Sexta-feira, 1 de Julho de 2005
BLOGUE A CIDADE SURPREENDENTENeste espaço, já fiz alusão ao blogue de Carlos Romão,
A Cidade Surpreendente, do Porto. É um blogue em que a fotografia é a rainha (mas não é um fotoblogue, pois tem texto). Na véspera de S. João (noite de 23 de Junho), o Carlos fez belíssimas imagens da festa, de que a que vem a seguir é um dos exemplos (o autor autorizou-me a reprodução da fotografia, pelo que agradeço a gentileza).

Para quem não conhece o Porto, passo a explicar o que se vê. Em fundo, a ponte D. Luís, que liga Porto e Vila Nova de Gaia, agora "embrulhada" (não pelo artista Christo) para reparações e instalação do metrô (eléctrico rápido ligando Gaia e Porto). Do lado esquerdo, algum casario da Ribeira do Porto, onde se pode vislumbrar a rua pejada de foliões; do lado direito, Gaia e a igreja e mosteiro da Serra do Pilar. O fogo de artifício quase parece fazer rebentar a ponte.
É um prazer visitar A Cidade Surpreendente, em especial para quem já não comemora a festa há quinze anos, como é o caso do blogueiro que aqui escreve.
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A Cidade Surpreendente, do Porto. É um blogue em que a fotografia é a rainha (mas não é um fotoblogue, pois tem texto). Na véspera de S. João (noite de 23 de Junho), o Carlos fez belíssimas imagens da festa, de que a que vem a seguir é um dos exemplos (o autor autorizou-me a reprodução da fotografia, pelo que agradeço a gentileza).

Para quem não conhece o Porto, passo a explicar o que se vê. Em fundo, a ponte D. Luís, que liga Porto e Vila Nova de Gaia, agora "embrulhada" (não pelo artista Christo) para reparações e instalação do metrô (eléctrico rápido ligando Gaia e Porto). Do lado esquerdo, algum casario da Ribeira do Porto, onde se pode vislumbrar a rua pejada de foliões; do lado direito, Gaia e a igreja e mosteiro da Serra do Pilar. O fogo de artifício quase parece fazer rebentar a ponte.
É um prazer visitar A Cidade Surpreendente, em especial para quem já não comemora a festa há quinze anos, como é o caso do blogueiro que aqui escreve.
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A Cidade Surpreendente, do Porto. É um blogue em que a fotografia é a rainha (mas não é um fotoblogue, pois tem texto). Na véspera de S. João (noite de 23 de Junho), o Carlos fez belíssimas imagens da festa, de que a que vem a seguir é um dos exemplos (o autor autorizou-me a reprodução da fotografia, pelo que agradeço a gentileza).

Para quem não conhece o Porto, passo a explicar o que se vê. Em fundo, a ponte D. Luís, que liga Porto e Vila Nova de Gaia, agora "embrulhada" (não pelo artista Christo) para reparações e instalação do metrô (eléctrico rápido ligando Gaia e Porto). Do lado esquerdo, algum casario da Ribeira do Porto, onde se pode vislumbrar a rua pejada de foliões; do lado direito, Gaia e a igreja e mosteiro da Serra do Pilar. O fogo de artifício quase parece fazer rebentar a ponte.
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Para quem não conhece o Porto, passo a explicar o que se vê. Em fundo, a ponte D. Luís, que liga Porto e Vila Nova de Gaia, agora "embrulhada" (não pelo artista Christo) para reparações e instalação do metrô (eléctrico rápido ligando Gaia e Porto). Do lado esquerdo, algum casario da Ribeira do Porto, onde se pode vislumbrar a rua pejada de foliões; do lado direito, Gaia e a igreja e mosteiro da Serra do Pilar. O fogo de artifício quase parece fazer rebentar a ponte.
É um prazer visitar A Cidade Surpreendente, em especial para quem já não comemora a festa há quinze anos, como é o caso do blogueiro que aqui escreve.
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A Cidade Surpreendente, do Porto. É um blogue em que a fotografia é a rainha (mas não é um fotoblogue, pois tem texto). Na véspera de S. João (noite de 23 de Junho), o Carlos fez belíssimas imagens da festa, de que a que vem a seguir é um dos exemplos (o autor autorizou-me a reprodução da fotografia, pelo que agradeço a gentileza).

Para quem não conhece o Porto, passo a explicar o que se vê. Em fundo, a ponte D. Luís, que liga Porto e Vila Nova de Gaia, agora "embrulhada" (não pelo artista Christo) para reparações e instalação do metrô (eléctrico rápido ligando Gaia e Porto). Do lado esquerdo, algum casario da Ribeira do Porto, onde se pode vislumbrar a rua pejada de foliões; do lado direito, Gaia e a igreja e mosteiro da Serra do Pilar. O fogo de artifício quase parece fazer rebentar a ponte.
É um prazer visitar A Cidade Surpreendente, em especial para quem já não comemora a festa há quinze anos, como é o caso do blogueiro que aqui escreve.
Foi o último curso que Theodor Adorno (1903-1969) deu (17 aulas, de 23 de Abril a 11 de Julho de 1968). O texto apenas existia em fita magnética, pois o autor não redigira as aulas mas apenas o esquema delas (daí os sinais de improvisação que se detectam na leitura das aulas, como assinala Artur Morão, que assegurou a revisão da tradução das Edições 70).

Pelo livro, nota-se ter sido um tempo difícil para Adorno. Logo na segunda aula (25 de Abril de 1968), assobios e aplausos opuseram-se ao discurso de Adorno. Na sétima aula (14 de Maio) percebe-se melhor o contexto, quando Adorno diz: "o que torna feliz um homem mais velho, como eu, no movimento estudantil é que nele não retine a suposição, como ela se faz, nas distopias de Huxley e Orwell, de que sem dificuldade se consegue a integração" (p. 86). Havia um discurso muito formal em Adorno, que abria as aulas com "minhas senhoras e meus senhores". Já na décima aula (18 de Junho), pediria desculpa pelo atraso, pois esperara o sinal da campainha que não se ouviu (p. 121), percebendo-se um funcionamento desadequado da universidade: elevadores, aquecimento e sistema sonoro das aulas.
Razão instrumental e métodos quantitativosNa nona aula (11 de Junho) voltava às críticas às "dimensões técnico-metódicas, como as da chamada
sampling, ou seja, da formação de cortes transversais representativos tão desenvolvidos que se podem considerar como relativamente concluídos e autónomos" (p. 107). Existe como que dois níveis de ataque com que Adorno olha os métodos quantitativos. De um lado, um toque irónico, quando se refere a Lasswell, "adequado ao sistema [...] dos reclames [...] que inclui o tipo de romances ilustrados ou o tipo de filmes comerciais ou o tipo da maior parte da música para divertir" (p. 129). A análise de conteúdo, útil para os meios de comunicação de massa, não se podia aplicar à produção espiritual autónoma (p. 137), defende.
Daí, ele conduzir uma crítica mais substantiva, quando destaca o fascínio da novidade dos métodos quantitativos, como os jeans ou a música beat, então elementos da moda jovem (p. 110). Exemplifica isso ao evocar o trabalho de uma colega de Berkeley, Frenkel-Brunswick. Esta aplicaria "o método de estudos clínicos sobre a personalidade autoritária, passando depois ao sistema quantitativo, [verificando-se], devido à tendência para a quantificação, a perda imediata dos elementos que se tinham obtido pela análise qualitativa. Tira-se com uma mão o que se obteve com a outra" (p. 109).
Esta crítica apoiar-se-ia, como Adorno disse na sétima aula (14 de Maio), através de uma referência a Horkheimer, no que este "designou, e criticou, como «razão instrumental» e que acaba por transformar a universidade numa escola, numa fábrica de homens que produz a sua mercadoria, força de trabalho, da forma mais racional possível e habilita os homens a vender bem a sua mercadoria, força de trabalho". E afastava-se das medidas do conselho científico da sua escola, o qual pretendia "o total nivelamento da universidade mediante a produção de executantes de trabalho útil" (p. 87).
No fundo, estava a velha querela de Adorno com Lazarsfeld, quando aquele se viu confrontado "com duas concepções incompatíveis e irreconciliáveis de sociologia: uma que constata e prepara factos sociais e os põe à disposição de quaisquer organismos administrativos, que ele designa por
administrative research; e a investigação crítica das comunicações" (pp. 199-200). É que não se podiam considerar os "homens como objectos, por exemplo, da manipulação da indústria cultural, que pretende saber como há-de organizar os seus programas para que eles se vendam, o melhor possível".
A contestação a Adorno dar-se-ia nesse ano de 1968 e prolongar-se-ia no começo de 1969. Liam-se em panfletos: "Adorno como instituição está morto". Houve, na sexta-feira 31 de Janeiro de 1969, a evacuação, feita pela polícia, dos alunos que ocupavam a área do Instituto dirigido por Jürgen Habermas. Adorno, que anteriormente se opusera à intervenção policial, cumprimentaria o oficial de polícia que intimou os alunos a deixarem as áreas ocupadas, de que existem fotografias (Marc Jimenez,
Para ler Adorno, 1977, p. 25). A morte do pai da Teoria Crítica e do conceito
indústria cultural ocorreria em Agosto desse mesmo ano.
Leitura: Theodor Adorno (2004).
Lições de sociologia. Lisboa: Edições 70, 230 páginas, €18,90
Leituras complementares: 1) a favor de Adorno e contra Lazarsfeld - Todd Gitlin (2002). "Sociologia dos meios de comunicação social. O paradigma dominante". In João Pissarra Esteves (org.)
Comunicação e sociedade. Lisboa: Livros Horizonte, pp. 105-149
2) a favor de Lazarsfeld e contra Adorno - David E. Morrison (2001). "The historical development of empirical social research". In Graham Roberts e Philip M. Taylor (eds.)
The historian, television and television history. Luton: University of Luton Press, pp. 9-24 [
obs.: trabalhei este texto nos dias 15, 22, 24 e 29 de Novembro de 2004]
Foi o último curso que Theodor Adorno (1903-1969) deu (17 aulas, de 23 de Abril a 11 de Julho de 1968). O texto apenas existia em fita magnética, pois o autor não redigira as aulas mas apenas o esquema delas (daí os sinais de improvisação que se detectam na leitura das aulas, como assinala Artur Morão, que assegurou a revisão da tradução das Edições 70).

Pelo livro, nota-se ter sido um tempo difícil para Adorno. Logo na segunda aula (25 de Abril de 1968), assobios e aplausos opuseram-se ao discurso de Adorno. Na sétima aula (14 de Maio) percebe-se melhor o contexto, quando Adorno diz: "o que torna feliz um homem mais velho, como eu, no movimento estudantil é que nele não retine a suposição, como ela se faz, nas distopias de Huxley e Orwell, de que sem dificuldade se consegue a integração" (p. 86). Havia um discurso muito formal em Adorno, que abria as aulas com "minhas senhoras e meus senhores". Já na décima aula (18 de Junho), pediria desculpa pelo atraso, pois esperara o sinal da campainha que não se ouviu (p. 121), percebendo-se um funcionamento desadequado da universidade: elevadores, aquecimento e sistema sonoro das aulas.
Razão instrumental e métodos quantitativosNa nona aula (11 de Junho) voltava às críticas às "dimensões técnico-metódicas, como as da chamada
sampling, ou seja, da formação de cortes transversais representativos tão desenvolvidos que se podem considerar como relativamente concluídos e autónomos" (p. 107). Existe como que dois níveis de ataque com que Adorno olha os métodos quantitativos. De um lado, um toque irónico, quando se refere a Lasswell, "adequado ao sistema [...] dos reclames [...] que inclui o tipo de romances ilustrados ou o tipo de filmes comerciais ou o tipo da maior parte da música para divertir" (p. 129). A análise de conteúdo, útil para os meios de comunicação de massa, não se podia aplicar à produção espiritual autónoma (p. 137), defende.
Daí, ele conduzir uma crítica mais substantiva, quando destaca o fascínio da novidade dos métodos quantitativos, como os jeans ou a música beat, então elementos da moda jovem (p. 110). Exemplifica isso ao evocar o trabalho de uma colega de Berkeley, Frenkel-Brunswick. Esta aplicaria "o método de estudos clínicos sobre a personalidade autoritária, passando depois ao sistema quantitativo, [verificando-se], devido à tendência para a quantificação, a perda imediata dos elementos que se tinham obtido pela análise qualitativa. Tira-se com uma mão o que se obteve com a outra" (p. 109).
Esta crítica apoiar-se-ia, como Adorno disse na sétima aula (14 de Maio), através de uma referência a Horkheimer, no que este "designou, e criticou, como «razão instrumental» e que acaba por transformar a universidade numa escola, numa fábrica de homens que produz a sua mercadoria, força de trabalho, da forma mais racional possível e habilita os homens a vender bem a sua mercadoria, força de trabalho". E afastava-se das medidas do conselho científico da sua escola, o qual pretendia "o total nivelamento da universidade mediante a produção de executantes de trabalho útil" (p. 87).
No fundo, estava a velha querela de Adorno com Lazarsfeld, quando aquele se viu confrontado "com duas concepções incompatíveis e irreconciliáveis de sociologia: uma que constata e prepara factos sociais e os põe à disposição de quaisquer organismos administrativos, que ele designa por
administrative research; e a investigação crítica das comunicações" (pp. 199-200). É que não se podiam considerar os "homens como objectos, por exemplo, da manipulação da indústria cultural, que pretende saber como há-de organizar os seus programas para que eles se vendam, o melhor possível".
A contestação a Adorno dar-se-ia nesse ano de 1968 e prolongar-se-ia no começo de 1969. Liam-se em panfletos: "Adorno como instituição está morto". Houve, na sexta-feira 31 de Janeiro de 1969, a evacuação, feita pela polícia, dos alunos que ocupavam a área do Instituto dirigido por Jürgen Habermas. Adorno, que anteriormente se opusera à intervenção policial, cumprimentaria o oficial de polícia que intimou os alunos a deixarem as áreas ocupadas, de que existem fotografias (Marc Jimenez,
Para ler Adorno, 1977, p. 25). A morte do pai da Teoria Crítica e do conceito
indústria cultural ocorreria em Agosto desse mesmo ano.
Leitura: Theodor Adorno (2004).
Lições de sociologia. Lisboa: Edições 70, 230 páginas, €18,90
Leituras complementares: 1) a favor de Adorno e contra Lazarsfeld - Todd Gitlin (2002). "Sociologia dos meios de comunicação social. O paradigma dominante". In João Pissarra Esteves (org.)
Comunicação e sociedade. Lisboa: Livros Horizonte, pp. 105-149
2) a favor de Lazarsfeld e contra Adorno - David E. Morrison (2001). "The historical development of empirical social research". In Graham Roberts e Philip M. Taylor (eds.)
The historian, television and television history. Luton: University of Luton Press, pp. 9-24 [
obs.: trabalhei este texto nos dias 15, 22, 24 e 29 de Novembro de 2004]
Foi o último curso que Theodor Adorno (1903-1969) deu (17 aulas, de 23 de Abril a 11 de Julho de 1968). O texto apenas existia em fita magnética, pois o autor não redigira as aulas mas apenas o esquema delas (daí os sinais de improvisação que se detectam na leitura das aulas, como assinala Artur Morão, que assegurou a revisão da tradução das Edições 70).

Pelo livro, nota-se ter sido um tempo difícil para Adorno. Logo na segunda aula (25 de Abril de 1968), assobios e aplausos opuseram-se ao discurso de Adorno. Na sétima aula (14 de Maio) percebe-se melhor o contexto, quando Adorno diz: "o que torna feliz um homem mais velho, como eu, no movimento estudantil é que nele não retine a suposição, como ela se faz, nas distopias de Huxley e Orwell, de que sem dificuldade se consegue a integração" (p. 86). Havia um discurso muito formal em Adorno, que abria as aulas com "minhas senhoras e meus senhores". Já na décima aula (18 de Junho), pediria desculpa pelo atraso, pois esperara o sinal da campainha que não se ouviu (p. 121), percebendo-se um funcionamento desadequado da universidade: elevadores, aquecimento e sistema sonoro das aulas.
Razão instrumental e métodos quantitativosNa nona aula (11 de Junho) voltava às críticas às "dimensões técnico-metódicas, como as da chamada
sampling, ou seja, da formação de cortes transversais representativos tão desenvolvidos que se podem considerar como relativamente concluídos e autónomos" (p. 107). Existe como que dois níveis de ataque com que Adorno olha os métodos quantitativos. De um lado, um toque irónico, quando se refere a Lasswell, "adequado ao sistema [...] dos reclames [...] que inclui o tipo de romances ilustrados ou o tipo de filmes comerciais ou o tipo da maior parte da música para divertir" (p. 129). A análise de conteúdo, útil para os meios de comunicação de massa, não se podia aplicar à produção espiritual autónoma (p. 137), defende.
Daí, ele conduzir uma crítica mais substantiva, quando destaca o fascínio da novidade dos métodos quantitativos, como os jeans ou a música beat, então elementos da moda jovem (p. 110). Exemplifica isso ao evocar o trabalho de uma colega de Berkeley, Frenkel-Brunswick. Esta aplicaria "o método de estudos clínicos sobre a personalidade autoritária, passando depois ao sistema quantitativo, [verificando-se], devido à tendência para a quantificação, a perda imediata dos elementos que se tinham obtido pela análise qualitativa. Tira-se com uma mão o que se obteve com a outra" (p. 109).
Esta crítica apoiar-se-ia, como Adorno disse na sétima aula (14 de Maio), através de uma referência a Horkheimer, no que este "designou, e criticou, como «razão instrumental» e que acaba por transformar a universidade numa escola, numa fábrica de homens que produz a sua mercadoria, força de trabalho, da forma mais racional possível e habilita os homens a vender bem a sua mercadoria, força de trabalho". E afastava-se das medidas do conselho científico da sua escola, o qual pretendia "o total nivelamento da universidade mediante a produção de executantes de trabalho útil" (p. 87).
No fundo, estava a velha querela de Adorno com Lazarsfeld, quando aquele se viu confrontado "com duas concepções incompatíveis e irreconciliáveis de sociologia: uma que constata e prepara factos sociais e os põe à disposição de quaisquer organismos administrativos, que ele designa por
administrative research; e a investigação crítica das comunicações" (pp. 199-200). É que não se podiam considerar os "homens como objectos, por exemplo, da manipulação da indústria cultural, que pretende saber como há-de organizar os seus programas para que eles se vendam, o melhor possível".
A contestação a Adorno dar-se-ia nesse ano de 1968 e prolongar-se-ia no começo de 1969. Liam-se em panfletos: "Adorno como instituição está morto". Houve, na sexta-feira 31 de Janeiro de 1969, a evacuação, feita pela polícia, dos alunos que ocupavam a área do Instituto dirigido por Jürgen Habermas. Adorno, que anteriormente se opusera à intervenção policial, cumprimentaria o oficial de polícia que intimou os alunos a deixarem as áreas ocupadas, de que existem fotografias (Marc Jimenez,
Para ler Adorno, 1977, p. 25). A morte do pai da Teoria Crítica e do conceito
indústria cultural ocorreria em Agosto desse mesmo ano.
Leitura: Theodor Adorno (2004).
Lições de sociologia. Lisboa: Edições 70, 230 páginas, €18,90
Leituras complementares: 1) a favor de Adorno e contra Lazarsfeld - Todd Gitlin (2002). "Sociologia dos meios de comunicação social. O paradigma dominante". In João Pissarra Esteves (org.)
Comunicação e sociedade. Lisboa: Livros Horizonte, pp. 105-149
2) a favor de Lazarsfeld e contra Adorno - David E. Morrison (2001). "The historical development of empirical social research". In Graham Roberts e Philip M. Taylor (eds.)
The historian, television and television history. Luton: University of Luton Press, pp. 9-24 [
obs.: trabalhei este texto nos dias 15, 22, 24 e 29 de Novembro de 2004]
Foi o último curso que Theodor Adorno (1903-1969) deu (17 aulas, de 23 de Abril a 11 de Julho de 1968). O texto apenas existia em fita magnética, pois o autor não redigira as aulas mas apenas o esquema delas (daí os sinais de improvisação que se detectam na leitura das aulas, como assinala Artur Morão, que assegurou a revisão da tradução das Edições 70).

Pelo livro, nota-se ter sido um tempo difícil para Adorno. Logo na segunda aula (25 de Abril de 1968), assobios e aplausos opuseram-se ao discurso de Adorno. Na sétima aula (14 de Maio) percebe-se melhor o contexto, quando Adorno diz: "o que torna feliz um homem mais velho, como eu, no movimento estudantil é que nele não retine a suposição, como ela se faz, nas distopias de Huxley e Orwell, de que sem dificuldade se consegue a integração" (p. 86). Havia um discurso muito formal em Adorno, que abria as aulas com "minhas senhoras e meus senhores". Já na décima aula (18 de Junho), pediria desculpa pelo atraso, pois esperara o sinal da campainha que não se ouviu (p. 121), percebendo-se um funcionamento desadequado da universidade: elevadores, aquecimento e sistema sonoro das aulas.
Razão instrumental e métodos quantitativosNa nona aula (11 de Junho) voltava às críticas às "dimensões técnico-metódicas, como as da chamada
sampling, ou seja, da formação de cortes transversais representativos tão desenvolvidos que se podem considerar como relativamente concluídos e autónomos" (p. 107). Existe como que dois níveis de ataque com que Adorno olha os métodos quantitativos. De um lado, um toque irónico, quando se refere a Lasswell, "adequado ao sistema [...] dos reclames [...] que inclui o tipo de romances ilustrados ou o tipo de filmes comerciais ou o tipo da maior parte da música para divertir" (p. 129). A análise de conteúdo, útil para os meios de comunicação de massa, não se podia aplicar à produção espiritual autónoma (p. 137), defende.
Daí, ele conduzir uma crítica mais substantiva, quando destaca o fascínio da novidade dos métodos quantitativos, como os jeans ou a música beat, então elementos da moda jovem (p. 110). Exemplifica isso ao evocar o trabalho de uma colega de Berkeley, Frenkel-Brunswick. Esta aplicaria "o método de estudos clínicos sobre a personalidade autoritária, passando depois ao sistema quantitativo, [verificando-se], devido à tendência para a quantificação, a perda imediata dos elementos que se tinham obtido pela análise qualitativa. Tira-se com uma mão o que se obteve com a outra" (p. 109).
Esta crítica apoiar-se-ia, como Adorno disse na sétima aula (14 de Maio), através de uma referência a Horkheimer, no que este "designou, e criticou, como «razão instrumental» e que acaba por transformar a universidade numa escola, numa fábrica de homens que produz a sua mercadoria, força de trabalho, da forma mais racional possível e habilita os homens a vender bem a sua mercadoria, força de trabalho". E afastava-se das medidas do conselho científico da sua escola, o qual pretendia "o total nivelamento da universidade mediante a produção de executantes de trabalho útil" (p. 87).
No fundo, estava a velha querela de Adorno com Lazarsfeld, quando aquele se viu confrontado "com duas concepções incompatíveis e irreconciliáveis de sociologia: uma que constata e prepara factos sociais e os põe à disposição de quaisquer organismos administrativos, que ele designa por
administrative research; e a investigação crítica das comunicações" (pp. 199-200). É que não se podiam considerar os "homens como objectos, por exemplo, da manipulação da indústria cultural, que pretende saber como há-de organizar os seus programas para que eles se vendam, o melhor possível".
A contestação a Adorno dar-se-ia nesse ano de 1968 e prolongar-se-ia no começo de 1969. Liam-se em panfletos: "Adorno como instituição está morto". Houve, na sexta-feira 31 de Janeiro de 1969, a evacuação, feita pela polícia, dos alunos que ocupavam a área do Instituto dirigido por Jürgen Habermas. Adorno, que anteriormente se opusera à intervenção policial, cumprimentaria o oficial de polícia que intimou os alunos a deixarem as áreas ocupadas, de que existem fotografias (Marc Jimenez,
Para ler Adorno, 1977, p. 25). A morte do pai da Teoria Crítica e do conceito
indústria cultural ocorreria em Agosto desse mesmo ano.
Leitura: Theodor Adorno (2004).
Lições de sociologia. Lisboa: Edições 70, 230 páginas, €18,90
Leituras complementares: 1) a favor de Adorno e contra Lazarsfeld - Todd Gitlin (2002). "Sociologia dos meios de comunicação social. O paradigma dominante". In João Pissarra Esteves (org.)
Comunicação e sociedade. Lisboa: Livros Horizonte, pp. 105-149
2) a favor de Lazarsfeld e contra Adorno - David E. Morrison (2001). "The historical development of empirical social research". In Graham Roberts e Philip M. Taylor (eds.)
The historian, television and television history. Luton: University of Luton Press, pp. 9-24 [
obs.: trabalhei este texto nos dias 15, 22, 24 e 29 de Novembro de 2004]
Foi o último curso que Theodor Adorno (1903-1969) deu (17 aulas, de 23 de Abril a 11 de Julho de 1968). O texto apenas existia em fita magnética, pois o autor não redigira as aulas mas apenas o esquema delas (daí os sinais de improvisação que se detectam na leitura das aulas, como assinala Artur Morão, que assegurou a revisão da tradução das Edições 70).

Pelo livro, nota-se ter sido um tempo difícil para Adorno. Logo na segunda aula (25 de Abril de 1968), assobios e aplausos opuseram-se ao discurso de Adorno. Na sétima aula (14 de Maio) percebe-se melhor o contexto, quando Adorno diz: "o que torna feliz um homem mais velho, como eu, no movimento estudantil é que nele não retine a suposição, como ela se faz, nas distopias de Huxley e Orwell, de que sem dificuldade se consegue a integração" (p. 86). Havia um discurso muito formal em Adorno, que abria as aulas com "minhas senhoras e meus senhores". Já na décima aula (18 de Junho), pediria desculpa pelo atraso, pois esperara o sinal da campainha que não se ouviu (p. 121), percebendo-se um funcionamento desadequado da universidade: elevadores, aquecimento e sistema sonoro das aulas.
Razão instrumental e métodos quantitativosNa nona aula (11 de Junho) voltava às críticas às "dimensões técnico-metódicas, como as da chamada
sampling, ou seja, da formação de cortes transversais representativos tão desenvolvidos que se podem considerar como relativamente concluídos e autónomos" (p. 107). Existe como que dois níveis de ataque com que Adorno olha os métodos quantitativos. De um lado, um toque irónico, quando se refere a Lasswell, "adequado ao sistema [...] dos reclames [...] que inclui o tipo de romances ilustrados ou o tipo de filmes comerciais ou o tipo da maior parte da música para divertir" (p. 129). A análise de conteúdo, útil para os meios de comunicação de massa, não se podia aplicar à produção espiritual autónoma (p. 137), defende.
Daí, ele conduzir uma crítica mais substantiva, quando destaca o fascínio da novidade dos métodos quantitativos, como os jeans ou a música beat, então elementos da moda jovem (p. 110). Exemplifica isso ao evocar o trabalho de uma colega de Berkeley, Frenkel-Brunswick. Esta aplicaria "o método de estudos clínicos sobre a personalidade autoritária, passando depois ao sistema quantitativo, [verificando-se], devido à tendência para a quantificação, a perda imediata dos elementos que se tinham obtido pela análise qualitativa. Tira-se com uma mão o que se obteve com a outra" (p. 109).
Esta crítica apoiar-se-ia, como Adorno disse na sétima aula (14 de Maio), através de uma referência a Horkheimer, no que este "designou, e criticou, como «razão instrumental» e que acaba por transformar a universidade numa escola, numa fábrica de homens que produz a sua mercadoria, força de trabalho, da forma mais racional possível e habilita os homens a vender bem a sua mercadoria, força de trabalho". E afastava-se das medidas do conselho científico da sua escola, o qual pretendia "o total nivelamento da universidade mediante a produção de executantes de trabalho útil" (p. 87).
No fundo, estava a velha querela de Adorno com Lazarsfeld, quando aquele se viu confrontado "com duas concepções incompatíveis e irreconciliáveis de sociologia: uma que constata e prepara factos sociais e os põe à disposição de quaisquer organismos administrativos, que ele designa por
administrative research; e a investigação crítica das comunicações" (pp. 199-200). É que não se podiam considerar os "homens como objectos, por exemplo, da manipulação da indústria cultural, que pretende saber como há-de organizar os seus programas para que eles se vendam, o melhor possível".
A contestação a Adorno dar-se-ia nesse ano de 1968 e prolongar-se-ia no começo de 1969. Liam-se em panfletos: "Adorno como instituição está morto". Houve, na sexta-feira 31 de Janeiro de 1969, a evacuação, feita pela polícia, dos alunos que ocupavam a área do Instituto dirigido por Jürgen Habermas. Adorno, que anteriormente se opusera à intervenção policial, cumprimentaria o oficial de polícia que intimou os alunos a deixarem as áreas ocupadas, de que existem fotografias (Marc Jimenez,
Para ler Adorno, 1977, p. 25). A morte do pai da Teoria Crítica e do conceito
indústria cultural ocorreria em Agosto desse mesmo ano.
Leitura: Theodor Adorno (2004).
Lições de sociologia. Lisboa: Edições 70, 230 páginas, €18,90
Leituras complementares: 1) a favor de Adorno e contra Lazarsfeld - Todd Gitlin (2002). "Sociologia dos meios de comunicação social. O paradigma dominante". In João Pissarra Esteves (org.)
Comunicação e sociedade. Lisboa: Livros Horizonte, pp. 105-149
2) a favor de Lazarsfeld e contra Adorno - David E. Morrison (2001). "The historical development of empirical social research". In Graham Roberts e Philip M. Taylor (eds.)
The historian, television and television history. Luton: University of Luton Press, pp. 9-24 [
obs.: trabalhei este texto nos dias 15, 22, 24 e 29 de Novembro de 2004]