-te alguma coisa que ias fazer o programa”? “Oh, senhor Rodrigues, eu arranjei clientes. Já tenho anúncios para pagar uma certa importância”. E, então, alugaram-me aquela hora, baratíssima. [...] Eu tinha muito gosto naquilo e comecei a interessar muita gente: o Arnaldo Trindade, a Rádio Triunfo, que eram produtores de discos. O Arnaldo Trindade tinha a representação em Portugal dos discos da Vogue. Eu fui, veja lá que a coisa tomou tal extensão que eu fui convidado pela Vogue a passar lá uns dias a Paris. Portanto, o Arnaldo Trindade, a Rádio Triunfo, o Figueiredo aqui da rua Santo António, que era malas, carteiras de senhora, também tinha uma secção de discos".

O velório dele decorre hoje no Tanatório de Matosinhos, na rua de Sendim, com funeral marcado para amanhã à tarde.
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Segunda-feira, 27 de Outubro de 2014

Byung-Chul Han

Descobri agora Byung-Chul Han. A editora Relógio d'Água editou de uma só assentada três livros do filósofo coreano mas a trabalhar e investigar na Alemanha: A Sociedade do Cansaço, A Sociedade da Transparência, A Agonia de Eros. Li os livros numa frenética sequência. Eles também não são grandes e dividem-se em capítulos pequenos. Li-os, compreendo e não compreendendo tudo o que escreveu. Certamente uma segunda leitura é-me recomendada.



 Primeira surpresa, o seu currículo. Ele estudou metalurgia no seu país de origem. Como queria estudar filosofia e a família e o meio cultural da Coreia do Sul não facilitavam, ele foi para a Alemanha, primeiro para aprender a língua e depois para aprender filosofia. Tornou-se familiar das leituras de Nietzsche e de Heidegger. Sobre o último, escreveu a sua tese de doutoramento. Nos livros agora editados em português, o autor evidencia um longo conhecimento daqueles dois filósofos mas também de Freud, Barthes, Benjamin, Agamben, Foucault, Baudrillard, Deleuze.

Nos capítulos, há uma espécie de técnica de apresentação do tema. Ele cita um autor, enaltece o seu ponto de vista mas depois faz uma crítica quase impiedosa. Assim, Han cria polémica, o que estimula a leitura, não tenho dúvidas. No primeiro livro, por exemplo, refere e critica Esposito, Foucault, Arendt. Mas cria um pensamento novo e provocador. Retiro algumas ideias: imunologia e negatividade, tédio e cansaço (que leva ao burnout, ou cansaço permanente), vida activa e incapacidade contemplativa, positividade da presente sociedade, sociedade disciplinar versus sociedade produtiva, sociedade da exposição e sociedade porno, obscenidade, perda do amor em detrimento da depressão do sucesso e do narcisismo.

Voltando às críticas que faz a outros autores e à sua arrumação posterior, retenho a análise feita a Agamben (A Agonia de Eros, pp. 35-39). Para Agamben, o museu substitui o templo, e seculariza o que é sagrado, na medida em que os objectos dentro do museu não têm uso livre. Antes, os peregrinos andavam de santuário em santuário, para rezar; agora, os turistas viajam pelo mundo tornado museu. Sacralização e profanação opõem-se, diz Han de Agamben. Ora, para Han, a musealização aniquila o valor dos objectos, em benefício da exposição. Já em A Sociedade da Transparência, Byung-Chul Han tratara o tema a partir de Benjamin (pp. 21-27). Na sociedade positiva, as coisas transformam-se em mercadorias e um objecto cultual desaparece em benefício do seu valor de exposição.

O tema central dos textos agora publicados por Han relaciona-se com o tempo. Para ele, vive-se numa época em que não há tempo. O indivíduo, preocupado com a produção, perde a dimensão de pensar e refletir. Uma sociedade de tarefas múltiplas em simultâneo (multitasking) não tem tempo senão para a repetição, para reproduzir o já existente. Em última instância, o filósofo coreano entende haver direito à reflexão e até à preguiça como modo de escutar e atentar à sua volta. A liberdade reside aqui, conclui.

De Han se diz evitar dar entrevistas e referir o seu currículo. De uma entrevista dada ao El Pais (22 de Março de 2014), percebe-se melhor o seu pensamento:

"No hay, sin embargo, que confundir la seducción con la compra. “Creo que no solo Grecia, también España, se encuentran en un estado de shock tras la crisis financiera. En Corea ocurrió lo mismo, tras la crisis de Asia. El régimen neoliberal instrumentaliza radicalmente este estado de shock. Y ahí viene el diablo, que se llama liberalismo o Fondo Monetario Internacional, y da dinero o crédito a cambio de almas humanas. Mientras uno se encuentra aún en estado de shock, se produce una neoliberalización más dura de la sociedad caracterizada por la flexibilización laboral, la competencia descarnada, la desregularización, los despidos”. Todo queda sometido al criterio de una supuesta eficiencia, al rendimiento. Y, al final, explica, “estamos todos agotados y deprimidos. Ahora la sociedad del cansancio de Corea del Sur se encuentra en un estadio final mortal”. En realidad, el conjunto de la vida social se convierte en mercancía, en espectáculo. La existencia de cualquier cosa depende de que sea previamente “expuesta”, de “su valor de exposición” en el mercado. Y con ello “la sociedad expuesta se convierte también en pornográfica. La exposición hasta el exceso lo convierte todo en mercancía. Lo invisible no existe, de modo que todo es entregado desnudo, sin secreto, para ser devorado de inmediato, como decía Baudrillard”. Y lo más grave: “La pornografía aniquila al eros y al propio sexo”. La transparencia exigida a todo es enemiga directa del placer que exige un cierto ocultamiento, al menos un tenue velo. La mercantilización es un proceso inherente al capitalismo que solo conoce un uso de la sexualidad: su valor de exposición como mercancia." (texto acedido hoje).
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Byung-Chul Han

Descobri agora Byung-Chul Han. A editora Relógio d'Água editou de uma só assentada três livros do filósofo coreano mas a trabalhar e investigar na Alemanha: A Sociedade do Cansaço, A Sociedade da Transparência, A Agonia de Eros. Li os livros numa frenética sequência. Eles também não são grandes e dividem-se em capítulos pequenos. Li-os, compreendo e não compreendendo tudo o que escreveu. Certamente uma segunda leitura é-me recomendada.



 Primeira surpresa, o seu currículo. Ele estudou metalurgia no seu país de origem. Como queria estudar filosofia e a família e o meio cultural da Coreia do Sul não facilitavam, ele foi para a Alemanha, primeiro para aprender a língua e depois para aprender filosofia. Tornou-se familiar das leituras de Nietzsche e de Heidegger. Sobre o último, escreveu a sua tese de doutoramento. Nos livros agora editados em português, o autor evidencia um longo conhecimento daqueles dois filósofos mas também de Freud, Barthes, Benjamin, Agamben, Foucault, Baudrillard, Deleuze.

Nos capítulos, há uma espécie de técnica de apresentação do tema. Ele cita um autor, enaltece o seu ponto de vista mas depois faz uma crítica quase impiedosa. Assim, Han cria polémica, o que estimula a leitura, não tenho dúvidas. No primeiro livro, por exemplo, refere e critica Esposito, Foucault, Arendt. Mas cria um pensamento novo e provocador. Retiro algumas ideias: imunologia e negatividade, tédio e cansaço (que leva ao burnout, ou cansaço permanente), vida activa e incapacidade contemplativa, positividade da presente sociedade, sociedade disciplinar versus sociedade produtiva, sociedade da exposição e sociedade porno, obscenidade, perda do amor em detrimento da depressão do sucesso e do narcisismo.

Voltando às críticas que faz a outros autores e à sua arrumação posterior, retenho a análise feita a Agamben (A Agonia de Eros, pp. 35-39). Para Agamben, o museu substitui o templo, e seculariza o que é sagrado, na medida em que os objectos dentro do museu não têm uso livre. Antes, os peregrinos andavam de santuário em santuário, para rezar; agora, os turistas viajam pelo mundo tornado museu. Sacralização e profanação opõem-se, diz Han de Agamben. Ora, para Han, a musealização aniquila o valor dos objectos, em benefício da exposição. Já em A Sociedade da Transparência, Byung-Chul Han tratara o tema a partir de Benjamin (pp. 21-27). Na sociedade positiva, as coisas transformam-se em mercadorias e um objecto cultual desaparece em benefício do seu valor de exposição.

O tema central dos textos agora publicados por Han relaciona-se com o tempo. Para ele, vive-se numa época em que não há tempo. O indivíduo, preocupado com a produção, perde a dimensão de pensar e refletir. Uma sociedade de tarefas múltiplas em simultâneo (multitasking) não tem tempo senão para a repetição, para reproduzir o já existente. Em última instância, o filósofo coreano entende haver direito à reflexão e até à preguiça como modo de escutar e atentar à sua volta. A liberdade reside aqui, conclui.

De Han se diz evitar dar entrevistas e referir o seu currículo. De uma entrevista dada ao El Pais (22 de Março de 2014), percebe-se melhor o seu pensamento:

"No hay, sin embargo, que confundir la seducción con la compra. “Creo que no solo Grecia, también España, se encuentran en un estado de shock tras la crisis financiera. En Corea ocurrió lo mismo, tras la crisis de Asia. El régimen neoliberal instrumentaliza radicalmente este estado de shock. Y ahí viene el diablo, que se llama liberalismo o Fondo Monetario Internacional, y da dinero o crédito a cambio de almas humanas. Mientras uno se encuentra aún en estado de shock, se produce una neoliberalización más dura de la sociedad caracterizada por la flexibilización laboral, la competencia descarnada, la desregularización, los despidos”. Todo queda sometido al criterio de una supuesta eficiencia, al rendimiento. Y, al final, explica, “estamos todos agotados y deprimidos. Ahora la sociedad del cansancio de Corea del Sur se encuentra en un estadio final mortal”. En realidad, el conjunto de la vida social se convierte en mercancía, en espectáculo. La existencia de cualquier cosa depende de que sea previamente “expuesta”, de “su valor de exposición” en el mercado. Y con ello “la sociedad expuesta se convierte también en pornográfica. La exposición hasta el exceso lo convierte todo en mercancía. Lo invisible no existe, de modo que todo es entregado desnudo, sin secreto, para ser devorado de inmediato, como decía Baudrillard”. Y lo más grave: “La pornografía aniquila al eros y al propio sexo”. La transparencia exigida a todo es enemiga directa del placer que exige un cierto ocultamiento, al menos un tenue velo. La mercantilización es un proceso inherente al capitalismo que solo conoce un uso de la sexualidad: su valor de exposición como mercancia." (texto acedido hoje).
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Domingo, 26 de Outubro de 2014

Sangue na guelra

O cenário é mínimo: duas cadeiras, um homem (Graeme Pulleyn) e uma mulher (Rafaela Santos). Fernando Giestas (1978) é o autor da peça chamada Sangue na Guerra/Guelra/Guerra (2011) e publicada na colectânea "Oficina de Escrita Odisseia: Textos Escolhidos", uma edição do Teatro Nacional São João (2011). Ele lembrava a sua ida de barco para muito longe, num mar imenso, para um país que não era o seu mas podia ser o seu. E recordava que encontrou mulheres de olhos negros e pele semelhante. Ele teria dezoito, vinte anos. Ela lembrava a chegada de tantos homens, jovens e de bigode, de olhos claros e pele semelhante. Sabia que eles vinham de outro sítio com outra cultura. A mulher de olhos negros ou o homem de olhos claros aproximaram-se, começaram a ir à praia, ao cinema, apaixonaram-se.

Um dia, os homens, armados, levantando uma enorme nuvem de poeira, aproximaram-se da aldeia. Eles queriam que elas fugissem. Estas ficaram de pé, à espera que a poeira assentasse no chão, e viram os pais, os maridos e os filhos tombarem pelas balas saídas das armas. Era a guerra. O sangue na guelra (juventude, inquietude) tornara-se sangue da guerra. O país que não era o dele mas podia ser dele deixava de o ser.

O curto texto de Fernando Giestas foi sendo repetido, em diferentes ângulos da sala, com os corpos dos actores expressando outros sentimentos. O encenador Rogério de Carvalho quis que os actores fossem também co-autores do texto. Como quem conta a memória, histórias passadas a gente presente, como se um casal lembrasse o que tinha acontecido quarenta anos atrás. Na representação, senti algo tirado do neo-realismo, dos quadros de Picasso, das tragédias gregas. A música, não identificada no programa, enquadrava o dramatismo dos corpos que tinham perdido a felicidade e a que, agora, só restava a recordação.


Lembrei-me da guerra entre Israel e a Palestina, mas a história não se encaixava porque não há mar longínquo entre os dois países (ou territórios). Tive de ajustar a minha própria memória. Senti-me comovido. O barco demorou oito dias a chegar de Lisboa a Luanda. Sempre tortilha ao almoço e ao jantar. Havia quem aproveitasse o tempo a jogar cartas, algo que nunca me seduziu (os jogos que aprendi, esqueci logo a seguir). À chegada, havia um velho comboio puxado a locomotiva de carvão, a única viagem que fiz num comboio desse tipo.

Fernando Giestas e Rafaela Santos são fundadores da Amarelo Silvestre/Magnólia Teatro, a partir de Canas de Senhorim (2009). A peça, agora representada no Teatro Meridional, foi escrita sob orientação de Jean-Pierre Sarrazac.  Ver apresentação da peça aqui.
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Sangue na guelra

O cenário é mínimo: duas cadeiras, um homem (Graeme Pulleyn) e uma mulher (Rafaela Santos). Fernando Giestas (1978) é o autor da peça chamada Sangue na Guerra/Guelra/Guerra (2011) e publicada na colectânea "Oficina de Escrita Odisseia: Textos Escolhidos", uma edição do Teatro Nacional São João (2011). Ele lembrava a sua ida de barco para muito longe, num mar imenso, para um país que não era o seu mas podia ser o seu. E recordava que encontrou mulheres de olhos negros e pele semelhante. Ele teria dezoito, vinte anos. Ela lembrava a chegada de tantos homens, jovens e de bigode, de olhos claros e pele semelhante. Sabia que eles vinham de outro sítio com outra cultura. A mulher de olhos negros ou o homem de olhos claros aproximaram-se, começaram a ir à praia, ao cinema, apaixonaram-se.

Um dia, os homens, armados, levantando uma enorme nuvem de poeira, aproximaram-se da aldeia. Eles queriam que elas fugissem. Estas ficaram de pé, à espera que a poeira assentasse no chão, e viram os pais, os maridos e os filhos tombarem pelas balas saídas das armas. Era a guerra. O sangue na guelra (juventude, inquietude) tornara-se sangue da guerra. O país que não era o dele mas podia ser dele deixava de o ser.

O curto texto de Fernando Giestas foi sendo repetido, em diferentes ângulos da sala, com os corpos dos actores expressando outros sentimentos. O encenador Rogério de Carvalho quis que os actores fossem também co-autores do texto. Como quem conta a memória, histórias passadas a gente presente, como se um casal lembrasse o que tinha acontecido quarenta anos atrás. Na representação, senti algo tirado do neo-realismo, dos quadros de Picasso, das tragédias gregas. A música, não identificada no programa, enquadrava o dramatismo dos corpos que tinham perdido a felicidade e a que, agora, só restava a recordação.


Lembrei-me da guerra entre Israel e a Palestina, mas a história não se encaixava porque não há mar longínquo entre os dois países (ou territórios). Tive de ajustar a minha própria memória. Senti-me comovido. O barco demorou oito dias a chegar de Lisboa a Luanda. Sempre tortilha ao almoço e ao jantar. Havia quem aproveitasse o tempo a jogar cartas, algo que nunca me seduziu (os jogos que aprendi, esqueci logo a seguir). À chegada, havia um velho comboio puxado a locomotiva de carvão, a única viagem que fiz num comboio desse tipo.

Fernando Giestas e Rafaela Santos são fundadores da Amarelo Silvestre/Magnólia Teatro, a partir de Canas de Senhorim (2009). A peça, agora representada no Teatro Meridional, foi escrita sob orientação de Jean-Pierre Sarrazac.  Ver apresentação da peça aqui.
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