Sexta-feira, 30 de Abril de 2004

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DOWNLOADS LEGAIS NA MÚSICA

O texto publicado anteontem, dia 28, no Diário de Notícias, e assinado por Nuno Galopim, sobre downloads legais na música é uma peça importante para a compreensão do fenómeno musical dos nossos dias (peça que eu sigo nesta mensagem).

Escreve Nuno Galopim que a venda de downloads de música em 2003 fez com que aumentasse, nos Estados Unidos, o volume de negócios numa área que denunciava fraqueza nos anos recentes. O cenário do futuro do comércio da música passa essencialmente pelo acesso directo a plataformas e servidores on-line. Trata-se, claro, de uma estratégia destinada a estancar a pirataria digital, através da oferta de downloads legais a um preço acessível.

As multinacionais abriram até departamentos de new media, preparando e acompanhando os negócios de venda de música pela internet, para suportes como os ipods, telemóveis ou burning (gravação de ficheiros áudio em CD). E na Europa? O site iTunes espera a aprovação da convenção da "Directiva do direito de autor" e direitos relacionados com a sociedade da informação.

Das multinacionais, a Universal tem 70% do seu catálogo digitalizado e pronto a ceder conteúdos a parceiros (e-partners) ou revendedores (e-tailors). A editora prevê a venda de cada tema a 1,4 euros, baixando para 0,8 euros quando o tema tem seis meses (mid-price) e 0,6 euros quando o tema atinge um ano (budget). No caso do catálogo nacional, estão a ser digitalizadas as gravações no sentido das mais recentes para as mais antigas. Os Madredeus e Mariza estão neste lote. Mas só haverá novidades no final deste ano. A Sony Music e a Warner já têm os seus catálogos totalmente digitalizados, enquanto a BMG ainda não tem uma proposta concreta. A Zona Música vende discos on-line e está a preparar o catálogo para downloads, enquanto a Som Livre prepara a sua proposta e a Loop Recordings reconhece o atraso.

Mas isto não implica o fim do retalho tradicional. É o caso das lojas Valentim de Carvalho, que já mostrou o seu interesse em ter estações de burning (gravação de ficheiros áudio em CD) nos seus espaços de venda.

NOTAS SOBRE A MEDIÇÃO DE AUDIÊNCIAS - PARTE II

O primeiro estudo de audiências em Portugal realizou-se em 1970-1971, por uma empresa chamada IPOP. Até então, não havia simplesmente qualquer informação sobre o comportamento das audiências face aos meios de comunicação. Depois, surgiria uma nova empresa, a Norma, responsável por outros estudos, no período de 1974 a 1980. Nesta altura, surge a Marktest (ver post de 24 de Abril), avançando com o estudo de meios BAREME (Base Regular de Meios), já com o dr. Luís Queirós à frente desta empresa.

Em 1990, funda-se a primeira central de meios, e que se distingue das até então designadas agências de publicidade de serviço completo. Estas tinham duas componentes: 1) criatividade (filmes, spots), 2) planificação dos meios (estratégias: onde colocar, quando, por que custo). A central de meios assume esta segunda componente. Com o aparecimento das televisões privadas (SIC, 1992; TVI, 1993), complexifica-se a necessidade de saber quem vê que programas, para melhor colocação dos anúncios. Até aí, havia apenas dois preços tabelados para a publicidade televisiva: antes e depois das 20 horas. Hoje, a segmentação pode chegar aos 50 preços, atendendo ao horário. Se considerarmos a existência de 200 programas de televisão, cada um com o seu preço, atendendo ao volume da audiência e a sua segmentação por públicos-alvo, depressa se compreende a complexidade e a necessidade de montar um sistema eficaz, para responder aos interesses diferentes dos anunciantes e dos canais de televisão. Ganha corpo o estudo da Audimetria, diferente do BAREME, pois este assenta em entrevistas a pessoas e aquela tem por base uma amostra de lares e um equipamento electrónico (o audímetro).

Dada a sua importância e o controlo, para garantir rigor nas medições, fundou-se em 1993 a CAEM (Comissão de Análise de Estudos de Meios), uma associação que avançou com dois sócios fortes, a APAN (Associação Portuguesa de Anunciantes) e a APAP (Associação Portuguesa de Agências de Publicidade e Comunicação). Esta última envolve centrais de meios e agências criativas. Para a CAEM entrou um terceiro grupo de sócios, os canais de televisão, interessados na audimetria (RTP, SIC, TVI e TV Cabo), a imprensa (representada pela AIND, actualmente Associação Portuguesa de Imprensa) e a rádio, através da APR (Associação Portuguesa de Rádio). A nível individual, e mais recentemente, entraram a Rádio Renascença, a RDP (agora associada à televisão pública, pois estão integradas numa só empresa) e os operadores de outdoors (J C Decaux, Cemusa).

A actividade propriamente dita da CAEM começaria em 1998, como entidade reguladora dos estudos de audiência, ou seja, o trabalho desenvolvido pela Marktest passou a ser acompanhado. Em 2000, foi iniciada uma auditoria pelo consultor Ernst & Young, que apresentou o relatório, em 2001, confirmando o bom funcionamento da audimetria desenvolvido pela Marktest. Comprovou-se a existência dos audímetros e da sua fiabilidade, e elaborou-se um manual de procedimentos (amostra, universo), a cumprir escrupulosamente pela empresa Marktest. Esta empresa, ou grupo de empresas, detém a análise de audiências em regime de exclusividade no país, embora entre 1998 e 1999 houvesse outra empresa também a medir audiências (a resolução, após alguma conflitualidade, foi abrir concurso e atribuir o trabalho à empresa que o está a fazer neste momento).

Refira-se que a atenção concedida à audimetria é feita dado que 66% do investimento publicitário passa pela televisão, valor que baixa para a casa dos 20% na imprensa e 10% na rádio. Frise-se que está em discussão o estudo de audiência nos outdoors. O ano passado, com as audiências televisivas a baixarem, houve pressão pelos canais para alterações no manual de procedimentos que classifica a medição de audiências, mas prevaleceu o bom senso pois mudar implica ajustes muito pequenos mas que podem alterar o equilíbrio existente previamente. Finalmente, está em fase de teste um novo tipo de análise da audiência que, a ser aprovado, será implementado apenas depois de 2006, o PPM (Personal People Meter), espécie de pager, e que alterará a filosofia de medição. Deixará de ser um painel de lares para passar a uma amostra aleatória de, possivelmente, mil a duas mil pessoas (como ocorre com o BAREME).

[A partir de uma aula do dr. José de Freitas, director executivo da CAEM]

José de Freitas por ele próprio

"A CAEM preocupa-se e analisa todos os estudos de meios disponíveis no mercado. Referimo-nos à audimetria e aos estudos de imprensa, rádio e Internet e, num futuro próximo, muito provavelmente, à publicidade exterior. Esta análise incide sobre a concepção dos estudos, construção das amostras representativas dos universos, procedimentos a ter em conta e métodos utilizados na recolha da informação, de modo que os resultados finais disponibilizados sejam a melhor informação possível das audiências dos vários meios.

"Estas discussões e decisões sobre processos técnicos, estatísticos e metodológicos assentam em opiniões, normalmente consensuais, para que a informação final seja fiável, fidedigna e aceite por todos os utilizadores dos estudos.

"[...] Deste modo, julgo que é indispensável que exista a CAEM, órgão regulador - esta expressão neste contexto pode ter uma interpretação desadequada, mas vou mantê-la - das exigências a colocar às empresas fornecedoras desta informação, garantindo que temos audiências «bem medidas»" [José de Freitas, 2003, "Expectativas da CAEM em sede da futura regulação sectorial dos media em Portugal", Observatório, nº 8, Dezembro) [comunicação à conferência internacional "Reflexões sobre a regulação do sector da comunicação em Portugal", em 10 de Dezembro de 2003, realizado pelo Obercom e pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, em Lisboa, nesta escola].

[mensagem acrescentada às 14:02]

[actualização a 11 de Setembro de 2008]

Um leitor atento do blogue fez-me chegar as seguintes correcções a esta mensagem, que agradeço e passo a referir:

1. O primeiro estudo de audiência de imprensa foi realizado e publicado, em 1952, pelo Dr. Salviano Cruz, na Revista de Pesquisas Económicas e Sociais (vol.II, Setembro-Dezembro 1952),

2. Entre 1980 e 1982, a Teor instalou um painel semanal de audiência e avaliação dos progamas da RTP,

3. A NORMA realizou Estudos de Audiência de Meios até 1990, criou a primeira base de dados interactiva online, com a audiência de todos os meios de comunicação, para utilização pelas agências de publicidade e outros clientes. Em 1990, instalou o sistema de audimetria para a audiência de televisão.
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DOWNLOADS LEGAIS NA MÚSICA

O texto publicado anteontem, dia 28, no Diário de Notícias, e assinado por Nuno Galopim, sobre downloads legais na música é uma peça importante para a compreensão do fenómeno musical dos nossos dias (peça que eu sigo nesta mensagem).

Escreve Nuno Galopim que a venda de downloads de música em 2003 fez com que aumentasse, nos Estados Unidos, o volume de negócios numa área que denunciava fraqueza nos anos recentes. O cenário do futuro do comércio da música passa essencialmente pelo acesso directo a plataformas e servidores on-line. Trata-se, claro, de uma estratégia destinada a estancar a pirataria digital, através da oferta de downloads legais a um preço acessível.

As multinacionais abriram até departamentos de new media, preparando e acompanhando os negócios de venda de música pela internet, para suportes como os ipods, telemóveis ou burning (gravação de ficheiros áudio em CD). E na Europa? O site iTunes espera a aprovação da convenção da "Directiva do direito de autor" e direitos relacionados com a sociedade da informação.

Das multinacionais, a Universal tem 70% do seu catálogo digitalizado e pronto a ceder conteúdos a parceiros (e-partners) ou revendedores (e-tailors). A editora prevê a venda de cada tema a 1,4 euros, baixando para 0,8 euros quando o tema tem seis meses (mid-price) e 0,6 euros quando o tema atinge um ano (budget). No caso do catálogo nacional, estão a ser digitalizadas as gravações no sentido das mais recentes para as mais antigas. Os Madredeus e Mariza estão neste lote. Mas só haverá novidades no final deste ano. A Sony Music e a Warner já têm os seus catálogos totalmente digitalizados, enquanto a BMG ainda não tem uma proposta concreta. A Zona Música vende discos on-line e está a preparar o catálogo para downloads, enquanto a Som Livre prepara a sua proposta e a Loop Recordings reconhece o atraso.

Mas isto não implica o fim do retalho tradicional. É o caso das lojas Valentim de Carvalho, que já mostrou o seu interesse em ter estações de burning (gravação de ficheiros áudio em CD) nos seus espaços de venda.

NOTAS SOBRE A MEDIÇÃO DE AUDIÊNCIAS - PARTE II

O primeiro estudo de audiências em Portugal realizou-se em 1970-1971, por uma empresa chamada IPOP. Até então, não havia simplesmente qualquer informação sobre o comportamento das audiências face aos meios de comunicação. Depois, surgiria uma nova empresa, a Norma, responsável por outros estudos, no período de 1974 a 1980. Nesta altura, surge a Marktest (ver post de 24 de Abril), avançando com o estudo de meios BAREME (Base Regular de Meios), já com o dr. Luís Queirós à frente desta empresa.

Em 1990, funda-se a primeira central de meios, e que se distingue das até então designadas agências de publicidade de serviço completo. Estas tinham duas componentes: 1) criatividade (filmes, spots), 2) planificação dos meios (estratégias: onde colocar, quando, por que custo). A central de meios assume esta segunda componente. Com o aparecimento das televisões privadas (SIC, 1992; TVI, 1993), complexifica-se a necessidade de saber quem vê que programas, para melhor colocação dos anúncios. Até aí, havia apenas dois preços tabelados para a publicidade televisiva: antes e depois das 20 horas. Hoje, a segmentação pode chegar aos 50 preços, atendendo ao horário. Se considerarmos a existência de 200 programas de televisão, cada um com o seu preço, atendendo ao volume da audiência e a sua segmentação por públicos-alvo, depressa se compreende a complexidade e a necessidade de montar um sistema eficaz, para responder aos interesses diferentes dos anunciantes e dos canais de televisão. Ganha corpo o estudo da Audimetria, diferente do BAREME, pois este assenta em entrevistas a pessoas e aquela tem por base uma amostra de lares e um equipamento electrónico (o audímetro).

Dada a sua importância e o controlo, para garantir rigor nas medições, fundou-se em 1993 a CAEM (Comissão de Análise de Estudos de Meios), uma associação que avançou com dois sócios fortes, a APAN (Associação Portuguesa de Anunciantes) e a APAP (Associação Portuguesa de Agências de Publicidade e Comunicação). Esta última envolve centrais de meios e agências criativas. Para a CAEM entrou um terceiro grupo de sócios, os canais de televisão, interessados na audimetria (RTP, SIC, TVI e TV Cabo), a imprensa (representada pela AIND, actualmente Associação Portuguesa de Imprensa) e a rádio, através da APR (Associação Portuguesa de Rádio). A nível individual, e mais recentemente, entraram a Rádio Renascença, a RDP (agora associada à televisão pública, pois estão integradas numa só empresa) e os operadores de outdoors (J C Decaux, Cemusa).

A actividade propriamente dita da CAEM começaria em 1998, como entidade reguladora dos estudos de audiência, ou seja, o trabalho desenvolvido pela Marktest passou a ser acompanhado. Em 2000, foi iniciada uma auditoria pelo consultor Ernst & Young, que apresentou o relatório, em 2001, confirmando o bom funcionamento da audimetria desenvolvido pela Marktest. Comprovou-se a existência dos audímetros e da sua fiabilidade, e elaborou-se um manual de procedimentos (amostra, universo), a cumprir escrupulosamente pela empresa Marktest. Esta empresa, ou grupo de empresas, detém a análise de audiências em regime de exclusividade no país, embora entre 1998 e 1999 houvesse outra empresa também a medir audiências (a resolução, após alguma conflitualidade, foi abrir concurso e atribuir o trabalho à empresa que o está a fazer neste momento).

Refira-se que a atenção concedida à audimetria é feita dado que 66% do investimento publicitário passa pela televisão, valor que baixa para a casa dos 20% na imprensa e 10% na rádio. Frise-se que está em discussão o estudo de audiência nos outdoors. O ano passado, com as audiências televisivas a baixarem, houve pressão pelos canais para alterações no manual de procedimentos que classifica a medição de audiências, mas prevaleceu o bom senso pois mudar implica ajustes muito pequenos mas que podem alterar o equilíbrio existente previamente. Finalmente, está em fase de teste um novo tipo de análise da audiência que, a ser aprovado, será implementado apenas depois de 2006, o PPM (Personal People Meter), espécie de pager, e que alterará a filosofia de medição. Deixará de ser um painel de lares para passar a uma amostra aleatória de, possivelmente, mil a duas mil pessoas (como ocorre com o BAREME).

[A partir de uma aula do dr. José de Freitas, director executivo da CAEM]

José de Freitas por ele próprio

"A CAEM preocupa-se e analisa todos os estudos de meios disponíveis no mercado. Referimo-nos à audimetria e aos estudos de imprensa, rádio e Internet e, num futuro próximo, muito provavelmente, à publicidade exterior. Esta análise incide sobre a concepção dos estudos, construção das amostras representativas dos universos, procedimentos a ter em conta e métodos utilizados na recolha da informação, de modo que os resultados finais disponibilizados sejam a melhor informação possível das audiências dos vários meios.

"Estas discussões e decisões sobre processos técnicos, estatísticos e metodológicos assentam em opiniões, normalmente consensuais, para que a informação final seja fiável, fidedigna e aceite por todos os utilizadores dos estudos.

"[...] Deste modo, julgo que é indispensável que exista a CAEM, órgão regulador - esta expressão neste contexto pode ter uma interpretação desadequada, mas vou mantê-la - das exigências a colocar às empresas fornecedoras desta informação, garantindo que temos audiências «bem medidas»" [José de Freitas, 2003, "Expectativas da CAEM em sede da futura regulação sectorial dos media em Portugal", Observatório, nº 8, Dezembro) [comunicação à conferência internacional "Reflexões sobre a regulação do sector da comunicação em Portugal", em 10 de Dezembro de 2003, realizado pelo Obercom e pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, em Lisboa, nesta escola].

[mensagem acrescentada às 14:02]

[actualização a 11 de Setembro de 2008]

Um leitor atento do blogue fez-me chegar as seguintes correcções a esta mensagem, que agradeço e passo a referir:

1. O primeiro estudo de audiência de imprensa foi realizado e publicado, em 1952, pelo Dr. Salviano Cruz, na Revista de Pesquisas Económicas e Sociais (vol.II, Setembro-Dezembro 1952),

2. Entre 1980 e 1982, a Teor instalou um painel semanal de audiência e avaliação dos progamas da RTP,

3. A NORMA realizou Estudos de Audiência de Meios até 1990, criou a primeira base de dados interactiva online, com a audiência de todos os meios de comunicação, para utilização pelas agências de publicidade e outros clientes. Em 1990, instalou o sistema de audimetria para a audiência de televisão.
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O texto publicado anteontem, dia 28, no Diário de Notícias, e assinado por Nuno Galopim, sobre downloads legais na música é uma peça importante para a compreensão do fenómeno musical dos nossos dias (peça que eu sigo nesta mensagem).

Escreve Nuno Galopim que a venda de downloads de música em 2003 fez com que aumentasse, nos Estados Unidos, o volume de negócios numa área que denunciava fraqueza nos anos recentes. O cenário do futuro do comércio da música passa essencialmente pelo acesso directo a plataformas e servidores on-line. Trata-se, claro, de uma estratégia destinada a estancar a pirataria digital, através da oferta de downloads legais a um preço acessível.

As multinacionais abriram até departamentos de new media, preparando e acompanhando os negócios de venda de música pela internet, para suportes como os ipods, telemóveis ou burning (gravação de ficheiros áudio em CD). E na Europa? O site iTunes espera a aprovação da convenção da "Directiva do direito de autor" e direitos relacionados com a sociedade da informação.

Das multinacionais, a Universal tem 70% do seu catálogo digitalizado e pronto a ceder conteúdos a parceiros (e-partners) ou revendedores (e-tailors). A editora prevê a venda de cada tema a 1,4 euros, baixando para 0,8 euros quando o tema tem seis meses (mid-price) e 0,6 euros quando o tema atinge um ano (budget). No caso do catálogo nacional, estão a ser digitalizadas as gravações no sentido das mais recentes para as mais antigas. Os Madredeus e Mariza estão neste lote. Mas só haverá novidades no final deste ano. A Sony Music e a Warner já têm os seus catálogos totalmente digitalizados, enquanto a BMG ainda não tem uma proposta concreta. A Zona Música vende discos on-line e está a preparar o catálogo para downloads, enquanto a Som Livre prepara a sua proposta e a Loop Recordings reconhece o atraso.

Mas isto não implica o fim do retalho tradicional. É o caso das lojas Valentim de Carvalho, que já mostrou o seu interesse em ter estações de burning (gravação de ficheiros áudio em CD) nos seus espaços de venda.

NOTAS SOBRE A MEDIÇÃO DE AUDIÊNCIAS - PARTE II

O primeiro estudo de audiências em Portugal realizou-se em 1970-1971, por uma empresa chamada IPOP. Até então, não havia simplesmente qualquer informação sobre o comportamento das audiências face aos meios de comunicação. Depois, surgiria uma nova empresa, a Norma, responsável por outros estudos, no período de 1974 a 1980. Nesta altura, surge a Marktest (ver post de 24 de Abril), avançando com o estudo de meios BAREME (Base Regular de Meios), já com o dr. Luís Queirós à frente desta empresa.

Em 1990, funda-se a primeira central de meios, e que se distingue das até então designadas agências de publicidade de serviço completo. Estas tinham duas componentes: 1) criatividade (filmes, spots), 2) planificação dos meios (estratégias: onde colocar, quando, por que custo). A central de meios assume esta segunda componente. Com o aparecimento das televisões privadas (SIC, 1992; TVI, 1993), complexifica-se a necessidade de saber quem vê que programas, para melhor colocação dos anúncios. Até aí, havia apenas dois preços tabelados para a publicidade televisiva: antes e depois das 20 horas. Hoje, a segmentação pode chegar aos 50 preços, atendendo ao horário. Se considerarmos a existência de 200 programas de televisão, cada um com o seu preço, atendendo ao volume da audiência e a sua segmentação por públicos-alvo, depressa se compreende a complexidade e a necessidade de montar um sistema eficaz, para responder aos interesses diferentes dos anunciantes e dos canais de televisão. Ganha corpo o estudo da Audimetria, diferente do BAREME, pois este assenta em entrevistas a pessoas e aquela tem por base uma amostra de lares e um equipamento electrónico (o audímetro).

Dada a sua importância e o controlo, para garantir rigor nas medições, fundou-se em 1993 a CAEM (Comissão de Análise de Estudos de Meios), uma associação que avançou com dois sócios fortes, a APAN (Associação Portuguesa de Anunciantes) e a APAP (Associação Portuguesa de Agências de Publicidade e Comunicação). Esta última envolve centrais de meios e agências criativas. Para a CAEM entrou um terceiro grupo de sócios, os canais de televisão, interessados na audimetria (RTP, SIC, TVI e TV Cabo), a imprensa (representada pela AIND, actualmente Associação Portuguesa de Imprensa) e a rádio, através da APR (Associação Portuguesa de Rádio). A nível individual, e mais recentemente, entraram a Rádio Renascença, a RDP (agora associada à televisão pública, pois estão integradas numa só empresa) e os operadores de outdoors (J C Decaux, Cemusa).

A actividade propriamente dita da CAEM começaria em 1998, como entidade reguladora dos estudos de audiência, ou seja, o trabalho desenvolvido pela Marktest passou a ser acompanhado. Em 2000, foi iniciada uma auditoria pelo consultor Ernst & Young, que apresentou o relatório, em 2001, confirmando o bom funcionamento da audimetria desenvolvido pela Marktest. Comprovou-se a existência dos audímetros e da sua fiabilidade, e elaborou-se um manual de procedimentos (amostra, universo), a cumprir escrupulosamente pela empresa Marktest. Esta empresa, ou grupo de empresas, detém a análise de audiências em regime de exclusividade no país, embora entre 1998 e 1999 houvesse outra empresa também a medir audiências (a resolução, após alguma conflitualidade, foi abrir concurso e atribuir o trabalho à empresa que o está a fazer neste momento).

Refira-se que a atenção concedida à audimetria é feita dado que 66% do investimento publicitário passa pela televisão, valor que baixa para a casa dos 20% na imprensa e 10% na rádio. Frise-se que está em discussão o estudo de audiência nos outdoors. O ano passado, com as audiências televisivas a baixarem, houve pressão pelos canais para alterações no manual de procedimentos que classifica a medição de audiências, mas prevaleceu o bom senso pois mudar implica ajustes muito pequenos mas que podem alterar o equilíbrio existente previamente. Finalmente, está em fase de teste um novo tipo de análise da audiência que, a ser aprovado, será implementado apenas depois de 2006, o PPM (Personal People Meter), espécie de pager, e que alterará a filosofia de medição. Deixará de ser um painel de lares para passar a uma amostra aleatória de, possivelmente, mil a duas mil pessoas (como ocorre com o BAREME).

[A partir de uma aula do dr. José de Freitas, director executivo da CAEM]

José de Freitas por ele próprio

"A CAEM preocupa-se e analisa todos os estudos de meios disponíveis no mercado. Referimo-nos à audimetria e aos estudos de imprensa, rádio e Internet e, num futuro próximo, muito provavelmente, à publicidade exterior. Esta análise incide sobre a concepção dos estudos, construção das amostras representativas dos universos, procedimentos a ter em conta e métodos utilizados na recolha da informação, de modo que os resultados finais disponibilizados sejam a melhor informação possível das audiências dos vários meios.

"Estas discussões e decisões sobre processos técnicos, estatísticos e metodológicos assentam em opiniões, normalmente consensuais, para que a informação final seja fiável, fidedigna e aceite por todos os utilizadores dos estudos.

"[...] Deste modo, julgo que é indispensável que exista a CAEM, órgão regulador - esta expressão neste contexto pode ter uma interpretação desadequada, mas vou mantê-la - das exigências a colocar às empresas fornecedoras desta informação, garantindo que temos audiências «bem medidas»" [José de Freitas, 2003, "Expectativas da CAEM em sede da futura regulação sectorial dos media em Portugal", Observatório, nº 8, Dezembro) [comunicação à conferência internacional "Reflexões sobre a regulação do sector da comunicação em Portugal", em 10 de Dezembro de 2003, realizado pelo Obercom e pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, em Lisboa, nesta escola].

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[actualização a 11 de Setembro de 2008]

Um leitor atento do blogue fez-me chegar as seguintes correcções a esta mensagem, que agradeço e passo a referir:

1. O primeiro estudo de audiência de imprensa foi realizado e publicado, em 1952, pelo Dr. Salviano Cruz, na Revista de Pesquisas Económicas e Sociais (vol.II, Setembro-Dezembro 1952),

2. Entre 1980 e 1982, a Teor instalou um painel semanal de audiência e avaliação dos progamas da RTP,

3. A NORMA realizou Estudos de Audiência de Meios até 1990, criou a primeira base de dados interactiva online, com a audiência de todos os meios de comunicação, para utilização pelas agências de publicidade e outros clientes. Em 1990, instalou o sistema de audimetria para a audiência de televisão.
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O texto publicado anteontem, dia 28, no Diário de Notícias, e assinado por Nuno Galopim, sobre downloads legais na música é uma peça importante para a compreensão do fenómeno musical dos nossos dias (peça que eu sigo nesta mensagem).

Escreve Nuno Galopim que a venda de downloads de música em 2003 fez com que aumentasse, nos Estados Unidos, o volume de negócios numa área que denunciava fraqueza nos anos recentes. O cenário do futuro do comércio da música passa essencialmente pelo acesso directo a plataformas e servidores on-line. Trata-se, claro, de uma estratégia destinada a estancar a pirataria digital, através da oferta de downloads legais a um preço acessível.

As multinacionais abriram até departamentos de new media, preparando e acompanhando os negócios de venda de música pela internet, para suportes como os ipods, telemóveis ou burning (gravação de ficheiros áudio em CD). E na Europa? O site iTunes espera a aprovação da convenção da "Directiva do direito de autor" e direitos relacionados com a sociedade da informação.

Das multinacionais, a Universal tem 70% do seu catálogo digitalizado e pronto a ceder conteúdos a parceiros (e-partners) ou revendedores (e-tailors). A editora prevê a venda de cada tema a 1,4 euros, baixando para 0,8 euros quando o tema tem seis meses (mid-price) e 0,6 euros quando o tema atinge um ano (budget). No caso do catálogo nacional, estão a ser digitalizadas as gravações no sentido das mais recentes para as mais antigas. Os Madredeus e Mariza estão neste lote. Mas só haverá novidades no final deste ano. A Sony Music e a Warner já têm os seus catálogos totalmente digitalizados, enquanto a BMG ainda não tem uma proposta concreta. A Zona Música vende discos on-line e está a preparar o catálogo para downloads, enquanto a Som Livre prepara a sua proposta e a Loop Recordings reconhece o atraso.

Mas isto não implica o fim do retalho tradicional. É o caso das lojas Valentim de Carvalho, que já mostrou o seu interesse em ter estações de burning (gravação de ficheiros áudio em CD) nos seus espaços de venda.

NOTAS SOBRE A MEDIÇÃO DE AUDIÊNCIAS - PARTE II

O primeiro estudo de audiências em Portugal realizou-se em 1970-1971, por uma empresa chamada IPOP. Até então, não havia simplesmente qualquer informação sobre o comportamento das audiências face aos meios de comunicação. Depois, surgiria uma nova empresa, a Norma, responsável por outros estudos, no período de 1974 a 1980. Nesta altura, surge a Marktest (ver post de 24 de Abril), avançando com o estudo de meios BAREME (Base Regular de Meios), já com o dr. Luís Queirós à frente desta empresa.

Em 1990, funda-se a primeira central de meios, e que se distingue das até então designadas agências de publicidade de serviço completo. Estas tinham duas componentes: 1) criatividade (filmes, spots), 2) planificação dos meios (estratégias: onde colocar, quando, por que custo). A central de meios assume esta segunda componente. Com o aparecimento das televisões privadas (SIC, 1992; TVI, 1993), complexifica-se a necessidade de saber quem vê que programas, para melhor colocação dos anúncios. Até aí, havia apenas dois preços tabelados para a publicidade televisiva: antes e depois das 20 horas. Hoje, a segmentação pode chegar aos 50 preços, atendendo ao horário. Se considerarmos a existência de 200 programas de televisão, cada um com o seu preço, atendendo ao volume da audiência e a sua segmentação por públicos-alvo, depressa se compreende a complexidade e a necessidade de montar um sistema eficaz, para responder aos interesses diferentes dos anunciantes e dos canais de televisão. Ganha corpo o estudo da Audimetria, diferente do BAREME, pois este assenta em entrevistas a pessoas e aquela tem por base uma amostra de lares e um equipamento electrónico (o audímetro).

Dada a sua importância e o controlo, para garantir rigor nas medições, fundou-se em 1993 a CAEM (Comissão de Análise de Estudos de Meios), uma associação que avançou com dois sócios fortes, a APAN (Associação Portuguesa de Anunciantes) e a APAP (Associação Portuguesa de Agências de Publicidade e Comunicação). Esta última envolve centrais de meios e agências criativas. Para a CAEM entrou um terceiro grupo de sócios, os canais de televisão, interessados na audimetria (RTP, SIC, TVI e TV Cabo), a imprensa (representada pela AIND, actualmente Associação Portuguesa de Imprensa) e a rádio, através da APR (Associação Portuguesa de Rádio). A nível individual, e mais recentemente, entraram a Rádio Renascença, a RDP (agora associada à televisão pública, pois estão integradas numa só empresa) e os operadores de outdoors (J C Decaux, Cemusa).

A actividade propriamente dita da CAEM começaria em 1998, como entidade reguladora dos estudos de audiência, ou seja, o trabalho desenvolvido pela Marktest passou a ser acompanhado. Em 2000, foi iniciada uma auditoria pelo consultor Ernst & Young, que apresentou o relatório, em 2001, confirmando o bom funcionamento da audimetria desenvolvido pela Marktest. Comprovou-se a existência dos audímetros e da sua fiabilidade, e elaborou-se um manual de procedimentos (amostra, universo), a cumprir escrupulosamente pela empresa Marktest. Esta empresa, ou grupo de empresas, detém a análise de audiências em regime de exclusividade no país, embora entre 1998 e 1999 houvesse outra empresa também a medir audiências (a resolução, após alguma conflitualidade, foi abrir concurso e atribuir o trabalho à empresa que o está a fazer neste momento).

Refira-se que a atenção concedida à audimetria é feita dado que 66% do investimento publicitário passa pela televisão, valor que baixa para a casa dos 20% na imprensa e 10% na rádio. Frise-se que está em discussão o estudo de audiência nos outdoors. O ano passado, com as audiências televisivas a baixarem, houve pressão pelos canais para alterações no manual de procedimentos que classifica a medição de audiências, mas prevaleceu o bom senso pois mudar implica ajustes muito pequenos mas que podem alterar o equilíbrio existente previamente. Finalmente, está em fase de teste um novo tipo de análise da audiência que, a ser aprovado, será implementado apenas depois de 2006, o PPM (Personal People Meter), espécie de pager, e que alterará a filosofia de medição. Deixará de ser um painel de lares para passar a uma amostra aleatória de, possivelmente, mil a duas mil pessoas (como ocorre com o BAREME).

[A partir de uma aula do dr. José de Freitas, director executivo da CAEM]

José de Freitas por ele próprio

"A CAEM preocupa-se e analisa todos os estudos de meios disponíveis no mercado. Referimo-nos à audimetria e aos estudos de imprensa, rádio e Internet e, num futuro próximo, muito provavelmente, à publicidade exterior. Esta análise incide sobre a concepção dos estudos, construção das amostras representativas dos universos, procedimentos a ter em conta e métodos utilizados na recolha da informação, de modo que os resultados finais disponibilizados sejam a melhor informação possível das audiências dos vários meios.

"Estas discussões e decisões sobre processos técnicos, estatísticos e metodológicos assentam em opiniões, normalmente consensuais, para que a informação final seja fiável, fidedigna e aceite por todos os utilizadores dos estudos.

"[...] Deste modo, julgo que é indispensável que exista a CAEM, órgão regulador - esta expressão neste contexto pode ter uma interpretação desadequada, mas vou mantê-la - das exigências a colocar às empresas fornecedoras desta informação, garantindo que temos audiências «bem medidas»" [José de Freitas, 2003, "Expectativas da CAEM em sede da futura regulação sectorial dos media em Portugal", Observatório, nº 8, Dezembro) [comunicação à conferência internacional "Reflexões sobre a regulação do sector da comunicação em Portugal", em 10 de Dezembro de 2003, realizado pelo Obercom e pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, em Lisboa, nesta escola].

[mensagem acrescentada às 14:02]

[actualização a 11 de Setembro de 2008]

Um leitor atento do blogue fez-me chegar as seguintes correcções a esta mensagem, que agradeço e passo a referir:

1. O primeiro estudo de audiência de imprensa foi realizado e publicado, em 1952, pelo Dr. Salviano Cruz, na Revista de Pesquisas Económicas e Sociais (vol.II, Setembro-Dezembro 1952),

2. Entre 1980 e 1982, a Teor instalou um painel semanal de audiência e avaliação dos progamas da RTP,

3. A NORMA realizou Estudos de Audiência de Meios até 1990, criou a primeira base de dados interactiva online, com a audiência de todos os meios de comunicação, para utilização pelas agências de publicidade e outros clientes. Em 1990, instalou o sistema de audimetria para a audiência de televisão.
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DOWNLOADS LEGAIS NA MÚSICA

O texto publicado anteontem, dia 28, no Diário de Notícias, e assinado por Nuno Galopim, sobre downloads legais na música é uma peça importante para a compreensão do fenómeno musical dos nossos dias (peça que eu sigo nesta mensagem).

Escreve Nuno Galopim que a venda de downloads de música em 2003 fez com que aumentasse, nos Estados Unidos, o volume de negócios numa área que denunciava fraqueza nos anos recentes. O cenário do futuro do comércio da música passa essencialmente pelo acesso directo a plataformas e servidores on-line. Trata-se, claro, de uma estratégia destinada a estancar a pirataria digital, através da oferta de downloads legais a um preço acessível.

As multinacionais abriram até departamentos de new media, preparando e acompanhando os negócios de venda de música pela internet, para suportes como os ipods, telemóveis ou burning (gravação de ficheiros áudio em CD). E na Europa? O site iTunes espera a aprovação da convenção da "Directiva do direito de autor" e direitos relacionados com a sociedade da informação.

Das multinacionais, a Universal tem 70% do seu catálogo digitalizado e pronto a ceder conteúdos a parceiros (e-partners) ou revendedores (e-tailors). A editora prevê a venda de cada tema a 1,4 euros, baixando para 0,8 euros quando o tema tem seis meses (mid-price) e 0,6 euros quando o tema atinge um ano (budget). No caso do catálogo nacional, estão a ser digitalizadas as gravações no sentido das mais recentes para as mais antigas. Os Madredeus e Mariza estão neste lote. Mas só haverá novidades no final deste ano. A Sony Music e a Warner já têm os seus catálogos totalmente digitalizados, enquanto a BMG ainda não tem uma proposta concreta. A Zona Música vende discos on-line e está a preparar o catálogo para downloads, enquanto a Som Livre prepara a sua proposta e a Loop Recordings reconhece o atraso.

Mas isto não implica o fim do retalho tradicional. É o caso das lojas Valentim de Carvalho, que já mostrou o seu interesse em ter estações de burning (gravação de ficheiros áudio em CD) nos seus espaços de venda.

NOTAS SOBRE A MEDIÇÃO DE AUDIÊNCIAS - PARTE II

O primeiro estudo de audiências em Portugal realizou-se em 1970-1971, por uma empresa chamada IPOP. Até então, não havia simplesmente qualquer informação sobre o comportamento das audiências face aos meios de comunicação. Depois, surgiria uma nova empresa, a Norma, responsável por outros estudos, no período de 1974 a 1980. Nesta altura, surge a Marktest (ver post de 24 de Abril), avançando com o estudo de meios BAREME (Base Regular de Meios), já com o dr. Luís Queirós à frente desta empresa.

Em 1990, funda-se a primeira central de meios, e que se distingue das até então designadas agências de publicidade de serviço completo. Estas tinham duas componentes: 1) criatividade (filmes, spots), 2) planificação dos meios (estratégias: onde colocar, quando, por que custo). A central de meios assume esta segunda componente. Com o aparecimento das televisões privadas (SIC, 1992; TVI, 1993), complexifica-se a necessidade de saber quem vê que programas, para melhor colocação dos anúncios. Até aí, havia apenas dois preços tabelados para a publicidade televisiva: antes e depois das 20 horas. Hoje, a segmentação pode chegar aos 50 preços, atendendo ao horário. Se considerarmos a existência de 200 programas de televisão, cada um com o seu preço, atendendo ao volume da audiência e a sua segmentação por públicos-alvo, depressa se compreende a complexidade e a necessidade de montar um sistema eficaz, para responder aos interesses diferentes dos anunciantes e dos canais de televisão. Ganha corpo o estudo da Audimetria, diferente do BAREME, pois este assenta em entrevistas a pessoas e aquela tem por base uma amostra de lares e um equipamento electrónico (o audímetro).

Dada a sua importância e o controlo, para garantir rigor nas medições, fundou-se em 1993 a CAEM (Comissão de Análise de Estudos de Meios), uma associação que avançou com dois sócios fortes, a APAN (Associação Portuguesa de Anunciantes) e a APAP (Associação Portuguesa de Agências de Publicidade e Comunicação). Esta última envolve centrais de meios e agências criativas. Para a CAEM entrou um terceiro grupo de sócios, os canais de televisão, interessados na audimetria (RTP, SIC, TVI e TV Cabo), a imprensa (representada pela AIND, actualmente Associação Portuguesa de Imprensa) e a rádio, através da APR (Associação Portuguesa de Rádio). A nível individual, e mais recentemente, entraram a Rádio Renascença, a RDP (agora associada à televisão pública, pois estão integradas numa só empresa) e os operadores de outdoors (J C Decaux, Cemusa).

A actividade propriamente dita da CAEM começaria em 1998, como entidade reguladora dos estudos de audiência, ou seja, o trabalho desenvolvido pela Marktest passou a ser acompanhado. Em 2000, foi iniciada uma auditoria pelo consultor Ernst & Young, que apresentou o relatório, em 2001, confirmando o bom funcionamento da audimetria desenvolvido pela Marktest. Comprovou-se a existência dos audímetros e da sua fiabilidade, e elaborou-se um manual de procedimentos (amostra, universo), a cumprir escrupulosamente pela empresa Marktest. Esta empresa, ou grupo de empresas, detém a análise de audiências em regime de exclusividade no país, embora entre 1998 e 1999 houvesse outra empresa também a medir audiências (a resolução, após alguma conflitualidade, foi abrir concurso e atribuir o trabalho à empresa que o está a fazer neste momento).

Refira-se que a atenção concedida à audimetria é feita dado que 66% do investimento publicitário passa pela televisão, valor que baixa para a casa dos 20% na imprensa e 10% na rádio. Frise-se que está em discussão o estudo de audiência nos outdoors. O ano passado, com as audiências televisivas a baixarem, houve pressão pelos canais para alterações no manual de procedimentos que classifica a medição de audiências, mas prevaleceu o bom senso pois mudar implica ajustes muito pequenos mas que podem alterar o equilíbrio existente previamente. Finalmente, está em fase de teste um novo tipo de análise da audiência que, a ser aprovado, será implementado apenas depois de 2006, o PPM (Personal People Meter), espécie de pager, e que alterará a filosofia de medição. Deixará de ser um painel de lares para passar a uma amostra aleatória de, possivelmente, mil a duas mil pessoas (como ocorre com o BAREME).

[A partir de uma aula do dr. José de Freitas, director executivo da CAEM]

José de Freitas por ele próprio

"A CAEM preocupa-se e analisa todos os estudos de meios disponíveis no mercado. Referimo-nos à audimetria e aos estudos de imprensa, rádio e Internet e, num futuro próximo, muito provavelmente, à publicidade exterior. Esta análise incide sobre a concepção dos estudos, construção das amostras representativas dos universos, procedimentos a ter em conta e métodos utilizados na recolha da informação, de modo que os resultados finais disponibilizados sejam a melhor informação possível das audiências dos vários meios.

"Estas discussões e decisões sobre processos técnicos, estatísticos e metodológicos assentam em opiniões, normalmente consensuais, para que a informação final seja fiável, fidedigna e aceite por todos os utilizadores dos estudos.

"[...] Deste modo, julgo que é indispensável que exista a CAEM, órgão regulador - esta expressão neste contexto pode ter uma interpretação desadequada, mas vou mantê-la - das exigências a colocar às empresas fornecedoras desta informação, garantindo que temos audiências «bem medidas»" [José de Freitas, 2003, "Expectativas da CAEM em sede da futura regulação sectorial dos media em Portugal", Observatório, nº 8, Dezembro) [comunicação à conferência internacional "Reflexões sobre a regulação do sector da comunicação em Portugal", em 10 de Dezembro de 2003, realizado pelo Obercom e pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, em Lisboa, nesta escola].

[mensagem acrescentada às 14:02]

[actualização a 11 de Setembro de 2008]

Um leitor atento do blogue fez-me chegar as seguintes correcções a esta mensagem, que agradeço e passo a referir:

1. O primeiro estudo de audiência de imprensa foi realizado e publicado, em 1952, pelo Dr. Salviano Cruz, na Revista de Pesquisas Económicas e Sociais (vol.II, Setembro-Dezembro 1952),

2. Entre 1980 e 1982, a Teor instalou um painel semanal de audiência e avaliação dos progamas da RTP,

3. A NORMA realizou Estudos de Audiência de Meios até 1990, criou a primeira base de dados interactiva online, com a audiência de todos os meios de comunicação, para utilização pelas agências de publicidade e outros clientes. Em 1990, instalou o sistema de audimetria para a audiência de televisão.
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Quinta-feira, 29 de Abril de 2004

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DEZ ANOS DE HISTÓRIA DA SIC (1992-2002). O QUE MUDOU NO PANORAMA AUDIOVISUAL PORTUGUÊS

[O texto que apresento de seguida foi publicado numa forma mais profunda na revista Observatório, nº 6, de Novembro de 2002, do Obercom. Dada a sua dimensão, o texto é partido em várias parcelas. A bibliografia aqui apontada acompanhará a última mensagem sobre este tema. Como o título indica, cobre o período de 1992 a 2002]

Apresentação

A emissão da SIC iniciava-se a 6 de Outubro de 1992, após um longo período de monopólio da RTP e de discussão sobre a necessidade de haver ou não televisão privada, que animara bastante a opinião pública e os decisores políticos. A segunda metade da década de 1980 e os anos seguintes assistiriam a uma profunda mudança na área da comunicação social em Portugal. Em 1987, o programa eleitoral do PSD propusera a venda da totalidade dos jornais nacionalizados e a existência de um serviço público mínimo na televisão e na rádio. Alguns factores relevantes nesse período – para além da televisão privada – seriam o nascimento do Público (1990) como jornal de referência, a privatização do Diário de Notícias (1991) e sua transformação gráfica e editorial (1992), a privatização da Rádio Comercial e o aparecimento de uma rádio dedicada às notícias (TSF). Grupos empresariais (Lusomundo, Sonae) associavam-se à comunicação social, dentro da onda liberalizadora que percorreu o país governado por Cavaco Silva.

O texto ilustra alguns dos momentos mais importantes da estação de televisão SIC, entre 1992 e 2002. Quotas de mercado, estratificação sócio-cultural dos espectadores da estação, principais períodos da vida da estação, informação, programas e figuras emblemáticas, passagem de canal generalista para a realidade de canais temáticos e relação da estação televisiva com o Estado constituem alguns dos traços a desenvolver nas próximas páginas. Apesar da atenção específica à história da SIC, a vida de um canal faz-se por comparação com outros canais e a sociedade em geral, pelo que algumas notas são produzidas tendo em conta esta compreensão.

A afirmação de um canal de televisão através da informação

Em termos de audiência, a progressão da SIC foi notável. A estação atingia a liderança do mercado em escassos três anos após o seu arranque, com 41,4% de share, contra 38,4% da RTP e 13,8% da TVI (Obercom, 2002). O sucesso deveu-se à existência de uma grelha diversificada em informação, reportagem, documentário, infantis, juvenis, séries, comédias, cinema e entretenimento geral, em que a produção nacional se associou a uma linha de programação popular do canal privado (Lopes, 1995). Gente nova e muito profissional a fazer televisão, uma outra maneira de trabalhar a informação capaz de servir as elites, fartas das notícias que veiculam fontes oficiais e do aparelho de Estado, e a evidente orientação para uma programação de agrado a públicos mais populares – a televisão do povo (Torres, 1998: 75), com uma estratificação cuidada dos grupos-alvo a privilegiar – figuraram nas estratégias dos responsáveis da estação, em especial Emídio Rangel, o que fez rápida mossa numa RTP apática. A estratificação sócio-económica dos telespectadores da SIC trabalhada nos primeiros anos da SIC apontava para as seguintes características: público maioritariamente feminino, pessoas da classe C2 e do grupo etário entre os 4 e os 14 anos. Como pano de fundo, o optimismo e a fé na iniciativa privada vividas na sociedade portuguesa, no princípio da década de 1990, o que estimulou a popularidade da estação recém-aparecida.

Uma grande aposta do canal privado foi a informação, que, por atingir o dobro do tempo dispensado pelos outros canais portugueses, significou a inversão da tendência dominante na Europa (Traquina, 1997: 65). O modelo CNN, de reinventar as notícias, criar histórias a partir de elementos menos visíveis dos acontecimentos e relevar os magazines de grande informação, no sentido dado por Küng-Shankleman (2000: 120), esteve na base do jornalismo da SIC, e que podemos admirar com mais consistência na SIC Notícias. O noticiário da SIC (Jornal da Noite) ultrapassaria o da RTP1 (Telejornal) em Junho de 1995, cederia a seguir à RTP1 mas voltou a liderar a partir de Setembro, assumindo a dianteira definitiva durante anos a fio. Nesse momento (Setembro de 1995), as eleições legislativas foram seguidas na SIC mais do que nas outras estações. A SIC promoveu momentos especiais de informação – os debates políticos entre António Guterres e Fernando Nogueira e entre Jorge Sampaio e Aníbal Cavaco Silva, momentos decisivos para a vitória dos dirigentes socialistas nas eleições que se avizinhavam. A política e a sua discussão faziam-se mais no canal privado do que na empresa pública, constantemente conotada com o poder instituído.

Um documentário polémico, por “parecer contra a SIC” (Mariana Otero, Cette télévision est la vôtre), revelou as razões de sucesso do canal, em especial a componente informativa. Das razões, Otero destacou o profissionalismo de toda a equipa da SIC, dos jornalistas às pessoas da área comercial, a atenção dada aos produtos televisivos, a articulação entre os vários sectores da estação e a medição constante do impacto popular nas audiências (Torres, 1998: 37). A realizadora convencera os responsáveis e colaboradores da SIC a deixarem-na filmar o quotidiano da estação.

Das características iniciais dos noticiários da SIC, ressaltaram o rigor, a credibilidade e a actualidade. Como resultado da qualidade das reportagens, os prémios começaram a ser uma rotina dentro da estação. Assim, em 1996, a reportagem Os meninos de Angola, de Cândida Pinto, obteve um prémio no FIGRA (“Festival International du Grand Reportage et du Document d’Actualité”). Em 1997, a SIC ganharia seis prémios ainda na área de Grande Reportagem. Ao rigor e actualidade juntou-se a mobilidade do estúdio do noticiário. A ideia da mobilidade acompanhou, de certo modo, o modelo de presidência aberta, que Mário Soares inaugurara em 1986, quase desde o princípio da sua Presidência da República, no sentido de conhecer bem a realidade portuguesa (Serrano, 2002: 117). Emprega-se o estúdio móvel em acontecimentos pré-determinados, de grande solenidade ou nível visual e ligados à proximidade. Foi assim que a SIC transmitiu noticiários directamente, por exemplo, da Expo 98, da ponte Vasco da Gama, da Feira do Livro, do Porto (nas festas do S. João, em Junho de 2002). O estúdio móvel foi utilizado, pela primeira vez na história da televisão portuguesa, em 1997. O principal rosto da informação da SIC, José Alberto Carvalho, apresentou o noticiário do Oceanário, na inauguração da Expo 98, e, em Abril de 1998, na inauguração da ponte Vasco da Gama. Nesta ocasião, a SIC passou imagens de helicóptero, mostrando o almoço servido a quinze mil pessoas, objectivo para bater um recorde e entrar no Guiness.

Lentamente, porém, as notícias tenderam para o fait-divers, o crime e a catástrofe (Brandão, 2002), efeito que atravessou os noticiários de todos os canais, numa tematização nuclear de política-sociedade-cultura-desporto-fait-divers (Lopes, 1999). Para contrariar este efeito de erosão, a imagem da informação da SIC foi alterada quando o canal atingiu os cinco anos de actividade. Assim, em 1997, apresentou um novo cenário dos noticiários, bem como o seu aspecto gráfico e um rejuvenescimento do logótipo. O cenário incluía displays de informação ao lado e por detrás do pivô, com informação suplementar, o que criou a imagem de marca do canal. Ainda não era um ecrã idêntico ao das múltiplas janelas da página da internet, com um oráculo a correr no rodapé, como ocorreria já na passagem para o novo século, mas aproximava-se disso. Os dirigentes do canal justificaram o investimento no cenário da informação e símbolos com as quase quatro horas de emissão diária dos noticiários. À espectacularização do cenário e acompanhamento do acontecimento no local correspondeu um maior número de vozes populares, o que produzia um novo efeito nas notícias. Paralelamente, os noticiários aumentavam de duração – acima de uma hora –, enquanto se dava mais tempo à promoção de programas dentro do telejornal numa contaminação de géneros.

As notícias davam conta dos acontecimentos previstos alegres (as inaugurações acima referidas), mas os jornalistas também se deslocavam e faziam trabalhos em directo quando havia acontecimentos imprevistos tristes (morte de Amália Rodrigues, em Outubro de 1999; queda da ponte de Entre-os-Rios, em Março de 2001). O luto das palavras e da roupa foi sinal identificador dos jornalistas da SIC nos dias imediatos à queda da ponte. O trabalho em directo constituiu, aliás, uma imagem de marca distintiva da SIC, origem de muitos prémios aos seus jornalistas, alguns deles atrás assinalados. E também as reportagens a locais longínquos. 1999 foi, por exemplo, um dos anos de mais trabalho em termos de cobertura de acontecimentos nacionais e internacionais, tais como os trabalhos feitos em Timor-Leste, após os tristes acontecimentos que assolaram a antiga colónia portuguesa, nas guerras na Guiné-Bissau e no Kosovo e na transferência de soberania de Macau para a China.

Além de José Alberto Carvalho, emergiram duas outras figuras emblemáticas no domínio da informação: Miguel Sousa Tavares, que apresentava o Jornal da Noite de domingo, e Margarida Marante, que fazia uma entrevista após o noticiário das 20 horas de sábado. Os dois jornalistas tinham ainda um programa comum, à terça-feira, o Crossfire. Um programa de informação muito considerado seria o moderado por Carlos Andrade, Flashback. Composto por deputados de vários partidos (casos de Pacheco Pereira e José Magalhães), era aceso o debate estabelecido. O sucesso passou também nas ondas da rádio TSF. Quanto a outra informação principal da SIC neste período de 1992 a 1999, relevo ainda para os referendos da despenalização do aborto e da regionalização (1998) e entrega a José Saramago do Nobel da Literatura.

Como resultado do crescimento da actividade da estação, quer na informação quer na programação e difusão, os seus recursos humanos cresceram: de 319 em 1994 para 425 em 2000 (SIC, Relatórios de Gestão Referentes aos Exercícios).

[continua]
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DEZ ANOS DE HISTÓRIA DA SIC (1992-2002). O QUE MUDOU NO PANORAMA AUDIOVISUAL PORTUGUÊS

[O texto que apresento de seguida foi publicado numa forma mais profunda na revista Observatório, nº 6, de Novembro de 2002, do Obercom. Dada a sua dimensão, o texto é partido em várias parcelas. A bibliografia aqui apontada acompanhará a última mensagem sobre este tema. Como o título indica, cobre o período de 1992 a 2002]

Apresentação

A emissão da SIC iniciava-se a 6 de Outubro de 1992, após um longo período de monopólio da RTP e de discussão sobre a necessidade de haver ou não televisão privada, que animara bastante a opinião pública e os decisores políticos. A segunda metade da década de 1980 e os anos seguintes assistiriam a uma profunda mudança na área da comunicação social em Portugal. Em 1987, o programa eleitoral do PSD propusera a venda da totalidade dos jornais nacionalizados e a existência de um serviço público mínimo na televisão e na rádio. Alguns factores relevantes nesse período – para além da televisão privada – seriam o nascimento do Público (1990) como jornal de referência, a privatização do Diário de Notícias (1991) e sua transformação gráfica e editorial (1992), a privatização da Rádio Comercial e o aparecimento de uma rádio dedicada às notícias (TSF). Grupos empresariais (Lusomundo, Sonae) associavam-se à comunicação social, dentro da onda liberalizadora que percorreu o país governado por Cavaco Silva.

O texto ilustra alguns dos momentos mais importantes da estação de televisão SIC, entre 1992 e 2002. Quotas de mercado, estratificação sócio-cultural dos espectadores da estação, principais períodos da vida da estação, informação, programas e figuras emblemáticas, passagem de canal generalista para a realidade de canais temáticos e relação da estação televisiva com o Estado constituem alguns dos traços a desenvolver nas próximas páginas. Apesar da atenção específica à história da SIC, a vida de um canal faz-se por comparação com outros canais e a sociedade em geral, pelo que algumas notas são produzidas tendo em conta esta compreensão.

A afirmação de um canal de televisão através da informação

Em termos de audiência, a progressão da SIC foi notável. A estação atingia a liderança do mercado em escassos três anos após o seu arranque, com 41,4% de share, contra 38,4% da RTP e 13,8% da TVI (Obercom, 2002). O sucesso deveu-se à existência de uma grelha diversificada em informação, reportagem, documentário, infantis, juvenis, séries, comédias, cinema e entretenimento geral, em que a produção nacional se associou a uma linha de programação popular do canal privado (Lopes, 1995). Gente nova e muito profissional a fazer televisão, uma outra maneira de trabalhar a informação capaz de servir as elites, fartas das notícias que veiculam fontes oficiais e do aparelho de Estado, e a evidente orientação para uma programação de agrado a públicos mais populares – a televisão do povo (Torres, 1998: 75), com uma estratificação cuidada dos grupos-alvo a privilegiar – figuraram nas estratégias dos responsáveis da estação, em especial Emídio Rangel, o que fez rápida mossa numa RTP apática. A estratificação sócio-económica dos telespectadores da SIC trabalhada nos primeiros anos da SIC apontava para as seguintes características: público maioritariamente feminino, pessoas da classe C2 e do grupo etário entre os 4 e os 14 anos. Como pano de fundo, o optimismo e a fé na iniciativa privada vividas na sociedade portuguesa, no princípio da década de 1990, o que estimulou a popularidade da estação recém-aparecida.

Uma grande aposta do canal privado foi a informação, que, por atingir o dobro do tempo dispensado pelos outros canais portugueses, significou a inversão da tendência dominante na Europa (Traquina, 1997: 65). O modelo CNN, de reinventar as notícias, criar histórias a partir de elementos menos visíveis dos acontecimentos e relevar os magazines de grande informação, no sentido dado por Küng-Shankleman (2000: 120), esteve na base do jornalismo da SIC, e que podemos admirar com mais consistência na SIC Notícias. O noticiário da SIC (Jornal da Noite) ultrapassaria o da RTP1 (Telejornal) em Junho de 1995, cederia a seguir à RTP1 mas voltou a liderar a partir de Setembro, assumindo a dianteira definitiva durante anos a fio. Nesse momento (Setembro de 1995), as eleições legislativas foram seguidas na SIC mais do que nas outras estações. A SIC promoveu momentos especiais de informação – os debates políticos entre António Guterres e Fernando Nogueira e entre Jorge Sampaio e Aníbal Cavaco Silva, momentos decisivos para a vitória dos dirigentes socialistas nas eleições que se avizinhavam. A política e a sua discussão faziam-se mais no canal privado do que na empresa pública, constantemente conotada com o poder instituído.

Um documentário polémico, por “parecer contra a SIC” (Mariana Otero, Cette télévision est la vôtre), revelou as razões de sucesso do canal, em especial a componente informativa. Das razões, Otero destacou o profissionalismo de toda a equipa da SIC, dos jornalistas às pessoas da área comercial, a atenção dada aos produtos televisivos, a articulação entre os vários sectores da estação e a medição constante do impacto popular nas audiências (Torres, 1998: 37). A realizadora convencera os responsáveis e colaboradores da SIC a deixarem-na filmar o quotidiano da estação.

Das características iniciais dos noticiários da SIC, ressaltaram o rigor, a credibilidade e a actualidade. Como resultado da qualidade das reportagens, os prémios começaram a ser uma rotina dentro da estação. Assim, em 1996, a reportagem Os meninos de Angola, de Cândida Pinto, obteve um prémio no FIGRA (“Festival International du Grand Reportage et du Document d’Actualité”). Em 1997, a SIC ganharia seis prémios ainda na área de Grande Reportagem. Ao rigor e actualidade juntou-se a mobilidade do estúdio do noticiário. A ideia da mobilidade acompanhou, de certo modo, o modelo de presidência aberta, que Mário Soares inaugurara em 1986, quase desde o princípio da sua Presidência da República, no sentido de conhecer bem a realidade portuguesa (Serrano, 2002: 117). Emprega-se o estúdio móvel em acontecimentos pré-determinados, de grande solenidade ou nível visual e ligados à proximidade. Foi assim que a SIC transmitiu noticiários directamente, por exemplo, da Expo 98, da ponte Vasco da Gama, da Feira do Livro, do Porto (nas festas do S. João, em Junho de 2002). O estúdio móvel foi utilizado, pela primeira vez na história da televisão portuguesa, em 1997. O principal rosto da informação da SIC, José Alberto Carvalho, apresentou o noticiário do Oceanário, na inauguração da Expo 98, e, em Abril de 1998, na inauguração da ponte Vasco da Gama. Nesta ocasião, a SIC passou imagens de helicóptero, mostrando o almoço servido a quinze mil pessoas, objectivo para bater um recorde e entrar no Guiness.

Lentamente, porém, as notícias tenderam para o fait-divers, o crime e a catástrofe (Brandão, 2002), efeito que atravessou os noticiários de todos os canais, numa tematização nuclear de política-sociedade-cultura-desporto-fait-divers (Lopes, 1999). Para contrariar este efeito de erosão, a imagem da informação da SIC foi alterada quando o canal atingiu os cinco anos de actividade. Assim, em 1997, apresentou um novo cenário dos noticiários, bem como o seu aspecto gráfico e um rejuvenescimento do logótipo. O cenário incluía displays de informação ao lado e por detrás do pivô, com informação suplementar, o que criou a imagem de marca do canal. Ainda não era um ecrã idêntico ao das múltiplas janelas da página da internet, com um oráculo a correr no rodapé, como ocorreria já na passagem para o novo século, mas aproximava-se disso. Os dirigentes do canal justificaram o investimento no cenário da informação e símbolos com as quase quatro horas de emissão diária dos noticiários. À espectacularização do cenário e acompanhamento do acontecimento no local correspondeu um maior número de vozes populares, o que produzia um novo efeito nas notícias. Paralelamente, os noticiários aumentavam de duração – acima de uma hora –, enquanto se dava mais tempo à promoção de programas dentro do telejornal numa contaminação de géneros.

As notícias davam conta dos acontecimentos previstos alegres (as inaugurações acima referidas), mas os jornalistas também se deslocavam e faziam trabalhos em directo quando havia acontecimentos imprevistos tristes (morte de Amália Rodrigues, em Outubro de 1999; queda da ponte de Entre-os-Rios, em Março de 2001). O luto das palavras e da roupa foi sinal identificador dos jornalistas da SIC nos dias imediatos à queda da ponte. O trabalho em directo constituiu, aliás, uma imagem de marca distintiva da SIC, origem de muitos prémios aos seus jornalistas, alguns deles atrás assinalados. E também as reportagens a locais longínquos. 1999 foi, por exemplo, um dos anos de mais trabalho em termos de cobertura de acontecimentos nacionais e internacionais, tais como os trabalhos feitos em Timor-Leste, após os tristes acontecimentos que assolaram a antiga colónia portuguesa, nas guerras na Guiné-Bissau e no Kosovo e na transferência de soberania de Macau para a China.

Além de José Alberto Carvalho, emergiram duas outras figuras emblemáticas no domínio da informação: Miguel Sousa Tavares, que apresentava o Jornal da Noite de domingo, e Margarida Marante, que fazia uma entrevista após o noticiário das 20 horas de sábado. Os dois jornalistas tinham ainda um programa comum, à terça-feira, o Crossfire. Um programa de informação muito considerado seria o moderado por Carlos Andrade, Flashback. Composto por deputados de vários partidos (casos de Pacheco Pereira e José Magalhães), era aceso o debate estabelecido. O sucesso passou também nas ondas da rádio TSF. Quanto a outra informação principal da SIC neste período de 1992 a 1999, relevo ainda para os referendos da despenalização do aborto e da regionalização (1998) e entrega a José Saramago do Nobel da Literatura.

Como resultado do crescimento da actividade da estação, quer na informação quer na programação e difusão, os seus recursos humanos cresceram: de 319 em 1994 para 425 em 2000 (SIC, Relatórios de Gestão Referentes aos Exercícios).

[continua]
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DEZ ANOS DE HISTÓRIA DA SIC (1992-2002). O QUE MUDOU NO PANORAMA AUDIOVISUAL PORTUGUÊS

[O texto que apresento de seguida foi publicado numa forma mais profunda na revista Observatório, nº 6, de Novembro de 2002, do Obercom. Dada a sua dimensão, o texto é partido em várias parcelas. A bibliografia aqui apontada acompanhará a última mensagem sobre este tema. Como o título indica, cobre o período de 1992 a 2002]

Apresentação

A emissão da SIC iniciava-se a 6 de Outubro de 1992, após um longo período de monopólio da RTP e de discussão sobre a necessidade de haver ou não televisão privada, que animara bastante a opinião pública e os decisores políticos. A segunda metade da década de 1980 e os anos seguintes assistiriam a uma profunda mudança na área da comunicação social em Portugal. Em 1987, o programa eleitoral do PSD propusera a venda da totalidade dos jornais nacionalizados e a existência de um serviço público mínimo na televisão e na rádio. Alguns factores relevantes nesse período – para além da televisão privada – seriam o nascimento do Público (1990) como jornal de referência, a privatização do Diário de Notícias (1991) e sua transformação gráfica e editorial (1992), a privatização da Rádio Comercial e o aparecimento de uma rádio dedicada às notícias (TSF). Grupos empresariais (Lusomundo, Sonae) associavam-se à comunicação social, dentro da onda liberalizadora que percorreu o país governado por Cavaco Silva.

O texto ilustra alguns dos momentos mais importantes da estação de televisão SIC, entre 1992 e 2002. Quotas de mercado, estratificação sócio-cultural dos espectadores da estação, principais períodos da vida da estação, informação, programas e figuras emblemáticas, passagem de canal generalista para a realidade de canais temáticos e relação da estação televisiva com o Estado constituem alguns dos traços a desenvolver nas próximas páginas. Apesar da atenção específica à história da SIC, a vida de um canal faz-se por comparação com outros canais e a sociedade em geral, pelo que algumas notas são produzidas tendo em conta esta compreensão.

A afirmação de um canal de televisão através da informação

Em termos de audiência, a progressão da SIC foi notável. A estação atingia a liderança do mercado em escassos três anos após o seu arranque, com 41,4% de share, contra 38,4% da RTP e 13,8% da TVI (Obercom, 2002). O sucesso deveu-se à existência de uma grelha diversificada em informação, reportagem, documentário, infantis, juvenis, séries, comédias, cinema e entretenimento geral, em que a produção nacional se associou a uma linha de programação popular do canal privado (Lopes, 1995). Gente nova e muito profissional a fazer televisão, uma outra maneira de trabalhar a informação capaz de servir as elites, fartas das notícias que veiculam fontes oficiais e do aparelho de Estado, e a evidente orientação para uma programação de agrado a públicos mais populares – a televisão do povo (Torres, 1998: 75), com uma estratificação cuidada dos grupos-alvo a privilegiar – figuraram nas estratégias dos responsáveis da estação, em especial Emídio Rangel, o que fez rápida mossa numa RTP apática. A estratificação sócio-económica dos telespectadores da SIC trabalhada nos primeiros anos da SIC apontava para as seguintes características: público maioritariamente feminino, pessoas da classe C2 e do grupo etário entre os 4 e os 14 anos. Como pano de fundo, o optimismo e a fé na iniciativa privada vividas na sociedade portuguesa, no princípio da década de 1990, o que estimulou a popularidade da estação recém-aparecida.

Uma grande aposta do canal privado foi a informação, que, por atingir o dobro do tempo dispensado pelos outros canais portugueses, significou a inversão da tendência dominante na Europa (Traquina, 1997: 65). O modelo CNN, de reinventar as notícias, criar histórias a partir de elementos menos visíveis dos acontecimentos e relevar os magazines de grande informação, no sentido dado por Küng-Shankleman (2000: 120), esteve na base do jornalismo da SIC, e que podemos admirar com mais consistência na SIC Notícias. O noticiário da SIC (Jornal da Noite) ultrapassaria o da RTP1 (Telejornal) em Junho de 1995, cederia a seguir à RTP1 mas voltou a liderar a partir de Setembro, assumindo a dianteira definitiva durante anos a fio. Nesse momento (Setembro de 1995), as eleições legislativas foram seguidas na SIC mais do que nas outras estações. A SIC promoveu momentos especiais de informação – os debates políticos entre António Guterres e Fernando Nogueira e entre Jorge Sampaio e Aníbal Cavaco Silva, momentos decisivos para a vitória dos dirigentes socialistas nas eleições que se avizinhavam. A política e a sua discussão faziam-se mais no canal privado do que na empresa pública, constantemente conotada com o poder instituído.

Um documentário polémico, por “parecer contra a SIC” (Mariana Otero, Cette télévision est la vôtre), revelou as razões de sucesso do canal, em especial a componente informativa. Das razões, Otero destacou o profissionalismo de toda a equipa da SIC, dos jornalistas às pessoas da área comercial, a atenção dada aos produtos televisivos, a articulação entre os vários sectores da estação e a medição constante do impacto popular nas audiências (Torres, 1998: 37). A realizadora convencera os responsáveis e colaboradores da SIC a deixarem-na filmar o quotidiano da estação.

Das características iniciais dos noticiários da SIC, ressaltaram o rigor, a credibilidade e a actualidade. Como resultado da qualidade das reportagens, os prémios começaram a ser uma rotina dentro da estação. Assim, em 1996, a reportagem Os meninos de Angola, de Cândida Pinto, obteve um prémio no FIGRA (“Festival International du Grand Reportage et du Document d’Actualité”). Em 1997, a SIC ganharia seis prémios ainda na área de Grande Reportagem. Ao rigor e actualidade juntou-se a mobilidade do estúdio do noticiário. A ideia da mobilidade acompanhou, de certo modo, o modelo de presidência aberta, que Mário Soares inaugurara em 1986, quase desde o princípio da sua Presidência da República, no sentido de conhecer bem a realidade portuguesa (Serrano, 2002: 117). Emprega-se o estúdio móvel em acontecimentos pré-determinados, de grande solenidade ou nível visual e ligados à proximidade. Foi assim que a SIC transmitiu noticiários directamente, por exemplo, da Expo 98, da ponte Vasco da Gama, da Feira do Livro, do Porto (nas festas do S. João, em Junho de 2002). O estúdio móvel foi utilizado, pela primeira vez na história da televisão portuguesa, em 1997. O principal rosto da informação da SIC, José Alberto Carvalho, apresentou o noticiário do Oceanário, na inauguração da Expo 98, e, em Abril de 1998, na inauguração da ponte Vasco da Gama. Nesta ocasião, a SIC passou imagens de helicóptero, mostrando o almoço servido a quinze mil pessoas, objectivo para bater um recorde e entrar no Guiness.

Lentamente, porém, as notícias tenderam para o fait-divers, o crime e a catástrofe (Brandão, 2002), efeito que atravessou os noticiários de todos os canais, numa tematização nuclear de política-sociedade-cultura-desporto-fait-divers (Lopes, 1999). Para contrariar este efeito de erosão, a imagem da informação da SIC foi alterada quando o canal atingiu os cinco anos de actividade. Assim, em 1997, apresentou um novo cenário dos noticiários, bem como o seu aspecto gráfico e um rejuvenescimento do logótipo. O cenário incluía displays de informação ao lado e por detrás do pivô, com informação suplementar, o que criou a imagem de marca do canal. Ainda não era um ecrã idêntico ao das múltiplas janelas da página da internet, com um oráculo a correr no rodapé, como ocorreria já na passagem para o novo século, mas aproximava-se disso. Os dirigentes do canal justificaram o investimento no cenário da informação e símbolos com as quase quatro horas de emissão diária dos noticiários. À espectacularização do cenário e acompanhamento do acontecimento no local correspondeu um maior número de vozes populares, o que produzia um novo efeito nas notícias. Paralelamente, os noticiários aumentavam de duração – acima de uma hora –, enquanto se dava mais tempo à promoção de programas dentro do telejornal numa contaminação de géneros.

As notícias davam conta dos acontecimentos previstos alegres (as inaugurações acima referidas), mas os jornalistas também se deslocavam e faziam trabalhos em directo quando havia acontecimentos imprevistos tristes (morte de Amália Rodrigues, em Outubro de 1999; queda da ponte de Entre-os-Rios, em Março de 2001). O luto das palavras e da roupa foi sinal identificador dos jornalistas da SIC nos dias imediatos à queda da ponte. O trabalho em directo constituiu, aliás, uma imagem de marca distintiva da SIC, origem de muitos prémios aos seus jornalistas, alguns deles atrás assinalados. E também as reportagens a locais longínquos. 1999 foi, por exemplo, um dos anos de mais trabalho em termos de cobertura de acontecimentos nacionais e internacionais, tais como os trabalhos feitos em Timor-Leste, após os tristes acontecimentos que assolaram a antiga colónia portuguesa, nas guerras na Guiné-Bissau e no Kosovo e na transferência de soberania de Macau para a China.

Além de José Alberto Carvalho, emergiram duas outras figuras emblemáticas no domínio da informação: Miguel Sousa Tavares, que apresentava o Jornal da Noite de domingo, e Margarida Marante, que fazia uma entrevista após o noticiário das 20 horas de sábado. Os dois jornalistas tinham ainda um programa comum, à terça-feira, o Crossfire. Um programa de informação muito considerado seria o moderado por Carlos Andrade, Flashback. Composto por deputados de vários partidos (casos de Pacheco Pereira e José Magalhães), era aceso o debate estabelecido. O sucesso passou também nas ondas da rádio TSF. Quanto a outra informação principal da SIC neste período de 1992 a 1999, relevo ainda para os referendos da despenalização do aborto e da regionalização (1998) e entrega a José Saramago do Nobel da Literatura.

Como resultado do crescimento da actividade da estação, quer na informação quer na programação e difusão, os seus recursos humanos cresceram: de 319 em 1994 para 425 em 2000 (SIC, Relatórios de Gestão Referentes aos Exercícios).

[continua]
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DEZ ANOS DE HISTÓRIA DA SIC (1992-2002). O QUE MUDOU NO PANORAMA AUDIOVISUAL PORTUGUÊS

[O texto que apresento de seguida foi publicado numa forma mais profunda na revista Observatório, nº 6, de Novembro de 2002, do Obercom. Dada a sua dimensão, o texto é partido em várias parcelas. A bibliografia aqui apontada acompanhará a última mensagem sobre este tema. Como o título indica, cobre o período de 1992 a 2002]

Apresentação

A emissão da SIC iniciava-se a 6 de Outubro de 1992, após um longo período de monopólio da RTP e de discussão sobre a necessidade de haver ou não televisão privada, que animara bastante a opinião pública e os decisores políticos. A segunda metade da década de 1980 e os anos seguintes assistiriam a uma profunda mudança na área da comunicação social em Portugal. Em 1987, o programa eleitoral do PSD propusera a venda da totalidade dos jornais nacionalizados e a existência de um serviço público mínimo na televisão e na rádio. Alguns factores relevantes nesse período – para além da televisão privada – seriam o nascimento do Público (1990) como jornal de referência, a privatização do Diário de Notícias (1991) e sua transformação gráfica e editorial (1992), a privatização da Rádio Comercial e o aparecimento de uma rádio dedicada às notícias (TSF). Grupos empresariais (Lusomundo, Sonae) associavam-se à comunicação social, dentro da onda liberalizadora que percorreu o país governado por Cavaco Silva.

O texto ilustra alguns dos momentos mais importantes da estação de televisão SIC, entre 1992 e 2002. Quotas de mercado, estratificação sócio-cultural dos espectadores da estação, principais períodos da vida da estação, informação, programas e figuras emblemáticas, passagem de canal generalista para a realidade de canais temáticos e relação da estação televisiva com o Estado constituem alguns dos traços a desenvolver nas próximas páginas. Apesar da atenção específica à história da SIC, a vida de um canal faz-se por comparação com outros canais e a sociedade em geral, pelo que algumas notas são produzidas tendo em conta esta compreensão.

A afirmação de um canal de televisão através da informação

Em termos de audiência, a progressão da SIC foi notável. A estação atingia a liderança do mercado em escassos três anos após o seu arranque, com 41,4% de share, contra 38,4% da RTP e 13,8% da TVI (Obercom, 2002). O sucesso deveu-se à existência de uma grelha diversificada em informação, reportagem, documentário, infantis, juvenis, séries, comédias, cinema e entretenimento geral, em que a produção nacional se associou a uma linha de programação popular do canal privado (Lopes, 1995). Gente nova e muito profissional a fazer televisão, uma outra maneira de trabalhar a informação capaz de servir as elites, fartas das notícias que veiculam fontes oficiais e do aparelho de Estado, e a evidente orientação para uma programação de agrado a públicos mais populares – a televisão do povo (Torres, 1998: 75), com uma estratificação cuidada dos grupos-alvo a privilegiar – figuraram nas estratégias dos responsáveis da estação, em especial Emídio Rangel, o que fez rápida mossa numa RTP apática. A estratificação sócio-económica dos telespectadores da SIC trabalhada nos primeiros anos da SIC apontava para as seguintes características: público maioritariamente feminino, pessoas da classe C2 e do grupo etário entre os 4 e os 14 anos. Como pano de fundo, o optimismo e a fé na iniciativa privada vividas na sociedade portuguesa, no princípio da década de 1990, o que estimulou a popularidade da estação recém-aparecida.

Uma grande aposta do canal privado foi a informação, que, por atingir o dobro do tempo dispensado pelos outros canais portugueses, significou a inversão da tendência dominante na Europa (Traquina, 1997: 65). O modelo CNN, de reinventar as notícias, criar histórias a partir de elementos menos visíveis dos acontecimentos e relevar os magazines de grande informação, no sentido dado por Küng-Shankleman (2000: 120), esteve na base do jornalismo da SIC, e que podemos admirar com mais consistência na SIC Notícias. O noticiário da SIC (Jornal da Noite) ultrapassaria o da RTP1 (Telejornal) em Junho de 1995, cederia a seguir à RTP1 mas voltou a liderar a partir de Setembro, assumindo a dianteira definitiva durante anos a fio. Nesse momento (Setembro de 1995), as eleições legislativas foram seguidas na SIC mais do que nas outras estações. A SIC promoveu momentos especiais de informação – os debates políticos entre António Guterres e Fernando Nogueira e entre Jorge Sampaio e Aníbal Cavaco Silva, momentos decisivos para a vitória dos dirigentes socialistas nas eleições que se avizinhavam. A política e a sua discussão faziam-se mais no canal privado do que na empresa pública, constantemente conotada com o poder instituído.

Um documentário polémico, por “parecer contra a SIC” (Mariana Otero, Cette télévision est la vôtre), revelou as razões de sucesso do canal, em especial a componente informativa. Das razões, Otero destacou o profissionalismo de toda a equipa da SIC, dos jornalistas às pessoas da área comercial, a atenção dada aos produtos televisivos, a articulação entre os vários sectores da estação e a medição constante do impacto popular nas audiências (Torres, 1998: 37). A realizadora convencera os responsáveis e colaboradores da SIC a deixarem-na filmar o quotidiano da estação.

Das características iniciais dos noticiários da SIC, ressaltaram o rigor, a credibilidade e a actualidade. Como resultado da qualidade das reportagens, os prémios começaram a ser uma rotina dentro da estação. Assim, em 1996, a reportagem Os meninos de Angola, de Cândida Pinto, obteve um prémio no FIGRA (“Festival International du Grand Reportage et du Document d’Actualité”). Em 1997, a SIC ganharia seis prémios ainda na área de Grande Reportagem. Ao rigor e actualidade juntou-se a mobilidade do estúdio do noticiário. A ideia da mobilidade acompanhou, de certo modo, o modelo de presidência aberta, que Mário Soares inaugurara em 1986, quase desde o princípio da sua Presidência da República, no sentido de conhecer bem a realidade portuguesa (Serrano, 2002: 117). Emprega-se o estúdio móvel em acontecimentos pré-determinados, de grande solenidade ou nível visual e ligados à proximidade. Foi assim que a SIC transmitiu noticiários directamente, por exemplo, da Expo 98, da ponte Vasco da Gama, da Feira do Livro, do Porto (nas festas do S. João, em Junho de 2002). O estúdio móvel foi utilizado, pela primeira vez na história da televisão portuguesa, em 1997. O principal rosto da informação da SIC, José Alberto Carvalho, apresentou o noticiário do Oceanário, na inauguração da Expo 98, e, em Abril de 1998, na inauguração da ponte Vasco da Gama. Nesta ocasião, a SIC passou imagens de helicóptero, mostrando o almoço servido a quinze mil pessoas, objectivo para bater um recorde e entrar no Guiness.

Lentamente, porém, as notícias tenderam para o fait-divers, o crime e a catástrofe (Brandão, 2002), efeito que atravessou os noticiários de todos os canais, numa tematização nuclear de política-sociedade-cultura-desporto-fait-divers (Lopes, 1999). Para contrariar este efeito de erosão, a imagem da informação da SIC foi alterada quando o canal atingiu os cinco anos de actividade. Assim, em 1997, apresentou um novo cenário dos noticiários, bem como o seu aspecto gráfico e um rejuvenescimento do logótipo. O cenário incluía displays de informação ao lado e por detrás do pivô, com informação suplementar, o que criou a imagem de marca do canal. Ainda não era um ecrã idêntico ao das múltiplas janelas da página da internet, com um oráculo a correr no rodapé, como ocorreria já na passagem para o novo século, mas aproximava-se disso. Os dirigentes do canal justificaram o investimento no cenário da informação e símbolos com as quase quatro horas de emissão diária dos noticiários. À espectacularização do cenário e acompanhamento do acontecimento no local correspondeu um maior número de vozes populares, o que produzia um novo efeito nas notícias. Paralelamente, os noticiários aumentavam de duração – acima de uma hora –, enquanto se dava mais tempo à promoção de programas dentro do telejornal numa contaminação de géneros.

As notícias davam conta dos acontecimentos previstos alegres (as inaugurações acima referidas), mas os jornalistas também se deslocavam e faziam trabalhos em directo quando havia acontecimentos imprevistos tristes (morte de Amália Rodrigues, em Outubro de 1999; queda da ponte de Entre-os-Rios, em Março de 2001). O luto das palavras e da roupa foi sinal identificador dos jornalistas da SIC nos dias imediatos à queda da ponte. O trabalho em directo constituiu, aliás, uma imagem de marca distintiva da SIC, origem de muitos prémios aos seus jornalistas, alguns deles atrás assinalados. E também as reportagens a locais longínquos. 1999 foi, por exemplo, um dos anos de mais trabalho em termos de cobertura de acontecimentos nacionais e internacionais, tais como os trabalhos feitos em Timor-Leste, após os tristes acontecimentos que assolaram a antiga colónia portuguesa, nas guerras na Guiné-Bissau e no Kosovo e na transferência de soberania de Macau para a China.

Além de José Alberto Carvalho, emergiram duas outras figuras emblemáticas no domínio da informação: Miguel Sousa Tavares, que apresentava o Jornal da Noite de domingo, e Margarida Marante, que fazia uma entrevista após o noticiário das 20 horas de sábado. Os dois jornalistas tinham ainda um programa comum, à terça-feira, o Crossfire. Um programa de informação muito considerado seria o moderado por Carlos Andrade, Flashback. Composto por deputados de vários partidos (casos de Pacheco Pereira e José Magalhães), era aceso o debate estabelecido. O sucesso passou também nas ondas da rádio TSF. Quanto a outra informação principal da SIC neste período de 1992 a 1999, relevo ainda para os referendos da despenalização do aborto e da regionalização (1998) e entrega a José Saramago do Nobel da Literatura.

Como resultado do crescimento da actividade da estação, quer na informação quer na programação e difusão, os seus recursos humanos cresceram: de 319 em 1994 para 425 em 2000 (SIC, Relatórios de Gestão Referentes aos Exercícios).

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DEZ ANOS DE HISTÓRIA DA SIC (1992-2002). O QUE MUDOU NO PANORAMA AUDIOVISUAL PORTUGUÊS

[O texto que apresento de seguida foi publicado numa forma mais profunda na revista Observatório, nº 6, de Novembro de 2002, do Obercom. Dada a sua dimensão, o texto é partido em várias parcelas. A bibliografia aqui apontada acompanhará a última mensagem sobre este tema. Como o título indica, cobre o período de 1992 a 2002]


Apresentação

A emissão da SIC iniciava-se a 6 de Outubro de 1992, após um longo período de monopólio da RTP e de discussão sobre a necessidade de haver ou não televisão privada, que animara bastante a opinião pública e os decisores políticos. A segunda metade da década de 1980 e os anos seguintes assistiriam a uma profunda mudança na área da comunicação social em Portugal. Em 1987, o programa eleitoral do PSD propusera a venda da totalidade dos jornais nacionalizados e a existência de um serviço público mínimo na televisão e na rádio. Alguns factores relevantes nesse período – para além da televisão privada – seriam o nascimento do Público (1990) como jornal de referência, a privatização do Diário de Notícias (1991) e sua transformação gráfica e editorial (1992), a privatização da Rádio Comercial e o aparecimento de uma rádio dedicada às notícias (TSF). Grupos empresariais (Lusomundo, Sonae) associavam-se à comunicação social, dentro da onda liberalizadora que percorreu o país governado por Cavaco Silva.


O texto ilustra alguns dos momentos mais importantes da estação de televisão SIC, entre 1992 e 2002. Quotas de mercado, estratificação sócio-cultural dos espectadores da estação, principais períodos da vida da estação, informação, programas e figuras emblemáticas, passagem de canal generalista para a realidade de canais temáticos e relação da estação televisiva com o Estado constituem alguns dos traços a desenvolver nas próximas páginas. Apesar da atenção específica à história da SIC, a vida de um canal faz-se por comparação com outros canais e a sociedade em geral, pelo que algumas notas são produzidas tendo em conta esta compreensão.


A afirmação de um canal de televisão através da informação

Em termos de audiência, a progressão da SIC foi notável. A estação atingia a liderança do mercado em escassos três anos após o seu arranque, com 41,4% de share, contra 38,4% da RTP e 13,8% da TVI (Obercom, 2002). O sucesso deveu-se à existência de uma grelha diversificada em informação, reportagem, documentário, infantis, juvenis, séries, comédias, cinema e entretenimento geral, em que a produção nacional se associou a uma linha de programação popular do canal privado (Lopes, 1995). Gente nova e muito profissional a fazer televisão, uma outra maneira de trabalhar a informação capaz de servir as elites, fartas das notícias que veiculam fontes oficiais e do aparelho de Estado, e a evidente orientação para uma programação de agrado a públicos mais populares – a televisão do povo (Torres, 1998: 75), com uma estratificação cuidada dos grupos-alvo a privilegiar – figuraram nas estratégias dos responsáveis da estação, em especial Emídio Rangel, o que fez rápida mossa numa RTP apática. A estratificação sócio-económica dos telespectadores da SIC trabalhada nos primeiros anos da SIC apontava para as seguintes características: público maioritariamente feminino, pessoas da classe C2 e do grupo etário entre os 4 e os 14 anos. Como pano de fundo, o optimismo e a fé na iniciativa privada vividas na sociedade portuguesa, no princípio da década de 1990, o que estimulou a popularidade da estação recém-aparecida.


Uma grande aposta do canal privado foi a informação, que, por atingir o dobro do tempo dispensado pelos outros canais portugueses, significou a inversão da tendência dominante na Europa (Traquina, 1997: 65). O modelo CNN, de reinventar as notícias, criar histórias a partir de elementos menos visíveis dos acontecimentos e relevar os magazines de grande informação, no sentido dado por Küng-Shankleman (2000: 120), esteve na base do jornalismo da SIC, e que podemos admirar com mais consistência na SIC Notícias. O noticiário da SIC (Jornal da Noite) ultrapassaria o da RTP1 (Telejornal) em Junho de 1995, cederia a seguir à RTP1 mas voltou a liderar a partir de Setembro, assumindo a dianteira definitiva durante anos a fio. Nesse momento (Setembro de 1995), as eleições legislativas foram seguidas na SIC mais do que nas outras estações. A SIC promoveu momentos especiais de informação – os debates políticos entre António Guterres e Fernando Nogueira e entre Jorge Sampaio e Aníbal Cavaco Silva, momentos decisivos para a vitória dos dirigentes socialistas nas eleições que se avizinhavam. A política e a sua discussão faziam-se mais no canal privado do que na empresa pública, constantemente conotada com o poder instituído.


Um documentário polémico, por “parecer contra a SIC” (Mariana Otero, Cette télévision est la vôtre), revelou as razões de sucesso do canal, em especial a componente informativa. Das razões, Otero destacou o profissionalismo de toda a equipa da SIC, dos jornalistas às pessoas da área comercial, a atenção dada aos produtos televisivos, a articulação entre os vários sectores da estação e a medição constante do impacto popular nas audiências (Torres, 1998: 37). A realizadora convencera os responsáveis e colaboradores da SIC a deixarem-na filmar o quotidiano da estação.


Das características iniciais dos noticiários da SIC, ressaltaram o rigor, a credibilidade e a actualidade. Como resultado da qualidade das reportagens, os prémios começaram a ser uma rotina dentro da estação. Assim, em 1996, a reportagem Os meninos de Angola, de Cândida Pinto, obteve um prémio no FIGRA (“Festival International du Grand Reportage et du Document d’Actualité”). Em 1997, a SIC ganharia seis prémios ainda na área de Grande Reportagem. Ao rigor e actualidade juntou-se a mobilidade do estúdio do noticiário. A ideia da mobilidade acompanhou, de certo modo, o modelo de presidência aberta, que Mário Soares inaugurara em 1986, quase desde o princípio da sua Presidência da República, no sentido de conhecer bem a realidade portuguesa (Serrano, 2002: 117). Emprega-se o estúdio móvel em acontecimentos pré-determinados, de grande solenidade ou nível visual e ligados à proximidade. Foi assim que a SIC transmitiu noticiários directamente, por exemplo, da Expo 98, da ponte Vasco da Gama, da Feira do Livro, do Porto (nas festas do S. João, em Junho de 2002). O estúdio móvel foi utilizado, pela primeira vez na história da televisão portuguesa, em 1997. O principal rosto da informação da SIC, José Alberto Carvalho, apresentou o noticiário do Oceanário, na inauguração da Expo 98, e, em Abril de 1998, na inauguração da ponte Vasco da Gama. Nesta ocasião, a SIC passou imagens de helicóptero, mostrando o almoço servido a quinze mil pessoas, objectivo para bater um recorde e entrar no Guiness.


Lentamente, porém, as notícias tenderam para o fait-divers, o crime e a catástrofe (Brandão, 2002), efeito que atravessou os noticiários de todos os canais, numa tematização nuclear de política-sociedade-cultura-desporto-fait-divers (Lopes, 1999). Para contrariar este efeito de erosão, a imagem da informação da SIC foi alterada quando o canal atingiu os cinco anos de actividade. Assim, em 1997, apresentou um novo cenário dos noticiários, bem como o seu aspecto gráfico e um rejuvenescimento do logótipo. O cenário incluía displays de informação ao lado e por detrás do pivô, com informação suplementar, o que criou a imagem de marca do canal. Ainda não era um ecrã idêntico ao das múltiplas janelas da página da internet, com um oráculo a correr no rodapé, como ocorreria já na passagem para o novo século, mas aproximava-se disso. Os dirigentes do canal justificaram o investimento no cenário da informação e símbolos com as quase quatro horas de emissão diária dos noticiários. À espectacularização do cenário e acompanhamento do acontecimento no local correspondeu um maior número de vozes populares, o que produzia um novo efeito nas notícias. Paralelamente, os noticiários aumentavam de duração – acima de uma hora –, enquanto se dava mais tempo à promoção de programas dentro do telejornal numa contaminação de géneros.


As notícias davam conta dos acontecimentos previstos alegres (as inaugurações acima referidas), mas os jornalistas também se deslocavam e faziam trabalhos em directo quando havia acontecimentos imprevistos tristes (morte de Amália Rodrigues, em Outubro de 1999; queda da ponte de Entre-os-Rios, em Março de 2001). O luto das palavras e da roupa foi sinal identificador dos jornalistas da SIC nos dias imediatos à queda da ponte. O trabalho em directo constituiu, aliás, uma imagem de marca distintiva da SIC, origem de muitos prémios aos seus jornalistas, alguns deles atrás assinalados. E também as reportagens a locais longínquos. 1999 foi, por exemplo, um dos anos de mais trabalho em termos de cobertura de acontecimentos nacionais e internacionais, tais como os trabalhos feitos em Timor-Leste, após os tristes acontecimentos que assolaram a antiga colónia portuguesa, nas guerras na Guiné-Bissau e no Kosovo e na transferência de soberania de Macau para a China.


Além de José Alberto Carvalho, emergiram duas outras figuras emblemáticas no domínio da informação: Miguel Sousa Tavares, que apresentava o Jornal da Noite de domingo, e Margarida Marante, que fazia uma entrevista após o noticiário das 20 horas de sábado. Os dois jornalistas tinham ainda um programa comum, à terça-feira, o Crossfire. Um programa de informação muito considerado seria o moderado por Carlos Andrade, Flashback. Composto por deputados de vários partidos (casos de Pacheco Pereira e José Magalhães), era aceso o debate estabelecido. O sucesso passou também nas ondas da rádio TSF. Quanto a outra informação principal da SIC neste período de 1992 a 1999, relevo ainda para os referendos da despenalização do aborto e da regionalização (1998) e entrega a José Saramago do Nobel da Literatura.


Como resultado do crescimento da actividade da estação, quer na informação quer na programação e difusão, os seus recursos humanos cresceram: de 319 em 1994 para 425 em 2000 (SIC, Relatórios de Gestão Referentes aos Exercícios).


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