Sábado, 29 de Julho de 2006
Sexta-feira, 28 de Julho de 2006
Embora a ritmo lento, os investigadores portugueses começam a publicar trabalhos sobre o jornalismo no século XX. O primeiro exemplo é a entrevista concedida por Ana Cabrera a Carla Baptista, no último número da revista JJ - Jornalismo e Jornalistas (nº 26). A razão principal da entrevista é a tese de doutoramento de Ana Cabrera sobre Marcelo Caetano e a imprensa, cuja edição em livro está concluída (Marcello Caetano: poder e imprensa, Livros Horizonte, 286 páginas, a lançar em Setembro).
Um dos tópicos investigados foi a lei da imprensa aprovada no tempo de governação de Marcelo Caetano (1968-1974). Para Ana Cabrera, foi criada a expectativa que Caetano seria um homem de mudança, face a Salazar. Desde 1968 que a imprensa (Diário de Lisboa, Diário Popular, A Capital) se referia à lei de imprensa, mesmo em artigos de fundo. Um abaixo-assinado, reunindo mais de 170 jornalistas de jornais de Lisboa e Porto, pediu-a; em 1971, surgiriam três propostas: dos próprios jornalistas e, na Assembleia Nacional, uma afecta ao Governo e outra assinada pelos deputados da ala liberal Sá Carneiro e Francisco Pinto Balsemão. Contudo, a lei de imprensa criada em 1971 e regulamentada em 1972 nada teria a ver com liberdade de imprensa, apesar da expressão atravessar todo o articulado.
Outro dos tópicos da investigação prende-se com o contexto económico dos anos 70. Para Ana Cabrera, a passagem de Marcelo Caetano pelo poder coincide com um período de compra dos jornais por grupos económicos. A imprensa é uma forma de afirmação desses grupos económicos. Caetano apoiou as aquisições: se um jornal estava em má situação financeira, eram feitos esforços para não acabar com o título mas vendê-lo a um grupo que o tornasse viável. O único jornal a fugir a esta tendênia seria o Diário de Lisboa.
Um terceiro tópico da entrevista a Ana Cabrera incide sobre a ideia de os jornalistas serem uma elite no Estado Novo. Apesar de reduzido (353 jornalistas em 1960, 717 em 1974), os jornalistas eram um grupo próximo do poder e os seus salários, apesar de não muito elevados, eram superiores aos de outros grupos importantes como o dos professores. Para a investigadora, os jornalistas reuniam três condições das elites: trabalho na área da cultura, próximo dos assuntos de interesse do Estado e salários elevados. Faltar-lhes-ia um indicador importante para a definição de elite: a preparação académica acima da média.
É exactamente a questão académica - e a necessidade de cursos específicos para o jornalismo - que um artigo, assinado por Fernando Correia e Carla Baptista, aborda. Publicado na revista Cultura, Revista da História e Teoria das Ideias (2005), com o título O ensino e a valorização profissional do jornalismo em Portugal (1940/1974), os dois investigadores destacam o I Curso de Jornalismo iniciado em 21 de Novembro de 1968, promovido pelo Sindicato Nacional dos Jornalistas. A duração do curso seria de quatro meses, quatro dias por semana, em horário pós-laboral com duas sessões de 50 minutos cada. Inscritos: 200 pessoas. Nuno Rocha, responsável pela publicação oficial do sindicato, exprimia-se assim: "o êxito da iniciativa excedeu as expectativas do sindicato".
As matérias e professores eram os seguintes: Língua Portuguesa (José Manuel Tavares), História Contemporânea (Joel Serrão), Doutrinas Filosóficas (Luís Ardisson Pereira), Direito (Nogueira de Brito), Economia (Xavier Pintado), História da Imprensa (José Manuel Tengarrinha), A Comunicação e os seus Meios (Navarro de Andrade), Prática da Comunicação (João Gomes), Sociologia da Comunicação (José Júlio Gonçalves), Técnicas Gráficas (Vítor da Silva), Panorâmica da Imprensa Estrangeira e Análise de Conteúdo (José Lechner). A maioria dos formadores eram professores universitários e liceais, enquanto João Gomes e José Lechner eram jornalistas e recém-licenciados pela Escola Superior de Jornalismo de Lille (França).
Com esta experiência, acumulada como outras propostas anteriores, o Sindicato Nacional de Jornalistas apresentou, em 1970, um "Projecto de Ensino de Jornalismo em Portugal", documento de 19 páginas assinadas por Manuel Silva Costa, presidente do sindicato, Jacinto Baptista, João Gomes, Cáceres Monteiro, José Lechner, Oliveira Figueiredo e Carlos Ponte Leça. O documento apontava a inexistência de uma escola de comunicação social, facto raro no conjunto de países do mundo. O projecto apontava para a existência de três níveis de habilitações: bacharel, licenciado e doutor. As cadeiras a ministrar incluiam sociologia, economia, história contemporânea, linguística, ciência política, sociologia da informação, jornalismo comparado e metodologia da pesquisa social. Mas a oposição ao projecto não permitiu a sua concretização.
O texto de Fernando Correia e Carla Baptista termina com informação sobre a primeira verdadeira escola de comunicação social, criada pelo ISLA (Instituto Superior de Línguas e Administração) - e que elimina a ideia do curso de Comunicação Social da Universidade Nova de Lisboa como o mais antigo do país. Em 1970, aquela escola superior solicitava a criação da Escola Superior de Meios de Comunicação Social (ESMCS), começando a funcionar no ano lectivo de 1971-1972. Tinha sustentação jurídica e económica (através do Banco Borges & Irmão, detentor dos jornais Diário Popular e Jornal do Comércio e da agência de publicidade Latina). O director da escola era o embaixador Martinho Nobre de Melo. José Lechner, já acima referido, era um dos docentes. A mudança de regime político e a nacionalização da banca afectaram a ESCMS, extinta já na década de 1980.
Notas finais: para além do lançamento em Setembro do livro Marcello Caetano: poder e imprensa, de Ana Cabrera, esta investigadora coordena o número 9 da revista Media & Jornalismo (do Centro de Investigação Media & Jornalismo), com textos de história da imprensa do século XX, a sair previsivelmente em Novembro.
Embora a ritmo lento, os investigadores portugueses começam a publicar trabalhos sobre o jornalismo no século XX. O primeiro exemplo é a entrevista concedida por Ana Cabrera a Carla Baptista, no último número da revista JJ - Jornalismo e Jornalistas (nº 26). A razão principal da entrevista é a tese de doutoramento de Ana Cabrera sobre Marcelo Caetano e a imprensa, cuja edição em livro está concluída (Marcello Caetano: poder e imprensa, Livros Horizonte, 286 páginas, a lançar em Setembro).
Um dos tópicos investigados foi a lei da imprensa aprovada no tempo de governação de Marcelo Caetano (1968-1974). Para Ana Cabrera, foi criada a expectativa que Caetano seria um homem de mudança, face a Salazar. Desde 1968 que a imprensa (Diário de Lisboa, Diário Popular, A Capital) se referia à lei de imprensa, mesmo em artigos de fundo. Um abaixo-assinado, reunindo mais de 170 jornalistas de jornais de Lisboa e Porto, pediu-a; em 1971, surgiriam três propostas: dos próprios jornalistas e, na Assembleia Nacional, uma afecta ao Governo e outra assinada pelos deputados da ala liberal Sá Carneiro e Francisco Pinto Balsemão. Contudo, a lei de imprensa criada em 1971 e regulamentada em 1972 nada teria a ver com liberdade de imprensa, apesar da expressão atravessar todo o articulado.
Outro dos tópicos da investigação prende-se com o contexto económico dos anos 70. Para Ana Cabrera, a passagem de Marcelo Caetano pelo poder coincide com um período de compra dos jornais por grupos económicos. A imprensa é uma forma de afirmação desses grupos económicos. Caetano apoiou as aquisições: se um jornal estava em má situação financeira, eram feitos esforços para não acabar com o título mas vendê-lo a um grupo que o tornasse viável. O único jornal a fugir a esta tendênia seria o Diário de Lisboa.
Um terceiro tópico da entrevista a Ana Cabrera incide sobre a ideia de os jornalistas serem uma elite no Estado Novo. Apesar de reduzido (353 jornalistas em 1960, 717 em 1974), os jornalistas eram um grupo próximo do poder e os seus salários, apesar de não muito elevados, eram superiores aos de outros grupos importantes como o dos professores. Para a investigadora, os jornalistas reuniam três condições das elites: trabalho na área da cultura, próximo dos assuntos de interesse do Estado e salários elevados. Faltar-lhes-ia um indicador importante para a definição de elite: a preparação académica acima da média.
É exactamente a questão académica - e a necessidade de cursos específicos para o jornalismo - que um artigo, assinado por Fernando Correia e Carla Baptista, aborda. Publicado na revista Cultura, Revista da História e Teoria das Ideias (2005), com o título O ensino e a valorização profissional do jornalismo em Portugal (1940/1974), os dois investigadores destacam o I Curso de Jornalismo iniciado em 21 de Novembro de 1968, promovido pelo Sindicato Nacional dos Jornalistas. A duração do curso seria de quatro meses, quatro dias por semana, em horário pós-laboral com duas sessões de 50 minutos cada. Inscritos: 200 pessoas. Nuno Rocha, responsável pela publicação oficial do sindicato, exprimia-se assim: "o êxito da iniciativa excedeu as expectativas do sindicato".
As matérias e professores eram os seguintes: Língua Portuguesa (José Manuel Tavares), História Contemporânea (Joel Serrão), Doutrinas Filosóficas (Luís Ardisson Pereira), Direito (Nogueira de Brito), Economia (Xavier Pintado), História da Imprensa (José Manuel Tengarrinha), A Comunicação e os seus Meios (Navarro de Andrade), Prática da Comunicação (João Gomes), Sociologia da Comunicação (José Júlio Gonçalves), Técnicas Gráficas (Vítor da Silva), Panorâmica da Imprensa Estrangeira e Análise de Conteúdo (José Lechner). A maioria dos formadores eram professores universitários e liceais, enquanto João Gomes e José Lechner eram jornalistas e recém-licenciados pela Escola Superior de Jornalismo de Lille (França).
Com esta experiência, acumulada como outras propostas anteriores, o Sindicato Nacional de Jornalistas apresentou, em 1970, um "Projecto de Ensino de Jornalismo em Portugal", documento de 19 páginas assinadas por Manuel Silva Costa, presidente do sindicato, Jacinto Baptista, João Gomes, Cáceres Monteiro, José Lechner, Oliveira Figueiredo e Carlos Ponte Leça. O documento apontava a inexistência de uma escola de comunicação social, facto raro no conjunto de países do mundo. O projecto apontava para a existência de três níveis de habilitações: bacharel, licenciado e doutor. As cadeiras a ministrar incluiam sociologia, economia, história contemporânea, linguística, ciência política, sociologia da informação, jornalismo comparado e metodologia da pesquisa social. Mas a oposição ao projecto não permitiu a sua concretização.
O texto de Fernando Correia e Carla Baptista termina com informação sobre a primeira verdadeira escola de comunicação social, criada pelo ISLA (Instituto Superior de Línguas e Administração) - e que elimina a ideia do curso de Comunicação Social da Universidade Nova de Lisboa como o mais antigo do país. Em 1970, aquela escola superior solicitava a criação da Escola Superior de Meios de Comunicação Social (ESMCS), começando a funcionar no ano lectivo de 1971-1972. Tinha sustentação jurídica e económica (através do Banco Borges & Irmão, detentor dos jornais Diário Popular e Jornal do Comércio e da agência de publicidade Latina). O director da escola era o embaixador Martinho Nobre de Melo. José Lechner, já acima referido, era um dos docentes. A mudança de regime político e a nacionalização da banca afectaram a ESCMS, extinta já na década de 1980.
Notas finais: para além do lançamento em Setembro do livro Marcello Caetano: poder e imprensa, de Ana Cabrera, esta investigadora coordena o número 9 da revista Media & Jornalismo (do Centro de Investigação Media & Jornalismo), com textos de história da imprensa do século XX, a sair previsivelmente em Novembro.
Embora a ritmo lento, os investigadores portugueses começam a publicar trabalhos sobre o jornalismo no século XX. O primeiro exemplo é a entrevista concedida por Ana Cabrera a Carla Baptista, no último número da revista JJ - Jornalismo e Jornalistas (nº 26). A razão principal da entrevista é a tese de doutoramento de Ana Cabrera sobre Marcelo Caetano e a imprensa, cuja edição em livro está concluída (Marcello Caetano: poder e imprensa, Livros Horizonte, 286 páginas, a lançar em Setembro).
Um dos tópicos investigados foi a lei da imprensa aprovada no tempo de governação de Marcelo Caetano (1968-1974). Para Ana Cabrera, foi criada a expectativa que Caetano seria um homem de mudança, face a Salazar. Desde 1968 que a imprensa (Diário de Lisboa, Diário Popular, A Capital) se referia à lei de imprensa, mesmo em artigos de fundo. Um abaixo-assinado, reunindo mais de 170 jornalistas de jornais de Lisboa e Porto, pediu-a; em 1971, surgiriam três propostas: dos próprios jornalistas e, na Assembleia Nacional, uma afecta ao Governo e outra assinada pelos deputados da ala liberal Sá Carneiro e Francisco Pinto Balsemão. Contudo, a lei de imprensa criada em 1971 e regulamentada em 1972 nada teria a ver com liberdade de imprensa, apesar da expressão atravessar todo o articulado.
Outro dos tópicos da investigação prende-se com o contexto económico dos anos 70. Para Ana Cabrera, a passagem de Marcelo Caetano pelo poder coincide com um período de compra dos jornais por grupos económicos. A imprensa é uma forma de afirmação desses grupos económicos. Caetano apoiou as aquisições: se um jornal estava em má situação financeira, eram feitos esforços para não acabar com o título mas vendê-lo a um grupo que o tornasse viável. O único jornal a fugir a esta tendênia seria o Diário de Lisboa.
Um terceiro tópico da entrevista a Ana Cabrera incide sobre a ideia de os jornalistas serem uma elite no Estado Novo. Apesar de reduzido (353 jornalistas em 1960, 717 em 1974), os jornalistas eram um grupo próximo do poder e os seus salários, apesar de não muito elevados, eram superiores aos de outros grupos importantes como o dos professores. Para a investigadora, os jornalistas reuniam três condições das elites: trabalho na área da cultura, próximo dos assuntos de interesse do Estado e salários elevados. Faltar-lhes-ia um indicador importante para a definição de elite: a preparação académica acima da média.
É exactamente a questão académica - e a necessidade de cursos específicos para o jornalismo - que um artigo, assinado por Fernando Correia e Carla Baptista, aborda. Publicado na revista Cultura, Revista da História e Teoria das Ideias (2005), com o título O ensino e a valorização profissional do jornalismo em Portugal (1940/1974), os dois investigadores destacam o I Curso de Jornalismo iniciado em 21 de Novembro de 1968, promovido pelo Sindicato Nacional dos Jornalistas. A duração do curso seria de quatro meses, quatro dias por semana, em horário pós-laboral com duas sessões de 50 minutos cada. Inscritos: 200 pessoas. Nuno Rocha, responsável pela publicação oficial do sindicato, exprimia-se assim: "o êxito da iniciativa excedeu as expectativas do sindicato".
As matérias e professores eram os seguintes: Língua Portuguesa (José Manuel Tavares), História Contemporânea (Joel Serrão), Doutrinas Filosóficas (Luís Ardisson Pereira), Direito (Nogueira de Brito), Economia (Xavier Pintado), História da Imprensa (José Manuel Tengarrinha), A Comunicação e os seus Meios (Navarro de Andrade), Prática da Comunicação (João Gomes), Sociologia da Comunicação (José Júlio Gonçalves), Técnicas Gráficas (Vítor da Silva), Panorâmica da Imprensa Estrangeira e Análise de Conteúdo (José Lechner). A maioria dos formadores eram professores universitários e liceais, enquanto João Gomes e José Lechner eram jornalistas e recém-licenciados pela Escola Superior de Jornalismo de Lille (França).
Com esta experiência, acumulada como outras propostas anteriores, o Sindicato Nacional de Jornalistas apresentou, em 1970, um "Projecto de Ensino de Jornalismo em Portugal", documento de 19 páginas assinadas por Manuel Silva Costa, presidente do sindicato, Jacinto Baptista, João Gomes, Cáceres Monteiro, José Lechner, Oliveira Figueiredo e Carlos Ponte Leça. O documento apontava a inexistência de uma escola de comunicação social, facto raro no conjunto de países do mundo. O projecto apontava para a existência de três níveis de habilitações: bacharel, licenciado e doutor. As cadeiras a ministrar incluiam sociologia, economia, história contemporânea, linguística, ciência política, sociologia da informação, jornalismo comparado e metodologia da pesquisa social. Mas a oposição ao projecto não permitiu a sua concretização.
O texto de Fernando Correia e Carla Baptista termina com informação sobre a primeira verdadeira escola de comunicação social, criada pelo ISLA (Instituto Superior de Línguas e Administração) - e que elimina a ideia do curso de Comunicação Social da Universidade Nova de Lisboa como o mais antigo do país. Em 1970, aquela escola superior solicitava a criação da Escola Superior de Meios de Comunicação Social (ESMCS), começando a funcionar no ano lectivo de 1971-1972. Tinha sustentação jurídica e económica (através do Banco Borges & Irmão, detentor dos jornais Diário Popular e Jornal do Comércio e da agência de publicidade Latina). O director da escola era o embaixador Martinho Nobre de Melo. José Lechner, já acima referido, era um dos docentes. A mudança de regime político e a nacionalização da banca afectaram a ESCMS, extinta já na década de 1980.
Notas finais: para além do lançamento em Setembro do livro Marcello Caetano: poder e imprensa, de Ana Cabrera, esta investigadora coordena o número 9 da revista Media & Jornalismo (do Centro de Investigação Media & Jornalismo), com textos de história da imprensa do século XX, a sair previsivelmente em Novembro.
Embora a ritmo lento, os investigadores portugueses começam a publicar trabalhos sobre o jornalismo no século XX. O primeiro exemplo é a entrevista concedida por Ana Cabrera a Carla Baptista, no último número da revista JJ - Jornalismo e Jornalistas (nº 26). A razão principal da entrevista é a tese de doutoramento de Ana Cabrera sobre Marcelo Caetano e a imprensa, cuja edição em livro está concluída (Marcello Caetano: poder e imprensa, Livros Horizonte, 286 páginas, a lançar em Setembro).
Um dos tópicos investigados foi a lei da imprensa aprovada no tempo de governação de Marcelo Caetano (1968-1974). Para Ana Cabrera, foi criada a expectativa que Caetano seria um homem de mudança, face a Salazar. Desde 1968 que a imprensa (Diário de Lisboa, Diário Popular, A Capital) se referia à lei de imprensa, mesmo em artigos de fundo. Um abaixo-assinado, reunindo mais de 170 jornalistas de jornais de Lisboa e Porto, pediu-a; em 1971, surgiriam três propostas: dos próprios jornalistas e, na Assembleia Nacional, uma afecta ao Governo e outra assinada pelos deputados da ala liberal Sá Carneiro e Francisco Pinto Balsemão. Contudo, a lei de imprensa criada em 1971 e regulamentada em 1972 nada teria a ver com liberdade de imprensa, apesar da expressão atravessar todo o articulado.
Outro dos tópicos da investigação prende-se com o contexto económico dos anos 70. Para Ana Cabrera, a passagem de Marcelo Caetano pelo poder coincide com um período de compra dos jornais por grupos económicos. A imprensa é uma forma de afirmação desses grupos económicos. Caetano apoiou as aquisições: se um jornal estava em má situação financeira, eram feitos esforços para não acabar com o título mas vendê-lo a um grupo que o tornasse viável. O único jornal a fugir a esta tendênia seria o Diário de Lisboa.
Um terceiro tópico da entrevista a Ana Cabrera incide sobre a ideia de os jornalistas serem uma elite no Estado Novo. Apesar de reduzido (353 jornalistas em 1960, 717 em 1974), os jornalistas eram um grupo próximo do poder e os seus salários, apesar de não muito elevados, eram superiores aos de outros grupos importantes como o dos professores. Para a investigadora, os jornalistas reuniam três condições das elites: trabalho na área da cultura, próximo dos assuntos de interesse do Estado e salários elevados. Faltar-lhes-ia um indicador importante para a definição de elite: a preparação académica acima da média.
É exactamente a questão académica - e a necessidade de cursos específicos para o jornalismo - que um artigo, assinado por Fernando Correia e Carla Baptista, aborda. Publicado na revista Cultura, Revista da História e Teoria das Ideias (2005), com o título O ensino e a valorização profissional do jornalismo em Portugal (1940/1974), os dois investigadores destacam o I Curso de Jornalismo iniciado em 21 de Novembro de 1968, promovido pelo Sindicato Nacional dos Jornalistas. A duração do curso seria de quatro meses, quatro dias por semana, em horário pós-laboral com duas sessões de 50 minutos cada. Inscritos: 200 pessoas. Nuno Rocha, responsável pela publicação oficial do sindicato, exprimia-se assim: "o êxito da iniciativa excedeu as expectativas do sindicato".
As matérias e professores eram os seguintes: Língua Portuguesa (José Manuel Tavares), História Contemporânea (Joel Serrão), Doutrinas Filosóficas (Luís Ardisson Pereira), Direito (Nogueira de Brito), Economia (Xavier Pintado), História da Imprensa (José Manuel Tengarrinha), A Comunicação e os seus Meios (Navarro de Andrade), Prática da Comunicação (João Gomes), Sociologia da Comunicação (José Júlio Gonçalves), Técnicas Gráficas (Vítor da Silva), Panorâmica da Imprensa Estrangeira e Análise de Conteúdo (José Lechner). A maioria dos formadores eram professores universitários e liceais, enquanto João Gomes e José Lechner eram jornalistas e recém-licenciados pela Escola Superior de Jornalismo de Lille (França).
Com esta experiência, acumulada como outras propostas anteriores, o Sindicato Nacional de Jornalistas apresentou, em 1970, um "Projecto de Ensino de Jornalismo em Portugal", documento de 19 páginas assinadas por Manuel Silva Costa, presidente do sindicato, Jacinto Baptista, João Gomes, Cáceres Monteiro, José Lechner, Oliveira Figueiredo e Carlos Ponte Leça. O documento apontava a inexistência de uma escola de comunicação social, facto raro no conjunto de países do mundo. O projecto apontava para a existência de três níveis de habilitações: bacharel, licenciado e doutor. As cadeiras a ministrar incluiam sociologia, economia, história contemporânea, linguística, ciência política, sociologia da informação, jornalismo comparado e metodologia da pesquisa social. Mas a oposição ao projecto não permitiu a sua concretização.
O texto de Fernando Correia e Carla Baptista termina com informação sobre a primeira verdadeira escola de comunicação social, criada pelo ISLA (Instituto Superior de Línguas e Administração) - e que elimina a ideia do curso de Comunicação Social da Universidade Nova de Lisboa como o mais antigo do país. Em 1970, aquela escola superior solicitava a criação da Escola Superior de Meios de Comunicação Social (ESMCS), começando a funcionar no ano lectivo de 1971-1972. Tinha sustentação jurídica e económica (através do Banco Borges & Irmão, detentor dos jornais Diário Popular e Jornal do Comércio e da agência de publicidade Latina). O director da escola era o embaixador Martinho Nobre de Melo. José Lechner, já acima referido, era um dos docentes. A mudança de regime político e a nacionalização da banca afectaram a ESCMS, extinta já na década de 1980.
Notas finais: para além do lançamento em Setembro do livro Marcello Caetano: poder e imprensa, de Ana Cabrera, esta investigadora coordena o número 9 da revista Media & Jornalismo (do Centro de Investigação Media & Jornalismo), com textos de história da imprensa do século XX, a sair previsivelmente em Novembro.
Embora a ritmo lento, os investigadores portugueses começam a publicar trabalhos sobre o jornalismo no século XX. O primeiro exemplo é a entrevista concedida por Ana Cabrera a Carla Baptista, no último número da revista JJ - Jornalismo e Jornalistas (nº 26). A razão principal da entrevista é a tese de doutoramento de Ana Cabrera sobre Marcelo Caetano e a imprensa, cuja edição em livro está concluída (Marcello Caetano: poder e imprensa, Livros Horizonte, 286 páginas, a lançar em Setembro).
Um dos tópicos investigados foi a lei da imprensa aprovada no tempo de governação de Marcelo Caetano (1968-1974). Para Ana Cabrera, foi criada a expectativa que Caetano seria um homem de mudança, face a Salazar. Desde 1968 que a imprensa (Diário de Lisboa, Diário Popular, A Capital) se referia à lei de imprensa, mesmo em artigos de fundo. Um abaixo-assinado, reunindo mais de 170 jornalistas de jornais de Lisboa e Porto, pediu-a; em 1971, surgiriam três propostas: dos próprios jornalistas e, na Assembleia Nacional, uma afecta ao Governo e outra assinada pelos deputados da ala liberal Sá Carneiro e Francisco Pinto Balsemão. Contudo, a lei de imprensa criada em 1971 e regulamentada em 1972 nada teria a ver com liberdade de imprensa, apesar da expressão atravessar todo o articulado.
Outro dos tópicos da investigação prende-se com o contexto económico dos anos 70. Para Ana Cabrera, a passagem de Marcelo Caetano pelo poder coincide com um período de compra dos jornais por grupos económicos. A imprensa é uma forma de afirmação desses grupos económicos. Caetano apoiou as aquisições: se um jornal estava em má situação financeira, eram feitos esforços para não acabar com o título mas vendê-lo a um grupo que o tornasse viável. O único jornal a fugir a esta tendênia seria o Diário de Lisboa.
Um terceiro tópico da entrevista a Ana Cabrera incide sobre a ideia de os jornalistas serem uma elite no Estado Novo. Apesar de reduzido (353 jornalistas em 1960, 717 em 1974), os jornalistas eram um grupo próximo do poder e os seus salários, apesar de não muito elevados, eram superiores aos de outros grupos importantes como o dos professores. Para a investigadora, os jornalistas reuniam três condições das elites: trabalho na área da cultura, próximo dos assuntos de interesse do Estado e salários elevados. Faltar-lhes-ia um indicador importante para a definição de elite: a preparação académica acima da média.
É exactamente a questão académica - e a necessidade de cursos específicos para o jornalismo - que um artigo, assinado por Fernando Correia e Carla Baptista, aborda. Publicado na revista Cultura, Revista da História e Teoria das Ideias (2005), com o título O ensino e a valorização profissional do jornalismo em Portugal (1940/1974), os dois investigadores destacam o I Curso de Jornalismo iniciado em 21 de Novembro de 1968, promovido pelo Sindicato Nacional dos Jornalistas. A duração do curso seria de quatro meses, quatro dias por semana, em horário pós-laboral com duas sessões de 50 minutos cada. Inscritos: 200 pessoas. Nuno Rocha, responsável pela publicação oficial do sindicato, exprimia-se assim: "o êxito da iniciativa excedeu as expectativas do sindicato".
As matérias e professores eram os seguintes: Língua Portuguesa (José Manuel Tavares), História Contemporânea (Joel Serrão), Doutrinas Filosóficas (Luís Ardisson Pereira), Direito (Nogueira de Brito), Economia (Xavier Pintado), História da Imprensa (José Manuel Tengarrinha), A Comunicação e os seus Meios (Navarro de Andrade), Prática da Comunicação (João Gomes), Sociologia da Comunicação (José Júlio Gonçalves), Técnicas Gráficas (Vítor da Silva), Panorâmica da Imprensa Estrangeira e Análise de Conteúdo (José Lechner). A maioria dos formadores eram professores universitários e liceais, enquanto João Gomes e José Lechner eram jornalistas e recém-licenciados pela Escola Superior de Jornalismo de Lille (França).
Com esta experiência, acumulada como outras propostas anteriores, o Sindicato Nacional de Jornalistas apresentou, em 1970, um "Projecto de Ensino de Jornalismo em Portugal", documento de 19 páginas assinadas por Manuel Silva Costa, presidente do sindicato, Jacinto Baptista, João Gomes, Cáceres Monteiro, José Lechner, Oliveira Figueiredo e Carlos Ponte Leça. O documento apontava a inexistência de uma escola de comunicação social, facto raro no conjunto de países do mundo. O projecto apontava para a existência de três níveis de habilitações: bacharel, licenciado e doutor. As cadeiras a ministrar incluiam sociologia, economia, história contemporânea, linguística, ciência política, sociologia da informação, jornalismo comparado e metodologia da pesquisa social. Mas a oposição ao projecto não permitiu a sua concretização.
O texto de Fernando Correia e Carla Baptista termina com informação sobre a primeira verdadeira escola de comunicação social, criada pelo ISLA (Instituto Superior de Línguas e Administração) - e que elimina a ideia do curso de Comunicação Social da Universidade Nova de Lisboa como o mais antigo do país. Em 1970, aquela escola superior solicitava a criação da Escola Superior de Meios de Comunicação Social (ESMCS), começando a funcionar no ano lectivo de 1971-1972. Tinha sustentação jurídica e económica (através do Banco Borges & Irmão, detentor dos jornais Diário Popular e Jornal do Comércio e da agência de publicidade Latina). O director da escola era o embaixador Martinho Nobre de Melo. José Lechner, já acima referido, era um dos docentes. A mudança de regime político e a nacionalização da banca afectaram a ESCMS, extinta já na década de 1980.
Notas finais: para além do lançamento em Setembro do livro Marcello Caetano: poder e imprensa, de Ana Cabrera, esta investigadora coordena o número 9 da revista Media & Jornalismo (do Centro de Investigação Media & Jornalismo), com textos de história da imprensa do século XX, a sair previsivelmente em Novembro.