Quinta-feira, 28 de Julho de 2011

Livro que, no essencial, resulta de uma dissertação de mestrado no ISCTE, o texto agora publicado por João Manuel Rocha
Quando Timor-Leste foi uma causa tem como pergunta de partida: porque deram os media tanta atenção à crise de Timor em 1999? Recorde-se que, nessa época, foi lançado um referendo à população, que indicou querer a independência face aos ocupantes indonésios. Seguiu-se um banho de sangue que levou a comunidade internacional a pressionar o poder da Indonésia a retirar as suas forças militares do território de administração portuguesa. O asssunto teve uma grande repercussão nos media portugueses na fase a seguir ao referendo.
Os jornais estudados João Manuel Rocha (
Público,
Diário de Notícias) tomaram uma atitude longe do distanciamento assente nos rituais da objectividade (p. 97) e preferiram o envolvimento e o posicionamento (p. 101). O autor escolheu aqueles jornais devido a critérios distintivos: sobriedade e distanciamento (p. 65). O período estudado foi o de 1 de Agosto a 15 de Outubro de 1999, aquando do referendo naquela ilha do Pacífico. O investigador fez um subgrupo de análise para estudo das fontes entre 29 de Agosto e 6 de Setembro e um outro sobre os editoriais escritos sobre o tema. O trabalho divide-se em duas partes: usar instrumentos para perceber a preponderância de Timor no fluxo noticioso e os contornos que assumiu; procurar compreender as questões editoriais (p. 25). No final do seu livro, escreve o autor: "quando se inscrevem na esfera do consenso, os mecanismos do paradigma jornalístico do distanciamento são relativizados e é menos escamoteada a condição dos media como actores do espaço público? [...] Como se as causas noticiadas pudessem, nestes contextos, ser também as causas dos jornais" (p. 186).
A um bem construído capítulo de história de Timor Leste sucedem-se capítulos, geralmente curtos, sobre os media (poder mediático, opinião pública, agendamento, valores-notícia e
newsmaking, monotema noticioso, tematização em Luhmann enquanto instrumento de selecção de temas que compõem a estrutura temática, actores do espaço público, esfera de consenso em Hallin). O autor fala em grande número de notícias num período curto (eu chamaria a isto
momento crucial,
momento quente,
momento de relevância e
grande densidade), a que se sucede o que designa por
kairos (no caso, quando a tematização mudou e o assunto Timor perdeu a relevância). O autor trabalha ainda com os conceitos de lugar declarado e posicionamento assumido (conceitos emprestados pelas ciências da linguagem e pela semiótica) quando se refere aos editoriais e títulos referenciais (Mouillaud), que denunciam (
denotam parecia-me mais elegante) a linha editorial do jornal – “o lugar onde se situam como sujeitos de enunciação” (p. 29) – e títulos informacionais (anafóricos por definição, dado que relacionam um saber anterior e um saber novo) (p. 109). O momento de início da tematização foi o massacre de Santa Cruz (12.11.1991), o
kairos a morte da fadista Amália Rodrigues (7.10.1999). Exemplos de títulos referenciais: a hora da verdade, os dias do terror, os dias da esperança, os dias da reconstrução (p. 112). O impacto da tematização e do monotema Timor foi de tal ordem que as eleições legislativas de Outubro de 1999 foram subalternizadas, ou “ocultadas” da política nacional (p. 86; p. 185).
João Manuel Rocha considera que Timor-Leste (após o massacre do cemitério em 1991 e o referendo em 1999) constituiu um duplo acontecimento – porque aconteceu, porque os media fizeram entrar o tema na agenda pública (p. 77). Seguindo Mário Mesquita, que cita, diz que
duplo acontecimento mediático quer dizer um desdobramento em notícia e cerimónia. O trabalho dos media pode fornecer aos indivíduos oportunidades de identificação, integração e reforço social – no caso, quanto a Timor (p. 88). A informação é substituída pela emoção, ou pelo relacional, escreve também o autor (p. 115; p. 179). Para ele, o elemento emotivo faz parte do código genético da imprensa popular que apela ao sensacional e ao espectacular, mas que pode chegar aos jornais de referência (p. 117). Isso conduz à perda da ideia de objectividade como contrapartida do imediatismo e da interactividade. A onda de violência que se seguiu à divulgação de resultados do referendo operou uma viragem na opinião pública mediada pelos jornais e pela televisão, nomeadamente no nosso país (p. 175) (ver abaixo capa do jornal
Público de 19.11.1991).
O capítulo 16 traz um contributo interessante: os traços das personagens jornalísticas divididas entre
herói ou o líder que só queria ser um homem comum (Xanana Gusmão) e
vilão com um perfil belicista, bárbaro e negativo (Eurico Guterres), necessariamente uma construção dos media atendendo ao posicionamento (o primeiro como independentista, o segundo como integracionista, colaborador da Indonésia, país agressor) (p. 184). Estes perfis podem ser lidos em conjunto com outra observação do livro, a da permeabilidade das notícias aos rumores, alguns dos quais eram desmentidos depois (p. 157).

O livro está muito bem estruturado, usa a bibliografia mais relevante (caso de uma tese de mestrado de Graça Matos, apesar de não dar o relevo merecido ao trabalho de Rui Marques,
Timor-Leste: o agendamento mediático, que o autor só teve conhecimento após a escrita da dissertação) e ilustra o modo como se fazem as notícias: subjectivas, às vezes com emoção e com sentimentos, resultado da cultura mais vasta que é a da sociedade.
Leitura: João Manuel Rocha (2011).
Quando Timor-Leste foi uma causa. Coimbra: MinervaCoimbra
Observação: eu escrevi sobre o tema
aqui e
aqui, a partir do livro de Rui Marques.

Livro que, no essencial, resulta de uma dissertação de mestrado no ISCTE, o texto agora publicado por João Manuel Rocha
Quando Timor-Leste foi uma causa tem como pergunta de partida: porque deram os media tanta atenção à crise de Timor em 1999? Recorde-se que, nessa época, foi lançado um referendo à população, que indicou querer a independência face aos ocupantes indonésios. Seguiu-se um banho de sangue que levou a comunidade internacional a pressionar o poder da Indonésia a retirar as suas forças militares do território de administração portuguesa. O asssunto teve uma grande repercussão nos media portugueses na fase a seguir ao referendo.
Os jornais estudados João Manuel Rocha (
Público,
Diário de Notícias) tomaram uma atitude longe do distanciamento assente nos rituais da objectividade (p. 97) e preferiram o envolvimento e o posicionamento (p. 101). O autor escolheu aqueles jornais devido a critérios distintivos: sobriedade e distanciamento (p. 65). O período estudado foi o de 1 de Agosto a 15 de Outubro de 1999, aquando do referendo naquela ilha do Pacífico. O investigador fez um subgrupo de análise para estudo das fontes entre 29 de Agosto e 6 de Setembro e um outro sobre os editoriais escritos sobre o tema. O trabalho divide-se em duas partes: usar instrumentos para perceber a preponderância de Timor no fluxo noticioso e os contornos que assumiu; procurar compreender as questões editoriais (p. 25). No final do seu livro, escreve o autor: "quando se inscrevem na esfera do consenso, os mecanismos do paradigma jornalístico do distanciamento são relativizados e é menos escamoteada a condição dos media como actores do espaço público? [...] Como se as causas noticiadas pudessem, nestes contextos, ser também as causas dos jornais" (p. 186).
A um bem construído capítulo de história de Timor Leste sucedem-se capítulos, geralmente curtos, sobre os media (poder mediático, opinião pública, agendamento, valores-notícia e
newsmaking, monotema noticioso, tematização em Luhmann enquanto instrumento de selecção de temas que compõem a estrutura temática, actores do espaço público, esfera de consenso em Hallin). O autor fala em grande número de notícias num período curto (eu chamaria a isto
momento crucial,
momento quente,
momento de relevância e
grande densidade), a que se sucede o que designa por
kairos (no caso, quando a tematização mudou e o assunto Timor perdeu a relevância). O autor trabalha ainda com os conceitos de lugar declarado e posicionamento assumido (conceitos emprestados pelas ciências da linguagem e pela semiótica) quando se refere aos editoriais e títulos referenciais (Mouillaud), que denunciam (
denotam parecia-me mais elegante) a linha editorial do jornal – “o lugar onde se situam como sujeitos de enunciação” (p. 29) – e títulos informacionais (anafóricos por definição, dado que relacionam um saber anterior e um saber novo) (p. 109). O momento de início da tematização foi o massacre de Santa Cruz (12.11.1991), o
kairos a morte da fadista Amália Rodrigues (7.10.1999). Exemplos de títulos referenciais: a hora da verdade, os dias do terror, os dias da esperança, os dias da reconstrução (p. 112). O impacto da tematização e do monotema Timor foi de tal ordem que as eleições legislativas de Outubro de 1999 foram subalternizadas, ou “ocultadas” da política nacional (p. 86; p. 185).
João Manuel Rocha considera que Timor-Leste (após o massacre do cemitério em 1991 e o referendo em 1999) constituiu um duplo acontecimento – porque aconteceu, porque os media fizeram entrar o tema na agenda pública (p. 77). Seguindo Mário Mesquita, que cita, diz que
duplo acontecimento mediático quer dizer um desdobramento em notícia e cerimónia. O trabalho dos media pode fornecer aos indivíduos oportunidades de identificação, integração e reforço social – no caso, quanto a Timor (p. 88). A informação é substituída pela emoção, ou pelo relacional, escreve também o autor (p. 115; p. 179). Para ele, o elemento emotivo faz parte do código genético da imprensa popular que apela ao sensacional e ao espectacular, mas que pode chegar aos jornais de referência (p. 117). Isso conduz à perda da ideia de objectividade como contrapartida do imediatismo e da interactividade. A onda de violência que se seguiu à divulgação de resultados do referendo operou uma viragem na opinião pública mediada pelos jornais e pela televisão, nomeadamente no nosso país (p. 175) (ver abaixo capa do jornal
Público de 19.11.1991).
O capítulo 16 traz um contributo interessante: os traços das personagens jornalísticas divididas entre
herói ou o líder que só queria ser um homem comum (Xanana Gusmão) e
vilão com um perfil belicista, bárbaro e negativo (Eurico Guterres), necessariamente uma construção dos media atendendo ao posicionamento (o primeiro como independentista, o segundo como integracionista, colaborador da Indonésia, país agressor) (p. 184). Estes perfis podem ser lidos em conjunto com outra observação do livro, a da permeabilidade das notícias aos rumores, alguns dos quais eram desmentidos depois (p. 157).

O livro está muito bem estruturado, usa a bibliografia mais relevante (caso de uma tese de mestrado de Graça Matos, apesar de não dar o relevo merecido ao trabalho de Rui Marques,
Timor-Leste: o agendamento mediático, que o autor só teve conhecimento após a escrita da dissertação) e ilustra o modo como se fazem as notícias: subjectivas, às vezes com emoção e com sentimentos, resultado da cultura mais vasta que é a da sociedade.
Leitura: João Manuel Rocha (2011).
Quando Timor-Leste foi uma causa. Coimbra: MinervaCoimbra
Observação: eu escrevi sobre o tema
aqui e
aqui, a partir do livro de Rui Marques.

Livro que, no essencial, resulta de uma dissertação de mestrado no ISCTE, o texto agora publicado por João Manuel Rocha
Quando Timor-Leste foi uma causa tem como pergunta de partida: porque deram os media tanta atenção à crise de Timor em 1999? Recorde-se que, nessa época, foi lançado um referendo à população, que indicou querer a independência face aos ocupantes indonésios. Seguiu-se um banho de sangue que levou a comunidade internacional a pressionar o poder da Indonésia a retirar as suas forças militares do território de administração portuguesa. O asssunto teve uma grande repercussão nos media portugueses na fase a seguir ao referendo.
Os jornais estudados João Manuel Rocha (
Público,
Diário de Notícias) tomaram uma atitude longe do distanciamento assente nos rituais da objectividade (p. 97) e preferiram o envolvimento e o posicionamento (p. 101). O autor escolheu aqueles jornais devido a critérios distintivos: sobriedade e distanciamento (p. 65). O período estudado foi o de 1 de Agosto a 15 de Outubro de 1999, aquando do referendo naquela ilha do Pacífico. O investigador fez um subgrupo de análise para estudo das fontes entre 29 de Agosto e 6 de Setembro e um outro sobre os editoriais escritos sobre o tema. O trabalho divide-se em duas partes: usar instrumentos para perceber a preponderância de Timor no fluxo noticioso e os contornos que assumiu; procurar compreender as questões editoriais (p. 25). No final do seu livro, escreve o autor: "quando se inscrevem na esfera do consenso, os mecanismos do paradigma jornalístico do distanciamento são relativizados e é menos escamoteada a condição dos media como actores do espaço público? [...] Como se as causas noticiadas pudessem, nestes contextos, ser também as causas dos jornais" (p. 186).
A um bem construído capítulo de história de Timor Leste sucedem-se capítulos, geralmente curtos, sobre os media (poder mediático, opinião pública, agendamento, valores-notícia e
newsmaking, monotema noticioso, tematização em Luhmann enquanto instrumento de selecção de temas que compõem a estrutura temática, actores do espaço público, esfera de consenso em Hallin). O autor fala em grande número de notícias num período curto (eu chamaria a isto
momento crucial,
momento quente,
momento de relevância e
grande densidade), a que se sucede o que designa por
kairos (no caso, quando a tematização mudou e o assunto Timor perdeu a relevância). O autor trabalha ainda com os conceitos de lugar declarado e posicionamento assumido (conceitos emprestados pelas ciências da linguagem e pela semiótica) quando se refere aos editoriais e títulos referenciais (Mouillaud), que denunciam (
denotam parecia-me mais elegante) a linha editorial do jornal – “o lugar onde se situam como sujeitos de enunciação” (p. 29) – e títulos informacionais (anafóricos por definição, dado que relacionam um saber anterior e um saber novo) (p. 109). O momento de início da tematização foi o massacre de Santa Cruz (12.11.1991), o
kairos a morte da fadista Amália Rodrigues (7.10.1999). Exemplos de títulos referenciais: a hora da verdade, os dias do terror, os dias da esperança, os dias da reconstrução (p. 112). O impacto da tematização e do monotema Timor foi de tal ordem que as eleições legislativas de Outubro de 1999 foram subalternizadas, ou “ocultadas” da política nacional (p. 86; p. 185).
João Manuel Rocha considera que Timor-Leste (após o massacre do cemitério em 1991 e o referendo em 1999) constituiu um duplo acontecimento – porque aconteceu, porque os media fizeram entrar o tema na agenda pública (p. 77). Seguindo Mário Mesquita, que cita, diz que
duplo acontecimento mediático quer dizer um desdobramento em notícia e cerimónia. O trabalho dos media pode fornecer aos indivíduos oportunidades de identificação, integração e reforço social – no caso, quanto a Timor (p. 88). A informação é substituída pela emoção, ou pelo relacional, escreve também o autor (p. 115; p. 179). Para ele, o elemento emotivo faz parte do código genético da imprensa popular que apela ao sensacional e ao espectacular, mas que pode chegar aos jornais de referência (p. 117). Isso conduz à perda da ideia de objectividade como contrapartida do imediatismo e da interactividade. A onda de violência que se seguiu à divulgação de resultados do referendo operou uma viragem na opinião pública mediada pelos jornais e pela televisão, nomeadamente no nosso país (p. 175) (ver abaixo capa do jornal
Público de 19.11.1991).
O capítulo 16 traz um contributo interessante: os traços das personagens jornalísticas divididas entre
herói ou o líder que só queria ser um homem comum (Xanana Gusmão) e
vilão com um perfil belicista, bárbaro e negativo (Eurico Guterres), necessariamente uma construção dos media atendendo ao posicionamento (o primeiro como independentista, o segundo como integracionista, colaborador da Indonésia, país agressor) (p. 184). Estes perfis podem ser lidos em conjunto com outra observação do livro, a da permeabilidade das notícias aos rumores, alguns dos quais eram desmentidos depois (p. 157).

O livro está muito bem estruturado, usa a bibliografia mais relevante (caso de uma tese de mestrado de Graça Matos, apesar de não dar o relevo merecido ao trabalho de Rui Marques,
Timor-Leste: o agendamento mediático, que o autor só teve conhecimento após a escrita da dissertação) e ilustra o modo como se fazem as notícias: subjectivas, às vezes com emoção e com sentimentos, resultado da cultura mais vasta que é a da sociedade.
Leitura: João Manuel Rocha (2011).
Quando Timor-Leste foi uma causa. Coimbra: MinervaCoimbra
Observação: eu escrevi sobre o tema
aqui e
aqui, a partir do livro de Rui Marques.

Livro que, no essencial, resulta de uma dissertação de mestrado no ISCTE, o texto agora publicado por João Manuel Rocha
Quando Timor-Leste foi uma causa tem como pergunta de partida: porque deram os media tanta atenção à crise de Timor em 1999? Recorde-se que, nessa época, foi lançado um referendo à população, que indicou querer a independência face aos ocupantes indonésios. Seguiu-se um banho de sangue que levou a comunidade internacional a pressionar o poder da Indonésia a retirar as suas forças militares do território de administração portuguesa. O asssunto teve uma grande repercussão nos media portugueses na fase a seguir ao referendo.
Os jornais estudados João Manuel Rocha (
Público,
Diário de Notícias) tomaram uma atitude longe do distanciamento assente nos rituais da objectividade (p. 97) e preferiram o envolvimento e o posicionamento (p. 101). O autor escolheu aqueles jornais devido a critérios distintivos: sobriedade e distanciamento (p. 65). O período estudado foi o de 1 de Agosto a 15 de Outubro de 1999, aquando do referendo naquela ilha do Pacífico. O investigador fez um subgrupo de análise para estudo das fontes entre 29 de Agosto e 6 de Setembro e um outro sobre os editoriais escritos sobre o tema. O trabalho divide-se em duas partes: usar instrumentos para perceber a preponderância de Timor no fluxo noticioso e os contornos que assumiu; procurar compreender as questões editoriais (p. 25). No final do seu livro, escreve o autor: "quando se inscrevem na esfera do consenso, os mecanismos do paradigma jornalístico do distanciamento são relativizados e é menos escamoteada a condição dos media como actores do espaço público? [...] Como se as causas noticiadas pudessem, nestes contextos, ser também as causas dos jornais" (p. 186).
A um bem construído capítulo de história de Timor Leste sucedem-se capítulos, geralmente curtos, sobre os media (poder mediático, opinião pública, agendamento, valores-notícia e
newsmaking, monotema noticioso, tematização em Luhmann enquanto instrumento de selecção de temas que compõem a estrutura temática, actores do espaço público, esfera de consenso em Hallin). O autor fala em grande número de notícias num período curto (eu chamaria a isto
momento crucial,
momento quente,
momento de relevância e
grande densidade), a que se sucede o que designa por
kairos (no caso, quando a tematização mudou e o assunto Timor perdeu a relevância). O autor trabalha ainda com os conceitos de lugar declarado e posicionamento assumido (conceitos emprestados pelas ciências da linguagem e pela semiótica) quando se refere aos editoriais e títulos referenciais (Mouillaud), que denunciam (
denotam parecia-me mais elegante) a linha editorial do jornal – “o lugar onde se situam como sujeitos de enunciação” (p. 29) – e títulos informacionais (anafóricos por definição, dado que relacionam um saber anterior e um saber novo) (p. 109). O momento de início da tematização foi o massacre de Santa Cruz (12.11.1991), o
kairos a morte da fadista Amália Rodrigues (7.10.1999). Exemplos de títulos referenciais: a hora da verdade, os dias do terror, os dias da esperança, os dias da reconstrução (p. 112). O impacto da tematização e do monotema Timor foi de tal ordem que as eleições legislativas de Outubro de 1999 foram subalternizadas, ou “ocultadas” da política nacional (p. 86; p. 185).
João Manuel Rocha considera que Timor-Leste (após o massacre do cemitério em 1991 e o referendo em 1999) constituiu um duplo acontecimento – porque aconteceu, porque os media fizeram entrar o tema na agenda pública (p. 77). Seguindo Mário Mesquita, que cita, diz que
duplo acontecimento mediático quer dizer um desdobramento em notícia e cerimónia. O trabalho dos media pode fornecer aos indivíduos oportunidades de identificação, integração e reforço social – no caso, quanto a Timor (p. 88). A informação é substituída pela emoção, ou pelo relacional, escreve também o autor (p. 115; p. 179). Para ele, o elemento emotivo faz parte do código genético da imprensa popular que apela ao sensacional e ao espectacular, mas que pode chegar aos jornais de referência (p. 117). Isso conduz à perda da ideia de objectividade como contrapartida do imediatismo e da interactividade. A onda de violência que se seguiu à divulgação de resultados do referendo operou uma viragem na opinião pública mediada pelos jornais e pela televisão, nomeadamente no nosso país (p. 175) (ver abaixo capa do jornal
Público de 19.11.1991).
O capítulo 16 traz um contributo interessante: os traços das personagens jornalísticas divididas entre
herói ou o líder que só queria ser um homem comum (Xanana Gusmão) e
vilão com um perfil belicista, bárbaro e negativo (Eurico Guterres), necessariamente uma construção dos media atendendo ao posicionamento (o primeiro como independentista, o segundo como integracionista, colaborador da Indonésia, país agressor) (p. 184). Estes perfis podem ser lidos em conjunto com outra observação do livro, a da permeabilidade das notícias aos rumores, alguns dos quais eram desmentidos depois (p. 157).

O livro está muito bem estruturado, usa a bibliografia mais relevante (caso de uma tese de mestrado de Graça Matos, apesar de não dar o relevo merecido ao trabalho de Rui Marques,
Timor-Leste: o agendamento mediático, que o autor só teve conhecimento após a escrita da dissertação) e ilustra o modo como se fazem as notícias: subjectivas, às vezes com emoção e com sentimentos, resultado da cultura mais vasta que é a da sociedade.
Leitura: João Manuel Rocha (2011).
Quando Timor-Leste foi uma causa. Coimbra: MinervaCoimbra
Observação: eu escrevi sobre o tema
aqui e
aqui, a partir do livro de Rui Marques.

Livro que, no essencial, resulta de uma dissertação de mestrado no ISCTE, o texto agora publicado por João Manuel Rocha
Quando Timor-Leste foi uma causa tem como pergunta de partida: porque deram os media tanta atenção à crise de Timor em 1999? Recorde-se que, nessa época, foi lançado um referendo à população, que indicou querer a independência face aos ocupantes indonésios. Seguiu-se um banho de sangue que levou a comunidade internacional a pressionar o poder da Indonésia a retirar as suas forças militares do território de administração portuguesa. O asssunto teve uma grande repercussão nos media portugueses na fase a seguir ao referendo.
Os jornais estudados João Manuel Rocha (
Público,
Diário de Notícias) tomaram uma atitude longe do distanciamento assente nos rituais da objectividade (p. 97) e preferiram o envolvimento e o posicionamento (p. 101). O autor escolheu aqueles jornais devido a critérios distintivos: sobriedade e distanciamento (p. 65). O período estudado foi o de 1 de Agosto a 15 de Outubro de 1999, aquando do referendo naquela ilha do Pacífico. O investigador fez um subgrupo de análise para estudo das fontes entre 29 de Agosto e 6 de Setembro e um outro sobre os editoriais escritos sobre o tema. O trabalho divide-se em duas partes: usar instrumentos para perceber a preponderância de Timor no fluxo noticioso e os contornos que assumiu; procurar compreender as questões editoriais (p. 25). No final do seu livro, escreve o autor: "quando se inscrevem na esfera do consenso, os mecanismos do paradigma jornalístico do distanciamento são relativizados e é menos escamoteada a condição dos media como actores do espaço público? [...] Como se as causas noticiadas pudessem, nestes contextos, ser também as causas dos jornais" (p. 186).
A um bem construído capítulo de história de Timor Leste sucedem-se capítulos, geralmente curtos, sobre os media (poder mediático, opinião pública, agendamento, valores-notícia e
newsmaking, monotema noticioso, tematização em Luhmann enquanto instrumento de selecção de temas que compõem a estrutura temática, actores do espaço público, esfera de consenso em Hallin). O autor fala em grande número de notícias num período curto (eu chamaria a isto
momento crucial,
momento quente,
momento de relevância e
grande densidade), a que se sucede o que designa por
kairos (no caso, quando a tematização mudou e o assunto Timor perdeu a relevância). O autor trabalha ainda com os conceitos de lugar declarado e posicionamento assumido (conceitos emprestados pelas ciências da linguagem e pela semiótica) quando se refere aos editoriais e títulos referenciais (Mouillaud), que denunciam (
denotam parecia-me mais elegante) a linha editorial do jornal – “o lugar onde se situam como sujeitos de enunciação” (p. 29) – e títulos informacionais (anafóricos por definição, dado que relacionam um saber anterior e um saber novo) (p. 109). O momento de início da tematização foi o massacre de Santa Cruz (12.11.1991), o
kairos a morte da fadista Amália Rodrigues (7.10.1999). Exemplos de títulos referenciais: a hora da verdade, os dias do terror, os dias da esperança, os dias da reconstrução (p. 112). O impacto da tematização e do monotema Timor foi de tal ordem que as eleições legislativas de Outubro de 1999 foram subalternizadas, ou “ocultadas” da política nacional (p. 86; p. 185).
João Manuel Rocha considera que Timor-Leste (após o massacre do cemitério em 1991 e o referendo em 1999) constituiu um duplo acontecimento – porque aconteceu, porque os media fizeram entrar o tema na agenda pública (p. 77). Seguindo Mário Mesquita, que cita, diz que
duplo acontecimento mediático quer dizer um desdobramento em notícia e cerimónia. O trabalho dos media pode fornecer aos indivíduos oportunidades de identificação, integração e reforço social – no caso, quanto a Timor (p. 88). A informação é substituída pela emoção, ou pelo relacional, escreve também o autor (p. 115; p. 179). Para ele, o elemento emotivo faz parte do código genético da imprensa popular que apela ao sensacional e ao espectacular, mas que pode chegar aos jornais de referência (p. 117). Isso conduz à perda da ideia de objectividade como contrapartida do imediatismo e da interactividade. A onda de violência que se seguiu à divulgação de resultados do referendo operou uma viragem na opinião pública mediada pelos jornais e pela televisão, nomeadamente no nosso país (p. 175) (ver abaixo capa do jornal
Público de 19.11.1991).
O capítulo 16 traz um contributo interessante: os traços das personagens jornalísticas divididas entre
herói ou o líder que só queria ser um homem comum (Xanana Gusmão) e
vilão com um perfil belicista, bárbaro e negativo (Eurico Guterres), necessariamente uma construção dos media atendendo ao posicionamento (o primeiro como independentista, o segundo como integracionista, colaborador da Indonésia, país agressor) (p. 184). Estes perfis podem ser lidos em conjunto com outra observação do livro, a da permeabilidade das notícias aos rumores, alguns dos quais eram desmentidos depois (p. 157).

O livro está muito bem estruturado, usa a bibliografia mais relevante (caso de uma tese de mestrado de Graça Matos, apesar de não dar o relevo merecido ao trabalho de Rui Marques,
Timor-Leste: o agendamento mediático, que o autor só teve conhecimento após a escrita da dissertação) e ilustra o modo como se fazem as notícias: subjectivas, às vezes com emoção e com sentimentos, resultado da cultura mais vasta que é a da sociedade.
Leitura: João Manuel Rocha (2011).
Quando Timor-Leste foi uma causa. Coimbra: MinervaCoimbra
Observação: eu escrevi sobre o tema
aqui e
aqui, a partir do livro de Rui Marques.
Realizado pelo Observatório Iberoamericano da Ficção Televisiva (Obitel), vai decorrer o VI Seminário Internacional do Obitel na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, nos dias 19 e 20 de Setembro de 2011. Como conferencistas, estarão presentes Eduardo Cintra Torres (Centro de Estudos de Comunicação e Cultura, da Universidade Católica Portuguesa) e Isabel Ferin Cunha (Universidade de Coimbra e Centro de Investigação Media e Jornalismo).
Os expositores (investigadores responsáveis pelo trabalho feito em cada país) são Isabel Ferin Cunha e Catarina Duff Burnay (Portugal, Universidade de Coimbra, Universidade Católica Portuguesa), Gustavo Aprea e Mónica Kirchheimer (Argentina, (Universidad Nacional de General Sarmiento, Instituto Universitario Nacional del Arte), Maria Immacolata Vassallo de Lopes e Maria Cristina Mungioli (Brasil, Universidade de São Paulo), Borys Bustamante e Fernando Aranguren (Colombia, Universidad Distrital Francisco José de Caldas), César Herrera e Alexandra Ayala (Equador, Ciespal), Charo Lacalle (Espanha, Universidad Autónoma de Barcelona), Juan Piñón (Estados Unidos, New York University), Guillermo Orozco Gómez (México, Universidad de Guadalajara), Rosario Sánchez (Uruguay, Universidad Católica del Uruguay) e Morella Alvarado (Venezuela, Universidad Central de Venezuela).
Realizado pelo Observatório Iberoamericano da Ficção Televisiva (Obitel), vai decorrer o VI Seminário Internacional do Obitel na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, nos dias 19 e 20 de Setembro de 2011. Como conferencistas, estarão presentes Eduardo Cintra Torres (Centro de Estudos de Comunicação e Cultura, da Universidade Católica Portuguesa) e Isabel Ferin Cunha (Universidade de Coimbra e Centro de Investigação Media e Jornalismo).
Os expositores (investigadores responsáveis pelo trabalho feito em cada país) são Isabel Ferin Cunha e Catarina Duff Burnay (Portugal, Universidade de Coimbra, Universidade Católica Portuguesa), Gustavo Aprea e Mónica Kirchheimer (Argentina, (Universidad Nacional de General Sarmiento, Instituto Universitario Nacional del Arte), Maria Immacolata Vassallo de Lopes e Maria Cristina Mungioli (Brasil, Universidade de São Paulo), Borys Bustamante e Fernando Aranguren (Colombia, Universidad Distrital Francisco José de Caldas), César Herrera e Alexandra Ayala (Equador, Ciespal), Charo Lacalle (Espanha, Universidad Autónoma de Barcelona), Juan Piñón (Estados Unidos, New York University), Guillermo Orozco Gómez (México, Universidad de Guadalajara), Rosario Sánchez (Uruguay, Universidad Católica del Uruguay) e Morella Alvarado (Venezuela, Universidad Central de Venezuela).
Realizado pelo Observatório Iberoamericano da Ficção Televisiva (Obitel), vai decorrer o VI Seminário Internacional do Obitel na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, nos dias 19 e 20 de Setembro de 2011. Como conferencistas, estarão presentes Eduardo Cintra Torres (Centro de Estudos de Comunicação e Cultura, da Universidade Católica Portuguesa) e Isabel Ferin Cunha (Universidade de Coimbra e Centro de Investigação Media e Jornalismo).
Os expositores (investigadores responsáveis pelo trabalho feito em cada país) são Isabel Ferin Cunha e Catarina Duff Burnay (Portugal, Universidade de Coimbra, Universidade Católica Portuguesa), Gustavo Aprea e Mónica Kirchheimer (Argentina, (Universidad Nacional de General Sarmiento, Instituto Universitario Nacional del Arte), Maria Immacolata Vassallo de Lopes e Maria Cristina Mungioli (Brasil, Universidade de São Paulo), Borys Bustamante e Fernando Aranguren (Colombia, Universidad Distrital Francisco José de Caldas), César Herrera e Alexandra Ayala (Equador, Ciespal), Charo Lacalle (Espanha, Universidad Autónoma de Barcelona), Juan Piñón (Estados Unidos, New York University), Guillermo Orozco Gómez (México, Universidad de Guadalajara), Rosario Sánchez (Uruguay, Universidad Católica del Uruguay) e Morella Alvarado (Venezuela, Universidad Central de Venezuela).
Realizado pelo Observatório Iberoamericano da Ficção Televisiva (Obitel), vai decorrer o VI Seminário Internacional do Obitel na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, nos dias 19 e 20 de Setembro de 2011. Como conferencistas, estarão presentes Eduardo Cintra Torres (Centro de Estudos de Comunicação e Cultura, da Universidade Católica Portuguesa) e Isabel Ferin Cunha (Universidade de Coimbra e Centro de Investigação Media e Jornalismo).
Os expositores (investigadores responsáveis pelo trabalho feito em cada país) são Isabel Ferin Cunha e Catarina Duff Burnay (Portugal, Universidade de Coimbra, Universidade Católica Portuguesa), Gustavo Aprea e Mónica Kirchheimer (Argentina, (Universidad Nacional de General Sarmiento, Instituto Universitario Nacional del Arte), Maria Immacolata Vassallo de Lopes e Maria Cristina Mungioli (Brasil, Universidade de São Paulo), Borys Bustamante e Fernando Aranguren (Colombia, Universidad Distrital Francisco José de Caldas), César Herrera e Alexandra Ayala (Equador, Ciespal), Charo Lacalle (Espanha, Universidad Autónoma de Barcelona), Juan Piñón (Estados Unidos, New York University), Guillermo Orozco Gómez (México, Universidad de Guadalajara), Rosario Sánchez (Uruguay, Universidad Católica del Uruguay) e Morella Alvarado (Venezuela, Universidad Central de Venezuela).
Realizado pelo Observatório Iberoamericano da Ficção Televisiva (Obitel), vai decorrer o VI Seminário Internacional do Obitel na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, nos dias 19 e 20 de Setembro de 2011. Como conferencistas, estarão presentes Eduardo Cintra Torres (Centro de Estudos de Comunicação e Cultura, da Universidade Católica Portuguesa) e Isabel Ferin Cunha (Universidade de Coimbra e Centro de Investigação Media e Jornalismo).
Os expositores (investigadores responsáveis pelo trabalho feito em cada país) são Isabel Ferin Cunha e Catarina Duff Burnay (Portugal, Universidade de Coimbra, Universidade Católica Portuguesa), Gustavo Aprea e Mónica Kirchheimer (Argentina, (Universidad Nacional de General Sarmiento, Instituto Universitario Nacional del Arte), Maria Immacolata Vassallo de Lopes e Maria Cristina Mungioli (Brasil, Universidade de São Paulo), Borys Bustamante e Fernando Aranguren (Colombia, Universidad Distrital Francisco José de Caldas), César Herrera e Alexandra Ayala (Equador, Ciespal), Charo Lacalle (Espanha, Universidad Autónoma de Barcelona), Juan Piñón (Estados Unidos, New York University), Guillermo Orozco Gómez (México, Universidad de Guadalajara), Rosario Sánchez (Uruguay, Universidad Católica del Uruguay) e Morella Alvarado (Venezuela, Universidad Central de Venezuela).