Quarta-feira, 6 de Setembro de 2006

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ANÁLISE DE CONTEÚDO

Num pequeno exercício de análise da imprensa, escolhi as manchetes das primeiras páginas dos jornais espanhóis El Pais e El Mundo de 1 a 6 de Setembro. Distingui entre assuntos internos ao país e internacionais, procurando encontrar pontos comuns e divergentes da agenda mediática.

Pontos comuns, encontrei três: no dia 1, uma fotografia de Felipe Gonzaléz, antigo primeiro-ministro espanhol (socialista) recebido em Teerão pelo presidente iraniano Mahmud Ahmadineyad (grafia castelhana); no dia 2, com a vitória da Espanha na meia-final do campeonato de basquetebol ; no dia 4, com a vitória da Espanha na final do mesmo campeonato, pelo que se sagrou vencedora.








Pontos diferentes nas manchetes: no dia 1, em que o El Pais destaca a lei anti-tabaco nos restaurantes, em vigor desde aquele dia, e o El Mundo refere um incidente em torno do 11-M (atentados terroristas em Madrid); no dia 2, em que o El Pais destaca o Conselho de Ministros e a decisão de envio de soldados para o Líbano, e a questão da comissão de energia e Bruxelas, enquanto o El Mundo releva a resposta do governo face ao artigo do dia anterior sobre o 11-M; no dia 3, o El Pais apresenta duas manchetes, uma sobre a conversa futura entre Zapatero e Rajoy (líder da oposição) por causa da constituição e outra sobre o despejo tóxico da ria Arousa, ao passo que o El Mundo inicia uma entrevista com um dos implicados no 11-M; no dia 4, a segunda manchete do El Mundo vai para a continuação da entrevista do implicado nos atentados terroristas; no dia 5, o El Pais tem uma manchete relativa aos clandestinos vindos do Senegal para as Canárias, o mesmo acontecendo com o El Mundo, que continua a entrevista com o implicado no 11-M. Hoje, destaque no El Pais para uma fotolegenda com Gasol, o principal jogador da equipa vencedora de basquetebol na chegada ao país, enquanto o El Mundo mostra Zapatero e o treinador de basquetebol em fotolegenda mas continua o destaque dos dias anteriores sobre o 11-M, indicando que o PP, partido na oposição, vai levantar no parlamento a questão trabalhada pelo jornal.


O meu destaque vai para a notícia do dia 1, a visita de Gonzaléz a Teerão: enquanto o El Mundo critica frontalmente, o El Pais acrescenta contextualização. O antigo governante teve contactos prévios com os Estados Unidos e terá preparado uma aproximação entre americanos e iranianos. Nesse dia, Gonzaléz tinha uma coluna de opinião no El Pais sobre a recente guerra no Líbano, onde tomava uma posição contra Israel, enquanto Gustavo de Arístegui, porta-voz do PP, escrevia no El Mundo um artigo sobre a geopolítica libanesa, expressando um ponto de vista oposto ao de Gonzaléz, e culminando dias de indecisão do PP face à questão do envio de militares espanhóis para o Líbano (dentro das forças da ONU).

Apesar de jornais independentes e que eu prezo a sua leitura, neste dia 1 mostraram um certo alinhamento partidário: o El Pais com o partido do poder, o El Mundo com o partido da oposição [claro que esta minha afirmação é mecânica, pois nos dias imediatos o El Mundo chamava a atenção para a ambiguidade de posição do PP face ao envio de militares para o Líbano].

Outra conclusão que retiro da leitura das capas dos jornais é uma preocupação com as questões internas. A primeira página versa sobre assuntos nacionais, ou de assuntos em que a Espanha é notícia no mundo como o campeonato de basquetebol ou a visita de Gonzaléz ao Irão. Uma outra conclusão é o agendamento específico do El Mundo: atentados terroristas de 11 de Março de 2004, com necessidade de descoberta de toda a verdade [foi um momento dramático, em véspera de eleições, e que contribuiu para a mudança de intenção de voto, segundo as sondagens de então] e posição adversa à crescente autonomia da Catalunha, como a notícia do ensino do castelhano. Se procurar relacionar o que um jornal e outro escrevem não há qualquer contaminação: o El Pais é imune a informar as notícias de primeira página do El Mundo, mesmo quando se trate de questões muito sérias (como o tema do 11-M e as investigações do jornal).

Sobre Portugal, nestes dias, excepto hoje, as notícias versaram sobre o acordo dos dois países sobre a água do rio Guadiana, o caso de futebol (Gil Vicente e repercussões na FIFA) e o concerto dado no sábado, em que actuaram nomeadamente Carlos do Carmo e Camané. Países vizinhos mas com poucas notícias. A excepção é no El Pais de hoje: um artigo de Mário Soares a comentar o momento político actual, com dois governos socialistas; um texto sobre Eduardo Lourenço; a vitória do ciclista Sérgio Paulinho na Vuelta.

Concluindo: os principais jornais espanhóis dão relevo às notícias internas do país, seguem o agendamento e acontecimentos não previstos (jogos de basquetebol, visita de antigo dirigente político ao Médio Oriente, entrada de imigrantes sin papeles nas ilhas Canárias) e têm menos investigação própria (excepto a do 11-M no El Mundo), não comentam as manchetes do outro jornal, têm alguma inclinação partidária (o El Pais mais à esquerda, o El Mundo mais à direita), instigam a agenda política (casos do 11-M e dos imigrantes ilegais) e dão poucas notícias do vizinho Portugal.
publicado por industrias-culturais às 15:50
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Num pequeno exercício de análise da imprensa, escolhi as manchetes das primeiras páginas dos jornais espanhóis El Pais e El Mundo de 1 a 6 de Setembro. Distingui entre assuntos internos ao país e internacionais, procurando encontrar pontos comuns e divergentes da agenda mediática.

Pontos comuns, encontrei três: no dia 1, uma fotografia de Felipe Gonzaléz, antigo primeiro-ministro espanhol (socialista) recebido em Teerão pelo presidente iraniano Mahmud Ahmadineyad (grafia castelhana); no dia 2, com a vitória da Espanha na meia-final do campeonato de basquetebol ; no dia 4, com a vitória da Espanha na final do mesmo campeonato, pelo que se sagrou vencedora.








Pontos diferentes nas manchetes: no dia 1, em que o El Pais destaca a lei anti-tabaco nos restaurantes, em vigor desde aquele dia, e o El Mundo refere um incidente em torno do 11-M (atentados terroristas em Madrid); no dia 2, em que o El Pais destaca o Conselho de Ministros e a decisão de envio de soldados para o Líbano, e a questão da comissão de energia e Bruxelas, enquanto o El Mundo releva a resposta do governo face ao artigo do dia anterior sobre o 11-M; no dia 3, o El Pais apresenta duas manchetes, uma sobre a conversa futura entre Zapatero e Rajoy (líder da oposição) por causa da constituição e outra sobre o despejo tóxico da ria Arousa, ao passo que o El Mundo inicia uma entrevista com um dos implicados no 11-M; no dia 4, a segunda manchete do El Mundo vai para a continuação da entrevista do implicado nos atentados terroristas; no dia 5, o El Pais tem uma manchete relativa aos clandestinos vindos do Senegal para as Canárias, o mesmo acontecendo com o El Mundo, que continua a entrevista com o implicado no 11-M. Hoje, destaque no El Pais para uma fotolegenda com Gasol, o principal jogador da equipa vencedora de basquetebol na chegada ao país, enquanto o El Mundo mostra Zapatero e o treinador de basquetebol em fotolegenda mas continua o destaque dos dias anteriores sobre o 11-M, indicando que o PP, partido na oposição, vai levantar no parlamento a questão trabalhada pelo jornal.


O meu destaque vai para a notícia do dia 1, a visita de Gonzaléz a Teerão: enquanto o El Mundo critica frontalmente, o El Pais acrescenta contextualização. O antigo governante teve contactos prévios com os Estados Unidos e terá preparado uma aproximação entre americanos e iranianos. Nesse dia, Gonzaléz tinha uma coluna de opinião no El Pais sobre a recente guerra no Líbano, onde tomava uma posição contra Israel, enquanto Gustavo de Arístegui, porta-voz do PP, escrevia no El Mundo um artigo sobre a geopolítica libanesa, expressando um ponto de vista oposto ao de Gonzaléz, e culminando dias de indecisão do PP face à questão do envio de militares espanhóis para o Líbano (dentro das forças da ONU).

Apesar de jornais independentes e que eu prezo a sua leitura, neste dia 1 mostraram um certo alinhamento partidário: o El Pais com o partido do poder, o El Mundo com o partido da oposição [claro que esta minha afirmação é mecânica, pois nos dias imediatos o El Mundo chamava a atenção para a ambiguidade de posição do PP face ao envio de militares para o Líbano].

Outra conclusão que retiro da leitura das capas dos jornais é uma preocupação com as questões internas. A primeira página versa sobre assuntos nacionais, ou de assuntos em que a Espanha é notícia no mundo como o campeonato de basquetebol ou a visita de Gonzaléz ao Irão. Uma outra conclusão é o agendamento específico do El Mundo: atentados terroristas de 11 de Março de 2004, com necessidade de descoberta de toda a verdade [foi um momento dramático, em véspera de eleições, e que contribuiu para a mudança de intenção de voto, segundo as sondagens de então] e posição adversa à crescente autonomia da Catalunha, como a notícia do ensino do castelhano. Se procurar relacionar o que um jornal e outro escrevem não há qualquer contaminação: o El Pais é imune a informar as notícias de primeira página do El Mundo, mesmo quando se trate de questões muito sérias (como o tema do 11-M e as investigações do jornal).

Sobre Portugal, nestes dias, excepto hoje, as notícias versaram sobre o acordo dos dois países sobre a água do rio Guadiana, o caso de futebol (Gil Vicente e repercussões na FIFA) e o concerto dado no sábado, em que actuaram nomeadamente Carlos do Carmo e Camané. Países vizinhos mas com poucas notícias. A excepção é no El Pais de hoje: um artigo de Mário Soares a comentar o momento político actual, com dois governos socialistas; um texto sobre Eduardo Lourenço; a vitória do ciclista Sérgio Paulinho na Vuelta.

Concluindo: os principais jornais espanhóis dão relevo às notícias internas do país, seguem o agendamento e acontecimentos não previstos (jogos de basquetebol, visita de antigo dirigente político ao Médio Oriente, entrada de imigrantes sin papeles nas ilhas Canárias) e têm menos investigação própria (excepto a do 11-M no El Mundo), não comentam as manchetes do outro jornal, têm alguma inclinação partidária (o El Pais mais à esquerda, o El Mundo mais à direita), instigam a agenda política (casos do 11-M e dos imigrantes ilegais) e dão poucas notícias do vizinho Portugal.
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Num pequeno exercício de análise da imprensa, escolhi as manchetes das primeiras páginas dos jornais espanhóis El Pais e El Mundo de 1 a 6 de Setembro. Distingui entre assuntos internos ao país e internacionais, procurando encontrar pontos comuns e divergentes da agenda mediática.

Pontos comuns, encontrei três: no dia 1, uma fotografia de Felipe Gonzaléz, antigo primeiro-ministro espanhol (socialista) recebido em Teerão pelo presidente iraniano Mahmud Ahmadineyad (grafia castelhana); no dia 2, com a vitória da Espanha na meia-final do campeonato de basquetebol ; no dia 4, com a vitória da Espanha na final do mesmo campeonato, pelo que se sagrou vencedora.








Pontos diferentes nas manchetes: no dia 1, em que o El Pais destaca a lei anti-tabaco nos restaurantes, em vigor desde aquele dia, e o El Mundo refere um incidente em torno do 11-M (atentados terroristas em Madrid); no dia 2, em que o El Pais destaca o Conselho de Ministros e a decisão de envio de soldados para o Líbano, e a questão da comissão de energia e Bruxelas, enquanto o El Mundo releva a resposta do governo face ao artigo do dia anterior sobre o 11-M; no dia 3, o El Pais apresenta duas manchetes, uma sobre a conversa futura entre Zapatero e Rajoy (líder da oposição) por causa da constituição e outra sobre o despejo tóxico da ria Arousa, ao passo que o El Mundo inicia uma entrevista com um dos implicados no 11-M; no dia 4, a segunda manchete do El Mundo vai para a continuação da entrevista do implicado nos atentados terroristas; no dia 5, o El Pais tem uma manchete relativa aos clandestinos vindos do Senegal para as Canárias, o mesmo acontecendo com o El Mundo, que continua a entrevista com o implicado no 11-M. Hoje, destaque no El Pais para uma fotolegenda com Gasol, o principal jogador da equipa vencedora de basquetebol na chegada ao país, enquanto o El Mundo mostra Zapatero e o treinador de basquetebol em fotolegenda mas continua o destaque dos dias anteriores sobre o 11-M, indicando que o PP, partido na oposição, vai levantar no parlamento a questão trabalhada pelo jornal.


O meu destaque vai para a notícia do dia 1, a visita de Gonzaléz a Teerão: enquanto o El Mundo critica frontalmente, o El Pais acrescenta contextualização. O antigo governante teve contactos prévios com os Estados Unidos e terá preparado uma aproximação entre americanos e iranianos. Nesse dia, Gonzaléz tinha uma coluna de opinião no El Pais sobre a recente guerra no Líbano, onde tomava uma posição contra Israel, enquanto Gustavo de Arístegui, porta-voz do PP, escrevia no El Mundo um artigo sobre a geopolítica libanesa, expressando um ponto de vista oposto ao de Gonzaléz, e culminando dias de indecisão do PP face à questão do envio de militares espanhóis para o Líbano (dentro das forças da ONU).

Apesar de jornais independentes e que eu prezo a sua leitura, neste dia 1 mostraram um certo alinhamento partidário: o El Pais com o partido do poder, o El Mundo com o partido da oposição [claro que esta minha afirmação é mecânica, pois nos dias imediatos o El Mundo chamava a atenção para a ambiguidade de posição do PP face ao envio de militares para o Líbano].

Outra conclusão que retiro da leitura das capas dos jornais é uma preocupação com as questões internas. A primeira página versa sobre assuntos nacionais, ou de assuntos em que a Espanha é notícia no mundo como o campeonato de basquetebol ou a visita de Gonzaléz ao Irão. Uma outra conclusão é o agendamento específico do El Mundo: atentados terroristas de 11 de Março de 2004, com necessidade de descoberta de toda a verdade [foi um momento dramático, em véspera de eleições, e que contribuiu para a mudança de intenção de voto, segundo as sondagens de então] e posição adversa à crescente autonomia da Catalunha, como a notícia do ensino do castelhano. Se procurar relacionar o que um jornal e outro escrevem não há qualquer contaminação: o El Pais é imune a informar as notícias de primeira página do El Mundo, mesmo quando se trate de questões muito sérias (como o tema do 11-M e as investigações do jornal).

Sobre Portugal, nestes dias, excepto hoje, as notícias versaram sobre o acordo dos dois países sobre a água do rio Guadiana, o caso de futebol (Gil Vicente e repercussões na FIFA) e o concerto dado no sábado, em que actuaram nomeadamente Carlos do Carmo e Camané. Países vizinhos mas com poucas notícias. A excepção é no El Pais de hoje: um artigo de Mário Soares a comentar o momento político actual, com dois governos socialistas; um texto sobre Eduardo Lourenço; a vitória do ciclista Sérgio Paulinho na Vuelta.

Concluindo: os principais jornais espanhóis dão relevo às notícias internas do país, seguem o agendamento e acontecimentos não previstos (jogos de basquetebol, visita de antigo dirigente político ao Médio Oriente, entrada de imigrantes sin papeles nas ilhas Canárias) e têm menos investigação própria (excepto a do 11-M no El Mundo), não comentam as manchetes do outro jornal, têm alguma inclinação partidária (o El Pais mais à esquerda, o El Mundo mais à direita), instigam a agenda política (casos do 11-M e dos imigrantes ilegais) e dão poucas notícias do vizinho Portugal.
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Num pequeno exercício de análise da imprensa, escolhi as manchetes das primeiras páginas dos jornais espanhóis El Pais e El Mundo de 1 a 6 de Setembro. Distingui entre assuntos internos ao país e internacionais, procurando encontrar pontos comuns e divergentes da agenda mediática.

Pontos comuns, encontrei três: no dia 1, uma fotografia de Felipe Gonzaléz, antigo primeiro-ministro espanhol (socialista) recebido em Teerão pelo presidente iraniano Mahmud Ahmadineyad (grafia castelhana); no dia 2, com a vitória da Espanha na meia-final do campeonato de basquetebol ; no dia 4, com a vitória da Espanha na final do mesmo campeonato, pelo que se sagrou vencedora.








Pontos diferentes nas manchetes: no dia 1, em que o El Pais destaca a lei anti-tabaco nos restaurantes, em vigor desde aquele dia, e o El Mundo refere um incidente em torno do 11-M (atentados terroristas em Madrid); no dia 2, em que o El Pais destaca o Conselho de Ministros e a decisão de envio de soldados para o Líbano, e a questão da comissão de energia e Bruxelas, enquanto o El Mundo releva a resposta do governo face ao artigo do dia anterior sobre o 11-M; no dia 3, o El Pais apresenta duas manchetes, uma sobre a conversa futura entre Zapatero e Rajoy (líder da oposição) por causa da constituição e outra sobre o despejo tóxico da ria Arousa, ao passo que o El Mundo inicia uma entrevista com um dos implicados no 11-M; no dia 4, a segunda manchete do El Mundo vai para a continuação da entrevista do implicado nos atentados terroristas; no dia 5, o El Pais tem uma manchete relativa aos clandestinos vindos do Senegal para as Canárias, o mesmo acontecendo com o El Mundo, que continua a entrevista com o implicado no 11-M. Hoje, destaque no El Pais para uma fotolegenda com Gasol, o principal jogador da equipa vencedora de basquetebol na chegada ao país, enquanto o El Mundo mostra Zapatero e o treinador de basquetebol em fotolegenda mas continua o destaque dos dias anteriores sobre o 11-M, indicando que o PP, partido na oposição, vai levantar no parlamento a questão trabalhada pelo jornal.


O meu destaque vai para a notícia do dia 1, a visita de Gonzaléz a Teerão: enquanto o El Mundo critica frontalmente, o El Pais acrescenta contextualização. O antigo governante teve contactos prévios com os Estados Unidos e terá preparado uma aproximação entre americanos e iranianos. Nesse dia, Gonzaléz tinha uma coluna de opinião no El Pais sobre a recente guerra no Líbano, onde tomava uma posição contra Israel, enquanto Gustavo de Arístegui, porta-voz do PP, escrevia no El Mundo um artigo sobre a geopolítica libanesa, expressando um ponto de vista oposto ao de Gonzaléz, e culminando dias de indecisão do PP face à questão do envio de militares espanhóis para o Líbano (dentro das forças da ONU).

Apesar de jornais independentes e que eu prezo a sua leitura, neste dia 1 mostraram um certo alinhamento partidário: o El Pais com o partido do poder, o El Mundo com o partido da oposição [claro que esta minha afirmação é mecânica, pois nos dias imediatos o El Mundo chamava a atenção para a ambiguidade de posição do PP face ao envio de militares para o Líbano].

Outra conclusão que retiro da leitura das capas dos jornais é uma preocupação com as questões internas. A primeira página versa sobre assuntos nacionais, ou de assuntos em que a Espanha é notícia no mundo como o campeonato de basquetebol ou a visita de Gonzaléz ao Irão. Uma outra conclusão é o agendamento específico do El Mundo: atentados terroristas de 11 de Março de 2004, com necessidade de descoberta de toda a verdade [foi um momento dramático, em véspera de eleições, e que contribuiu para a mudança de intenção de voto, segundo as sondagens de então] e posição adversa à crescente autonomia da Catalunha, como a notícia do ensino do castelhano. Se procurar relacionar o que um jornal e outro escrevem não há qualquer contaminação: o El Pais é imune a informar as notícias de primeira página do El Mundo, mesmo quando se trate de questões muito sérias (como o tema do 11-M e as investigações do jornal).

Sobre Portugal, nestes dias, excepto hoje, as notícias versaram sobre o acordo dos dois países sobre a água do rio Guadiana, o caso de futebol (Gil Vicente e repercussões na FIFA) e o concerto dado no sábado, em que actuaram nomeadamente Carlos do Carmo e Camané. Países vizinhos mas com poucas notícias. A excepção é no El Pais de hoje: um artigo de Mário Soares a comentar o momento político actual, com dois governos socialistas; um texto sobre Eduardo Lourenço; a vitória do ciclista Sérgio Paulinho na Vuelta.

Concluindo: os principais jornais espanhóis dão relevo às notícias internas do país, seguem o agendamento e acontecimentos não previstos (jogos de basquetebol, visita de antigo dirigente político ao Médio Oriente, entrada de imigrantes sin papeles nas ilhas Canárias) e têm menos investigação própria (excepto a do 11-M no El Mundo), não comentam as manchetes do outro jornal, têm alguma inclinação partidária (o El Pais mais à esquerda, o El Mundo mais à direita), instigam a agenda política (casos do 11-M e dos imigrantes ilegais) e dão poucas notícias do vizinho Portugal.
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Pontos comuns, encontrei três: no dia 1, uma fotografia de Felipe Gonzaléz, antigo primeiro-ministro espanhol (socialista) recebido em Teerão pelo presidente iraniano Mahmud Ahmadineyad (grafia castelhana); no dia 2, com a vitória da Espanha na meia-final do campeonato de basquetebol ; no dia 4, com a vitória da Espanha na final do mesmo campeonato, pelo que se sagrou vencedora.








Pontos diferentes nas manchetes: no dia 1, em que o El Pais destaca a lei anti-tabaco nos restaurantes, em vigor desde aquele dia, e o El Mundo refere um incidente em torno do 11-M (atentados terroristas em Madrid); no dia 2, em que o El Pais destaca o Conselho de Ministros e a decisão de envio de soldados para o Líbano, e a questão da comissão de energia e Bruxelas, enquanto o El Mundo releva a resposta do governo face ao artigo do dia anterior sobre o 11-M; no dia 3, o El Pais apresenta duas manchetes, uma sobre a conversa futura entre Zapatero e Rajoy (líder da oposição) por causa da constituição e outra sobre o despejo tóxico da ria Arousa, ao passo que o El Mundo inicia uma entrevista com um dos implicados no 11-M; no dia 4, a segunda manchete do El Mundo vai para a continuação da entrevista do implicado nos atentados terroristas; no dia 5, o El Pais tem uma manchete relativa aos clandestinos vindos do Senegal para as Canárias, o mesmo acontecendo com o El Mundo, que continua a entrevista com o implicado no 11-M. Hoje, destaque no El Pais para uma fotolegenda com Gasol, o principal jogador da equipa vencedora de basquetebol na chegada ao país, enquanto o El Mundo mostra Zapatero e o treinador de basquetebol em fotolegenda mas continua o destaque dos dias anteriores sobre o 11-M, indicando que o PP, partido na oposição, vai levantar no parlamento a questão trabalhada pelo jornal.


O meu destaque vai para a notícia do dia 1, a visita de Gonzaléz a Teerão: enquanto o El Mundo critica frontalmente, o El Pais acrescenta contextualização. O antigo governante teve contactos prévios com os Estados Unidos e terá preparado uma aproximação entre americanos e iranianos. Nesse dia, Gonzaléz tinha uma coluna de opinião no El Pais sobre a recente guerra no Líbano, onde tomava uma posição contra Israel, enquanto Gustavo de Arístegui, porta-voz do PP, escrevia no El Mundo um artigo sobre a geopolítica libanesa, expressando um ponto de vista oposto ao de Gonzaléz, e culminando dias de indecisão do PP face à questão do envio de militares espanhóis para o Líbano (dentro das forças da ONU).

Apesar de jornais independentes e que eu prezo a sua leitura, neste dia 1 mostraram um certo alinhamento partidário: o El Pais com o partido do poder, o El Mundo com o partido da oposição [claro que esta minha afirmação é mecânica, pois nos dias imediatos o El Mundo chamava a atenção para a ambiguidade de posição do PP face ao envio de militares para o Líbano].

Outra conclusão que retiro da leitura das capas dos jornais é uma preocupação com as questões internas. A primeira página versa sobre assuntos nacionais, ou de assuntos em que a Espanha é notícia no mundo como o campeonato de basquetebol ou a visita de Gonzaléz ao Irão. Uma outra conclusão é o agendamento específico do El Mundo: atentados terroristas de 11 de Março de 2004, com necessidade de descoberta de toda a verdade [foi um momento dramático, em véspera de eleições, e que contribuiu para a mudança de intenção de voto, segundo as sondagens de então] e posição adversa à crescente autonomia da Catalunha, como a notícia do ensino do castelhano. Se procurar relacionar o que um jornal e outro escrevem não há qualquer contaminação: o El Pais é imune a informar as notícias de primeira página do El Mundo, mesmo quando se trate de questões muito sérias (como o tema do 11-M e as investigações do jornal).

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