A Revolução nos Média é um conjunto de seis textos de estudos de caso sobre a situação dos media (imprensa, rádio e televisão) durante 1974 e 1975.
Na introdução, assinada pelos coordenadores Maria Inácia Rezola e Pedro Marques Gomes, reflecte-se sobra a possibilidade de os media terem constituído uma peça importante nas lutas políticas e nas transformações operadas então. Os coordenadores consideram faltar ainda fundamentação e aprofundamento.
Os textos do livro procuram encontrar essa fundamentação. Assim, Inácia Rezola escreve sobre a RTP no PREC [período revolucionário em curso, referência dada ao período de 1974 e 1975], João Figueira sobre o jornal
República, Pedro Marques Gomes sobre o semanário
O Jornal, Paula Borges sobre a Rádio Renascença, Francisco Pinheiro sobre a imprensa desportiva e Marco Gomes sobre a imprensa no geral nesse período pós-revolucionário (que o autor prefere designar por intentona ou golpe dos capitães). Há uma estrutura próxima a todos os textos: uma introdução de contextualização, a apresentação e análise do caso e um apoio rigoroso em fontes documentais.
Alguns dos temas já conhecia, por produção anterior dos seus autores. Destaco, pela inovação, os trabalhos de Pedro Marques Gomes (de que saiu recentemente um trabalho sobre o
Diário de Notícias e os saneamentos no PREC, e que está à espera aqui ao lado na minha linha de leitura) e Marco Gomes, com uma linguagem diferente dos outros. Apesar de ser igualmente historiador, a sua escrita aproxima-o do terreno do sociólogo. E trata, embora não tão profundamente como o leitor gostaria, de imagens como os
cartoons desses anos, de que sobressaiam os trabalhos de João Abel Manta.
De repente, apercebo-me de como esse universo de há 40 anos está longínquo, o que permite agora análises sérias e objectivas. Por isso, relevo igualmente o trabalho da investigadora sénior nas matérias de história dos últimos 40 anos: Maria Inácia Rezola. Depois de nos conduzir às sucessivas administrações da RTP, nota-se o imenso pudor nela em dar nomes aos saneados, excepto os mais famosos como Alves Caetano e Henrique Mendes, logo identificados na época. Escreve a historiadora: "Apesar da vertigem dos acontecimentos, e das profundas mudanças que percorrem a RTP nestes anos de 1974-1975, é possível estabelecer as tendências e evoluções no que diz respeito às purgas políticas efectuadas na empresa" (p. 27). Em especial após o 11 de Março de 1975, quando se pedia internamente uma "purga política mais profunda". Mais à frente, a autora indica suspensões na administração de Duarte Belo, num total de 25 (p. 31) e abaixo-assinados opostos subscrito por 110 trabalhadores e 400 trabalhadores (pp. 32-33). E uma nova lista de pessoal a sanear, num total de 60 nomes, naquilo que ficou conhecido como o caso Veloso (Manuel Jorge Veloso, com uma carreira dedicada ao jazz e a programas de jazz quer na televisão quer na rádio).
Um pormenor final: a qualidade estética do livro. A editora Tinta da China constitui obras de arte em cada edição. É um gosto ler e tactear obras daquela editora.
Leitura (frenética ao longo do final da tarde e da noite): Maria Inácia Rezola e Pedro Marques Gomes (coord.) (2014).
A Revolução nos Média. Lisboa: Tinta da China. 199 páginas, 11,90 €