Sexta-feira, 2 de Setembro de 2005

...

FONTES DE INFORMAÇÃO (II)

[continuação da mensagem de ontem]

Quanto a estruturas dos jornalistas, a notícia do Público (24.1.2001) é suficiente para a presente mensagem. Da notícia, extrai-se a ideia que existem duas categorias de “escritores” dos jornais – os jornalistas propriamente ditos e os comentadores políticos (que podem ser editorialistas, colunistas, líderes de opinião, dirigentes de partidos e outras organizações escutadas regularmente pelos jornalistas). Hoje, o espaço opinativo (editoriais, colunas) é cada vez maior. Outra ideia do texto destaca a visibilidade ou não do jornalista ou comentador. Não aparecer na televisão e nas publicações dá um ar de recato, reserva os seus actos para os gabinetes ou os corredores. A fuga de informação funciona melhor nestes espaços privados. Não explícito no texto é a ideia de pingue-pongue ou de circulação das informações. Ao mostrar influência e os seus textos aparecerem destacados num jornal, o jornalista ou comentador possibilita que outros agentes sociais intervenientes no campo jornalístico actuem e apresentem propostas alternativas ou opostas.

Em termos de estratégias existentes na relação entre jornalistas e fontes políticas, saliento a centralização da comunicação política (John Anthony Maltese, Spin control, 1994, pp. 215-221) ou das relações públicas políticas (Paul Manning, News and news sources – a critical introduction, 2001, pp. 108-111). Para Maltese, apesar de não haver qualquer sistema que elimine fugas ou expressões públicas de dissensão interna, a comunicação centralizada minimiza-as. Assim é também a capacidade de tecer uma história – manipular não apenas o que os funcionários superiores dizem mas o que os media noticiosos dizem sobre eles. Tecer uma história envolve dar prioridade a um jornalista, fazer comunicados e encontrar outras fontes que libertem uma informação de ângulo diferente e que dêem à história o melhor brilho possível. O tecer com êxito envolve também convencer os media noticiosos, através de encontros e outros métodos de persuasão. Ao seleccionar símbolos, construir significados, oferecendo uma variedade indo das ameaças à confiança, um funcionário ajuda a fornecer uma dada perspectiva de paisagem política para consumo público. Todo o livro de Maltese é uma análise exaustiva dos organigramas estruturais dos gabinetes de imprensa dos presidentes americanos, de Nixon a Clinton, e o modo como essas “pequenas” máquinas produzem acontecimentos públicos e políticos.

Por seu lado, para Manning a gestão da informação tem sido uma contínua preocupação governamental. A distinção entre informação pública e propaganda partidária (ou governamental) é difícil de sustentar. O investimento publicitário governamental de Thatcher [Reino Unido] em relações públicas e trabalho mediático de todo o tipo cresceu dez vezes numa década, de modo que, em 1988, apenas a Unilever e a Procter & Gamble gastaram mais em publicidade que o governo. Thatcher teve, ao seu serviço, as mais importantes técnicas de marketing político usadas nos Estados Unidos. Certo que, nesse período, muitos dos anúncios foram sobre empresas públicas a privatizar.

A chegada de Blair deu um novo realce ao controlo da informação, à gestão das notícias e à sua centralização. Em 1997, saiu um relatório (Mountfield) preconizando a modernização do serviço de informações governamentais. Aí se apontou a criação de uma unidade estratégica de comunicação, para trabalhar directamente com Alistair Campbell, o secretário de imprensa de Blair [que, entretanto, abandonou o seu posto devido a questão relacionada com a guerra do Iraque]. Objectivos: o governo nunca apoia informação “neutra” (é sempre político o tipo de informação, o seu âmbito, formato e organização); a politização da informação faz alterar, por exemplo, o cálculo dos níveis de desemprego e desaparecer medidas de pobreza, processo iniciado por Thatcher. Isto é, as informações prestadas são sobre assuntos agradáveis (investimentos, projectos a médio prazo, níveis de conforto). À oposição compete pintar o quadro de negro.

Aqui, entra o termo spin doctor (à falta de melhor, adapto-o como tecedor de factos), ao dar maior realce à apresentação e comunicação, a ponto das relações públicas políticas se tornarem uma autêntica indústria do simbólico (com as suas profissões do simbólico) [Mário Mesquita tem escrito sobre este tema]. Os tecedores de factos são funcionários públicos ou membros do partido do poder ou tiveram uma prévia responsabilidade política. Manning descreve duas grandes características destes tecedores de factos. A primeira é instrumental: eles devem possuir um grande apetite para monitorizar os media noticiosos e mostrar autoridade e discordância perante notícias consideradas inaceitáveis. Além disso, o tecedor de factos fornece informação correcta e credível, conhece os valores-notícia enquadráveis aos media noticiosos, demonstra aos jornalistas que está próximo do seu chefe político e percebe o negócio da informação (o que dar e o quando, para optimizar a informação). A segunda característica é de fôlego estratégico. O tecedor de factos tem de adquirir técnicas de “lutar contra o fogo” e de limitar danos colaterais, quando surge uma estória contrária aos interesses do governo. Uma técnica testada é a de tecer uma estória que fique longe da questão substantiva em discussão, levando a atenção dos media noticiosos para a nova estória, nítida manobra de diversão.

As estruturas e as estratégias de comunicação política associam-se à cultura. Ela pode ser adversarial, de confronto entre jornalistas e fontes de informação (na perspectiva do que José Pacheco Pereira tem escrito nos últimos anos), mas também de troca (Blumler e Gurevitch, livro acima citado, pp. 27-31). Num modelo de sociedade em que o jornalista coopera com as fontes de informação – sem, contudo, deixar de divulgar falhas e questões estruturais para bem da coisa pública – funciona a teoria pluralista e liberal, garantindo a autonomia do jornalista (objectividade, imparcialidade, audição das partes em conflito numa questão, distanciamento) perante a organização jornalística. Há, no entanto, algum espaço para a teoria da conspiração (o poder político perpetua-se no trabalho jornalístico, que reproduz as ideias dominantes), e que se detecta quando uma fonte de informação lamenta que os seus acontecimentos nunca são notícia, mas o são sempre os das forças poderosas e ricas de recursos materiais e simbólicos.

A centralização dos serviços de informações governamentais funciona em dois sentidos. No das fontes de informação, que analisam a prestação jornalística dos profissionais acreditados num lugar de permanência (newsbeat), criando círculos íntimos ou afastados (Stephen Hess, The government/press connection – press officers and their offices, 1984), conforme essa prestação e o meio noticioso a que pertence. O off-the-record, o deep background ou o exclusivo funcionam no círculo mais próximo. A fonte tecedora de factos, com apetite para ler/ver os media noticiosos, reage devido à autoridade e proximidade do chefe político e prepara histórias de dispersão, controlando os danos das histórias que não interessam ao governo [como já referi atrás]. Isto é, convém esquecer o problema e inventar outro tema (por exemplo, antecipando um projecto, com grande impacto social).

Mas a centralização dos serviços de informações governamentais também interessa aos jornalistas. A permanência num local cria facilidades logísticas, com o jornalista a aceder mais facilmente à fonte e a conhecer horários e disponibilidades organizativas. As necessidades jornalísticas adaptam-se à “libertação” de informação, quer no tempo quer no espaço, rotinizando procedimentos de recolha e circulação de informação. O comunicado e a conferência de imprensa são métodos públicos que agradam aos jornalistas. O exclusivo e o off-the-record estão reservados para os jornalistas do círculo mais íntimo.

Data real de produção do texto: 4.2.2001. Data da sua “libertação” para o Diário dos Media: 3.3.2001
publicado por industrias-culturais às 08:44
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FONTES DE INFORMAÇÃO (II)

[continuação da mensagem de ontem]

Quanto a estruturas dos jornalistas, a notícia do Público (24.1.2001) é suficiente para a presente mensagem. Da notícia, extrai-se a ideia que existem duas categorias de “escritores” dos jornais – os jornalistas propriamente ditos e os comentadores políticos (que podem ser editorialistas, colunistas, líderes de opinião, dirigentes de partidos e outras organizações escutadas regularmente pelos jornalistas). Hoje, o espaço opinativo (editoriais, colunas) é cada vez maior. Outra ideia do texto destaca a visibilidade ou não do jornalista ou comentador. Não aparecer na televisão e nas publicações dá um ar de recato, reserva os seus actos para os gabinetes ou os corredores. A fuga de informação funciona melhor nestes espaços privados. Não explícito no texto é a ideia de pingue-pongue ou de circulação das informações. Ao mostrar influência e os seus textos aparecerem destacados num jornal, o jornalista ou comentador possibilita que outros agentes sociais intervenientes no campo jornalístico actuem e apresentem propostas alternativas ou opostas.

Em termos de estratégias existentes na relação entre jornalistas e fontes políticas, saliento a centralização da comunicação política (John Anthony Maltese, Spin control, 1994, pp. 215-221) ou das relações públicas políticas (Paul Manning, News and news sources – a critical introduction, 2001, pp. 108-111). Para Maltese, apesar de não haver qualquer sistema que elimine fugas ou expressões públicas de dissensão interna, a comunicação centralizada minimiza-as. Assim é também a capacidade de tecer uma história – manipular não apenas o que os funcionários superiores dizem mas o que os media noticiosos dizem sobre eles. Tecer uma história envolve dar prioridade a um jornalista, fazer comunicados e encontrar outras fontes que libertem uma informação de ângulo diferente e que dêem à história o melhor brilho possível. O tecer com êxito envolve também convencer os media noticiosos, através de encontros e outros métodos de persuasão. Ao seleccionar símbolos, construir significados, oferecendo uma variedade indo das ameaças à confiança, um funcionário ajuda a fornecer uma dada perspectiva de paisagem política para consumo público. Todo o livro de Maltese é uma análise exaustiva dos organigramas estruturais dos gabinetes de imprensa dos presidentes americanos, de Nixon a Clinton, e o modo como essas “pequenas” máquinas produzem acontecimentos públicos e políticos.

Por seu lado, para Manning a gestão da informação tem sido uma contínua preocupação governamental. A distinção entre informação pública e propaganda partidária (ou governamental) é difícil de sustentar. O investimento publicitário governamental de Thatcher [Reino Unido] em relações públicas e trabalho mediático de todo o tipo cresceu dez vezes numa década, de modo que, em 1988, apenas a Unilever e a Procter & Gamble gastaram mais em publicidade que o governo. Thatcher teve, ao seu serviço, as mais importantes técnicas de marketing político usadas nos Estados Unidos. Certo que, nesse período, muitos dos anúncios foram sobre empresas públicas a privatizar.

A chegada de Blair deu um novo realce ao controlo da informação, à gestão das notícias e à sua centralização. Em 1997, saiu um relatório (Mountfield) preconizando a modernização do serviço de informações governamentais. Aí se apontou a criação de uma unidade estratégica de comunicação, para trabalhar directamente com Alistair Campbell, o secretário de imprensa de Blair [que, entretanto, abandonou o seu posto devido a questão relacionada com a guerra do Iraque]. Objectivos: o governo nunca apoia informação “neutra” (é sempre político o tipo de informação, o seu âmbito, formato e organização); a politização da informação faz alterar, por exemplo, o cálculo dos níveis de desemprego e desaparecer medidas de pobreza, processo iniciado por Thatcher. Isto é, as informações prestadas são sobre assuntos agradáveis (investimentos, projectos a médio prazo, níveis de conforto). À oposição compete pintar o quadro de negro.

Aqui, entra o termo spin doctor (à falta de melhor, adapto-o como tecedor de factos), ao dar maior realce à apresentação e comunicação, a ponto das relações públicas políticas se tornarem uma autêntica indústria do simbólico (com as suas profissões do simbólico) [Mário Mesquita tem escrito sobre este tema]. Os tecedores de factos são funcionários públicos ou membros do partido do poder ou tiveram uma prévia responsabilidade política. Manning descreve duas grandes características destes tecedores de factos. A primeira é instrumental: eles devem possuir um grande apetite para monitorizar os media noticiosos e mostrar autoridade e discordância perante notícias consideradas inaceitáveis. Além disso, o tecedor de factos fornece informação correcta e credível, conhece os valores-notícia enquadráveis aos media noticiosos, demonstra aos jornalistas que está próximo do seu chefe político e percebe o negócio da informação (o que dar e o quando, para optimizar a informação). A segunda característica é de fôlego estratégico. O tecedor de factos tem de adquirir técnicas de “lutar contra o fogo” e de limitar danos colaterais, quando surge uma estória contrária aos interesses do governo. Uma técnica testada é a de tecer uma estória que fique longe da questão substantiva em discussão, levando a atenção dos media noticiosos para a nova estória, nítida manobra de diversão.

As estruturas e as estratégias de comunicação política associam-se à cultura. Ela pode ser adversarial, de confronto entre jornalistas e fontes de informação (na perspectiva do que José Pacheco Pereira tem escrito nos últimos anos), mas também de troca (Blumler e Gurevitch, livro acima citado, pp. 27-31). Num modelo de sociedade em que o jornalista coopera com as fontes de informação – sem, contudo, deixar de divulgar falhas e questões estruturais para bem da coisa pública – funciona a teoria pluralista e liberal, garantindo a autonomia do jornalista (objectividade, imparcialidade, audição das partes em conflito numa questão, distanciamento) perante a organização jornalística. Há, no entanto, algum espaço para a teoria da conspiração (o poder político perpetua-se no trabalho jornalístico, que reproduz as ideias dominantes), e que se detecta quando uma fonte de informação lamenta que os seus acontecimentos nunca são notícia, mas o são sempre os das forças poderosas e ricas de recursos materiais e simbólicos.

A centralização dos serviços de informações governamentais funciona em dois sentidos. No das fontes de informação, que analisam a prestação jornalística dos profissionais acreditados num lugar de permanência (newsbeat), criando círculos íntimos ou afastados (Stephen Hess, The government/press connection – press officers and their offices, 1984), conforme essa prestação e o meio noticioso a que pertence. O off-the-record, o deep background ou o exclusivo funcionam no círculo mais próximo. A fonte tecedora de factos, com apetite para ler/ver os media noticiosos, reage devido à autoridade e proximidade do chefe político e prepara histórias de dispersão, controlando os danos das histórias que não interessam ao governo [como já referi atrás]. Isto é, convém esquecer o problema e inventar outro tema (por exemplo, antecipando um projecto, com grande impacto social).

Mas a centralização dos serviços de informações governamentais também interessa aos jornalistas. A permanência num local cria facilidades logísticas, com o jornalista a aceder mais facilmente à fonte e a conhecer horários e disponibilidades organizativas. As necessidades jornalísticas adaptam-se à “libertação” de informação, quer no tempo quer no espaço, rotinizando procedimentos de recolha e circulação de informação. O comunicado e a conferência de imprensa são métodos públicos que agradam aos jornalistas. O exclusivo e o off-the-record estão reservados para os jornalistas do círculo mais íntimo.

Data real de produção do texto: 4.2.2001. Data da sua “libertação” para o Diário dos Media: 3.3.2001
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[continuação da mensagem de ontem]

Quanto a estruturas dos jornalistas, a notícia do Público (24.1.2001) é suficiente para a presente mensagem. Da notícia, extrai-se a ideia que existem duas categorias de “escritores” dos jornais – os jornalistas propriamente ditos e os comentadores políticos (que podem ser editorialistas, colunistas, líderes de opinião, dirigentes de partidos e outras organizações escutadas regularmente pelos jornalistas). Hoje, o espaço opinativo (editoriais, colunas) é cada vez maior. Outra ideia do texto destaca a visibilidade ou não do jornalista ou comentador. Não aparecer na televisão e nas publicações dá um ar de recato, reserva os seus actos para os gabinetes ou os corredores. A fuga de informação funciona melhor nestes espaços privados. Não explícito no texto é a ideia de pingue-pongue ou de circulação das informações. Ao mostrar influência e os seus textos aparecerem destacados num jornal, o jornalista ou comentador possibilita que outros agentes sociais intervenientes no campo jornalístico actuem e apresentem propostas alternativas ou opostas.

Em termos de estratégias existentes na relação entre jornalistas e fontes políticas, saliento a centralização da comunicação política (John Anthony Maltese, Spin control, 1994, pp. 215-221) ou das relações públicas políticas (Paul Manning, News and news sources – a critical introduction, 2001, pp. 108-111). Para Maltese, apesar de não haver qualquer sistema que elimine fugas ou expressões públicas de dissensão interna, a comunicação centralizada minimiza-as. Assim é também a capacidade de tecer uma história – manipular não apenas o que os funcionários superiores dizem mas o que os media noticiosos dizem sobre eles. Tecer uma história envolve dar prioridade a um jornalista, fazer comunicados e encontrar outras fontes que libertem uma informação de ângulo diferente e que dêem à história o melhor brilho possível. O tecer com êxito envolve também convencer os media noticiosos, através de encontros e outros métodos de persuasão. Ao seleccionar símbolos, construir significados, oferecendo uma variedade indo das ameaças à confiança, um funcionário ajuda a fornecer uma dada perspectiva de paisagem política para consumo público. Todo o livro de Maltese é uma análise exaustiva dos organigramas estruturais dos gabinetes de imprensa dos presidentes americanos, de Nixon a Clinton, e o modo como essas “pequenas” máquinas produzem acontecimentos públicos e políticos.

Por seu lado, para Manning a gestão da informação tem sido uma contínua preocupação governamental. A distinção entre informação pública e propaganda partidária (ou governamental) é difícil de sustentar. O investimento publicitário governamental de Thatcher [Reino Unido] em relações públicas e trabalho mediático de todo o tipo cresceu dez vezes numa década, de modo que, em 1988, apenas a Unilever e a Procter & Gamble gastaram mais em publicidade que o governo. Thatcher teve, ao seu serviço, as mais importantes técnicas de marketing político usadas nos Estados Unidos. Certo que, nesse período, muitos dos anúncios foram sobre empresas públicas a privatizar.

A chegada de Blair deu um novo realce ao controlo da informação, à gestão das notícias e à sua centralização. Em 1997, saiu um relatório (Mountfield) preconizando a modernização do serviço de informações governamentais. Aí se apontou a criação de uma unidade estratégica de comunicação, para trabalhar directamente com Alistair Campbell, o secretário de imprensa de Blair [que, entretanto, abandonou o seu posto devido a questão relacionada com a guerra do Iraque]. Objectivos: o governo nunca apoia informação “neutra” (é sempre político o tipo de informação, o seu âmbito, formato e organização); a politização da informação faz alterar, por exemplo, o cálculo dos níveis de desemprego e desaparecer medidas de pobreza, processo iniciado por Thatcher. Isto é, as informações prestadas são sobre assuntos agradáveis (investimentos, projectos a médio prazo, níveis de conforto). À oposição compete pintar o quadro de negro.

Aqui, entra o termo spin doctor (à falta de melhor, adapto-o como tecedor de factos), ao dar maior realce à apresentação e comunicação, a ponto das relações públicas políticas se tornarem uma autêntica indústria do simbólico (com as suas profissões do simbólico) [Mário Mesquita tem escrito sobre este tema]. Os tecedores de factos são funcionários públicos ou membros do partido do poder ou tiveram uma prévia responsabilidade política. Manning descreve duas grandes características destes tecedores de factos. A primeira é instrumental: eles devem possuir um grande apetite para monitorizar os media noticiosos e mostrar autoridade e discordância perante notícias consideradas inaceitáveis. Além disso, o tecedor de factos fornece informação correcta e credível, conhece os valores-notícia enquadráveis aos media noticiosos, demonstra aos jornalistas que está próximo do seu chefe político e percebe o negócio da informação (o que dar e o quando, para optimizar a informação). A segunda característica é de fôlego estratégico. O tecedor de factos tem de adquirir técnicas de “lutar contra o fogo” e de limitar danos colaterais, quando surge uma estória contrária aos interesses do governo. Uma técnica testada é a de tecer uma estória que fique longe da questão substantiva em discussão, levando a atenção dos media noticiosos para a nova estória, nítida manobra de diversão.

As estruturas e as estratégias de comunicação política associam-se à cultura. Ela pode ser adversarial, de confronto entre jornalistas e fontes de informação (na perspectiva do que José Pacheco Pereira tem escrito nos últimos anos), mas também de troca (Blumler e Gurevitch, livro acima citado, pp. 27-31). Num modelo de sociedade em que o jornalista coopera com as fontes de informação – sem, contudo, deixar de divulgar falhas e questões estruturais para bem da coisa pública – funciona a teoria pluralista e liberal, garantindo a autonomia do jornalista (objectividade, imparcialidade, audição das partes em conflito numa questão, distanciamento) perante a organização jornalística. Há, no entanto, algum espaço para a teoria da conspiração (o poder político perpetua-se no trabalho jornalístico, que reproduz as ideias dominantes), e que se detecta quando uma fonte de informação lamenta que os seus acontecimentos nunca são notícia, mas o são sempre os das forças poderosas e ricas de recursos materiais e simbólicos.

A centralização dos serviços de informações governamentais funciona em dois sentidos. No das fontes de informação, que analisam a prestação jornalística dos profissionais acreditados num lugar de permanência (newsbeat), criando círculos íntimos ou afastados (Stephen Hess, The government/press connection – press officers and their offices, 1984), conforme essa prestação e o meio noticioso a que pertence. O off-the-record, o deep background ou o exclusivo funcionam no círculo mais próximo. A fonte tecedora de factos, com apetite para ler/ver os media noticiosos, reage devido à autoridade e proximidade do chefe político e prepara histórias de dispersão, controlando os danos das histórias que não interessam ao governo [como já referi atrás]. Isto é, convém esquecer o problema e inventar outro tema (por exemplo, antecipando um projecto, com grande impacto social).

Mas a centralização dos serviços de informações governamentais também interessa aos jornalistas. A permanência num local cria facilidades logísticas, com o jornalista a aceder mais facilmente à fonte e a conhecer horários e disponibilidades organizativas. As necessidades jornalísticas adaptam-se à “libertação” de informação, quer no tempo quer no espaço, rotinizando procedimentos de recolha e circulação de informação. O comunicado e a conferência de imprensa são métodos públicos que agradam aos jornalistas. O exclusivo e o off-the-record estão reservados para os jornalistas do círculo mais íntimo.

Data real de produção do texto: 4.2.2001. Data da sua “libertação” para o Diário dos Media: 3.3.2001
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FONTES DE INFORMAÇÃO (II)

[continuação da mensagem de ontem]

Quanto a estruturas dos jornalistas, a notícia do Público (24.1.2001) é suficiente para a presente mensagem. Da notícia, extrai-se a ideia que existem duas categorias de “escritores” dos jornais – os jornalistas propriamente ditos e os comentadores políticos (que podem ser editorialistas, colunistas, líderes de opinião, dirigentes de partidos e outras organizações escutadas regularmente pelos jornalistas). Hoje, o espaço opinativo (editoriais, colunas) é cada vez maior. Outra ideia do texto destaca a visibilidade ou não do jornalista ou comentador. Não aparecer na televisão e nas publicações dá um ar de recato, reserva os seus actos para os gabinetes ou os corredores. A fuga de informação funciona melhor nestes espaços privados. Não explícito no texto é a ideia de pingue-pongue ou de circulação das informações. Ao mostrar influência e os seus textos aparecerem destacados num jornal, o jornalista ou comentador possibilita que outros agentes sociais intervenientes no campo jornalístico actuem e apresentem propostas alternativas ou opostas.

Em termos de estratégias existentes na relação entre jornalistas e fontes políticas, saliento a centralização da comunicação política (John Anthony Maltese, Spin control, 1994, pp. 215-221) ou das relações públicas políticas (Paul Manning, News and news sources – a critical introduction, 2001, pp. 108-111). Para Maltese, apesar de não haver qualquer sistema que elimine fugas ou expressões públicas de dissensão interna, a comunicação centralizada minimiza-as. Assim é também a capacidade de tecer uma história – manipular não apenas o que os funcionários superiores dizem mas o que os media noticiosos dizem sobre eles. Tecer uma história envolve dar prioridade a um jornalista, fazer comunicados e encontrar outras fontes que libertem uma informação de ângulo diferente e que dêem à história o melhor brilho possível. O tecer com êxito envolve também convencer os media noticiosos, através de encontros e outros métodos de persuasão. Ao seleccionar símbolos, construir significados, oferecendo uma variedade indo das ameaças à confiança, um funcionário ajuda a fornecer uma dada perspectiva de paisagem política para consumo público. Todo o livro de Maltese é uma análise exaustiva dos organigramas estruturais dos gabinetes de imprensa dos presidentes americanos, de Nixon a Clinton, e o modo como essas “pequenas” máquinas produzem acontecimentos públicos e políticos.

Por seu lado, para Manning a gestão da informação tem sido uma contínua preocupação governamental. A distinção entre informação pública e propaganda partidária (ou governamental) é difícil de sustentar. O investimento publicitário governamental de Thatcher [Reino Unido] em relações públicas e trabalho mediático de todo o tipo cresceu dez vezes numa década, de modo que, em 1988, apenas a Unilever e a Procter & Gamble gastaram mais em publicidade que o governo. Thatcher teve, ao seu serviço, as mais importantes técnicas de marketing político usadas nos Estados Unidos. Certo que, nesse período, muitos dos anúncios foram sobre empresas públicas a privatizar.

A chegada de Blair deu um novo realce ao controlo da informação, à gestão das notícias e à sua centralização. Em 1997, saiu um relatório (Mountfield) preconizando a modernização do serviço de informações governamentais. Aí se apontou a criação de uma unidade estratégica de comunicação, para trabalhar directamente com Alistair Campbell, o secretário de imprensa de Blair [que, entretanto, abandonou o seu posto devido a questão relacionada com a guerra do Iraque]. Objectivos: o governo nunca apoia informação “neutra” (é sempre político o tipo de informação, o seu âmbito, formato e organização); a politização da informação faz alterar, por exemplo, o cálculo dos níveis de desemprego e desaparecer medidas de pobreza, processo iniciado por Thatcher. Isto é, as informações prestadas são sobre assuntos agradáveis (investimentos, projectos a médio prazo, níveis de conforto). À oposição compete pintar o quadro de negro.

Aqui, entra o termo spin doctor (à falta de melhor, adapto-o como tecedor de factos), ao dar maior realce à apresentação e comunicação, a ponto das relações públicas políticas se tornarem uma autêntica indústria do simbólico (com as suas profissões do simbólico) [Mário Mesquita tem escrito sobre este tema]. Os tecedores de factos são funcionários públicos ou membros do partido do poder ou tiveram uma prévia responsabilidade política. Manning descreve duas grandes características destes tecedores de factos. A primeira é instrumental: eles devem possuir um grande apetite para monitorizar os media noticiosos e mostrar autoridade e discordância perante notícias consideradas inaceitáveis. Além disso, o tecedor de factos fornece informação correcta e credível, conhece os valores-notícia enquadráveis aos media noticiosos, demonstra aos jornalistas que está próximo do seu chefe político e percebe o negócio da informação (o que dar e o quando, para optimizar a informação). A segunda característica é de fôlego estratégico. O tecedor de factos tem de adquirir técnicas de “lutar contra o fogo” e de limitar danos colaterais, quando surge uma estória contrária aos interesses do governo. Uma técnica testada é a de tecer uma estória que fique longe da questão substantiva em discussão, levando a atenção dos media noticiosos para a nova estória, nítida manobra de diversão.

As estruturas e as estratégias de comunicação política associam-se à cultura. Ela pode ser adversarial, de confronto entre jornalistas e fontes de informação (na perspectiva do que José Pacheco Pereira tem escrito nos últimos anos), mas também de troca (Blumler e Gurevitch, livro acima citado, pp. 27-31). Num modelo de sociedade em que o jornalista coopera com as fontes de informação – sem, contudo, deixar de divulgar falhas e questões estruturais para bem da coisa pública – funciona a teoria pluralista e liberal, garantindo a autonomia do jornalista (objectividade, imparcialidade, audição das partes em conflito numa questão, distanciamento) perante a organização jornalística. Há, no entanto, algum espaço para a teoria da conspiração (o poder político perpetua-se no trabalho jornalístico, que reproduz as ideias dominantes), e que se detecta quando uma fonte de informação lamenta que os seus acontecimentos nunca são notícia, mas o são sempre os das forças poderosas e ricas de recursos materiais e simbólicos.

A centralização dos serviços de informações governamentais funciona em dois sentidos. No das fontes de informação, que analisam a prestação jornalística dos profissionais acreditados num lugar de permanência (newsbeat), criando círculos íntimos ou afastados (Stephen Hess, The government/press connection – press officers and their offices, 1984), conforme essa prestação e o meio noticioso a que pertence. O off-the-record, o deep background ou o exclusivo funcionam no círculo mais próximo. A fonte tecedora de factos, com apetite para ler/ver os media noticiosos, reage devido à autoridade e proximidade do chefe político e prepara histórias de dispersão, controlando os danos das histórias que não interessam ao governo [como já referi atrás]. Isto é, convém esquecer o problema e inventar outro tema (por exemplo, antecipando um projecto, com grande impacto social).

Mas a centralização dos serviços de informações governamentais também interessa aos jornalistas. A permanência num local cria facilidades logísticas, com o jornalista a aceder mais facilmente à fonte e a conhecer horários e disponibilidades organizativas. As necessidades jornalísticas adaptam-se à “libertação” de informação, quer no tempo quer no espaço, rotinizando procedimentos de recolha e circulação de informação. O comunicado e a conferência de imprensa são métodos públicos que agradam aos jornalistas. O exclusivo e o off-the-record estão reservados para os jornalistas do círculo mais íntimo.

Data real de produção do texto: 4.2.2001. Data da sua “libertação” para o Diário dos Media: 3.3.2001
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Em termos de estratégias existentes na relação entre jornalistas e fontes políticas, saliento a centralização da comunicação política (John Anthony Maltese, Spin control, 1994, pp. 215-221) ou das relações públicas políticas (Paul Manning, News and news sources – a critical introduction, 2001, pp. 108-111). Para Maltese, apesar de não haver qualquer sistema que elimine fugas ou expressões públicas de dissensão interna, a comunicação centralizada minimiza-as. Assim é também a capacidade de tecer uma história – manipular não apenas o que os funcionários superiores dizem mas o que os media noticiosos dizem sobre eles. Tecer uma história envolve dar prioridade a um jornalista, fazer comunicados e encontrar outras fontes que libertem uma informação de ângulo diferente e que dêem à história o melhor brilho possível. O tecer com êxito envolve também convencer os media noticiosos, através de encontros e outros métodos de persuasão. Ao seleccionar símbolos, construir significados, oferecendo uma variedade indo das ameaças à confiança, um funcionário ajuda a fornecer uma dada perspectiva de paisagem política para consumo público. Todo o livro de Maltese é uma análise exaustiva dos organigramas estruturais dos gabinetes de imprensa dos presidentes americanos, de Nixon a Clinton, e o modo como essas “pequenas” máquinas produzem acontecimentos públicos e políticos.

Por seu lado, para Manning a gestão da informação tem sido uma contínua preocupação governamental. A distinção entre informação pública e propaganda partidária (ou governamental) é difícil de sustentar. O investimento publicitário governamental de Thatcher [Reino Unido] em relações públicas e trabalho mediático de todo o tipo cresceu dez vezes numa década, de modo que, em 1988, apenas a Unilever e a Procter & Gamble gastaram mais em publicidade que o governo. Thatcher teve, ao seu serviço, as mais importantes técnicas de marketing político usadas nos Estados Unidos. Certo que, nesse período, muitos dos anúncios foram sobre empresas públicas a privatizar.

A chegada de Blair deu um novo realce ao controlo da informação, à gestão das notícias e à sua centralização. Em 1997, saiu um relatório (Mountfield) preconizando a modernização do serviço de informações governamentais. Aí se apontou a criação de uma unidade estratégica de comunicação, para trabalhar directamente com Alistair Campbell, o secretário de imprensa de Blair [que, entretanto, abandonou o seu posto devido a questão relacionada com a guerra do Iraque]. Objectivos: o governo nunca apoia informação “neutra” (é sempre político o tipo de informação, o seu âmbito, formato e organização); a politização da informação faz alterar, por exemplo, o cálculo dos níveis de desemprego e desaparecer medidas de pobreza, processo iniciado por Thatcher. Isto é, as informações prestadas são sobre assuntos agradáveis (investimentos, projectos a médio prazo, níveis de conforto). À oposição compete pintar o quadro de negro.

Aqui, entra o termo spin doctor (à falta de melhor, adapto-o como tecedor de factos), ao dar maior realce à apresentação e comunicação, a ponto das relações públicas políticas se tornarem uma autêntica indústria do simbólico (com as suas profissões do simbólico) [Mário Mesquita tem escrito sobre este tema]. Os tecedores de factos são funcionários públicos ou membros do partido do poder ou tiveram uma prévia responsabilidade política. Manning descreve duas grandes características destes tecedores de factos. A primeira é instrumental: eles devem possuir um grande apetite para monitorizar os media noticiosos e mostrar autoridade e discordância perante notícias consideradas inaceitáveis. Além disso, o tecedor de factos fornece informação correcta e credível, conhece os valores-notícia enquadráveis aos media noticiosos, demonstra aos jornalistas que está próximo do seu chefe político e percebe o negócio da informação (o que dar e o quando, para optimizar a informação). A segunda característica é de fôlego estratégico. O tecedor de factos tem de adquirir técnicas de “lutar contra o fogo” e de limitar danos colaterais, quando surge uma estória contrária aos interesses do governo. Uma técnica testada é a de tecer uma estória que fique longe da questão substantiva em discussão, levando a atenção dos media noticiosos para a nova estória, nítida manobra de diversão.

As estruturas e as estratégias de comunicação política associam-se à cultura. Ela pode ser adversarial, de confronto entre jornalistas e fontes de informação (na perspectiva do que José Pacheco Pereira tem escrito nos últimos anos), mas também de troca (Blumler e Gurevitch, livro acima citado, pp. 27-31). Num modelo de sociedade em que o jornalista coopera com as fontes de informação – sem, contudo, deixar de divulgar falhas e questões estruturais para bem da coisa pública – funciona a teoria pluralista e liberal, garantindo a autonomia do jornalista (objectividade, imparcialidade, audição das partes em conflito numa questão, distanciamento) perante a organização jornalística. Há, no entanto, algum espaço para a teoria da conspiração (o poder político perpetua-se no trabalho jornalístico, que reproduz as ideias dominantes), e que se detecta quando uma fonte de informação lamenta que os seus acontecimentos nunca são notícia, mas o são sempre os das forças poderosas e ricas de recursos materiais e simbólicos.

A centralização dos serviços de informações governamentais funciona em dois sentidos. No das fontes de informação, que analisam a prestação jornalística dos profissionais acreditados num lugar de permanência (newsbeat), criando círculos íntimos ou afastados (Stephen Hess, The government/press connection – press officers and their offices, 1984), conforme essa prestação e o meio noticioso a que pertence. O off-the-record, o deep background ou o exclusivo funcionam no círculo mais próximo. A fonte tecedora de factos, com apetite para ler/ver os media noticiosos, reage devido à autoridade e proximidade do chefe político e prepara histórias de dispersão, controlando os danos das histórias que não interessam ao governo [como já referi atrás]. Isto é, convém esquecer o problema e inventar outro tema (por exemplo, antecipando um projecto, com grande impacto social).

Mas a centralização dos serviços de informações governamentais também interessa aos jornalistas. A permanência num local cria facilidades logísticas, com o jornalista a aceder mais facilmente à fonte e a conhecer horários e disponibilidades organizativas. As necessidades jornalísticas adaptam-se à “libertação” de informação, quer no tempo quer no espaço, rotinizando procedimentos de recolha e circulação de informação. O comunicado e a conferência de imprensa são métodos públicos que agradam aos jornalistas. O exclusivo e o off-the-record estão reservados para os jornalistas do círculo mais íntimo.

Data real de produção do texto: 4.2.2001. Data da sua “libertação” para o Diário dos Media: 3.3.2001
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Quinta-feira, 1 de Setembro de 2005

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FONTES DE INFORMAÇÃO (I)

[Texto publicado electronicamente pelo autor num grupo de discussão de estudiosos dos fenómenos mediáticos – Diário dos Media, 2001 (4 de Fevereiro de 2001), cujo mentor era Mário Mesquita –, aqui adaptado e dividido em duas partes].

Mudanças de Presidente e de jornalistas

O texto “Mudanças na Casa Branca e nos jornalistas em Washington”, editado pelo Diário de Notícias (29.1.2001) – assinalado por elementos deste diário –, teve um curioso contraponto numa peça saída no Público (24.1.2001), acerca de um memorando que circulou no interior do governo trabalhista inglês, descrevendo as ligações e inclinações políticas de jornalistas e comentadores.

No primeiro texto, dá-se conta do acompanhamento da mudança de partido na Presidência americana e de jornalistas correspondentes dos principais meios de comunicação. Estes trataram de substituir jornalistas conotados com o partido democrático por republicanos, na esperança de um maior entendimento noticioso e obtenção de exclusivos. No texto, escreve-se que, “no jornalismo político um dos elementos fundamentais para o sucesso é ter fontes e relações privilegiadas com os homens que estão no poder”. E essa relação passa por amizades antigas entre jornalistas e políticos ou por um jornalista ter sido pensado para porta-voz da campanha presidencial.

O texto saído no Público refere um documento, elaborado por responsáveis políticos do gabinete de imprensa do Governo inglês, sobre ambições, influência e confiança dos jornalistas que reúnem diariamente com o executivo. O documento ordena os jornalistas segundo uma graduação política, indo da direita à esquerda. Um comentador de direita deve ser incluído nos encontros e conferências de imprensa porque é levado a sério. Outro, obcecado com a Europa e a liberdade de informação, é muito influente junto dos eleitores trabalhistas. Um terceiro é descrito também como influente, pois as suas crónicas aparecem em lugares destacados no seu jornal. Um quarto jornalista é apontado como mestre das fugas de informação e um influente repórter político junto do parlamento, sem nunca aparecer na televisão e revistas.

Ambas as peças, de dimensão reduzida, reflectem um aspecto fundamental da produção das notícias: a relação entre jornalistas e fontes de informação. Esta relação é considerada bailado estratégico (Michael Schudson, The power of news, 1996, p. 3), cultura partilhada (Jay G. Blumler e Michael Gurevitch, The crisis of public communication, 1995, p. 36) e transacção e negociação (Richard V. Ericson, Patricia M. Baranek e Janet B. L. Chan, Negotiating control: a study of news sources, 1989, p. 377) entre a confiança e a suspeita (Paolo Mancini, Between trust and suspicion: how political journalists solve the dilemma, 1993) e a cooperação e o conflito (Hans Peter Peters, A interacção entre jornalistas e peritos científicos, 2000).

Gostaria de destacar algumas características desta relação, partindo das peças jornalísticas e da bibliografia acima referidas. Salientaria as estruturas em que tal relação assenta, as suas estratégias e a cultura a elas subjacentes. Além disso, queria especificar conceitos como centralização dos serviços de informação governamental, circularidade profissional entre jornalistas e fontes políticas e produção de factos.
De início, quero comentar as estruturas das fontes de informação. Duas notícias servem este propósito. A primeira foi publicada no Expresso – "Revista" (22.2.1997), descrevendo a equipa de António Guterres, então primeiro-ministro. O texto de Orlando Raimundo mostrava o modo como o governante compõe os discursos. Passeando-se por uma sala, ditava as ideias a uma secretária, que depois as passava ao computador. Era sobre este esboço que Guterres trabalhava, cortando e acrescentando. Mas ele preferia os improvisos, a partir de tópicos que tem em pequenos papéis – a que chama ficha-guiões. Aparentemente, Guterres estruturava sozinho os seus textos.

A notícia continua com a descrição do gabinete de Guterres, em que havia uma relação directa com os seus assessores, dada a importância mediática crescente destes. Os assessores de imprensa eram os primeiros funcionários políticos com quem o governante se avistava todos os dias. Em reunião às segundas-feiras, pelas 10 horas, onde se preparava a agenda semanal do primeiro-ministro, eram analisados os acontecimentos previstos e tomadas decisões. Guterres não assistia, mas, entre os ministros mais próximos e chefes de gabinete, encontravam-se os assessores de imprensa do primeiro-ministro. Por outro lado, estes, em reuniões da própria assessoria, analisavam, pormenorizadamente, muitos assuntos, nas vertentes políticas e técnicas, e contactavam os ministérios para recolher pareceres e opiniões e auscultar sensibilidades. Os dossiers eram encaminhados ao chefe de gabinete, que os debate com os especialistas das respectivas áreas.

Da equipa de 1997, para além de Luís Patrão como chefe de gabinete, a assessoria de imprensa era constituída por António Santos (antigo autor do programa de rádio “Noites longas do FM Estéreo” e pivot da Informação 2), que chefiava a assessoria, David Damião (jornalista que cobrira as legislativas de 1995 para a Rádio Renascença) e Miguel Laranjeiro (que assumira a direcção do gabinete de imprensa do PS quando Guterres chegou a secretário-geral do partido e o acompanhou nas funções de primeiro ministro). Aqui, como se comprova também na análise da notícia seguinte, há uma frequente “transferência” das redacções para as assessorias de imprensa.

Uma segunda notícia, também do Expresso (11.11.2000), intitulada “Os homens do Presidente”, seguia a campanha presidencial de Jorge Sampaio (jornalista Ângela Silva) e de Ferreira do Amaral (jornalista Sofia Rainho). Sampaio, na campanha, contava com a porta-voz Fernanda Mestrinho (jornalista, até pouco tempo antes membro da direcção de informação da RTP) e os assessores de imprensa António Manuel e João Gabriel, entretanto desvinculados dos seus lugares exercidos na presidência da República (aqui, na assessoria, ficaria Elisabete Caramelo, ela própria jornalista da TSF até à primeira vitória de Sampaio). Um outro nome interessante para análise da estrutura de comunicação do candidato: Francisco Ferreira Gomes, especialista em publicidade e marketing.

Do lado de Ferreira do Amaral, a equipa contava com Barreiras Duarte, coordenador-geral e porta-voz do candidato (estivera ligado a movimentos cívicos, como o do movimento contra as portagens do Oeste) [e futuro secretário de Estado com funções ligadas à comunicação social nos governos de Durão Barroso e Santana Lopes] e Hiran Pessoa de Melo (consultor de marketing político). No gabinete de imprensa, Fernando Lima (antigo assessor de imprensa de Cavaco Silva, entretanto regressado ao lugar de redactor principal do Jornal de Notícias [mais tarde chegou a dirigir o Diário de Notícias]) escrevia os discursos do candidato e José Paulo Fafe, ex-jornalista, fazia os contactos com a comunicação social.

[continua]
publicado por industrias-culturais às 08:40
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FONTES DE INFORMAÇÃO (I)

[Texto publicado electronicamente pelo autor num grupo de discussão de estudiosos dos fenómenos mediáticos – Diário dos Media, 2001 (4 de Fevereiro de 2001), cujo mentor era Mário Mesquita –, aqui adaptado e dividido em duas partes].

Mudanças de Presidente e de jornalistas

O texto “Mudanças na Casa Branca e nos jornalistas em Washington”, editado pelo Diário de Notícias (29.1.2001) – assinalado por elementos deste diário –, teve um curioso contraponto numa peça saída no Público (24.1.2001), acerca de um memorando que circulou no interior do governo trabalhista inglês, descrevendo as ligações e inclinações políticas de jornalistas e comentadores.

No primeiro texto, dá-se conta do acompanhamento da mudança de partido na Presidência americana e de jornalistas correspondentes dos principais meios de comunicação. Estes trataram de substituir jornalistas conotados com o partido democrático por republicanos, na esperança de um maior entendimento noticioso e obtenção de exclusivos. No texto, escreve-se que, “no jornalismo político um dos elementos fundamentais para o sucesso é ter fontes e relações privilegiadas com os homens que estão no poder”. E essa relação passa por amizades antigas entre jornalistas e políticos ou por um jornalista ter sido pensado para porta-voz da campanha presidencial.

O texto saído no Público refere um documento, elaborado por responsáveis políticos do gabinete de imprensa do Governo inglês, sobre ambições, influência e confiança dos jornalistas que reúnem diariamente com o executivo. O documento ordena os jornalistas segundo uma graduação política, indo da direita à esquerda. Um comentador de direita deve ser incluído nos encontros e conferências de imprensa porque é levado a sério. Outro, obcecado com a Europa e a liberdade de informação, é muito influente junto dos eleitores trabalhistas. Um terceiro é descrito também como influente, pois as suas crónicas aparecem em lugares destacados no seu jornal. Um quarto jornalista é apontado como mestre das fugas de informação e um influente repórter político junto do parlamento, sem nunca aparecer na televisão e revistas.

Ambas as peças, de dimensão reduzida, reflectem um aspecto fundamental da produção das notícias: a relação entre jornalistas e fontes de informação. Esta relação é considerada bailado estratégico (Michael Schudson, The power of news, 1996, p. 3), cultura partilhada (Jay G. Blumler e Michael Gurevitch, The crisis of public communication, 1995, p. 36) e transacção e negociação (Richard V. Ericson, Patricia M. Baranek e Janet B. L. Chan, Negotiating control: a study of news sources, 1989, p. 377) entre a confiança e a suspeita (Paolo Mancini, Between trust and suspicion: how political journalists solve the dilemma, 1993) e a cooperação e o conflito (Hans Peter Peters, A interacção entre jornalistas e peritos científicos, 2000).

Gostaria de destacar algumas características desta relação, partindo das peças jornalísticas e da bibliografia acima referidas. Salientaria as estruturas em que tal relação assenta, as suas estratégias e a cultura a elas subjacentes. Além disso, queria especificar conceitos como centralização dos serviços de informação governamental, circularidade profissional entre jornalistas e fontes políticas e produção de factos.
De início, quero comentar as estruturas das fontes de informação. Duas notícias servem este propósito. A primeira foi publicada no Expresso – "Revista" (22.2.1997), descrevendo a equipa de António Guterres, então primeiro-ministro. O texto de Orlando Raimundo mostrava o modo como o governante compõe os discursos. Passeando-se por uma sala, ditava as ideias a uma secretária, que depois as passava ao computador. Era sobre este esboço que Guterres trabalhava, cortando e acrescentando. Mas ele preferia os improvisos, a partir de tópicos que tem em pequenos papéis – a que chama ficha-guiões. Aparentemente, Guterres estruturava sozinho os seus textos.

A notícia continua com a descrição do gabinete de Guterres, em que havia uma relação directa com os seus assessores, dada a importância mediática crescente destes. Os assessores de imprensa eram os primeiros funcionários políticos com quem o governante se avistava todos os dias. Em reunião às segundas-feiras, pelas 10 horas, onde se preparava a agenda semanal do primeiro-ministro, eram analisados os acontecimentos previstos e tomadas decisões. Guterres não assistia, mas, entre os ministros mais próximos e chefes de gabinete, encontravam-se os assessores de imprensa do primeiro-ministro. Por outro lado, estes, em reuniões da própria assessoria, analisavam, pormenorizadamente, muitos assuntos, nas vertentes políticas e técnicas, e contactavam os ministérios para recolher pareceres e opiniões e auscultar sensibilidades. Os dossiers eram encaminhados ao chefe de gabinete, que os debate com os especialistas das respectivas áreas.

Da equipa de 1997, para além de Luís Patrão como chefe de gabinete, a assessoria de imprensa era constituída por António Santos (antigo autor do programa de rádio “Noites longas do FM Estéreo” e pivot da Informação 2), que chefiava a assessoria, David Damião (jornalista que cobrira as legislativas de 1995 para a Rádio Renascença) e Miguel Laranjeiro (que assumira a direcção do gabinete de imprensa do PS quando Guterres chegou a secretário-geral do partido e o acompanhou nas funções de primeiro ministro). Aqui, como se comprova também na análise da notícia seguinte, há uma frequente “transferência” das redacções para as assessorias de imprensa.

Uma segunda notícia, também do Expresso (11.11.2000), intitulada “Os homens do Presidente”, seguia a campanha presidencial de Jorge Sampaio (jornalista Ângela Silva) e de Ferreira do Amaral (jornalista Sofia Rainho). Sampaio, na campanha, contava com a porta-voz Fernanda Mestrinho (jornalista, até pouco tempo antes membro da direcção de informação da RTP) e os assessores de imprensa António Manuel e João Gabriel, entretanto desvinculados dos seus lugares exercidos na presidência da República (aqui, na assessoria, ficaria Elisabete Caramelo, ela própria jornalista da TSF até à primeira vitória de Sampaio). Um outro nome interessante para análise da estrutura de comunicação do candidato: Francisco Ferreira Gomes, especialista em publicidade e marketing.

Do lado de Ferreira do Amaral, a equipa contava com Barreiras Duarte, coordenador-geral e porta-voz do candidato (estivera ligado a movimentos cívicos, como o do movimento contra as portagens do Oeste) [e futuro secretário de Estado com funções ligadas à comunicação social nos governos de Durão Barroso e Santana Lopes] e Hiran Pessoa de Melo (consultor de marketing político). No gabinete de imprensa, Fernando Lima (antigo assessor de imprensa de Cavaco Silva, entretanto regressado ao lugar de redactor principal do Jornal de Notícias [mais tarde chegou a dirigir o Diário de Notícias]) escrevia os discursos do candidato e José Paulo Fafe, ex-jornalista, fazia os contactos com a comunicação social.

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[Texto publicado electronicamente pelo autor num grupo de discussão de estudiosos dos fenómenos mediáticos – Diário dos Media, 2001 (4 de Fevereiro de 2001), cujo mentor era Mário Mesquita –, aqui adaptado e dividido em duas partes].

Mudanças de Presidente e de jornalistas

O texto “Mudanças na Casa Branca e nos jornalistas em Washington”, editado pelo Diário de Notícias (29.1.2001) – assinalado por elementos deste diário –, teve um curioso contraponto numa peça saída no Público (24.1.2001), acerca de um memorando que circulou no interior do governo trabalhista inglês, descrevendo as ligações e inclinações políticas de jornalistas e comentadores.

No primeiro texto, dá-se conta do acompanhamento da mudança de partido na Presidência americana e de jornalistas correspondentes dos principais meios de comunicação. Estes trataram de substituir jornalistas conotados com o partido democrático por republicanos, na esperança de um maior entendimento noticioso e obtenção de exclusivos. No texto, escreve-se que, “no jornalismo político um dos elementos fundamentais para o sucesso é ter fontes e relações privilegiadas com os homens que estão no poder”. E essa relação passa por amizades antigas entre jornalistas e políticos ou por um jornalista ter sido pensado para porta-voz da campanha presidencial.

O texto saído no Público refere um documento, elaborado por responsáveis políticos do gabinete de imprensa do Governo inglês, sobre ambições, influência e confiança dos jornalistas que reúnem diariamente com o executivo. O documento ordena os jornalistas segundo uma graduação política, indo da direita à esquerda. Um comentador de direita deve ser incluído nos encontros e conferências de imprensa porque é levado a sério. Outro, obcecado com a Europa e a liberdade de informação, é muito influente junto dos eleitores trabalhistas. Um terceiro é descrito também como influente, pois as suas crónicas aparecem em lugares destacados no seu jornal. Um quarto jornalista é apontado como mestre das fugas de informação e um influente repórter político junto do parlamento, sem nunca aparecer na televisão e revistas.

Ambas as peças, de dimensão reduzida, reflectem um aspecto fundamental da produção das notícias: a relação entre jornalistas e fontes de informação. Esta relação é considerada bailado estratégico (Michael Schudson, The power of news, 1996, p. 3), cultura partilhada (Jay G. Blumler e Michael Gurevitch, The crisis of public communication, 1995, p. 36) e transacção e negociação (Richard V. Ericson, Patricia M. Baranek e Janet B. L. Chan, Negotiating control: a study of news sources, 1989, p. 377) entre a confiança e a suspeita (Paolo Mancini, Between trust and suspicion: how political journalists solve the dilemma, 1993) e a cooperação e o conflito (Hans Peter Peters, A interacção entre jornalistas e peritos científicos, 2000).

Gostaria de destacar algumas características desta relação, partindo das peças jornalísticas e da bibliografia acima referidas. Salientaria as estruturas em que tal relação assenta, as suas estratégias e a cultura a elas subjacentes. Além disso, queria especificar conceitos como centralização dos serviços de informação governamental, circularidade profissional entre jornalistas e fontes políticas e produção de factos.
De início, quero comentar as estruturas das fontes de informação. Duas notícias servem este propósito. A primeira foi publicada no Expresso – "Revista" (22.2.1997), descrevendo a equipa de António Guterres, então primeiro-ministro. O texto de Orlando Raimundo mostrava o modo como o governante compõe os discursos. Passeando-se por uma sala, ditava as ideias a uma secretária, que depois as passava ao computador. Era sobre este esboço que Guterres trabalhava, cortando e acrescentando. Mas ele preferia os improvisos, a partir de tópicos que tem em pequenos papéis – a que chama ficha-guiões. Aparentemente, Guterres estruturava sozinho os seus textos.

A notícia continua com a descrição do gabinete de Guterres, em que havia uma relação directa com os seus assessores, dada a importância mediática crescente destes. Os assessores de imprensa eram os primeiros funcionários políticos com quem o governante se avistava todos os dias. Em reunião às segundas-feiras, pelas 10 horas, onde se preparava a agenda semanal do primeiro-ministro, eram analisados os acontecimentos previstos e tomadas decisões. Guterres não assistia, mas, entre os ministros mais próximos e chefes de gabinete, encontravam-se os assessores de imprensa do primeiro-ministro. Por outro lado, estes, em reuniões da própria assessoria, analisavam, pormenorizadamente, muitos assuntos, nas vertentes políticas e técnicas, e contactavam os ministérios para recolher pareceres e opiniões e auscultar sensibilidades. Os dossiers eram encaminhados ao chefe de gabinete, que os debate com os especialistas das respectivas áreas.

Da equipa de 1997, para além de Luís Patrão como chefe de gabinete, a assessoria de imprensa era constituída por António Santos (antigo autor do programa de rádio “Noites longas do FM Estéreo” e pivot da Informação 2), que chefiava a assessoria, David Damião (jornalista que cobrira as legislativas de 1995 para a Rádio Renascença) e Miguel Laranjeiro (que assumira a direcção do gabinete de imprensa do PS quando Guterres chegou a secretário-geral do partido e o acompanhou nas funções de primeiro ministro). Aqui, como se comprova também na análise da notícia seguinte, há uma frequente “transferência” das redacções para as assessorias de imprensa.

Uma segunda notícia, também do Expresso (11.11.2000), intitulada “Os homens do Presidente”, seguia a campanha presidencial de Jorge Sampaio (jornalista Ângela Silva) e de Ferreira do Amaral (jornalista Sofia Rainho). Sampaio, na campanha, contava com a porta-voz Fernanda Mestrinho (jornalista, até pouco tempo antes membro da direcção de informação da RTP) e os assessores de imprensa António Manuel e João Gabriel, entretanto desvinculados dos seus lugares exercidos na presidência da República (aqui, na assessoria, ficaria Elisabete Caramelo, ela própria jornalista da TSF até à primeira vitória de Sampaio). Um outro nome interessante para análise da estrutura de comunicação do candidato: Francisco Ferreira Gomes, especialista em publicidade e marketing.

Do lado de Ferreira do Amaral, a equipa contava com Barreiras Duarte, coordenador-geral e porta-voz do candidato (estivera ligado a movimentos cívicos, como o do movimento contra as portagens do Oeste) [e futuro secretário de Estado com funções ligadas à comunicação social nos governos de Durão Barroso e Santana Lopes] e Hiran Pessoa de Melo (consultor de marketing político). No gabinete de imprensa, Fernando Lima (antigo assessor de imprensa de Cavaco Silva, entretanto regressado ao lugar de redactor principal do Jornal de Notícias [mais tarde chegou a dirigir o Diário de Notícias]) escrevia os discursos do candidato e José Paulo Fafe, ex-jornalista, fazia os contactos com a comunicação social.

[continua]
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[Texto publicado electronicamente pelo autor num grupo de discussão de estudiosos dos fenómenos mediáticos – Diário dos Media, 2001 (4 de Fevereiro de 2001), cujo mentor era Mário Mesquita –, aqui adaptado e dividido em duas partes].

Mudanças de Presidente e de jornalistas

O texto “Mudanças na Casa Branca e nos jornalistas em Washington”, editado pelo Diário de Notícias (29.1.2001) – assinalado por elementos deste diário –, teve um curioso contraponto numa peça saída no Público (24.1.2001), acerca de um memorando que circulou no interior do governo trabalhista inglês, descrevendo as ligações e inclinações políticas de jornalistas e comentadores.

No primeiro texto, dá-se conta do acompanhamento da mudança de partido na Presidência americana e de jornalistas correspondentes dos principais meios de comunicação. Estes trataram de substituir jornalistas conotados com o partido democrático por republicanos, na esperança de um maior entendimento noticioso e obtenção de exclusivos. No texto, escreve-se que, “no jornalismo político um dos elementos fundamentais para o sucesso é ter fontes e relações privilegiadas com os homens que estão no poder”. E essa relação passa por amizades antigas entre jornalistas e políticos ou por um jornalista ter sido pensado para porta-voz da campanha presidencial.

O texto saído no Público refere um documento, elaborado por responsáveis políticos do gabinete de imprensa do Governo inglês, sobre ambições, influência e confiança dos jornalistas que reúnem diariamente com o executivo. O documento ordena os jornalistas segundo uma graduação política, indo da direita à esquerda. Um comentador de direita deve ser incluído nos encontros e conferências de imprensa porque é levado a sério. Outro, obcecado com a Europa e a liberdade de informação, é muito influente junto dos eleitores trabalhistas. Um terceiro é descrito também como influente, pois as suas crónicas aparecem em lugares destacados no seu jornal. Um quarto jornalista é apontado como mestre das fugas de informação e um influente repórter político junto do parlamento, sem nunca aparecer na televisão e revistas.

Ambas as peças, de dimensão reduzida, reflectem um aspecto fundamental da produção das notícias: a relação entre jornalistas e fontes de informação. Esta relação é considerada bailado estratégico (Michael Schudson, The power of news, 1996, p. 3), cultura partilhada (Jay G. Blumler e Michael Gurevitch, The crisis of public communication, 1995, p. 36) e transacção e negociação (Richard V. Ericson, Patricia M. Baranek e Janet B. L. Chan, Negotiating control: a study of news sources, 1989, p. 377) entre a confiança e a suspeita (Paolo Mancini, Between trust and suspicion: how political journalists solve the dilemma, 1993) e a cooperação e o conflito (Hans Peter Peters, A interacção entre jornalistas e peritos científicos, 2000).

Gostaria de destacar algumas características desta relação, partindo das peças jornalísticas e da bibliografia acima referidas. Salientaria as estruturas em que tal relação assenta, as suas estratégias e a cultura a elas subjacentes. Além disso, queria especificar conceitos como centralização dos serviços de informação governamental, circularidade profissional entre jornalistas e fontes políticas e produção de factos.
De início, quero comentar as estruturas das fontes de informação. Duas notícias servem este propósito. A primeira foi publicada no Expresso – "Revista" (22.2.1997), descrevendo a equipa de António Guterres, então primeiro-ministro. O texto de Orlando Raimundo mostrava o modo como o governante compõe os discursos. Passeando-se por uma sala, ditava as ideias a uma secretária, que depois as passava ao computador. Era sobre este esboço que Guterres trabalhava, cortando e acrescentando. Mas ele preferia os improvisos, a partir de tópicos que tem em pequenos papéis – a que chama ficha-guiões. Aparentemente, Guterres estruturava sozinho os seus textos.

A notícia continua com a descrição do gabinete de Guterres, em que havia uma relação directa com os seus assessores, dada a importância mediática crescente destes. Os assessores de imprensa eram os primeiros funcionários políticos com quem o governante se avistava todos os dias. Em reunião às segundas-feiras, pelas 10 horas, onde se preparava a agenda semanal do primeiro-ministro, eram analisados os acontecimentos previstos e tomadas decisões. Guterres não assistia, mas, entre os ministros mais próximos e chefes de gabinete, encontravam-se os assessores de imprensa do primeiro-ministro. Por outro lado, estes, em reuniões da própria assessoria, analisavam, pormenorizadamente, muitos assuntos, nas vertentes políticas e técnicas, e contactavam os ministérios para recolher pareceres e opiniões e auscultar sensibilidades. Os dossiers eram encaminhados ao chefe de gabinete, que os debate com os especialistas das respectivas áreas.

Da equipa de 1997, para além de Luís Patrão como chefe de gabinete, a assessoria de imprensa era constituída por António Santos (antigo autor do programa de rádio “Noites longas do FM Estéreo” e pivot da Informação 2), que chefiava a assessoria, David Damião (jornalista que cobrira as legislativas de 1995 para a Rádio Renascença) e Miguel Laranjeiro (que assumira a direcção do gabinete de imprensa do PS quando Guterres chegou a secretário-geral do partido e o acompanhou nas funções de primeiro ministro). Aqui, como se comprova também na análise da notícia seguinte, há uma frequente “transferência” das redacções para as assessorias de imprensa.

Uma segunda notícia, também do Expresso (11.11.2000), intitulada “Os homens do Presidente”, seguia a campanha presidencial de Jorge Sampaio (jornalista Ângela Silva) e de Ferreira do Amaral (jornalista Sofia Rainho). Sampaio, na campanha, contava com a porta-voz Fernanda Mestrinho (jornalista, até pouco tempo antes membro da direcção de informação da RTP) e os assessores de imprensa António Manuel e João Gabriel, entretanto desvinculados dos seus lugares exercidos na presidência da República (aqui, na assessoria, ficaria Elisabete Caramelo, ela própria jornalista da TSF até à primeira vitória de Sampaio). Um outro nome interessante para análise da estrutura de comunicação do candidato: Francisco Ferreira Gomes, especialista em publicidade e marketing.

Do lado de Ferreira do Amaral, a equipa contava com Barreiras Duarte, coordenador-geral e porta-voz do candidato (estivera ligado a movimentos cívicos, como o do movimento contra as portagens do Oeste) [e futuro secretário de Estado com funções ligadas à comunicação social nos governos de Durão Barroso e Santana Lopes] e Hiran Pessoa de Melo (consultor de marketing político). No gabinete de imprensa, Fernando Lima (antigo assessor de imprensa de Cavaco Silva, entretanto regressado ao lugar de redactor principal do Jornal de Notícias [mais tarde chegou a dirigir o Diário de Notícias]) escrevia os discursos do candidato e José Paulo Fafe, ex-jornalista, fazia os contactos com a comunicação social.

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[Texto publicado electronicamente pelo autor num grupo de discussão de estudiosos dos fenómenos mediáticos – Diário dos Media, 2001 (4 de Fevereiro de 2001), cujo mentor era Mário Mesquita –, aqui adaptado e dividido em duas partes].

Mudanças de Presidente e de jornalistas

O texto “Mudanças na Casa Branca e nos jornalistas em Washington”, editado pelo Diário de Notícias (29.1.2001) – assinalado por elementos deste diário –, teve um curioso contraponto numa peça saída no Público (24.1.2001), acerca de um memorando que circulou no interior do governo trabalhista inglês, descrevendo as ligações e inclinações políticas de jornalistas e comentadores.

No primeiro texto, dá-se conta do acompanhamento da mudança de partido na Presidência americana e de jornalistas correspondentes dos principais meios de comunicação. Estes trataram de substituir jornalistas conotados com o partido democrático por republicanos, na esperança de um maior entendimento noticioso e obtenção de exclusivos. No texto, escreve-se que, “no jornalismo político um dos elementos fundamentais para o sucesso é ter fontes e relações privilegiadas com os homens que estão no poder”. E essa relação passa por amizades antigas entre jornalistas e políticos ou por um jornalista ter sido pensado para porta-voz da campanha presidencial.

O texto saído no Público refere um documento, elaborado por responsáveis políticos do gabinete de imprensa do Governo inglês, sobre ambições, influência e confiança dos jornalistas que reúnem diariamente com o executivo. O documento ordena os jornalistas segundo uma graduação política, indo da direita à esquerda. Um comentador de direita deve ser incluído nos encontros e conferências de imprensa porque é levado a sério. Outro, obcecado com a Europa e a liberdade de informação, é muito influente junto dos eleitores trabalhistas. Um terceiro é descrito também como influente, pois as suas crónicas aparecem em lugares destacados no seu jornal. Um quarto jornalista é apontado como mestre das fugas de informação e um influente repórter político junto do parlamento, sem nunca aparecer na televisão e revistas.

Ambas as peças, de dimensão reduzida, reflectem um aspecto fundamental da produção das notícias: a relação entre jornalistas e fontes de informação. Esta relação é considerada bailado estratégico (Michael Schudson, The power of news, 1996, p. 3), cultura partilhada (Jay G. Blumler e Michael Gurevitch, The crisis of public communication, 1995, p. 36) e transacção e negociação (Richard V. Ericson, Patricia M. Baranek e Janet B. L. Chan, Negotiating control: a study of news sources, 1989, p. 377) entre a confiança e a suspeita (Paolo Mancini, Between trust and suspicion: how political journalists solve the dilemma, 1993) e a cooperação e o conflito (Hans Peter Peters, A interacção entre jornalistas e peritos científicos, 2000).

Gostaria de destacar algumas características desta relação, partindo das peças jornalísticas e da bibliografia acima referidas. Salientaria as estruturas em que tal relação assenta, as suas estratégias e a cultura a elas subjacentes. Além disso, queria especificar conceitos como centralização dos serviços de informação governamental, circularidade profissional entre jornalistas e fontes políticas e produção de factos.
De início, quero comentar as estruturas das fontes de informação. Duas notícias servem este propósito. A primeira foi publicada no Expresso – "Revista" (22.2.1997), descrevendo a equipa de António Guterres, então primeiro-ministro. O texto de Orlando Raimundo mostrava o modo como o governante compõe os discursos. Passeando-se por uma sala, ditava as ideias a uma secretária, que depois as passava ao computador. Era sobre este esboço que Guterres trabalhava, cortando e acrescentando. Mas ele preferia os improvisos, a partir de tópicos que tem em pequenos papéis – a que chama ficha-guiões. Aparentemente, Guterres estruturava sozinho os seus textos.

A notícia continua com a descrição do gabinete de Guterres, em que havia uma relação directa com os seus assessores, dada a importância mediática crescente destes. Os assessores de imprensa eram os primeiros funcionários políticos com quem o governante se avistava todos os dias. Em reunião às segundas-feiras, pelas 10 horas, onde se preparava a agenda semanal do primeiro-ministro, eram analisados os acontecimentos previstos e tomadas decisões. Guterres não assistia, mas, entre os ministros mais próximos e chefes de gabinete, encontravam-se os assessores de imprensa do primeiro-ministro. Por outro lado, estes, em reuniões da própria assessoria, analisavam, pormenorizadamente, muitos assuntos, nas vertentes políticas e técnicas, e contactavam os ministérios para recolher pareceres e opiniões e auscultar sensibilidades. Os dossiers eram encaminhados ao chefe de gabinete, que os debate com os especialistas das respectivas áreas.

Da equipa de 1997, para além de Luís Patrão como chefe de gabinete, a assessoria de imprensa era constituída por António Santos (antigo autor do programa de rádio “Noites longas do FM Estéreo” e pivot da Informação 2), que chefiava a assessoria, David Damião (jornalista que cobrira as legislativas de 1995 para a Rádio Renascença) e Miguel Laranjeiro (que assumira a direcção do gabinete de imprensa do PS quando Guterres chegou a secretário-geral do partido e o acompanhou nas funções de primeiro ministro). Aqui, como se comprova também na análise da notícia seguinte, há uma frequente “transferência” das redacções para as assessorias de imprensa.

Uma segunda notícia, também do Expresso (11.11.2000), intitulada “Os homens do Presidente”, seguia a campanha presidencial de Jorge Sampaio (jornalista Ângela Silva) e de Ferreira do Amaral (jornalista Sofia Rainho). Sampaio, na campanha, contava com a porta-voz Fernanda Mestrinho (jornalista, até pouco tempo antes membro da direcção de informação da RTP) e os assessores de imprensa António Manuel e João Gabriel, entretanto desvinculados dos seus lugares exercidos na presidência da República (aqui, na assessoria, ficaria Elisabete Caramelo, ela própria jornalista da TSF até à primeira vitória de Sampaio). Um outro nome interessante para análise da estrutura de comunicação do candidato: Francisco Ferreira Gomes, especialista em publicidade e marketing.

Do lado de Ferreira do Amaral, a equipa contava com Barreiras Duarte, coordenador-geral e porta-voz do candidato (estivera ligado a movimentos cívicos, como o do movimento contra as portagens do Oeste) [e futuro secretário de Estado com funções ligadas à comunicação social nos governos de Durão Barroso e Santana Lopes] e Hiran Pessoa de Melo (consultor de marketing político). No gabinete de imprensa, Fernando Lima (antigo assessor de imprensa de Cavaco Silva, entretanto regressado ao lugar de redactor principal do Jornal de Notícias [mais tarde chegou a dirigir o Diário de Notícias]) escrevia os discursos do candidato e José Paulo Fafe, ex-jornalista, fazia os contactos com a comunicação social.

[continua]
publicado por industrias-culturais às 08:40
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